Capítulo 21: Abismo
Progenitor das Sombras
Caderno 2 – Os dois lados
Capítulo 3
Aviso: Tá sendo tarde, mas esses são os sinais que serão usados a partir de agora.
Diálogos: — Texto —
Pensamentos: “Texto”, pensei em minha mente que esse é um exemplo.
Sussurros: — “Texto” —
Poderes: — [Magia das Sombras] —
Poderes Únicos: — {Magia das Sombras, Corte dimensional!!} —
Obs: poderes se trata de ressonância, algo que está enraizado na magia desse mundo. É como um eco do pensamento de quem usou a magia, e vai ser explicado logo, logo.
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— Levanta logo, seu merda!! — O guarda gritou me empurrando, fazendo eu cair no chão. Senti minhas mãos tremerem de raiva, estava a poucos minutos de sair dessa prisão: “Se eu quebrar apenas a cabeça, fico mais dois dias? Não, talvez cinco…”
Voz desconhecida: — Acho melhor você pensar em não fazer nada.
Olhando para não muito a minha frente, pude ver sapatos finos, que não combinavam com o nível desse lugar.
— Superintendente! O que está fazendo aqui?! — O guarda perguntou um tanto surpreso com a presença de seu superior.
Os olhos do superintendente se dirigiam a mim, um homem gordinho, bem vestido, não passava a aura de um nobre, mas a de um diplomata. Normalmente os diplomatas costumam ignorar tudo que estivesse ao seu redor, e isso era bom, eles não precisavam de mim, nem eu deles. Era como se entrássemos em consenso pelas leis do universo, o que já me fazia gostar de sua presença.
— Você acha que eu não deveria estar aqui? — A voz do gordinho ecoou um pouco arrogante.
— N-NÃO SENHOR!! Nem é isso, é que… — o guarda se pegou olhando para mim sem saber o que dizer — … peço sua confiança para lidar com isso.
— Não — A resposta veio de forma seca. — Já estou aqui, andei vinte e sete andares para voltar de mãos vazias? Levante-o e pare de me fazer perder tempo. — Virando-se, o gordinho começou a caminhar.
Corredores apertados, longos, o cheiro de mofo e mijo se misturava tornando o ar ainda pior. Não havia parede à minha esquerda, o corredor era apertado, mas apenas por ser uma passarela com menos de um metro.
Uma prisão construída nas paredes de um buraco gigante, dentro de um abismo. Estávamos no andar 27, e não tinha certeza de quantos andares tinham esse lugar, mas a queda era verdadeira. Olhando para o outro lado do abismo, pude ver mais e mais celas quase se apagando na escuridão, a mostra apenas por causa de uma pequena lâmpada que ficava no teto dos corredores.
À minha direita, portas fechadas escondiam salas tão pequenas quanto banheiros públicos. O silêncio que emanava daquele lugar era diferente de outros, era um silêncio “cheio”, como se várias almas se espremesse dentro de cada uma daquelas pequenas salas. Uma solitária, um matadouro, quantas almas foram jogadas para morrer naquela escuridão?
A voz do superintendente ecoou um tanto desinteressada, chamando minha atenção: — Você deve saber algo antes de sair, menino Ezequiel. — Mas como ele não tinha interesse, nem eu, continuei observando os arredores.
Se olhasse para o outro lado do abismo, já podia ver a cela de onde eu tinha acabado de sair. Os corredores eram planos e circulares, e no fim de cada um deles, havia uma escadaria que levava ao próximo andar.
— ME LEVE DAQUI!! EU QUERO SAIR!!! — Uma voz desesperada ecoou pelo lugar. Apesar da vitalidade, não era um jovem, mas um senhor já de idade que pela primeira vez em anos, ouvia os passos de alguém que estava prestes sair daqui.
— … é problemático quando isso acontece… — o superintendente falou com uma voz seca.
O motivo de eu estar interessado neste lugar, era o sistema de níveis. Os sete primeiros andares sempre possuíam apenas celas com grades, os últimos três sempre eram formados por solitárias, fazendo assim um nível. Como estávamos no andar vinte e seis, esse era o segundo nível.
Isso significava algo, tinha que significar, mas eu ainda não sabia o quê. O superintendente parou para observar a algazarra que estava acontecendo algumas celas a frente. Eu queria ver o que estava acontecendo, mas ele simplesmente ocupava todo o espaço que eu olhava. E foi quando o som de uma explosão ecoou não muito longe na nossa frente, poeira se espalhou no ar, de onde ecoaram gargalhadas: — WAHAHAHA!!! EU CONSEGUI! EU FINALMENTE CONSEGUI!! — Saindo da cela, o velho barbudo e maltrapido gritou ofegante.
O superintendente observava aquilo sem nem ao menos se mover, eu duvidava que estivesse com medo. Se essa pessoa veio me buscar, com certeza tinha força o suficiente para me parar. Mas ao invés de tentar parar o fugitivo, ele apenas observou.
Já o fugitivo, também parado do lado de fora da cela, observou o abismo e os andares em espiral. Por um instante pensei que ele correria em direção a saída ou tentaria atacar o superintendente, não era má ideia usá-lo para sair daqui, mas quase perdi o queixo quando seu corpo voou para dentro do abismo.
Meus olhos deviam estar errados, só podia ser isso. Os que estavam na cela não se moveram ou se atreveram a sair, mesmo com todas aquelas barras quebradas. Eu até entendo eles não saírem, mas por que aquele homem se jogou?
Voltando a caminhar, o superintendente continuou a conversa com sua voz desinteressada, ignorando totalmente o fato daquela cela ainda estar aberta.
Andando mais lentamente, observei as pessoas lá dentro. Eles eram humanos, eu tinha certeza disso, então, por que ninguém ali tentava fugir? Todos desejavam liberdade, eu também desejava, queria sair dessa cidade e ficar longe “daquele” homem. Mas só era preciso observar as grades enferrujadas com cuidado e descobriria o motivo de ninguém sair dali.
Não existia algo como concerto automático de grades, ou um sistema mágico para isso. Mas aquelas barras estavam lentamente se reconstruindo, de forma visível ao olho nu. Era de propósito, estavam dizendo: “Vamos, saia antes que nunca mais possa tentar.”
A voz do superintendente ecoou: — Isso não é comum de acontecer, mas “eles” aproveitam sempre que acontece, gostam de brincar, principalmente por não ter muito o que fazer aqui embaixo. Todos desejam liberdade, mas o medo de algo invisível as controla. Essas pessoas estão a um passo dela, mas não podem pegá-la.
“Eles?”, pensei tentando encontrar outras pessoas além de mim, o guarda e o gordinho. Nada, não havia ninguém. Mas algo me incomodava, se não tinha ninguém além de nós aqui, eles tinham medo do que? E com isso em mente, me veio uma ideia.
“E se eu der um empurrão?”. Me concentrando, busquei ouvir as pessoas que estavam naquela cela. Havia uma que, entre todas as outras, era o mais assustado, suava frio, emanava algo que nenhum daqueles outros emanava, sombras…
— [Ordem] — A voz ecoou dentro de minha mente, e eu sussurrei: — “Essa é sua última chance.”
— “C-Chance…” — Pude ouvir um sussurro através do vento, era ele.
— “Sim, não quer sobreviver?”
— E-eu quero… sobreviver…
— “Sim, você quer, então fuja! Ninguém vai te parar!”
— N-NI-NIING-GEMM! — pulando para fora da cela, o homem gritou chamando a atenção do gordinho na minha frente. Virando-se para observar, ele abriu um pouco de espaço caso o homem quisesse passar. — E-EU VOU SERVI-LO! EU JURO!! — Porém, como um louco, o homem também se jogou para dentro do abismo.
Raios de luz rapidamente tiraram a visão de todos que estavam naquele lugar. Um som ecoou, eletricidade, um raio, uma corrente tão poderosa que quebrava a própria barreira do som. Senti todo meu corpo arrepiar junto à descida da corrente elétrica. E em apenas um instante, antes mesmo que o homem pudesse cair para dentro do abismo, seu corpo se desintegrou.
Todos que estavam presos puderam ver perfeitamente a morte daquela pessoa, e quem não viu, viu o clarão de luz que o matou. Eu realmente estranhava haver celas apenas de um lado da parede, era para que todos pudessem ver o que acontecia com quem quebrasse as regras.
Com uma risada, o gordinho se virou para mim: — Se você quebrou a barra, suba até o primeiro andar e saia da prisão, ou pule no abismo e ceda sua vida para a servidão. E se não foi você quem quebrou a barra, não fuja, nem ao menos pense em sair de onde está. É interessante, não é? Vamos continuar. Bem, sobre o que eu estava falando mesmo? Ah, agora me lembro…
Continuamos a subir, mas não pude deixar de me questionar sobre o que havia acontecido. Até agora apenas guardas comuns tinham me acompanhado, porém, diferente de antes, eu tinha um peixe grande em minha rede, alguém que realmente conhecia esse lugar: — Tenho uma pergunta — eu disse para o gordinho, o interrompendo de seu monólogo —, quem controla esse lugar? Raios elétricos não aparecem do nada, e nem parecem ser sua praia.
Não houve uma resposta imediata. Silêncio, agora que eu havia percebido, nossos arredores estavam tão silenciosos quanto um cemitério. Os detentos não estavam parados, existiam milhares de pessoas ali, então, como não havia nenhum som?
— Os raios não são minha praia, mas sou eu quem realmente controla esse lugar. — o gordinho respondeu um tanto desanimado, mas havia orgulho em suas palavras.
— É você quem conserta as barras?
— Como? De forma alguma — Sua voz soou indignada —, alguém do meu nível consertando celas? Acha mesmo isso?
— Eu chutei.
O gordinho se virou para mim, embebido em orgulho: — E errou feio, haha, eu posso ouvir tudo que acontece nesse lugar. Aliás, pensei não desejar usar seu poder, mas o ouvi sussurrando para as sombras.
— Eu não tenho poder — retruquei, também parando de caminhar.
— O mestre disse algo assim, mas algo o torna perigoso. Ouvi o que você fez aqui embaixo nessas sete noites e soa perigoso. Se quiser me contar sobre…
— Eu quero ir embora, seria ótimo se parasse de tapar o caminho.
— Haha, então vá na frente — ele disse abrindo espaço para eu passar. Continuando o caminho, logo percebi algo: aquele homem havia desviado de minha pergunta, e de forma que eu nem ao menos havia percebido, como isso tinha acontecido?… — De qualquer forma, não acho que você consiga fugir. Não é para me gabar nem nada, mas foi por isso que me tornei superintendente…
“Opa…”, pensei, vendo que o assunto tinha ressurgido como mágica. Ele continuou conversando, sua voz voz continuava moribunda, parecia realmente não ter vontade de falar. Enganação, demorou onze andares até o assunto finalmente se tornar relevante:
— Está me dizendo que além de mim, você e aquele guarda, há outras pessoas nesse mesmo lugar nessa mesma passarela? — Perguntei olhando para o comprimento do corredor, que parecia não ter mais do que um metro.
— Eu te disse que posso ouvi-los, eles estão aqui. Se não acredita, me diga de onde aquele raio veio… — Os passos do gordinho pararam, percebendo isso, me virei para ver o que tinha acontecido. Seus olhos semicerrados me estudavam, parecia querer ver meus pensamentos. — Você queria saber sobre eles, não é isso? — ele disse com uma risada irritante, mas um tanto engraçada por seu rosto gordinho a acompanhar.
— É, esse lugar me intriga.
