Progenitor das Sombras

    Caderno 1 – Sangue de Magma

    Capítulo -1 parte 2

    O cavaleiro puxou do chão sua espada ao ver uma mão invadir a barreira, abrindo-a facilmente.

    — Hoho, parece que temos alguém perdido aqui — a voz fria ecoou, arrogante como nenhuma outra, e só havia uma voz assim naquele lugar. — A quanto tempo, Ezra.

    — Nem um pouco de tempo, Cláudio das sombras.

    Uma pequena risada ecoou da garganta de Cláudio. Com apenas um movimento de sua mão a barreira se estilhaçou em nada, revelando seu corpo esbelto e postura impecável.

    Seu olhar recaiu sobre mim, seus olhos brilhavam com um tipo estranho de roxo escuro, era o suficiente para eu saber que ele estava usando seu poder. Existiam certos traços em quem usava a energia, o meu estava nos braços, minhas veias brilhavam por debaixo da armadura toda vez que eu os usava, mas no caso de Claudio seus olhos eram quem demonstravam.

    — Não imaginei que conseguiria usar a origem, pensei que morreria antes de conseguir — Cláudio disse me observando, mas ao seu lado alguém se levantava de dentro das sombras. Um homem, suas roupas rasgadas e as feridas no rosto me lembrava de quem era…

    — Mestre Claudio, de acordo com o relatório o Cavaleiro prateado foi morto em batalha por um ser desconhecido enquanto protegia o portão sul, como resultado, o senhor teve que intervir pessoalmente, devo mudá-lo?

    Um sorriso se abriu no rosto de Cláudio enquanto ele estendia sua mão em minha direção: — Não, deixe-o assim. — O brilho em seus olhos ficou ainda mais intenso, porém, logo desapareceram de minha visão.

    Obscuro, os chãos se tornaram um mar de escuridão que pareciam querer se alimentar de mim. Vozes ecoaram, gritos das almas aprisionadas dentro daquelas águas frias e profundas. Meu corpo tremia, mas não conseguia movê-lo de forma consciente. Agora eu entendia aquele garoto, seu corpo também tremia como se tivesse frio e, assim como a minha, sua perna se movia como se desejasse correr.

    E se aquele garoto visse isso todas as vezes? E se seu coração gelasse sempre que aquele homem usasse seu poder? Ele era seu sobrinho, talvez pudesse sentir as sombras; e tudo que o vi passar nesses últimos anos faria sentido, pois mesmo na minha sombra, embaixo de mim, uma criatura de olhos escuros me observava. Eles estavam em todo o lugar…

    — Ainda não acabou — A imagem do cavaleiro tomou minha visão, sua espada desceu, e junto a sua lâmina, as sombras se rasgaram com o ecoar de sua voz — Não sou mais aquele de quatro anos atrás, Claudio das sombras. Assim como meu mestre me ensinou, eu ensinei essa pessoa. Se seu desejo é matá-la, terá que me enfrentar.

    — Erza, sabe o que significa para uma sombra enfrentar seu superior?

    — Hmm… eu sei… — a voz do cavaleiro saiu meio arrastada — mas você não é mais o meu superior. — Chamas tomaram a espada do cavaleiro, ele não esperou por uma resposta:

    — {MAGIA DAS SOMBRAS} — Correndo em direção a Claudio, ele preparou sua espada para dar o golpe, mas algo estava diferente. Não apenas sua espada, mas todo seu corpo fora imbuído naquelas chamas negras. — {FOICE DE MUNDOS, MERGULHO NAS TREVAS!!} — A lâmina desceu, lançando em direção a Claudio uma rajada de chamas que ascendeu aos céus. Uma parede flamejante se ergueu no meio do deserto, não era quente, mas tudo que entrava em seu caminho retornava ao pó.

    Eu observava tudo aquilo de camarote, maldição, como eu pude não perceber tamanho poder? Fui idiota em tentar ataca-lo, mas… ele havia me “ensinado”? Estava me protegendo apenas por algo tão idiota? Isso deveria ser a maior humilhação de todas, porém, por algum motivo não conseguia pensar assim.

    Não fui ensinado sobre honra, apenas ouvi pelos humanos em suas histórias. Que benefício há em crer em um povo que nem ao menos conheço? Segurando minha lança, pude sentir um certo vazio nela, aquilo era eu, “vazio”, já não tinha mais um objetivo. E foi quando as chamas começaram a se abaixar.

    A imagem imponente de Claudio, ele segurava a espada do cavaleiro com apenas a palma de sua mão. Seu rosto tinha certo traço incomum, passava um sentimento de devaneio, como se ele idealizasse a morte daquele ser em sua frente. Porém, algo parecia impedi-lo de matá-lo. Atrás de Cláudio uma ravina com milhares de metros se estendia até onde mais eu não podia ver. Os céus, escuros como sempre, estava limpo como nunca, numa escuridão impossível de se mensurar.

    Ele cortou chãos e terras, queimou nuvens e raios, mas nem ao mesmo pôde tocar a roupa daquele homem. E por algum motivo Cláudio não podia matá-lo, por que? E foi quando uma voz ecoou, baixa, de um menino…

    — Ezra…?

    Sua voz ecoou pelo deserto com certo desespero, eu o procurei, mas não conseguia vê-lo, até que Cláudio moveu sua mão em certa direção e, de dentro da escuridão, parte do mundo escondido foi revelado. Milhares de corpos de monstros, humanos e demônios estavam jogados naquele lugar. E finalmente pude entender, não foi Ezequiel que sumiu, Cláudio havia o levado. Por que? Não sabia, mas tinha certeza que quanto mais eu soubesse, mais questões iriam se formar.

