O cronômetro parecia zombar deles. 2–0 brilhava no placar, e cada segundo que caía era um peso esmagando o peito do Time Z. O suor escorria, a respiração ardia nos pulmões, e a sombra de Kira pairava sobre todos, como se o adversário fosse um deus intocável.

    No círculo central, Akira ergueu o braço, chamando todos. Os olhos dele queimavam, mas não de desespero — era faísca de liderança.

    — Escutem… — disse, ofegante, mas firme. — Se a gente não fizer algo agora, acabou. Mas eu tenho um plano.

    Os companheiros cercaram-no em meio à respiração pesada. O estádio rugia, mas, naquele instante, só existia aquele círculo de confiança.

    — O Tsubasa vai atravessar com a velocidade dele até o meio. De lá, toca pra mim. — A voz de Akira era um fio de aço. — O Nakki e o Genjiro vão direto pra área, sem pensar. Eu lanço alto. Vocês brigam no ar, cabeceiem, chutem, desviem… qualquer coisa. Mas a bola TEM que chegar.

    Renji fechou o punho com tanta força que os nós dos dedos estalaram. — Então é isso… vamos quebrar esse muro de uma vez.

    O árbitro apitou. A bola voltou a rolar.

    E, no mesmo instante, Tsubasa explodiu.
    Seus pés mal tocavam o gramado, cada passada era como um trovão. O primeiro marcador tentou cercá-lo — drible seco. O segundo veio no corpo — corte rápido, seco como lâmina. O terceiro mergulhou num carrinho desesperado — Tsubasa girou no ar e caiu correndo, mantendo a bola colada ao pé.

    A arquibancada enlouqueceu, gritos ecoando como trovões:
    — TSUBASA! TSUBASA!

    Ele disparou até o meio-campo adversário, puxou a bola pro lado e lançou para Akira.

    Akira recebeu no peito, amortecendo com maestria. O tempo pareceu parar por um segundo. Ele respirou fundo, ergueu a cabeça, e com um toque firme mandou um passe alto, perfeito, uma parábola desenhada sob a luz dos refletores.

    Genjiro já estava lá. O gigante subiu como um muro em movimento, músculos tensionados, olhos fixos na bola. O corpo inteiro dele parecia gritar por aquele cabeceio.

    Mas o impossível aconteceu.

    Um vulto negro cortou o céu.
    Kira.

    Ele surgiu mais alto, mais rápido, mais letal. A ponta da chuteira dele desviou a bola no ar com uma precisão absurda, e o contra-ataque nasceu.

    — Tsc… Kira, seu desgraçado! — gritou Akira, a voz carregada de frustração. — Como diabos você interceptou esse passe?!

    O estádio explodiu em urros. O Time T não hesitou. A bola caiu nos pés de Kira, que a girou de primeira para o ala. O passe foi rasante, milimétrico. O ala arrancou pela lateral, já levantando a cabeça para cruzar.

    A defesa do Time Z estava aberta. O perigo era real.

    Só que uma sombra deslizou na grama.
    Daichi Kuronuma.

    Ele se jogou num carrinho perfeito, a chuteira raspando a bola no exato milésimo de segundo antes do chute. O impacto soou seco, a bola desviou e a torcida vibrou, metade aliviada, metade furiosa.

    — DAICHI!!! — ecoaram os gritos da arquibancada.

    O contra-ataque virou na mesma hora para o Time Z. A bola correu em toques rápidos, como um raio: Keo dominou no meio, puxou um drible copiado de Renji, atravessou dois marcadores, e já tocou para Tsubasa. Ele não hesitou, lançou em velocidade para Renji, que avançou com brutalidade, rompendo a linha defensiva.

    Era a chance.

    Mas, como um fantasma inevitável, Kira apareceu outra vez.
    Ele deslizou no meio do caminho, interceptando o passe com a parte externa do pé, num ângulo que parecia matematicamente impossível.

    O estádio congelou. Até a respiração coletiva pareceu sumir.

    — Ele… ele tá em todos os lugares… — murmurou Akira, sentindo o suor escorrer frio pela nuca.

    O campo inteiro vibrou com uma verdade cruel:
    não era só habilidade… era dominação absoluta.

    O estádio inteiro estava em transe. As vozes se misturavam num rugido ensurdecedor, mas dentro do campo, para o Time Z, havia apenas uma única presença: Kira.

    Ele não corria. Ele flutuava. Cada passo parecia medido, cada movimento, calculado. Era como se o gramado fosse seu tabuleiro particular, e todos os outros jogadores, apenas peças sendo arrastadas pela sua vontade.

    Renji recebeu a bola na intermediária. O peito arfava, o sangue queimava nas veias. Ele pensava apenas em uma coisa: esmagar.
    — Vem pra cima, maldito…

    Ele acelerou. Ombro contra ombro, varreu o primeiro marcador como se fosse um cone. A multidão vibrou. O segundo veio com um carrinho desesperado, mas Renji saltou, aterrissando firme, a grama voando debaixo das chuteiras. Ele abriu o braço e rugiu como um animal, partindo em direção à área adversária.