— A mim também! — Era estranho como sua voz parecia alegre ao dizer isso. — Mesmo tendo trabalhado por dois anos, apenas posso descer até o andar 57. Depois disso, também é um mistério para mim.
— Andar 57? Espera, não é você quem controla esse lugar?
— Sim, sou, mas também tenho meus limites. Por que? Acha injusto?
— Com certeza! Se deter o poder não é suficiente para exercê-lo, de que vale o poder? — O superintendente me olhou com um olhar de riso, parecia estar se divertindo. Pensei: “Ele é alguém estranho”, mas não era ruim falar com ele.
Sua voz soou um pouco calma: — Eu gosto de pensar diferente. Dois meses atrás não conseguia descer mais que 43 andares, isso só pode significar algo.
— O quê?
— Quanto mais eu desço, mais controle posso exercer nesse lugar. E quanto mais desço, mais eu consigo ver o quanto estou me tornando forte. — Nesse momento seu rosto emanava um pouco de sabedoria. — Com certeza posso chegar no andar sessenta agora, mas não preciso ter todo esse poder imediatamente. Posso aproveitar aos poucos do que já consegui e dar tempo a mim mesmo, melhorar minhas capacidades, minha ressonância com esse mundo, assim, quando eu voltar lá, conseguirei chegar no andar setenta quase sem me esforçar; e verei uma grande evolução de minha força.
Por um instante foi como se minha mente se desligasse. Mesmo tendo ouvido tudo que ele disse, apenas partes daquelas palavras se fixaram em minha memória. Eu podia não ter entendido tudo, mas sabia de algo: — Eu gosto desse pensamento, é um bom pensamento, na verdade, é muito bom.
— Não é? — ele disse com um sorriso orgulhoso. Continuamos subindo em ritmo lento, conversávamos como se tivéssemos passado a infância juntos. E o melhor, havia descoberto mais sobre aqueles que cuidavam dos andares.
“O Observador”, era assim que o chamavam. Cada nível possui um deles, e ele deve cuidar de todos os dez andares em seu nível. Alguns livros contavam sobre criaturas chamadas de Observadores, não tinham um nome em específico para ela, pois nunca a viram. Sabiam que ela existia, mas mesmo que quisessem estudá-la, não era uma criatura que se podia brincar.
“É um mito, e mesmo se não fosse, ‘ele’ não teria capacidade para controlá-las. Não é?”, me perguntei por um tempo sem saber dar uma resposta.
Às vezes eu sentia como se algo me observasse de longe, um olhar, uma sensação que fazia meu rosto se virar no meio da rua, ou fechar as portas do armário antes de adormecer. Até alguns dias atrás eu não conseguia enxergar o mundo através dos sons, agora eu podia, e tentei vê-los, mesmo assim, nada…
E aqui era a mesma coisa, apenas os guardas e os detentos existiam. Porém, algo estava errado. Sempre havia outras coisas me observando, como as “sombras” do governador.
“Aqui não tem nenhuma, por que?”. Quanto mais eu pensava, mas aquilo se tornava estranho. E o pior: “Se não posso vê-lo, não posso ir contra sua arma”, e esse simples fato me assustava.
— … só alguém em pleno desespero ousaria desafiar um deles, você incentivou aquela pessoa com seus poderes. Estou certo? — O gordinho perguntou, se referindo à pessoa que foi queimada até a morte pelo raio.
— Eu não sou meu tio, não tenho poder para controlar as sombras.
— Se não pode controlá-las como ele, então, como pode controlá-las? Isso é intrigante, me faz querer saber como funciona. — Pelo tom de sua voz, ele parecia realmente interessado, mas sem perceber ele logo mudou de assunto ao ver a última escadaria que levava para fora desse lugar. — Como passou rápido. Devo dizer que foi divertido, por agora tente ficar longe de problemas. Espera… eu não sei o porquê, mas sinto ser inútil dizer algo assim para você.
