Progenitor das Sombras

    Caderno 1 – Sangue de Magma

    Capítulo 3

    Saindo do coliseu, me deparei com um vasto jardim florido, não apenas belo, revigorante, mas cheio de vida.

    Os jovens sentados em grupos sorriam, jogavam conversa fora; as árvores espalhadas balançavam junto à brisa, e nada daquilo parecia artificial, vago ou falso. Cada banco, flor e árvore tinham sido colocados propositalmente naqueles lugares por motivos ocultos, e apesar de não perceberem, era algo essencial no dia a dia.

    Não apenas um coliseu, e não apenas um jardim, tudo aquilo fazia parte de algo bem maior; e depois de trinta minutos caminhando, ao longe eu finalmente o via. Imponente, um grande castelo branco emanava sua superioridade como a construção mais antiga da cidade.

    Belos vitrais de joias em tons de azul e branco formavam imagens de santos. Como a entrada de um templo, pilares de pedra seguravam a construção, e os grandes tijolos esbranquiçados refletiam a luz do sol de forma esplendorosa. Vendo de longe, era um paraíso para os olhos, muitos sentiam vontade de orar, mas era apenas uma das artimanhas ocultas desse lugar.

    Indo em direção ao vasto corredor dentro da construção, observei os pilares com anjos talhados junto a outras criaturas místicas.

    Os estudantes me olhavam com inveja, eu podia sair, mas eles não. Os ignorando, continuava observando o corredor antigo e seus traços escondidos.

    O ambiente sempre me impressionava, nunca deixava de ser grandioso, mas apesar de belo, era enorme, me fazendo caminhar mais de meia hora até finalmente encontrar a saída.

    – – –

    Grandes portões metálicos de trinta metros pareciam tocar os céus, e a muralha que o segurava, indescritível em palavras. Aquela era apenas a saída norte, havia mais três, e olhar aquilo me fazia pensar: “O que os criadores precisavam enfrentar para construir esse lugar?”

    Não haviam registros, tudo dessa cidade, desde sua criação até agora era um mistério, por isso, não adiantava procurar. 

    Deixando o assunto de lado, me aproximei do portão, e como se minha presença fosse conhecida…

    Trum…! Trum, Trum, Trum…!!

    Os traques das engrenagens ecoaram fazendo o chão vibrar, e de maneira quase imperceptível, pude ouvir o som de uma corrente sendo arrastada. Aos poucos o portão se abria, não completamente, apenas o suficiente para eu passar, e assim que adentrei, senti algo diferente nesse lugar.

    Formado por blocos de concreto acinzentados, o grande corredor frio passava um sentimento de angústia, como se dissesse para eu voltar; mas se contradizendo, no fim do corredor, um segundo portão já aberto refletia a luz do sol de forma esplendorosa.

    Era estranho, um sentimento de antecipação dominava meu coração, como se eu quisesse saber o que havia no fim do corredor. Um mundo de gigantes, aquilo me chamava, eu queria explorar – mesmo que já conhecesse o mundo lá fora.

    Continuei até a saída, diminuindo a velocidade ao observar uma estranha névoa se espalhar pelo ambiente. Usei a mão para testá-la, densa, mais que o comum, e a adentrando, tomei cuidado para não tropeçar.

    Sem pressa, segui meu rumo.

    Se Cláudio quisesse, que viesse me buscar, eu não seria obrigado a correr apenas porque ele desejava. E pensando nisso, fui pego desprevenido pela vista.

    Como uma ruína antiga de um mundo desolado, a silhueta da cidade nascia no horizonte de névoa, embebida em vidro pelos altos prédios que a formavam. A beleza era algo que eu gostava de admirar, não apenas de lugares, mas de pessoas.

    “É uma pena que nem todas sejam bonitas por dentro como são por fora” pensei, seguindo minha caminhada.

    ***

    Já em frente ao escritório de Cláudio, bati na porta três vezes antes de finalmente abri-la, não esperei por uma resposta.

    — Vim vê-lo — eu disse caminhando pelo piso de mármore negro.

    Luxuoso, seu escritório era adornado em preto e branco, ele adorava tons escuros, como prova estava o terno cor de púrpura em seu corpo. Chique, e combinava com seu ar de superior.

    Me chamando a atenção, a mesa de obsidiana centralizada próxima a parede de vidro brilhava com traços fluorescentes. Cláudio estava ali, de pé, próximo a mesa, observava firmemente a cidade de cima.

    Me aproximando, vi dois livros na mesa. Estive prestes a olhá-los quando a voz de Cláudio me interrompeu.

    — Teve uma noite de sono agradável? Não parece estar dormindo bem — ele disse virando em minha direção, senti um calafrio na espinha com seu olhar.

    — Não durmo bem… você sabe… — Gesticulando para eu me sentar, Cláudio empurrou os livros em minha direção.

    “Canção da noite e Débiles da morte? Que tipo de nomes são esses?” perguntei a mim mesmo ao ver os livros. Os abrindo, procurei por um sumário, quando a voz fria de Cláudio me chamou a atenção.

    — Esses serão os últimos. — ele disse me observando, provavelmente queria ver minha reação.

    — O que? — perguntei sem entender.

    Não, eu provavelmente não quis entender…

    “Não atingi meu objetivo, não posso aceitar.” Mas apesar de abrir minha boca, meus lábios não se moveram.

    Talvez fosse sua presença esmagadora, seu olhar monótono, eu não sabia, apenas não conseguia contestar. Minha mente gritava:

    “Ele não está usando nenhum poder, vamos! Fala!!…” Porém, a voz de Claudio ecoou interrompendo minha mente. Fria, calma, e mais clara do que nunca. Mas havia algo de estranho nela, e essa foi a primeira vez que eu senti aquilo, ódio.

    — A partir de hoje, Ezequiel, todos os direitos como ser humano — Ele não estava me testando… estava me ameaçando — você os perderá.

    Ameaçando como homem, a tomar meu lugar.

    — Próximo Capítulo – Razão —

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota