O estádio parecia conter a respiração. As arquibancadas estavam lotadas, mas o silêncio naquele instante pesava mais do que gritos. No círculo central, apenas duas figuras importavam: Kira e Agi.

    Kira se aproximou devagar, olhar afiado como uma lâmina.
    — Ei, Agi.

    O camisa 10 ergueu os olhos, ajeitando as munhequeiras negras que cobriam seus pulsos.
    — Diz.

    — Só me dá os melhores passes que você conseguir. — Kira falou sem titubear, como se desse uma ordem ao destino.

    Agi arqueou uma sobrancelha, intrigado.
    — Mas… ninguém nunca conseguiu acompanhar meus passes perfeitos. — a voz dele ecoava com frieza, como se fosse uma sentença.

    Um sorriso cortou o rosto de Kira, largo, selvagem, quase arrogante.
    — Então eu serei o primeiro. E se eu conseguir… me chame de Imperador. Aposta feita?

    O ar tremeu. O estádio inteiro se calou, como se até o vento esperasse a resposta.

    Agi inspirou fundo, fechou os olhos por um segundo, e quando respondeu, a voz saiu baixa, mas carregada de promessa:
    — Sim. Se você conseguir… vou logo avisando: eu te chamarei de Imperador. E farei de seus gols… minha felicidade.

    O árbitro ergueu o apito.

    PIIIIIIIIIIIIIIII!

    A bola rolou.

    O Time T avançou em bloco, como uma muralha negra que engolia o campo. As arquibancadas estremeceram. A bola caiu nos pés de Agi. Seu toque era suave, mas cada passo reverberava como trovão.

    Do outro lado, Kira já disparava pelo corredor. Sua corrida não era só velocidade — parecia que ele rasgava o tempo, deixando atrás de si rastros de energia, como linhas brilhantes cortando o gramado.

    E então veio o passe.

    Agi girou o corpo e lançou a bola.
    Mas aquilo não era apenas um passe. Era uma cicatriz na realidade.
    A bola traçou uma parábola longa, impossível, que parecia ignorar gravidade, vento, lógica. Ela flutuava no ar como se o próprio campo se curvasse para recebê-la.

    O Time Z inteiro se contorceu em desespero.
    Braços esticados. Carrinhos atrasados. Olhares apavorados.
    Mas era inútil. A bola não pertencia a eles.

    No fim daquela parábola perfeita… estava Kira.

    Ele dominou no peito como se segurasse o coração do jogo. O toque foi limpo, elegante, absurdo. O estádio arfou em uníssono.

    Daichi saltou em sua frente, feroz, mas Kira o desmontou com um drible seco, brutal, sem perder nem meio segundo.

    Invadiu o meio.
    Levantou a perna.
    E chutou.

    O chute foi puro veneno.
    A bola saiu com uma curva assassina, subindo em espiral até se alojar no ângulo. O goleiro nem teve tempo de reagir.

    — GOOOOOOOOOOOOL!

    3 a 1. Time T.

    O estádio explodiu em aplausos, vaias, gritos, silêncio. Era um caos dividido entre medo e admiração.

    Agi ficou imóvel por um segundo, observando o impossível acontecer diante de seus olhos. Então, lentamente, um sorriso raro escapou de seu rosto.

    — Incrível… você realmente conseguiu.

    Ele abaixou a cabeça, reverente, reconhecendo um trono invisível.
    — Seja muito bem-vindo… Imperador.

    Kira ergueu o braço em comemoração, mas sem gritar. Sua celebração era calma, arrogante, como de alguém que sabia que aquele gol era apenas o início.

    — Muito obrigado. — respondeu, firme.

    Ele não parou ali. Se virou para Agi, olhos faiscando.
    — Eu tenho um convite pra você.

    — Qual? — perguntou Agi, sério.

    — Venha jogar todas as partidas ao meu lado. Se torne um Joker junto de mim.

    — Como assim?

    — No contrato com a organização… havia uma cláusula. Todo Joker podia escolher um jogador de qualquer time para se unir a ele.

    O silêncio voltou a pesar. A informação caiu como um raio.

    Agi respirou fundo. Olhou para a bola, depois para Kira. Não havia hesitação.
    — Sendo assim… eu aceito.

    As arquibancadas rugiram em confusão. Murmúrios se espalharam:
    — Dois Jokers…? No mesmo time?
    — Isso é permitido?!
    — É o fim do equilíbrio…

    Mas no campo, não importava.

    Naquele instante, o mundo testemunhava o nascimento de uma dupla lendária:
    Um Imperador e um Demônio.
    Dois Jokers lado a lado.

    E o jogo nunca mais seria o mesmo.

    A bola voltou ao círculo central. O placar estampava 3 a 1, e a atmosfera parecia pender para o abismo. Mas nos olhos de Akira, não havia derrota.
    Ele ergueu os braços e gritou com o pulmão cheio de fogo:
    — Não vamos desistir!

    Seu grito atravessou o campo como um clarim de guerra. Os companheiros ergueram as cabeças. O Time T podia estar no trono, mas o Time Z ainda respirava.

    O apito soou e a bola rolou.

    Akira dominou firme, o corpo ereto como uma bandeira que não se dobra. O camisa 8 girou de lado, chamando a marcação, e então tocou curto, rápido, preciso:
    — Vai, Hiori!

    Hiori recebeu com leveza, como se a bola fosse extensão de seu próprio corpo. Seu drible não era explosão, mas dança: deslizou entre dois marcadores com passos curtos, quase musicais, fazendo-os tropeçar na própria pressa.

    No instante em que o terceiro adversário fechava, Hiori não olhou — apenas deixou o calcanhar falar.
    Um passe cego, genial, que cortou o espaço como uma lâmina silenciosa.

    A bola brotou nos pés de Keo, que vinha pelo flanco como um raio.

    Keo não hesitou.
    Seus passos eram rápidos, elétricos, lembrando o instinto selvagem de Ryuji. O lateral adversário tentou bloquear, mas Keo improvisou um drible absurdo: deixou a bola passar por trás da própria perna, girou em diagonal e explodiu em aceleração.

    O estádio explodiu em vibração:
    — KEO! KEO!

    Ele chegou à linha de fundo. Em vez de cruzar alto, rastejou a bola como uma lâmina cortando o chão, com destino certo: Nakki.

    Nakki estava posicionado dentro da área, de costas para o gol, prensado por dois defensores. A bola chegou. Ele dominou no peito, girou o quadril, tentou se soltar — mas a marcação era feroz, sufocante.

    Ainda assim, Nakki não desistiu.
    Em um reflexo, levantou a perna e, mesmo caindo para trás, tentou um chute de voleio, improvisado, desesperado, genial.

    A chuteira encontrou a bola com violência.

    — PÁÁÁÁÁÁ!

    O estádio prendeu a respiração.

    A bola viajou como um míssil, mas beijou a trave com estrondo metálico.
    — TUMMMMMMM!

    Ela ricocheteou em diagonal, quase beijando a rede, e voltou para o campo.

    As arquibancadas explodiram num coro misto de dor e esperança:
    — UUUUUUUUUUH!

    Nakki caiu no gramado, ofegante, mas com um sorriso no rosto.
    Akira correu até ele, batendo no próprio peito com força, olhos brilhando de fúria e fé.

    — É isso! Continuem! Eles não são deuses, são humanos!

    As palavras ecoaram, contagiando o time. Hiori ergueu o punho. Keo mordeu os lábios, determinado. Nakki se levantou com a testa suada, mas os olhos ardendo em fogo.

    O Time Z estava ferido, mas não estava morto.
    E naquela fagulha de resistência… nascia a promessa de uma chama maior.

    Agi estava irritado.
    Não era comum para ele. Seu semblante normalmente frio agora estava marcado por uma ruga na testa. O atrevimento do Time Z — um chute ousado, uma quase reação — o cutucava como uma pedra no sapato.

    Ele recebeu a bola na intermediária, num passe simples, quase displicente. Mas a forma como a dominou denunciava sua fúria silenciosa. A grama rangeu sob suas chuteiras quando deu o primeiro passo.

    O estádio respirava junto.

    Agi ergueu a cabeça. Seus olhos não olhavam para o goleiro. Não olhavam para ninguém. Ele mirava o infinito, como se a baliza fosse só um detalhe no quadro que ele pintava com a bola.

    Um único toque.
    E então, o chute.

    Foi brutal, mas ao mesmo tempo elegante. A bola saiu dos pés de Agi como se tivesse sido puxada por correntes invisíveis. Ela começou reta, seca, mas de repente… se contorceu no ar.

    Uma curva absurda.
    Irreal.
    Como se o próprio vento tivesse obedecido a ele.

    O estádio levantou antes mesmo da bola chegar ao gol. A garganta da torcida já estava pronta para gritar:
    — GO—!

    Mas não.

    Porque Ken voou.

    O goleiro do Time Z, até então discreto, virou herói em um instante. Seu corpo se lançou para o lado com a precisão de quem não tinha tempo para pensar, apenas reagir. Foi puro reflexo, puro instinto.

    Seu braço se esticou no limite.
    A ponta dos dedos buscou o impossível.
    E encontrou.

    — TOC!

    O som seco ecoou no estádio inteiro.
    A bola desviou na pontinha da luva e beijou o travessão antes de sair.

    O grito de gol morreu engasgado.
    Em seu lugar, explodiu uma onda de surpresa:
    — UOOOOOOOOOH!

    Ken caiu no gramado, rolou, mas já se erguia com o olhar em chamas. Ele não comemorou. Não havia tempo para isso.
    Com um giro rápido, catapultou a bola de volta ao jogo com um lançamento longo, perfeito, cortando o campo como um míssil teleguiado.

    A bola caiu nos pés de Akira, que já vinha disparado pela lateral.
    Seu peito arfava, o sangue fervia.
    Ele não hesitou.
    Dominou correndo, sem perder velocidade, e no mesmo instante percebeu: Keo se infiltrava pelo meio, costurando a defesa adversária como uma agulha elétrica.

