Capítulo 18: Prólogo
Progenitor das Sombras
Caderno 1 – Sangue de Magma
Capítulo 0
Haviam dez impérios, nove reis e oito monarcas, mas apenas um governante. Com seu poder imensurável ele unificou os impérios e subjugou os reis, tomou os monarcas como seus filhos e mais uma vez trouxe a paz naquele mundo. Até eles chegarem…
O governante observava de seu trono o lado de fora, mas não importava quanto tempo passava, todos os dias era a mesma coisa. Os céus preenchidos por nuvens carregadas desabaram em chuvas fortes, raízes elétricas tomavam o horizonte, e durante o dia, o pouco azul que existia se convertia em algo mais avermelhado, trazendo à tona um lilás escurecido por causa das nuvens escuras.
Aos poucos, cada um dos impérios foi destruído, os reis foram mortos e o governante… ele viu cada um de seus “filhos” sucumbirem, sendo arrastados para um lugar que ele não conhecia. Agora, ele observava seu reino vazio, silencioso pela completa ausência de vida, e nem mesmo restava a solidão, pois ele não a sentia.
Insatisfeito, o Governante moveu uma de suas mãos e tudo ao redor se moveu. Tudo se apagou, se tornou escuridão, e da escuridão, a luz nasceu, dando novamente vida àquele mundo.
A grama crescia silenciosamente, apenas com o sussurrar dos ventos. Cheio de vida, um sol jovem brilhava incansavelmente no alto daquele mundo, e tudo se tornou vivo e alegre. O governante observava aquilo cheio de paz, um homem silencioso, que por algum motivo via mais significado nele que em sua ausência.
Novamente o mundo cresceu, se enchendo cada vez mais de vida enquanto se expandia. E os impérios se ergueram, pessoas, vidas efêmeras se comparadas com toda a beleza de toda a vitalidade que emanava daquele mundo, mas cada uma delas tinha sua própria beleza, pois existiam. E era assim que o governante os via. Pequenos, mas tão preciosos quanto aquele mundo.
Com seu poder crescente ele unificou os impérios. Os reis foram subjugados, suas esposas tomadas e dessa vez oito crias vieram de seu sangue. Ele os observava com certo apego, cada um deles cheio de uma pequena chama, e ele os chamou de os primeiros, os “criadores”, aqueles que tomariam seu lugar naquele mundo. Até o dia em que novamente os céus se encheram de lágrimas, numa rajada interminável de dor e sofrimento. E mais uma vez, ele viu seu império ruir…
O governante via seus inimigos entrarem em sua casa, ele observava suas tecnologias, armaduras brilhantes cheias de fios e coisas afins. Apesar de não entender nada daquilo ele decidiu tentar. Ele recomeçou, estudou o que pode sobre aquela tecnologia e viu que não era tão difícil, mas aquilo não iria o ajudar.
Seus inimigos aumentavam o próprio poder usando aquelas armaduras, um poder desconhecido e que ele não sabia usar. Então, imaginando como seria seu próprio poder, ele criou sua tecnologia. E com isso em suas mãos, ele recomeçou…
Existia um mundo de apenas onze impérios, onde um deles se especializou em tecnologia. Por causa de algum tipo de barreira ninguém conseguia entrar, mas eles observavam de fora como eram felizes as pessoas que ali moravam. Ninguém fazia ideia de como o décimo primeiro surgiu, alguns tinham medo, a maioria apenas interesse, mas isso deixou de importar no momento que os céus se tornaram escuros, pois vindo daquele lugar, um homem em uma armadura levantou suas mãos.