— E é, nunca fui em direção a problemas, eles vêm até mim. — Não pude deixar de praguejar em minha mente ao dizer isso. — E você me disse muita coisa sobre esse lugar, mantenha a cabeça no pescoço.
— Nah, não precisa se preocupar. Não é como se o mestre fosse se importar com isso de qualquer forma. Não há problema em contar segredos para os de casa, por algum motivo eu sinto que você logo logo voltará.
— Sim… — respondi um tanto incomodado — pode parecer estranho, mas sentia a mesma coisa.
Nunca tinha planejado ser preso ou coisa parecida, mas algo nesse lugar me chamava. Olhando para o outro lado do abismo, observei os andares descendo, procurei sem sucesso por seu final. Infinito, apenas essa palavra vinha à minha mente ao ver aquele buraco sem fim. Mas como o canto de uma sereia, uma voz ecoava em minha mente quando eu olhava para aquele lugar, vinha de sua parte mais profunda: “Venha me buscar, eu desejo…”. E eu a respondi:
“Quem você deseja?”
“… eu desejo…”
“O quê?!”
“…você.”
Não sabia quem era, ou o que, mas eu com certeza voltaria.
— Impressão minha ou você está vermelho?
— Impressão sua. — Respondi ao gordinho, continuando meu caminho. Uma mulher? Uma arma? Talvez algo divino vindo de outro mundo. Meus dedos coçaram, queria pular lá e encontrar, mas esse gordinho estava certo. — Se eu não me apressar, posso me preparar melhor para o que está por vir…
— Sim? — A voz do gordinho ecoou, incógnita. Parecia que sua memória não era tão grande quanto sua língua. — Ah, está falando sobre aquele assunto novamente? Eu não disse bem isso, mas se é isso que entendeu… acho que também pode ser visto dessa forma.
Haviam aqueles sob meus cuidados, pessoas que eu tinha que manter por serem meus empregados. Meu dinheiro era o suficiente para cuidar deles, mas não o suficiente para ter poder verdadeiro – principalmente pelo fato de eu não ter nenhum status de nobreza. Agora que via melhor, tudo que fiz para sair daqui foi inútil?
“Sim! Você foi burro de tentar sair sem um plano, agora ele está morto e você não tem nada…”, com esse pensamento em mente, tive uma unica certeza, não conseguiria sair desse lugar pela porta da frente. “Mas se não tivesse tentado, não saberia até onde consigo chegar. Agora sei o que fazer…”
— Ezequiel! — Seguido de uma voz feminina, senti um aperto se espalhar em meu peito. Os braços finos e gentis contornaram meu pescoço de forma firme e incomoda, pois eu sentia que mesmo que quisesse, não poderia fugir. Sua voz soou novamente, ainda mais doce que antes, mas em um tom de preocupação: — Como podem ter feito isso com você?
— O quê? — perguntei, levantando o rosto para observar a pessoa. Ela se afastou um pouco, revelando uma garota pura, tão brilhante quanto seus olhos esverdeados que pareciam jóias raras. Apenas rumores, eu não me deixava enganar por sua aparência.
Tínhamos acabado de entrar na sala de controle, (a única saída daquela prisão), e vários guardas – que deveriam impedir fugas, me observavam furiosamente. Estar com essa pessoa era um problema, por causa dela vários olhares de raiva, desgosto e desaprovação se dirigiam a mim.
A voz dela soou novamente, inicialmente como um sussurro: — É só isso que tem a me dizer?… — Mas se transformando — Seu tolo! Babaca! Arrogante!… como pode me dizer isso depois de me fazer esperar tanto… — Uma sombra se moveu violentamente em minha direção, acertando em cheio meu rosto. O som do estalo ecoou como se amplificado por uma caixa de som, senti um formigamento.
