Capítulo 3: Um Pouco de Sol no Meio do Furacão

O ar da manhã estava mais denso do que Jimmy conseguia suportar. Ele sentia que o dia estava pesando sobre ele como uma carga que ele não sabia como carregar, mas que precisava carregar de qualquer maneira. A conversa com Clara, ainda fresca em sua mente, martelava em seus pensamentos. O olhar dela, distante, a risada amarga, o modo como ele tinha se sentido impotente, incapaz de ajudar ou sequer entender o que estava acontecendo com ela.
Ele não sabia o que fazer com esse sentimento de fracasso. Não sabia como reagir a isso. Mas, mais do que isso, ele estava começando a perceber o que realmente o incomodava: a desconexão. Clara, com suas próprias lutas, parecia estar se afastando cada vez mais, e agora ele não tinha ideia de como reparar a amizade que estavam construindo. Ele não entendia se ela queria ser ajudada ou se estava apenas afundando sozinha, em seu próprio mundo sombrio.
No entanto, o dia não ia esperar que ele resolvesse suas questões. A escola continuava, e as conversas no corredor eram rápidas e superficiais, como se nada de realmente importante estivesse acontecendo. Quando Jimmy passou pela turma de Lucas, encontrou seu amigo com Carol ao lado dele, rindo de algo que ele não conseguiu ouvir. No instante em que passou por eles, Lucas o olhou com um sorriso breve, mas logo desviou o olhar, voltando a focar na conversa com Carol.
Aquilo doía mais do que Jimmy queria admitir. Ele queria ser a pessoa para Lucas, como sempre havia sido. Mas agora, Lucas parecia estar cada vez mais distante, preso ao namoro com Carol, que, para Jimmy, parecia vir entre eles como uma barreira invisível. Ele nunca tinha se sentido tão à parte.
Na sala de aula, a tensão não diminuía. Durante o intervalo, Lucas e Carol saíram para ficar juntos, como sempre faziam agora, e Jimmy se viu perdido, sozinho na companhia dos seus próprios pensamentos. Ele não sabia por que as coisas estavam mudando tão rápido, mas uma sensação amarga de abandono começou a se alastrar em seu peito.
Foi quando ele recebeu uma mensagem de Clara. Ele olhou para o celular, hesitando por um momento antes de abrir. As palavras que apareciam na tela eram curtas, quase frias: “Precisamos conversar.”
O coração de Jimmy disparou. Ele sabia o que aquilo significava, sabia que havia algo de errado, algo que ele não queria ouvir, mas que não poderia evitar.
Ele respondeu, a mensagem digitada com dedos hesitantes: “Onde?”
“Em algum lugar tranquilo. Eu não posso ficar aqui. Me encontre na parte de trás do pátio, perto do muro.”
Jimmy sentiu um calafrio. O que Clara queria? O que ela estava prestes a lhe contar? Ele sabia que o encontro deles provavelmente não seria bom, mas já não podia mais ignorar aquilo. Precisava entender o que estava acontecendo.
O pátio estava quieto quando Jimmy chegou. As outras pessoas estavam em grupos, mas ele sabia exatamente onde encontrar Clara. Ela estava encostada no muro, com os braços cruzados, olhando para o chão. Quando ele se aproximou, ela levantou a cabeça lentamente, como se estivesse se preparando para algo importante.
“Você queria conversar?” Jimmy perguntou, a voz quase quebrando. Ele tentava esconder a apreensão, mas sabia que Clara estava ali por uma razão séria.
Clara deu um suspiro profundo e olhou para os lados, como se quisesse se certificar de que ninguém estava prestando atenção. Ela parecia ainda mais vulnerável do que da última vez. Sua postura estava cansada, seus olhos mais fundos, e a expressão de seus lábios estava bem longe de um sorriso. Ela parecia estar carregando um peso enorme.
“Eu… preciso te pedir desculpas,” Clara começou, sua voz mais suave do que Jimmy esperava. “Eu fui muito… distante com você. Eu só não sabia como lidar com o que estava acontecendo comigo. Eu sabia que você se importava, mas eu não queria te envolver nisso. Não queria que você me visse assim.”
Jimmy sentiu um nó se formar na garganta. A conversa parecia difícil, mas necessária. Ele se aproximou um pouco mais, tentando não demonstrar toda a insegurança que sentia. “Você não precisa se desculpar. Mas você não pode… me afastar. Eu não sou a pessoa certa para te ajudar, mas eu não posso simplesmente ignorar isso, Clara. Não posso.”
Ela o olhou com uma expressão mista de frustração e resignação. “Eu sei. Eu só… tenho medo de que, se você realmente me ver como eu sou agora, você vai me abandonar também. Eu estou me afundando, Jimmy, e eu não sei se tenho forças para sair disso.”
Jimmy engoliu seco. Ele sentia uma parte de si que queria ajudar, mas ele estava tão perdido quanto ela. Como ajudar alguém que está em uma situação tão desesperadora quando ele mesmo mal conseguia entender o que estava acontecendo com ele?
“Eu… não vou te abandonar,” Jimmy disse, suas palavras mais firmes agora, como se, ao dizê-las, ele estivesse tentando convencer a si mesmo também. “Eu só não sei o que fazer.”
Clara ficou em silêncio por um momento, observando-o com um olhar que misturava dor e gratidão. “Às vezes, não é sobre saber o que fazer. É sobre estar lá, mesmo quando não temos todas as respostas.”
As palavras dela ficaram ecoando na mente de Jimmy. Ele sabia que algo estava mudando entre eles. Algo importante, que não poderia ser ignorado, mas ele ainda não sabia o que seria. O que quer que acontecesse, ele sabia que não podia mais voltar atrás. Agora, ele tinha uma nova responsabilidade. Não só em relação a Clara, mas também a si mesmo.
Depois da conversa com Clara, Jimmy sentiu o peso da tarde em seus ombros. Ele tinha a impressão de que o mundo continuava girando, mas ele estava paralisado no centro, observando as coisas acontecerem sem saber como interagir com elas. Ele não sabia se estava ajudando Clara ou se estava apenas sendo mais uma pessoa a fazer promessas que não podia cumprir. Mas uma coisa era certa: ele não podia deixá-la sozinha.
Quando a escola terminou, ele foi diretamente para casa, sem se preocupar em parar para conversar com Lucas ou com Carol. Tudo ao seu redor parecia agora distante, como se uma tela invisível tivesse se erguido entre ele e o resto do mundo. Ele sentiu a pressão dos dias anteriores, a crescente distância de Lucas e a dor das palavras não ditas, mas, de alguma forma, o que acontecera com Clara parecia ser o que mais lhe consumia.
Aquele encontro deixou uma marca. Ele não sabia o que fazer, nem para onde se dirigir. Ele se jogou no sofá da sala, passando os dedos pelo cabelo, tentando encontrar alguma clareza, mas tudo parecia confuso. Os olhos de Clara, aqueles olhos profundos e cheios de um cansaço silencioso, estavam com ele. Ele não conseguia se livrar deles. Sentia como se estivesse se afundando junto com ela, e não sabia se isso era certo ou se ele devia tentar se afastar antes que fosse tarde demais.
Enquanto isso, no celular, uma mensagem apareceu. Era de Lucas.
Lucas: “Ei, Jimmy. Queria conversar mais tarde. Nos encontramos?”
Jimmy leu a mensagem, hesitando. Ele estava cansado. Cansado das conversas superficiais, cansado da sensação de estar sendo deixado para trás. Mas ainda assim, algo em seu peito disparava sempre que ele pensava em Lucas. Ele queria entender, queria que as coisas voltassem ao normal. Ou pelo menos, ele queria acreditar que as coisas poderiam voltar.
Ele respondeu, finalmente.
Jimmy: “Onde?”
Lucas: “Na praça, como sempre.”
Jimmy se levantou, olhou uma última vez para a tela de seu celular e suspirou. Não sabia o que esperar daquele encontro, mas sabia que precisava ir. O que quer que fosse dito ou acontecesse, ele não poderia mais ficar com essa sensação de vazio.
Quando chegou à praça, viu Lucas e Carol já conversando em um banco, rindo de algo que, à primeira vista, parecia algo trivial. Lucas estava com os braços cruzados, olhando para Carol com aquele sorriso encantador, o sorriso que Jimmy conhecia tão bem. Mas agora, aquele sorriso parecia direcionado apenas a ela. O sentimento de ser deixado de lado voltou com força.
Jimmy se aproximou, tentando manter a compostura, mas Lucas notou sua chegada imediatamente.
“Ei, Jimmy!” Lucas exclamou com um sorriso, mas logo percebeu o tom de distanciamento que Jimmy estava carregando. “Tudo bem?”
Jimmy olhou para ele, tentando esconder a frustração que sentia, mas não podia. A verdade estava transbordando, e ele não sabia como segurá-la.
“Eu não sei se tudo bem,” Jimmy disse, sua voz mais ríspida do que pretendia. “Eu só… não sei onde estou. Não sei se você percebeu, mas a gente está meio afastado.”
Lucas franziu a testa, surpreso, mas não parecia totalmente desconfortável. Carol observava de longe, como se estivesse percebendo o desenrolar daquela conversa sem saber exatamente como intervir.
“Eu… não sei se entendi, mas…” Lucas começou, visivelmente tentando encontrar as palavras. “Eu tenho me concentrado mais na Carol, e você sabe como é. Eu só achei que a gente ainda estava bem.”
Jimmy olhou para Carol, que, ao contrário de Lucas, parecia mais desconfortável com a situação do que ele imaginava. Ela não sabia o que dizer, talvez porque nunca tivesse sido parte dessa amizade entre ele e Lucas. A presença dela na conversa agora parecia uma barreira silenciosa entre os dois.
“Eu não sou mais uma prioridade pra você, Lucas,” Jimmy disse, suas palavras saindo mais duras do que ele gostaria. “Eu sei disso. E tudo bem. Mas não é só isso. Eu… não sei o que fazer comigo mesmo.”
Lucas olhou para ele, a expressão suavizando um pouco. “Jimmy, eu nunca quis que você se sentisse assim. Eu só… não soube como lidar com tudo. E agora você está com tudo isso, com Clara… e eu, sinceramente, não sei como ajudar.”
As palavras de Lucas caíram pesadas. “Não sei como ajudar.” Aquilo fez Jimmy se sentir mais perdido do que nunca. Ele não sabia como lidar com tudo ao seu redor, mas sabia que a amizade com Lucas estava mudando, e ele não sabia como manter isso.
“Eu não preciso de ajuda, Lucas,” Jimmy disse, mais calmo, mas ainda cheio de insegurança. “Eu só queria que as coisas voltassem a ser como eram.”
O silêncio entre os três se estendeu, com Jimmy se sentindo mais sozinho do que nunca. Carol se levantou de repente, talvez para dar espaço para a conversa dos dois. “Eu vou dar uma volta,” ela disse com um sorriso tímido. “Vou deixar vocês dois resolverem isso.”
Jimmy e Lucas ficaram sozinhos, e o silêncio foi mais ensurdecedor do que qualquer palavra dita. Eles haviam sido melhores amigos por tanto tempo, mas agora tudo parecia frágil, quebrado. Como poderia ser assim tão simples para Lucas seguir em frente enquanto ele estava tentando entender sua própria existência?
“Eu não sei se posso continuar com isso, Lucas,” Jimmy falou, finalmente. “Eu não sei se posso ser seu amigo como antes.”
Lucas o olhou, parecendo entender finalmente a gravidade da situação. “Eu não quero que você se afaste, Jimmy. Só… precisamos encontrar um jeito de fazer as coisas funcionarem. Não quero perder você, mas eu entendo se você precisar de um tempo.”
Jimmy se virou, caminhando sem rumo pela praça. As palavras de Lucas ficaram ecoando em sua mente. A amizade deles estava mudando, e ele não sabia mais se havia algo que pudesse fazer para impedir.
Jimmy ainda caminhava pela praça, perdido em seus próprios pensamentos, quando ouviu uma voz familiar chamá-lo. Era uma voz calma, mas com um tom de interesse que fez seus passos desacelerarem.
“Jimmy?”
Ele parou, seus olhos se movendo em direção ao som da voz. Lá estava ele de novo, Scott – o garoto que conheceu na festa. Ele estava parado um pouco afastado, encostado em uma árvore, com o sorriso tranquilo que Jimmy lembrava bem, aquele que parecia carregar uma confiança silenciosa. Era ele, mas, agora, de perto, a presença de Scott parecia ainda mais intrigante, como se ele fosse parte de um universo diferente, mas ao mesmo tempo, muito próximo.
“Oi,” Jimmy respondeu, tentando esconder a surpresa. Ele não esperava vê-lo novamente tão logo. “Você… está aqui?”
