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    A sinceridade presente no olhar do menino fez a garota de cabelos prateados hesitar. Eram palavras idiotas, ele só podia estar brincando com os sentimentos dela, era improvável algo assim ser verdade…

    — É verdade?… Não está brincando comigo novamente? Mas você é só uma criança, como pode ser isso?

    E mesmo perante a palavras tão sem sentido, a garota ainda tentava se agarrar à esperança de descobrir a verdade sobre quem era. 

    Kurone engoliu em seco, tentava controlar suas emoções. A expressão no rosto de Annie refletia o quanto ela havia sofrido desde o seu despertar no passado. Imaginou o quão confusa ela ficou ao acordar e não saber quem era ou onde estava.

    [Há um lugar melhor onde podem conversar.]

    Após as palavras de Ellohim, as vistas do garoto foram tomadas por uma luz incandescente que quase o cegaram. Ele foi obrigado a fechar os olhos com violência.

    Quando recuperou os sentidos, estava em um local conhecido, sendo tocado por uma brisa fresca nostálgica.

    O cenário estava escuro como no exterior e rachaduras assustadoras decoravam o céu obscurecido do lugar. Grama forrava o chão por toda a sua extensão e alguns itens flutuavam sem rumo.

    — Faz um tempo que não venho aqui… — murmurou o garoto.

    — Ela imagina que a companhia dA Celestial não seja tão agradável quanto a companhia da deusa Annie, por isso Kurone não tem interesse em visitá-la.

    A pessoa que respondeu ao comentário do menino foi uma garotinha de cabelos loiros reluzentes, uma jardineira negra cobrindo seu corpo infantil, olhos azulados e um par de asas esbranquiçadas adornando suas costas. Era Ellohim, A Celestial.

    Havia uma ponta de ciúmes na resposta da divindade, um sentimento que provavelmente nasceu após ela ver tantas memórias de Kurone e conectar-se mais profundamente a ele.

    Ao lado menino, havia outra figura conhecida: Annie. Dessa vez, era a verdadeira deusa Annie, não a “Nie” pertencente ao grupo de bandidos ligado à Corvos.

    A deusa estava tão linda quanto o garoto se lembrava, contudo ele não conseguiu manter o contato visual por tanto tempo após notar a inexistência de roupas no corpo esbelto da sua companheira.

    Da mesma maneira, Kurone Nakano também estava como veio ao mundo.

    Ao averiguar seu corpo pelado, notou uma distância estranha entre o chão e a cabeça. Ele estava mais alto que antes. Na verdade, retornou à sua estatura normal, de quando era um jovem de vinte e um anos.

    — Tanto o seol usado por Kurone e por Nie são falsos, a almas de vocês permanece com a aparência inalterada — explicou Ellohim.

    Uma ponta de esperança surgiu no coração de Kurone. Ele ignorou sua vergonha e olhou na direção de Annie, porém as palavras proferidas pela deusa o decepcionaram novamente:

    — O que aconteceu comigo? E esse lugar?… Por que ele me parece familiar… Pare! Não me encare assim! — protestou Annie, com o rosto completamente corado enquanto cobria os seios com o braço.

    — Essa é a verdadeira aparência da deusa Annie — respondeu A Celestial. 

    — Deusa Annie? — a garota caiu de joelhos na grama, tentando processar as informações chegando por todos os seus sentidos e lidar com a vergonha de estar nua.

    — A pessoa a qual chamam ‘Nie’ é, na verdade, a deusa Annie, a filha mais nova de Astarte — continuou Ellohim. — Embora estejam separados, o pacto entre a deusa Annie e Kurone ainda existe. Suas almas estão ligadas como antes.

    — E você é?… — Annie olhou um pouco curiosa para a garotinha alada.

    — Ellohim, A Celestial. Ela se desculpa pela insolência de tratar a deusa Annie assim, mas de outra maneira o coração de Kurone não iria suportar.

    Ambos os pares de olhos se dirigiram ao garoto citado, em silêncio até o momento. 

    — Me desculpa por ter sido tão patético, vocês duas. Ainda tenho muito pra aprender, mas eu só quero que saiba que o que eu disse antes é verdade, Nie.