    — Senhor Ezequiel, eu vim para te buscar — disse o cavaleiro na tentativa de se aproximar do menino, mas no momento em que ele fez isso, as mãos de Cláudio se viraram em minha direção.

    A espada do cavaleiro cortou o ar em direção à mão de Cláudio, o impedindo de lançar o poder. Cláudio riu e instantaneamente puxou um arpão de dentro de sua roupa, lançando-o em direção a Ezequiel. O cavaleiro lançou sua espada, acertando em cheio o arpão que acabou sendo rebatido e rapidamente pegou sua arma de volta.

    — Não solte, no momento que o fizer, você vai morrer — Cláudio disse sorrindo de forma estranha, não bem estranha, mas diabólica, algo que eu não estava acostumado a ver. E não soltar, ele só podia estar falando daquela espada, era o que mantinha o cavaleiro vivo? Não, aquilo era uma ameaça, Cláudio o mataria no momento que ele largasse aquela espada, só podia ser.

    O cavaleiro não respondeu, apenas ficou ali, parado em um lugar entre mim e Ezequiel. Eu conseguia mover meus dedos, mas não minhas pernas. Apenas podia sentar e esperar minha morte chegar, devia ser diferente, não era assim que eu desejava viver; muito menos morrer, mas minha vida não deveria valer tanto, não quanto a daquele garoto para o cavaleiro…

    — O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?! — A voz grossa do cavaleiro ecoou de forma séria chamando a minha atenção — Sua mente está cheia, tanto que consigo ouvi-la daqui! Hum… — Por um instante o silêncio tomou o ambiente, agora eu podia ouvir, sombras tomavam meus arredores, se moviam tentando tentando me tocar. Como uma revelação percebi que na verdade era Cláudio quem tentava me controlar. A voz do cavaleiro continuou: — Não seja idiota, ninguém gosta de pessoas que se lamentam. Ninguém nasce forte, mesmo eu… eu era o mais baixo de todos até ele me encontrar… agora é você quem me deve, erga-se, se sua arma está vazia, encontre um motivo para empunhá-la. Mas não sente e espere tudo se resolver, AJA!!

    De repente ele mudou seu foco para Cláudio — Se você quer saber sobre o fogo primordial, eu te digo que Ezequiel não sabe de nada. E sobre esse cavaleiro, deixe-o vir comigo, ele servirá meu mestre junto a mim. Trouxe para ti um presente, a criatura mais poderosa desse mundo, agora, liberte Ezequiel e deixe-nos ir.

    Claudio balançou a cabeça em negação: — Alguém como você não entenderia, já tenho o que quero. Além disso, você diz oferecer a criatura mais poderosa, mas me aparece com aquela coisinha?

    O ambiente de repente se tornou ainda mais frio, Cláudio não saiu do lugar, apenas se virou um pouco em direção a criatura que repousava calmamente no horizonte. Por estar longe não era possível medi-la, mas se comparasse com o prédio mais alto da cidade, devia ser três vezes maior. A criatura estava parada, parecia apenas estar esperando a ordem do cavaleiro. Ele a olhou e logo em seguida o monstro se levantou, se preparou para correr em nossa direção. Claudio sorria de forma estranha, eu o conhecia, ele estava aprontando algo, mas o que? Não conseguia imaginar nada até o momento que vi uma montanha se levantar de dentro da areia.

    A criatura que começou a correr em nossa direção de repente acelerou, estava muito próxima daquilo que saia de dentro do chão. Não era uma montanha, eram cascos, grandes cascos em pés cilíndricos que fizeram os chãos tremerem com apenas um toque, mas a criatura que fugia não teve chance quando um deles se moveu em sua direção.

    Terremotos fizeram a lança cair de meu colo, meu corpo mole se lançou para frente, tentei me sentar, mas os tremores eram tão fortes que todo o deserto havia se tornado plano. Eu não sabia o que estava acontecendo, não conseguia ver que tipo de criatura era, apenas vi seu casco esmagar a outra besta como uma formiga, além disso, apenas aquele casco era milhares de vezes maior que o monstro do Cavaleiro, o que era?! Eu queria ver, mas maldito corpo que não me respondia.

    Uma voz baixa de repente ecoou: — Deixe ele… por favor… — tão baixa e penitente que parecia estar se asfixiando com a areia do deserto, ele repetiu: — deixe o Kuro ir embora… isso não tem nada a ver com ele…

    Claudio observava a criança presa em sua perna: — Parece que aprendeu mais um truque, você fez bem, meu sobrinho. “Caminhar pelas sombras” é um bom início, mas ainda não é o suficiente.

    Com um pouco de esforço consegui observar o que estava acontecendo. Ezequiel segurava uma das pernas de Cláudio como se aquilo fosse o manter vivo, ele não havia se levantado para caminhar, pois suas pernas pareciam estar quebradas. E seus olhos, fechados, mas por um instante pude perceber que não havia nada lá. O que havia acontecido? Quanta dor ele estava sentido? Eu não sabia, nem imaginava, mesmo assim ele estava tentando proteger o cavaleiro.

    Cláudio se virou para mim, seus olhos frios lançavam certa intenção, não chegava a ser maligno, era mais como a de um goblin, um olhar furtivo, cheio de perspicácia: — O que você fará agora, Ezra? Meu sobrinho parece não o querer mais. — Um sorriso se abriu no rosto de Cláudio ao ver o cavaleiro abaixar a espada, ele a observava com antecipação. Agora eu tinha certeza, pois era algo que esse homem nunca faria em uma situação comum, aquela arma era especial.


    NOTAS: Nothing

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