“Sim,” Scott disse, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Ele deu um passo à frente, se aproximando de Jimmy. “Eu estava andando por aqui e te vi. Achei que pudesse estar precisando de companhia.”
Jimmy sentiu uma estranha sensação de conforto em ouvir aquelas palavras. “Na verdade, não sei bem o que estou fazendo. Só… só estou perdido.”
Scott sorriu de forma suave, como se já soubesse que Jimmy estava se referindo a algo mais profundo. “Eu também me sinto assim às vezes. Perdido no meio de tudo. Mas a gente encontra nosso caminho de alguma forma, mesmo sem querer.”
Jimmy olhou para ele, surpreso com a compreensão no tom de sua voz. Era algo que ele não esperava ouvir de alguém que acabara de conhecer, alguém que parecia ser tão diferente dos outros. Ele não estava sendo julgado. Pelo contrário, parecia que Scott compreendia exatamente o que ele estava sentindo.
“Eu não sei o que fazer,” Jimmy admitiu, a frustração em sua voz escapando sem querer. “Sinto que todo mundo está se afastando. Lucas, as coisas entre nós mudaram. E agora… eu não sei o que está acontecendo comigo.”
Scott o observou em silêncio por um momento, como se estivesse absorvendo cada palavra. Ele se aproximou um pouco mais, sem pressa, como se a pressa não tivesse espaço entre eles. “Eu já passei por isso,” disse ele, com um olhar sério. “Você não está sozinho nessa.”
Jimmy olhou para Scott, tentando entender melhor aquela sensação. Como ele podia ser tão calmo, tão seguro, enquanto ele se sentia um turbilhão de emoções? “Como assim?” Jimmy perguntou, a voz mais baixa.
“Eu sei o que é se sentir desconectado, como se ninguém realmente te entendesse,” Scott explicou, os olhos fixos em Jimmy, com uma sinceridade rara. “Mas você pode achar um jeito de sair disso. Não precisa fazer isso sozinho.”
Aquelas palavras de Scott fizeram com que algo dentro de Jimmy se movesse, algo que ele não soubera que existia. Não era uma solução fácil, não era uma resposta para tudo o que ele sentia, mas era um alicerce – uma pequena esperança de que talvez houvesse um caminho, uma saída, que ele não tinha visto antes.
Jimmy abaixou os olhos por um momento, se sentindo vulnerável, mas, ao mesmo tempo, mais aberto do que já se sentiu em muito tempo. Ele não sabia o que exatamente estava acontecendo, mas algo em Scott o fazia sentir que ele poderia confiar nele.
“Eu não sei o que fazer com tudo isso, Scott,” Jimmy disse, a voz falhando um pouco. “Eu não sei como lidar com as coisas. Com a minha amizade com Lucas, com a minha cabeça… com tudo.”
Scott deu um passo mais próximo, sem invadir o espaço de Jimmy, mas o suficiente para que ele sentisse a presença dele. “Está tudo bem não saber. Mas a chave está em não se fechar. A gente não tem que ter todas as respostas agora. Só precisamos começar a buscar.”
Jimmy olhou para ele, sentindo uma conexão instantânea, mas também uma sensação de confusão. Era estranho, mas de uma forma boa. Como se Scott tivesse sido uma peça que faltava no quebra-cabeça que ele não sabia como montar.
“Eu… não sei se estou pronto para aceitar tudo isso,” Jimmy sussurrou, mais para si mesmo do que para Scott. “Não sei se posso mudar agora.”
Scott sorriu com um toque de compreensão, como se ele já tivesse esperado aquela resposta. “Você não precisa mudar de uma vez. É um passo de cada vez. Eu só quero que você saiba que, se precisar de alguém, eu estarei aqui. Sempre. Não é sobre ser perfeito. É sobre ser você, sem medo.”
Jimmy se sentiu tocado por aquelas palavras. Ele não sabia o que isso significava ainda, mas sabia que Scott estava falando a verdade. Algo no jeito de Scott, em como ele falava com tanta naturalidade sobre a dor, a confusão e a busca por respostas, fazia Jimmy acreditar que talvez, só talvez, ele tivesse encontrado alguém que o compreendesse.
“Eu… eu acho que poderia conversar mais com você,” Jimmy disse, mais como uma constatação do que uma pergunta. “Se você não se importar.”
“Claro,” Scott respondeu com um sorriso gentil. “Eu também não me importo. Vamos dar esse passo juntos, ok?”