    — Vo-você me chama de Nie com tanta naturalidade, mesmo a menina dizendo que meu nome real é Annie. Há algum motivo para isso?

    — Foi Kurone quem deu à deusa Annie esse apelido, Ela imagina que foi um resquício de memória que ficou com a deusa Annie quando ela despertou.

    Foi o “apelido carinhoso” o responsável por proporcionar esse reencontro. Kurone não sabia o motivo pelo qual a garota lembrou-se apenas disso após a viagem no tempo, pensaria que foi o poder do amor, que conseguia resistir a tudo. Nem mesmo uma amnésia era párea para o amor que o garoto sentia por Annie.

    Era como se eles estivessem destinados a permanecerem juntos.

    A deusa esqueceu a vergonha e lágrimas transbordaram dos seus olhos azulados. Kurone não se pronunciou mais, deixaria a garota tomar o seu tempo para se recuperar, o coração devia estar a mil após ela finalmente tomar ciência que as respostas que tanto buscou estavam ali.

    — O tempo aqui é limitado devido a algumas circunstâncias, então estarei enviando Kurone e a deusa Annie de volta ao plano anterior… E Kurone deverá prometer vir visitar A Celestial mais vezes, e essa condição não é negociável.

    O garoto riu com as últimas palavras da menininha alada. A personalidade de Ellohim se tornava cada vez mais agradável conforme o tempo passava, embora fosse preocupante ela ter como referência Kurone Nakano.

    — Se preocupa não, sou meio ruim de cumprir promessas, mas com certeza venho te visitar  mais vezes… E obrigado por hoje, Ello.

    A expressão dA Celestial permanecia a mesma, mas teve a impressão de que ela sorria de volta interiormente.

    Novamente, um clarão surgiu e obrigou o garoto e fechar os olhos. Quando se deu conta, já estava mais uma vez na floresta tomada pela escuridão, em frente a uma garota de orelhas pontudas e aparência totalmente diferente de Annie.

    — Eu tenho tantas perguntas que nem sei por onde começar… — disse ela, timidamente. 

    — Acho que é melhor a gente voltar por enquanto, o pessoal deve tá preocupado.

    — Esp-espera! Minha cabeça está girando, eu preciso descansar um pouco.

    — Eu sei que as trevas aqui são controladas por um amigo seu, mas isso aqui não me passar uma vibe de lugar pra descansar. Sem falar que a Azazel pode aparecer por aqui ou…

    O garoto não terminou de falar, apenas cerrou os dentes e olhou para o alto de uma árvore.

    Sentiu uma aura conhecida, e odiou isso, não podia ter sido em momento pior.

    — Se afasta!!! — gritou Kurone, empurrando a garota à frente com violência e saltando para o lado oposto o mais rápido que conseguiu.

    A figura emanando a presença conhecida saltou do alto da árvore e aterrissou batendo a lâmina da sua espada no chão, exatamente no lugar que Kurone e Annie se encontravam antes. Uma corrente de ar varreu o local.

    Ele só conseguiu reagir porque viu o ataque dessa pessoa antes: o corte em que Hime, a Inquisidora, saltava e aterrissava no chão na intenção de abrir o seu alvo em duas bandas.

    — Traição é um pecado nojento, a punição desse pecado não pode ser nada menos que a morte.

    — Pera aí, Hime, eu posso te explicar!

    — … Morte — disse a Heroína Ádvena em tom frio, direcionando a lâmina suja de sangue para a garota de cabelos prateados e orelhas pontudas.

    O que mais preocupou Kurone foi a presença do líquido vermelho na katana da sua oponente. As pessoas do grupo de Annie tinham ordens de não matar ninguém, em contrapartida, as pessoas da Universidade Mágica não possuíam essa restrição.

    — Nie, eu vou segurar ela aqui e você corre…

    Mas antes que terminasse de falar, Annie já havia avançado com fúria nos olhos. A garota sacou dois punhais e desferiu vários golpes na direção do pescoço de Hime, os quais foram evitados por bloqueios usando a katana.

    “Eu tinha esquecido que a Nie agora tem esse lado mais violento…”

    Com um sorriso de satisfação no rosto, ele materializou a sua escopeta de canos serrados e preparou-se para ajudar Annie na luta contra a Inquisidora.

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