Seus pés fizeram os chãos tremerem, suas respirações destruíram o espaço à sua frente e o mover de sua cabeça levou vales e as montanhas à inexistência. Todos ficaram abismados com seu poder, e ele salvou o mundo. Ou era assim que essa história deveria ser contada. No fim de seu combate, o governante se perguntava como isso podia ter acontecido. Seus inimigos foram mortos, mas nada havia restado naquele campo de batalha, nem no mundo. Não foram seus inimigos que destruíram aquele mundo, ele o fez, mas apesar de ter todo aquele poder, ele não teve algo que todos os outros tiveram, o poder de escolha.
Quanto mais via, mais ele repudiava aqueles objetos criados para a destruição. Aqueles que atacaram se tornaram poderosos através da tecnologia, ele não queria se tornar poderoso, ele queria parar o próprio poder. E sem descanso, aquele homem continuou:
Um camponês levando em uma vila comum, um bruxo feiticeiro cuidando daqueles que não podiam pagar, um engenheiro e mecânico trabalhando para a imperatriz, até o momento em que não era mais capaz de se mover pelo excesso de energia em seu corpo. Ele se preparou cada vez mais acumulando ainda mais conhecimento, criou seu próprio alfabeto, para que ninguém além dele conseguisse usar aquele poder e escondeu os significados dentro de sua alma, na parte mais interior de seu ser.
Era fácil reproduzir uma armadura para seu corpo e uma arma para suas mãos, mas sem o entendimento daquelas letras, cada uma com seu próprio significado, nenhuma arma seria incomparável e nenhuma armadura seria impenetrável.
E ele finalmente conseguiu o auge de sua criação.
Ele não fez uma espada para matar seus inimigos nem um escudo para proteger seus aliados, mas uma armadura, uma que pudesse carregar a dor de toda aquela destruição dentro de si. E assim ele viveu, para sempre. Ou até o momento em que as fortes chuvas, prelúdios de seu maior desgosto, desceram dos céus.
…
Há uma história de dezenas de milhares de anos atrás: Todos os inimigos foram derrotados, e as fortes chuvas, que pareciam vir para nunca mais acabar, sem deixar rastros desapareceram. E o responsável foi apenas um; revestido com uma armadura de aço brilhante em um tom de prata acinzentada, onde veias mecânicas em um tom cintilante de azul carregavam toda a energia daquele ser, ele lutou bravamente salvando aquele mundo.
Mas depois de mil anos, aqueles inimigos retornaram.
O governante de seu trono observou os céus se tornarem escuros. Ele se levantou, o chão ao seu redor brilhou como se estivesse se alimentando da energia que corria por suas veias. Seus passos percorreram salões e corredores vazios, escadarias infinitas até o ponto mais alto do castelo, e de lá, ele observou seu mundo de cima. Um rei, um monarca e um governante, coisas que um dia ele já tinha sido, mas agora, junto ao estalar de seu dedo; toda a luz naquele reino de repente se apagou.
Não houve destruição, apenas o eterno silêncio das engrenagens deixando de girar. Um império de máquinas, criado para suprir a necessidade daquele que o criou: absorver de seu corpo aquela energia quase infinita, que até então não tinha um lugar para sair. Mas com a volta de seus inimigos, mas uma vez ele ergueu suas mãos, levando consigo a destruição. Porém, diferente do planejado, aos poucos seu mundo foi tomado pelos invasores, centenas deles, talvez milhares invadiram ao mesmo tempo.
Eles não levavam ouro, joias ou mantimentos, apenas aquelas pequenas chamas, vidas efêmeras que nem podiam se proteger. O Governante se perguntava o porquê daquilo e, cheio de ira, ele buscou incessantemente por aquele que comandava o exército.
Terras e mares não foram o suficiente para o parar, e apenas depois de destruir novamente aquele mundo com as próprias mãos, ele encontrou uma existência premiada; um ser capaz de mover as mãos antes do governante o atacar. Ele tinha certeza, aquele era quem comandava e, o segurando pelo pescoço, o enterrou em uma parede para que não tivesse chance alguma de escapar.