Jimmy sentiu um peso sair de seus ombros, um alívio que ele não sabia que precisava. Ele não estava completamente em paz com tudo, mas a presença de Scott, com sua calma e compreensão, era como uma pequena âncora em um mar de incertezas.
Enquanto eles começavam a caminhar juntos pela praça, Jimmy sabia que, embora não tivesse todas as respostas, talvez ele estivesse começando a encontrar algo mais importante: a possibilidade de começar de novo, com alguém que parecia entender.
Enquanto caminham pela praça, a conversa entre Jimmy e Scott se desenrola com uma tranquilidade incomum, como se o tempo tivesse desacelerado ao redor deles. O céu escuro se espalhava sobre a cidade, com as luzes das ruas criando um brilho suave ao redor, refletindo o que parecia ser uma calmaria rara na vida de Jimmy.
“Você costuma fazer isso?” Jimmy perguntou, com um meio sorriso, tentando quebrar o silêncio confortável entre eles. “Sair por aí sem rumo, só… falando com as pessoas?”
Scott deu um sorriso leve, quase imperceptível, mas ainda assim cheio de uma confiança silenciosa. “Eu costumo ouvir mais do que falar. Mas às vezes, uma conversa muda tudo.”
Jimmy franziu a testa, como se tentando entender a profundidade daquilo. “Muda como?” Ele não sabia se estava apenas curioso ou se, de algum modo, estava começando a se abrir para algo mais. Algo que ele não sentia com frequência, mas que agora parecia quase inevitável com Scott.
Scott olhou para ele, os olhos fixos nos de Jimmy, mas com uma suavidade que o fez se sentir um pouco vulnerável, como se algo maior estivesse se desdobrando entre eles, algo que nem ele mesmo compreendia totalmente. “Às vezes, é tudo o que a gente precisa. Uma conversa. Não precisa ser sobre soluções ou respostas. Só ouvir e ser ouvido.”
A resposta de Scott parecia tocar algo no fundo de Jimmy, algo que ele não conseguia nomear, mas que estava ali, crescendo. O jeito como Scott falava com tanto significado, com um tipo de presença calma, fez Jimmy sentir uma conexão ainda mais forte. Ele sentiu, sem saber explicar, que aquela conversa não era apenas sobre palavras – havia algo mais entre eles, algo não dito, mas que estava ali, flutuando no ar.
Eles caminharam em silêncio por mais alguns minutos, até que o som das próprias passadas se tornaram quase reconfortantes. Então, Scott parou e olhou para Jimmy de uma maneira que fez o coração de Jimmy acelerar, sem razão aparente. Ele parecia sério, mas com um olhar intenso e curioso, como se estivesse esperando que Jimmy fosse mais do que o que ele demonstrava ser.
“Jimmy,” Scott disse suavemente, quase como um sussurro. “Eu sei que você tem seus problemas, seus medos… mas, se você puder me dar uma chance, eu gostaria de estar por aqui. Não só como alguém para conversar, mas talvez algo mais.”
Jimmy sentiu uma onda de calor subir pelo seu corpo, mas não era desconfortável. Era diferente. Era como se ele estivesse sendo puxado para algo que não conseguia evitar, mas que de algum modo também queria. Ele não sabia o que exatamente aquilo significava, mas uma parte dele queria explorar mais – mais de Scott, mais do que ele sentia em seu peito, mais do que ele nunca havia permitido a si mesmo sentir.
“Eu…” Jimmy começou, mas as palavras pareciam difíceis. Ele queria dizer algo, qualquer coisa, mas se sentia com medo de se abrir mais. “Eu não sei o que dizer. Eu não estou… preparado para nada disso.”
Scott deu um passo em direção a ele, um gesto pequeno, mas que parecia cheio de significado. “Não precisa saber, Jimmy. Não precisa ser perfeito. Eu não estou pedindo para você mudar ou fazer algo que não queira. Só estou dizendo que, se você quiser, eu posso ser alguém com quem você compartilha suas coisas. Sem pressa, sem pressão.”
O jeito como Scott olhou para ele, com uma sinceridade tão evidente, fez Jimmy sentir um leve arrepio. Ele nunca tinha conhecido alguém tão aberto, tão disposto a esperar e entender sem julgamentos. E, no fundo, Jimmy sabia que havia algo mais ali – algo que ele não estava pronto para nomear, mas que estava crescendo com cada palavra que trocavam.
