Capítulo 291: Hime Pune as Sementes Heréticas
Cynthia adentrou a biblioteca com passos pesados e os punhos cerrados. Os pés apressados percorreram a entrada e se dirigiram ao local em que uma jovem loira separava alguns livros de feitiços para a viagem.
— Senhorita Cynthia? — murmurou Minerva Clegyman, depositando dois livros grossos em sua sacola que entregaria no balcão para confirmar o empréstimo dos volumes. — O-o que aconteceu? Parece preocupada!
— O Iolite, ele está por aqui?
— Não… eu não vi ele depois que nos separamos nos dormitórios… Espera, senhorita Cynthia, aonde vai?!
A jovem Sophiette respondeu ofegante, sem parar de correr na direção da entrada/saída da biblioteca:
— Aquele idiota! E-ele deve ter ido na frente para enfrentar a Azazel!!
A Santa ficou pálida ao escutar as palavras da garota. Ela tinha o conhecimento da imprudência do menino, mas não imaginava que ele seria tão louco a ponto de enfrentar aquela aberração sozinha… não, ele não seria louco a esse ponto. O garoto tinha algum plano em mente.
Rapidamente, Minerva jogou o resto dos livros na sua sacola e apressou-se na direção do balcão. A jovem responsável pelos empréstimos, substituindo o bibliotecário falecido, percebeu a pressa da Santa e aprovou todos os volumes da sacola sem fazer cerimônia.
Em instantes, a jovem de cabelos dourados estava no lado de fora do grande prédio, com a sacola pesada e a ficha de empréstimo da biblioteca em mãos.
Logo abaixo da escadaria ela avistou a figura de Sprout Ruderalis e de um guarda com uma aura estranha.
— Para onde foi a senhorita Sophyette?!
— Está fazendo uma última busca pelos locais que costumava ir com o menino — respondeu a professora de botânica com o seu tom relaxado de sempre. — É perda de tempo, o garoto já não está mais por aqui.
— Aquele idiota!!! Como ele pôde aprontar uma dessas?!
Sprout simplesmente deu de ombros e apontou para a direção do portão da Universidade Mágica.
— Não vai demorar muito para todas as tropas estarem aqui, porém vai demorar um pouco o discurso do Paltraint e a organização e mobilização deles vai ser um saco. Eles não têm senso de urgência, o pessoal da Guarda Real é bem folgado.
— O que quer dizer com isso, senhorita Sprout?
— Que o menino percebeu o quão demorada será essa mobilização e se adiantou. Ele foi segurar as pontas para nós.
— Mas ir sozinho é loucura!
— Por isso também devemos ir ajudá-lo, não é, rapazinho? — a professora Ruderalis cutucou o guarda ao seu lado.
O “rapazinho” era baixo e ocultava a sua face com o seu elmo. Se não fosse a aura estranha emanada dele, Minerva sequer teria o notado.
— Sim! Iolite me deixou instruções para partirmos com um esquadrão menor.
A Santa ficou irritada. Por que Iolite confiou essa mensagem a um guarda aleatório? Isso era uma violação do trato que eles tinham, mas ela também conseguia entender que o menino tinha os seus próprios motivos, afinal a Santa testemunhou as reações dele ao receber a notícia mais cedo.
— Estaremos saindo em alguns minutos, senhorita Minerva, nos encontre lá se quiser se juntar à nossa pequena tropa — falou Sprout, ainda em seu tom relaxado. Ela agia como se estivessem se preparando para um combate amistoso entre veteranos da Universidade Mágica.
Minerva ainda estava irritada por Iolite fazer tudo da sua própria maneira. Sair para o combate sem a avisar e deixar a mensagem nas mãos de um simples guarda foi um desrespeito, mas discutiria com ele, ou com o que sobrasse dele após encontrar Azazel, mais tarde.
A Santa já estava vestida em suas roupas sagradas: o uniforme branco com as abotoaduras douradas. No ombro, ela carregava a sacola com os livros de feitiços e uma pequena faca presa no cinto marrom com fivela de ouro.
— Então a Santa também vai nos acompanhar… — murmurou uma voz feminina.
Aproximando-se, Minerva reconheceu a dona da voz: era Hime, a Heroína Ádvena, acompanhada do seu Orbe Cinza flutuante, ou melhor, era uma garota comum acompanhada da deusa Hime presa no Orbe. Iolite contou-lhe o que aconteceu com ela, por isso não podia ficar relaxada nesse momento.
A tal equipe de suporte não era tão forte. Sprout Ruderalis era uma médica e Hime não tinha mais o seu poder total.
Cynthia Sophiette estava no cargo de líder da tropa. Mesmo sendo uma Sophiette, o combate não era a sua especialidade e ela não estava conseguindo lidar bem com as suas emoções recentemente.
O resto do grupo só podia servir de suporte, esse resto era formado por guardas tão fortes quanto aquele que acompanhava Sprout mais cedo e alguns jovens estudantes corajosos — a Santa reconheceu os dois delinquentes que foram vítimas de Hime uma vez.