    Aos olhos da torcida, era pura força bruta.
    Aos olhos de Akira, era esperança.
    Mas, aos olhos de Kira… era apenas um roteiro previsível.

    O camisa 10 do Time T nem precisou correr. Ele já estava lá.
    Quando Renji ergueu a cabeça para soltar o passe em profundidade para Akira, uma sombra escura se projetou na linha de visão.
    Kira.

    Ele se antecipou como se tivesse lido não apenas a jogada, mas o próprio pensamento de Renji.
    A bola sequer saiu limpa do pé. Kira esticou a perna com elegância e cortou o passe, dominando em seguida com um giro perfeito, o corpo solto como se dançasse.

    — D-de novo não… — Akira sentiu o coração afundar.

    A arquibancada explodiu em gritos, metade em êxtase, metade em choque.

    E Kira, com aquele sorriso frio, ergueu o rosto na direção de Akira. Os olhos dele brilhavam como lâminas afiadas sob os refletores.

    — Vocês ainda não entenderam, né? — disse, com a voz calma, quase debochada. — Não é adivinhação… é controle. Eu sei o que vocês vão fazer antes mesmo de vocês saberem.

    Renji travou os dentes, o suor escorrendo pelo queixo.
    — Cala a boca, desgraçado!

    Ele arrancou de novo, sozinho, empurrando a bola com violência, rompendo dois defensores num corpo a corpo brutal. O grito da torcida ecoava:
    — RENJIIIIII!!!

    Mas, antes que pudesse finalizar, a cena se repetiu.
    O som seco do contato.
    A bola sendo tomada com leveza.
    E Kira surgindo outra vez, como um fantasma inevitável.

    O detalhe era cruel: ele não usava força. Não empurrava, não derrubava. Apenas tomava.
    Com a classe de quem não disputa… mas já vence.

    O narrador da cabine mal conseguia conter a empolgação:
    — Inacreditável! Kira está em todos os lugares ao mesmo tempo! Ele não marca o adversário… ele marca o futuro da jogada!

    Os olhares do Time Z tremiam.
    Keo, que assistia de longe, sentiu um arrepio percorrer a espinha.
    — É impossível… é como se ele tivesse uma Meta-Visão absoluta.

    E, naquele instante, caiu a ficha em todos:
    Eles não estavam apenas enfrentando um jogador melhor.
    Estavam enfrentando alguém que já sabia o resultado antes mesmo do jogo acontecer.

    O cronômetro girava devagar, cruel, como se zombasse do Time Z. O placar estampava 2–0. Cada número era um soco no estômago, mas os garotos ainda respiravam, mesmo que o ar parecesse faltar.

    Akira, suado, o uniforme grudado no corpo, reuniu os companheiros no círculo central durante uma pequena pausa no jogo. Os refletores iluminavam seus rostos cansados, mas os olhos ainda queimavam.

    — A gente não pode deixar o Kira jogar sozinho! — gritou, a voz rasgando no meio da barulheira da torcida. — Se ele sabe o que vamos fazer, temos que ser imprevisíveis!

    Tsubasa, dobrado sobre os joelhos, ergueu o rosto vermelho de esforço, o peito arfando.
    — Então… a gente precisa improvisar.

    Akira bateu no peito com força.
    — Isso! Esqueçam as jogadas decoradas. Criem! Usem seus instintos! Sejam caóticos!

    As palavras caíram como faíscas em um barril de pólvora.
    Keo fechou os punhos, lembrando de todos os dribles que já tinha copiado na vida, de rua, de treino, de vídeo. Renji mordeu o lábio, sentindo a fúria crescer, pronto pra transformar força em tempestade. Tsubasa respirou fundo, decidido a virar um maestro imprevisível. E até Genjiro, o mais contido, assentiu com um brilho diferente nos olhos.

    O juiz apitou. A bola voltou a rolar.

    E então, o Time Z mudou.

    Keo recebeu na ponta esquerda. Normalmente, ele cortaria para o meio. Mas dessa vez, girou de costas, imitando um movimento que tinha visto uma vez em um vídeo sul-americano. A torcida vibrou quando o marcador escorregou no vazio.
    Ele avançou dois passos, mas em vez de cruzar, bateu de calcanhar para trás. A bola encontrou Renji, que veio atropelando como um touro.

    Renji não pensou. Usou o ombro, o corpo, o grito. Derrubou um adversário no impacto, segurou outro na força bruta e, ao invés de arrematar como sempre, rolou a bola para Tsubasa.

    Tsubasa levantou a cabeça. O olhar dele variava rápido: curto? longo? chute? passe? Nada tinha padrão. Ele fingiu o chute, mas tocou de trivela, a bola viajando como se tivesse vida própria.