“Eu só… nunca me senti assim com ninguém,” Jimmy disse, os olhos desviando para o chão, como se tentasse processar o turbilhão de emoções dentro dele. “É complicado, e eu não sei o que fazer com isso.”
Scott sorriu, mas agora era um sorriso suave, reconfortante. Ele deu um passo atrás, dando espaço a Jimmy, mas ainda mantendo uma presença tranquila e acolhedora. “Está tudo bem, Jimmy. Não precisamos resolver tudo de uma vez. Eu só queria que soubesse que, se quiser conversar mais sobre isso – ou até sobre outras coisas – eu estou aqui.”
Jimmy levantou os olhos para ele, sentindo o peso daquelas palavras ecoando em sua mente. “Eu… quero. Quero conversar mais com você.” Ele sabia que isso era mais do que apenas uma conversa comum. Era mais do que as palavras. Era a sensação de algo novo se formando entre eles, algo que Jimmy não sabia como descrever, mas que não queria deixar escapar.
Scott se aproximou novamente, desta vez mais devagar, até que estava apenas a poucos centímetros de distância de Jimmy. Seus olhos se encontraram, e havia uma tensão silenciosa no ar – uma tensão que falava mais do que qualquer palavra poderia.
“Talvez…” Scott começou, a voz agora mais baixa, quase como se estivesse hesitando, “talvez seja isso que precisamos. Apenas estar juntos e ver onde isso vai dar.”
Antes que Jimmy pudesse responder, Scott deu um passo para trás, sorrindo suavemente. “Mas sem pressa. Só… vamos ver.”
Jimmy sentiu o ar entre eles ainda carregado com algo que não conseguia identificar, mas que o fazia se sentir mais vivo do que ele tinha se permitido ser em muito tempo. Ele não sabia o que o futuro reservava, mas uma coisa era certa – Scott estava ali, e talvez, só talvez, fosse o começo de algo novo.
Jimmy e Scott ficaram em silêncio por alguns segundos, as palavras ainda flutuando entre eles, não ditas, mas carregadas de significado. O som distante da cidade parecia um pano de fundo para a conexão que se formava aos poucos entre os dois. Era como se o mundo ao redor tivesse desacelerado, dando a eles o espaço necessário para entenderem o que estava começando a acontecer.
“Você costuma fazer isso com todo mundo?” Jimmy perguntou, tentando quebrar a tensão que ainda estava no ar. Sua voz soava mais baixa, como se ele estivesse com medo de que qualquer palavra errada quebrasse esse momento peculiar entre eles. “Falar com as pessoas assim, de uma forma… tão direta?”
Scott olhou para ele, sorrindo de novo, mas dessa vez com uma expressão mais suave, quase carinhosa. “Eu não costumo falar com todo mundo assim,” ele respondeu, com uma risada baixa. “Mas com você, parece fácil. Como se eu realmente quisesse saber o que se passa dentro de você.”
Jimmy sentiu um calor subir pelas bochechas, um sentimento que ele não sabia como explicar, mas que lhe era familiar de alguma forma. Ele não estava acostumado a ser o centro de tanta atenção, e a ideia de alguém querer realmente entendê-lo o fazia se sentir tanto vulnerável quanto seguro.
“Eu não sou fácil de entender,” Jimmy disse, tentando se desviar da intensidade do olhar de Scott. “Eu… nem eu mesmo sei o que se passa na minha cabeça a maior parte do tempo.”
“Eu sei como é,” Scott respondeu, o tom dele agora mais sério, mas ainda com aquela suavidade tranquilizadora. “Acho que todos nós temos momentos assim. Mas, no fim, é mais fácil quando você tem alguém com quem falar, alguém que te escute, sem pressa.”
Jimmy levantou os olhos para Scott, agora mais consciente do espaço entre eles, mas também da proximidade emocional que se formava de maneira sutil. Ele podia sentir algo a mais naqueles olhares, algo que ia além da amizade. Algo que, embora fosse novo e assustador, também era reconfortante de alguma forma.
“Você… realmente entende isso,” Jimmy murmurou. “Eu nunca conheci alguém que me ouvisse assim.”