A mão dela se levantou novamente, e rapidamente cortou o ar em minha direção. Segurei seu pulso antes que pudesse me acertar, mas sua outra mão foi tão rápida quanto. Porém, consegui segurá-la. Uma Nobre agora estava em minha frente, e eu segurava seu pulso, o lugar se encheu de silêncio. Apesar de eu gostar de lugares silenciosos, nesse instante aquele lugar me incomodava. Os guardas seguram suas armas como se esperassem para me atacar, muitos cerraram os dentes, pareciam pensar: “Ele ousou tocá-la! Temos que matá-lo.” Mas ninguém se movia.
Já eu, eu apenas praguejava em minha mente: “Não busco problemas, ele realmente vem até mim…”. Mas apesar de todos os olhares ruins, a menina em minha frente mantinha seu olhar de dor. Não uma dor por si própria, por estar machucada, mas por mim.
Eu estava sujo, no momento que entrei na sala de controle percebi os guardas fechando a cara. Taparam o nariz por não aguentar o fedor que vinha do meu corpo, odiavam minha aparência de monstro, como as criaturas que mataram milhares dos seus; e o pior de tudo, eu era o sobrinho falho do homem mais adorado do mundo, a “criança” problemática, o demônio.
“E mesmo depois de tanto ser chamado de monstro, ela não me olha como um. Por quê?” Perguntava em minha própria mente, uma pergunta fatal.
Puxei sua mão para mais próximo de mim, senti certa relutância em seu corpo, e o motivo, provavelmente ela não queria me mostrar sua dor. Meu corpo era tão resistente quanto uma pedra, aqueles tapas não iriam me machucar e ela sabia disso; mas sua mão… ela tremia. — … se quer mesmo fazer isso, pegue um bastão com os guardas. Tenho certeza que eles te dariam.
— Cof… masoquista… — Uma tosse falsa ecoou vinda de trás de mim, era o gordinho. — Bom, agora que a senhorita veio te buscar, posso voltar para minha sala. — Ele seguiu em direção a saída.
Vendo o gordinho sair, o guarda que havia me tirado da cela o seguiu, observei uma mancha em sua mão, na parte de trás, uma pinta. Mais cedo ou mais tarde ele a perceberia, mas não era algo que eu devesse me preocupar.
Agora que eu me lembrava, havia outro segredo nesse lugar, algo que percebi depois de muito observar: quanto mais profundo o andar, mais dificuldade alguém teria para usar seus poderes. Apesar de ter suas diferenças, comigo não era exceção. Meu sangue que parecia sempre correr uma maratona, quase parava, isso não me machucava, mas sentia estar drogado, indisposto.
E um pensamento veio à minha mente: “Eu consegui suportar o andar 27, o gordinho está 30 andares na minha frente. O quão poderoso ele é?”. E mesmo que fosse um pensamento, meus lábios se moveram os jogando para fora, me fazendo ver que perguntar a força de alguém, talvez fosse um erro.
— Gordinho, se eu quisesse, você conseguiria me impedir de fugir? — E foi o tempo do homem rechonchudo sorrir de forma engraçada. Quando percebi meu corpo havia entrado em alerta, e já havia empurrado a garota em minha frente.
As lâminas cortaram o ar em espiral, eu não as vi, mas sabia por senti-las se enroscando em meu corpo molas, totalmente prontas para me matar. E nos instantes seguintes, apenas vi minha própria morte.
Ou seria assim se ele realmente desejasse, mas não éramos inimigos ainda. Ele era um Zefir, um controlador do vento. Naquele momento em que nenhum som nos incomodou, eu percebi a mudança no ar, mas não tive certeza…
“Ele está acima dessa cidade, alguém que superou o limite imposto por Cláudio, mas se esconde. Ele é como eu.”
Em minha frente, a menina de olhos esverdeados franzia o cenho. Sua voz soou incrédula: — Você está sorrindo… por ter me empurrado?… — Era certo de que nenhum deles tinha entendido, existia um senso comum nesse lugar, e era de que a única “magia” que realmente valia a pena era a de fogo, por causa de seu poder destrutivo.
Significava literalmente: “O vento não machuca”, ou, “Eu me ferrei”.
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