    — AGORA, GENJIRO! — gritou Akira.

    Genjiro, que sempre fora tímido no ataque, recebeu meio desajeitado. A bola quicou no joelho, subiu, quase escapou, mas ele manteve. De forma estranha, irregular, conseguiu levar adiante, e justamente essa estranheza confundiu o marcador.

    A torcida, que estava sufocada pela aura de Kira, começou a se agitar de novo. O grito crescia, pulsava como um coração gigante. O estádio sentia que aqueles garotos ainda estavam vivos.

    — TIME Z! TIME Z! TIME Z!

    Kira observava de longe, com aquele sorriso frio. Pela primeira vez, seus olhos afiaram-se com um interesse genuíno.
    — Então… vocês finalmente entenderam. O caos.

    Mas mesmo assim, sua postura era relaxada, as mãos levemente abertas, como um maestro que já prevê a sinfonia antes da orquestra tocar.

    O Time Z empurrava, o campo virou um campo de guerra. Os corpos se chocavam, o suor voava no ar como chuva. Não havia mais jogada ensaiada, só improviso, só instinto, só alma.

    E ainda assim, o placar continuava 2–0.

    O cansaço era brutal. As pernas pesavam toneladas. Cada respiração ardia como fogo nos pulmões. Mas nenhum deles cedia.

    E então…

    Do banco do Time T, uma sombra se ergueu.
    A movimentação foi mínima, mas suficiente para o estádio inteiro silenciar por um segundo. Era como se todos soubessem o peso do que estava prestes a acontecer.

    A câmera focava nele: Agi Asura.
    O craque. O demônio.
    Suor frio percorreu a espinha de cada jogador do Time Z.

    Ele caminhou devagar até a linha de entrada, arrumando a munhequeira como quem ajusta as correntes antes de liberar uma fera. Seus olhos não buscavam a torcida, nem o placar, nem os companheiros. Eram olhos fixos, quase mortos, como os de um predador que só enxerga a presa.

    O narrador, quase em choque, deixou escapar:
    — Ele voltou… o monstro voltou…

    E então, o campo tremeu.

    Kira abriu aquele sorriso diabólico, o mesmo sorriso que parecia cortar o ar.
    — Bem-vindo, The Best.

    Agi não sorriu. Olhou de lado, frio, direto.
    — O que você quer de mim?

    — Apenas passes. O resto… eu resolvo.

    — Hm. — Um resmungo, seco, antes de completar. — Pode deixar.

    Do lado do Time Z, todos engoliram seco. Estava claro: agora eram dois monstros juntos.

    A bola voltou a rolar.
    E o Time Z decidiu reagir primeiro.

    Akira recebeu ainda no campo de defesa. Os olhos queimavam de determinação.
    Ele tocou rápido para Keo, e o garoto, elétrico, arriscou. Copiou um drible de Renji — um corte seco, físico, mas leve, surpreendendo dois marcadores.
    A torcida explodiu:
    — VAMO, TIME Z!

    Keo devolveu para Akira. O capitão ergueu a cabeça e viu o espaço.
    Um passe longo, perfeito, milimétrico, atravessou o campo como uma flecha.

    Hiori, elegante, matou a bola no peito com suavidade. Sem pensar, devolveu de primeira, um toque de classe que parecia música.

    Akira dominou e, num passe rápido, enfiou no meio da defesa.
    Era pra Nakki.

    O garoto estava cercado por dois zagueiros.
    A torcida se levantou, imaginando o óbvio: a bicicleta.

    Mas Nakki… não quis o óbvio.

    No ar, o corpo dele girou como se fosse parte de uma coreografia. Dominou no peito, deixou a bola subir um pouco, e com um movimento que parecia impossível, encaixou um chute de letra de calcanhar em plena altura.

    A bola saiu lenta. Lenta demais. Curvada, venenosa, como se desafiasse a gravidade.

    O estádio inteiro prendeu a respiração.
    O som dos tambores, dos gritos, do vento, tudo desapareceu.
    Só havia a bola dançando no ar.

    E então — BANG! — ela explodiu no ângulo da trave.

    — GOOOOOOOOOOOOOOOL!!!

    O estádio virou um terremoto. As arquibancadas vibravam como ondas.
    O Time Z se abraçou, gritando, chorando, rindo no meio da loucura.
    2–1.

    Eles estavam vivos. Ainda havia jogo.

    Mas o silêncio veio rápido.

    Porque do outro lado, Agi e Kira se entreolharam.
    Não sorriram. Não gritaram. Apenas entenderam.
    O terror real do Time Z não era o gol marcado.
    Era que, a partir dali, o verdadeiro Time T ia começar a jogar.

    E cada respiração dos garotos parecia anunciar isso.
    O inferno estava prestes a abrir suas portas.

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