Scott deu um passo à frente, não invadindo o espaço de Jimmy, mas o suficiente para que a presença dele fosse ainda mais marcante. “Eu sei o que é se sentir invisível,” Scott disse, a voz baixa, como se aquelas palavras fossem uma confissão. “E sei também o que é se perder. Mas talvez, se a gente tiver a chance de se encontrar, a gente não precise se perder tanto.”
Jimmy sentiu um arrepio leve ao ouvir aquilo. O que Scott estava dizendo parecia tocar algo muito profundo dentro dele, algo que ele não sabia que precisava ouvir, mas que agora fazia todo o sentido. Era como se, de alguma maneira, Scott estivesse falando sobre ele, sobre o que ele sentia sem dizer nada.
“Eu nunca pensei que encontraria alguém assim,” Jimmy disse, a voz embargada, como se ele estivesse finalmente se permitindo aceitar a verdade de que aquilo não era uma coincidência. “Alguém que me entendesse sem julgamento.”
“Eu não estou aqui para te julgar,” Scott respondeu, agora mais perto, com uma sinceridade que fez Jimmy se sentir mais vulnerável, mas também mais seguro do que nunca. “Eu só quero que você saiba que, se precisar de alguém para conversar ou até mesmo para ficar em silêncio, você não está sozinho. Você tem um espaço aqui.”
As palavras de Scott caíram como uma correnteza suave sobre o coração de Jimmy, deixando uma sensação de leveza que ele não sabia que poderia sentir. Era como se ele estivesse se permitindo pela primeira vez dar um passo na direção certa, com alguém ao seu lado, não para corrigir ou mudar o que ele era, mas para acompanhá-lo, com paciência, com compreensão.
“Eu… preciso de um pouco de tempo,” Jimmy disse, a voz mais baixa agora, com uma sinceridade que ele não estava acostumado a demonstrar. “Mas, se você ainda quiser estar aqui quando eu estiver pronto, eu… eu adoraria isso.”
Scott sorriu suavemente, e Jimmy percebeu que, naquele sorriso, havia uma resposta a todas as suas incertezas. Não havia pressa, nem pressão – só uma aceitação tranquila, como se o futuro deles fosse um livro ainda não escrito, mas com páginas em branco que poderiam ser preenchidas com calma, um passo de cada vez.
“Eu estarei aqui, Jimmy,” Scott disse, o sorriso ainda no rosto, mas agora com uma luz no olhar que fez o coração de Jimmy bater mais rápido. “Sem pressa. Sem pressão. A gente vai descobrir isso junto.”
Jimmy sentiu uma onda de alívio. Ele não sabia o que o futuro traria, mas algo dentro dele dizia que, com Scott ao seu lado, talvez fosse mais fácil navegar pelas incertezas que ele enfrentava. Ele não precisava ter todas as respostas agora. Ele só precisava dar um passo à frente.
E, por algum motivo, naquele momento, isso parecia o suficiente.
Jimmy observou Scott se afastar pela rua, os passos calmos e silenciosos, como se ele estivesse indo para um lugar distante, mas ao mesmo tempo perto o suficiente para que Jimmy pudesse alcançá-lo. Algo dentro dele se movia, uma sensação de alívio misturada com um leve temor, mas havia também uma nova esperança, uma que ele não sabia que ainda existia. Algo dentro dele parecia mais leve, como se, de algum modo, ele tivesse dado o primeiro passo para algo maior, algo que ele estava começando a entender.
Ele não sabia o que viria a seguir, mas naquele momento, ele sentiu uma calma que não experimentava há tempos. A conversa com Scott, as palavras trocadas, a intensidade silenciosa – tudo aquilo parecia diferente de tudo que ele já havia vivido. Não havia promessas, não havia expectativas. Só a certeza de que, de alguma forma, ele não estava mais sozinho.
Jimmy respirou fundo, dando um último olhar para a figura de Scott, que agora desaparecia na esquina. “Talvez eu esteja começando a entender o que isso significa”, ele pensou, sentindo pela primeira vez que o peso que carregava não precisava ser tão solitário. Talvez, só talvez, o futuro fosse mais do que um conjunto de sombras e incertezas. Talvez ele tivesse encontrado alguém com quem dividir tudo aquilo.
Com o coração ainda agitado, mas de uma forma mais serena, Jimmy deu um passo em direção à sua casa. A noite estava quieta, mas ele sabia que algo dentro dele havia mudado. E, por mais assustador que fosse, ele estava pronto para ver até onde isso poderia levá-lo.
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