As pessoas mais fortes ali era as garotas loiras: Cynthia Sophiette e Minerva Clergyman. Em seguida, vinham as de cabelos esverdeados: Sprout Ruderalis e Hime. O resto nem serviria de escudo humano.
“Que diabos você estava pensando, Iolite?”
Mesmo que o time não fosse dos melhores, Minerva reconhecia que não podia mais perder tempo, muito pelo contrário, a missão daquele grupo seria ganhar tempo até a chegada da Guarda Real.
— O garoto deixou um círculo mágico que ele garante que vai nos transportar para as proximidades do local — explicou Sprout. — Com certeza ele deve ter ido em um parecido, mas uma vez que usarmos, ele vai desaparecer…
— Ou seja, sem passagem de volta — completou Cynthia.
O som de algumas gargantas engolindo em seco ecoou pelo ar, mas todos os guardas e estudantes ali já conheciam o tamanho do risco que estavam aceitando enfrentar, por isso afirmaram suas convicções balançando a cabeça de forma afirmativa.
Um brilho foi emanado do círculo mágico conforme os membros grupo iam pisando na sua área. Os mais hesitantes foram os estudantes, talvez um ou dois veteranos tenham pensado melhor e escapado discretamente, pois Minerva teve a impressão da quantidade de alunos estar menor.
No fim, era melhor assim. Não tinha sentido levar jovens de encontro com a sua morte, ficar na Universidade Mágica era o mais seguro no momento.
Quando todos estavam dentro da área, o círculo emanou uma luz ainda mais forte e suas bordas começaram a desintegrar, assim como a figura de todas as pessoas ali. Alguns guardas desacostumados com o processo pareciam horrorizados vendo o seu corpo se estilhaçar em diversas partículas que subiam e desapareciam no ar.
A Santa apenas fechou os olhos devido ao incômodo da luminosidade excessiva e, no instante seguinte, estava do outro lado do Continente Ocidental. O local mais parto da área do orfanato era Dart, a cidade-fronteira.
Logicamente, Iolite pensou em tudo. O círculo mágico os transportou para uma distância segura do local que estava Azazel van Elsie. Podiam sentir a fraca presença da demônia, e ela também já devia saber da chegada do grupo, talvez até muito antes deles terem pisado no círculo.
— Onde estamos?… — murmurou Hime.
— É uma floresta comum. Há algumas vilas aqui perto, os moradores usam essa floresta para caçar. Vamos precisar andar um pouco até chegar no orfanato — explicou Cynthia, totalmente atenta ao cenário.
— Eu sei que é um pouco tarde pra perguntar isso, mas vocês têm um plano, certo? — questionou um dos estudantes da dupla de delinquentes.
— Claro que sim, — afirmou Cynthia — vamos atrair a demônia para uma armadilha e ganhar tempo até a chegada da Guarda Real.
Minerva achou a explicação um pouco rasa. Como foi a última a se juntar ao grupo, não tinha ciência do que estavam planejando, e sinceramente não se importava, pois ela sabia que Iolite já devia ter algum plano em mente.
— Bem, isso me deixa mais despreocupado… — comentou um dos guardas. — Vamos andando então, não podemos perder tempo!
— Imaginei que o círculo mágico traria alguém mais forte. Que decepção.
A voz sinistra fez todos suarem frio por instante. Até Minerva tremeu, ela não sentiu nenhuma presença desde que chegaram ali, agora entendia o motivo de Iolite ter se assustado tanto quando ela ocultou sua aura com um artefato sagrado.
Os arbustos começaram a farfalhar e a figura de diversas pessoas surgiram ao redor do grupo. Aparentemente, eram moradores comuns de alguma vila próxima, contudo a Santa desconfiou de não poder sentir a aura de nenhum deles. Logo, chegou a compreensão.
— São Sementes de Doppelganger — murmurou Minerva.
— Sementes de quê? — Cynthia a encarou, confusa.
— Sementes-parasitas que podem assumir a forma de alguém e logo depois matam a pessoa que tomaram a aparência. Ou melhor, devoram a pessoa viva para roubar suas memórias e absorver suas habilidades.
A jovem Sophiette fez uma expressão de asco ao escutar a explicação. De fato, era algo repugnante, mas precisavam manter a calma para não cair em nenhuma armadilha.
— Isso vai contra todas as leias da natureza!!
Após o seu berro, o Orbe Cinza avançou na direção da Heroína Ádvena, fundindo-se com a garota. Hime brandiu a sua lâmina e avançou na direção dos inimigos sem pensar duas vezes.
— Espera, Hime!
Mas os gritos foram em vão, a deusa estava decidida a punir esses seres heréticos, mesmo que isso a colocasse fora da luta contra Azazel van Elsie.
“Droga! Isso deve ser exatamente o que Azazel quer… O quanto ela nos conhece e o quanto ela pensou à nossa frente?! Iolite… você não vai nos deixar na não, não e?”
Minerva cerrou os punhos enquanto assistia em silêncio ao massacre das Sementes de Doppelganger proporcionado por Hime.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.