O governante observava aquele ser, ele não tentava resistir; vendo aquilo, pela primeira vez desde a primeira criação do mundo, o silêncio daquele homem se quebrou. E a palavra que saiu de sua boca foi apenas uma, uma questão: “Por que?”. Sua voz ressoou naquele mundo vazio, onde apenas ele e aquela pessoa existiam.
Não houve uma resposta daquele ser, não por sua voz, mas a armadura que cobria seu rosto retrocedeu, revelando longos cabelos grisalhos cintilantes, de uma beleza que mesmo aquele governante nunca tinha encontrado em seus milhares anos de vida. Ele observou enquanto esperava pela resposta, mas a partir de certo momento apenas o som do pescoço do inimigo se rachando ecoou, seguido pelo de seu corpo já sem vida caindo no chão.
O governante observava aquilo cheio de dor, via o fogo daquele ser aos poucos se apagar, um fogo fraco, quase insignificante, mas que tinha sua própria beleza de certa forma.
Mais uma vez ele retornou, o mundo novamente se iluminou com o nascer de um sol jovem e dourado, e o tempo passou; como se segundos fossem eras, até que os céus novamente se encheram de lágrimas. E o governante, sua chuva rapidamente apagava o fogo vindo de outro mundo, tudo para manter seu próprio fogo vivo. Mas não importava o quanto ele tentasse, nada mudava, com exceção de um pequeno traço que mesmo ele não conseguia perceber, aquela mulher…
A partir de algum momento na história aquele homem passou a procurá-la, fez questão de observar em todos os lugares daquele mundo, já que por algum motivo, ela nunca estava no mesmo lugar. Mas ele a encontrou, a viu dando ordens a seus subordinados, agindo com mão de ferro e os usando como uma força punitiva. Apesar disso, ele via humanidade em suas ações, pois nunca dava um trabalho a alguém sem saber se a pessoa conseguiria.
Um governante, assim como ele; e talvez, assim como ele, ela não tivesse opção…
A partir de certo momento já não fazia mais sentido resistir, eles voltariam ao ponto onde era inevitável a morte daquela mulher, e tudo recomeçaria. Porém, uma ideia invadiu a mente daquele governante, algo que inicialmente deveria ser impossível, mas que ele não podia deixar de tentar. Ele a roubou, literalmente, levou consigo aquela mulher de baixo de seus braços para o lugar mais alto daquele mundo, um lugar que ele gostava de chamar de “Mordida Gelada”. As cadeias de montanhas nevadas com os picos mais altos desse mundo formavam grandes dentes esbranquiçados ao norte do continente, e de lá, ele mostrou àquela pessoa como o mundo era pequeno. Pois mesmo com todos aquele espaço aberto, estava farto de vida. E mesmo naquela alta montanha com temperaturas abaixo de zero, ainda era possível ver uma ou outra planta, folhas ainda vivas que se esforçaram para crescer, e ele mostrou a ela como era bela aquela vida.
Na espera de que o inimigo tivesse entendido sua mensagem, ele a levou de volta para seu acampamento. As coisas mudariam, foi o que ele pensou, mas tudo continuou igual. Sem saber o motivo daquilo não ter dado certo, o Governante observava seu mundo colapsar em uma onda de caos. E foi quando ele percebeu uma verdade, algo que como trovões fez sua voz se levantar…
Haviam dez impérios, nove reis e nove criadores, mas apenas um governante. Tudo começou com seu poder imensurável, ele unificou os impérios e subjugou os reis, tomou suas esposas teve seus próprios filhos, e mais uma vez ele trouxe a paz naquele mundo.
Mil anos depois uma criança nasceu, e seu nome… era Cláudio.
“O ‘ser’ humano não vem de sua aparência,
mas de sua racionalidade humanitária.”– D. Machado
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NOTAS: Espero que perdoem-me a falta de caps, pai tá dodói. Mas toma ai 3 de uma vez, estava fazendo quase de cama, mas fiz.
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