    Akira não pensou duas vezes.
    Seu passe saiu rasgando o ar, milimétrico, uma flecha de precisão absoluta.

    Keo recebeu em movimento.

    E então… algo aconteceu.

    O coração de Keo batia como um tambor.
    Seus olhos se fixaram na bola, mas sua mente… lembrava.
    A curva de Agi ainda dançava em sua memória, como uma marca queimada em sua retina.
    O giro do corpo. O peso na perna de apoio. A forma como o pé cortava a esfera.

    Era impossível esquecer.

    Keo respirou fundo.
    Seus músculos imitaram o que haviam visto.
    Não era apenas chute. Era aprendizado instantâneo, puro instinto de gênio.

    Ele golpeou a bola.

    E a esfera descreveu a mesma curva impossível de Agi.
    Idêntica.
    Um espelho perfeito.

    A defesa do Time T congelou. O goleiro, acostumado a prever tudo, não conseguiu reagir.
    A bola serpenteou no ar como uma cobra dourada e se aninhou no ângulo.

    — GOOOOOOOOOOOOOOOL!

    O estádio tremeu. As arquibancadas sacudiram como se um terremoto tivesse nascido sob elas.
    O placar agora dizia: 3 a 2.

    Agi arregalou os olhos pela primeira vez.
    Seus punhos cerraram-se com força.
    — …Ele… copiou meu chute?!

    Ao lado, Kira não conteve uma risada quase infantil, vibrante:
    — Hah… eles são divertidos.

    E, naquele instante, a partida não era mais só domínio de um lado.
    Era um choque de mundos.
    E o Time Z havia provado que podia sangrar gigantes.

    O apito soou.
    — PIIIIIIIIIII!

    O primeiro tempo chegava ao fim. O placar brilhava: 3 a 2 para o Time T.

    O gramado estava marcado por corridas, quedas e suor que ainda evaporava no ar quente do estádio. Cada jogador respirava com dificuldade, o peito subindo e descendo como pistões. O público estava em êxtase: uns vibravam, outros mal conseguiam acreditar no que tinham acabado de presenciar.

    Mas então… algo aconteceu que congelou o tempo por um instante.

    Das arquibancadas, uma figura desceu com passos lentos, medidos, quase flutuando sobre o gramado. Cada passo ecoava como um aviso silencioso. Era Ryuki Akami, o visionário por trás do projeto secreto. Sua presença não precisava de palavras — apenas ele ali já carregava autoridade e mistério.

    Ele caminhou até o centro do campo, a postura impecável, mãos cruzadas atrás das costas. Seus olhos queimavam, penetrantes, como se enxergassem não apenas o presente, mas cada futuro possível.

    — Eu vi algo hoje… algo que poucos conseguem enxergar. — sua voz ecoou, firme, carregada de peso. O som percorreu o estádio, reverberando nos corações dos jogadores. — Jogadores de todo o mundo querem estar aqui. Querem jogar ao lado de vocês.

    Os olhos do Time Z se abriram, faíscas de esperança acendendo. Cada um sentiu a vibração da promessa, a sensação de que ainda havia caminho, que ainda havia chance.

    Mas então, Ryuki ergueu a mão, e a chama da expectativa encontrou um muro de realidade:

    — Isso só acontecerá depois da terceira partida. Até lá… apenas os cinco Jokers e seus jogadores escolhidos terão esse direito.

    O murmúrio da torcida cresceu, uma mistura de choque, dúvida e fascínio. Nenhum jogador do Time Z ousou falar. O silêncio era quase palpável, como se o próprio campo tivesse segurado a respiração.

    E antes que qualquer pensamento pudesse se formar, uma presença ainda mais pesada se manifestou.

    Uma sombra surgiu no canto do campo, movendo-se com calma letal. Cada passo reverberava no coração dos jogadores. O ar parecia condensar, a atmosfera se tornando densa, quase sufocante.

    Das sombras emergiu Kin Ryoshi. O melhor jogador do projeto. Cada músculo parecia esculpido com perfeição, cada gesto carregado de domínio absoluto. O olhar dele varreu o Time Z como quem analisa presas antes do ataque.

    E então, ele sorriu.
    Um sorriso frio, cruel, que parecia prometer caos e desafio.

    — Eu quero muito ver… — sua voz soou gelada, cortante como lâmina, fazendo os pelos da nuca dos jogadores se arrepiarem. — …como vai funcionar depois da terceira partida dos piores.

    O estádio silenciou por alguns segundos, quase como se o mundo inteiro prendesse a respiração.

    O Time Z sentiu o peso da ameaça. Mas naquele mesmo instante, uma chama acendeu dentro deles. Eles eram os azarões. Eles eram os piores… mas também eram os que ainda tinham algo a provar.

    E assim, o primeiro tempo terminava com o prenúncio de um futuro brutal, cheio de desafios e oportunidades impossíveis.

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