Capítulo 296: Sophiette Verdadeiro Imperfeito
Azazel van Elsie permaneceu estática no centro do campo de batalha, em uma posição tranquila, dividindo seu olhar entre todos os corpos no chão, talvez apostando consigo mesma qual levantaria primeiro, ou decidindo a ordem para matar cada um.
— Hmmmm, e você, não luta? — questionou a demônia à professora Sprout Ruderalis.
— Não estou com ânimo — respondeu a mulher, em seu tom relaxado, espreguiçando-se.
— Vamos, junte-se à diversão. Quanto mais gente, melhor. Eu prefiro que venham todos de uma vez, eu aguento. Dê o seu melhor, suas mãos parecem fazer maravilhas.
— Desculpe, não tenho tesão nenhum para essas coisas em grupo.
As duas se encararam com uma expressão presunçosa estampada no rosto. Como isso era possível? A demônia pareceu se entender com a professora Sprout.
Cynthia levantou-se com dificuldade, seu corpo estava dolorido de tanto ser arremessado. Os Sophiette possuíam um fator de cura mais rápido que os humanos comuns, contudo esse fator precisava ser exercitado para focar mais eficiente. Como alguém que não era habituado ao combate teria um fator comparável ao de Sylford?
A garota apertou o objeto em mãos com força. Era o que restou da sua espada: o punho com um pedaço de lâmina de dez centímetros. Nunca conseguiria causar dano na demônia com algo tão inútil.
Ao seu lado, viu a figura de Loright levantando-se também, visivelmente frustrado por seu treino intenso não ter dado os resultados esperados.
O que poderia dizer para dar apoio ao jovem? Essa coisa à sua frente estava além do nível até mesmo de supostas divindades.
Antes que Cynthia pudesse pensar em algo, sua atenção foi levada novamente para a interação casual de Azazel e Sprout. Não ficaria surpresa se a professora de Botânica Mágica de repente decidisse mudar de lado.
— Você me agrada, que tal se tornar minha subordinada? Eu garanto que iremos nos divertir muito. Você pode se tornar até mesmo um membro do Conselho do Inferno se for uma cadela obediente.
— Tenho certeza que o quanto vou trabalhar e o quanto vou receber em dinheiro como membro desse grupinho não vai ser proporcional ao que tenho trabalhando como professora da Universidade Mágica, então eu passo.
Sprout encarou a jovem Sophiette, como se lesse os pensamentos dela. Repentinamente, a mulher estendeu o braço na direção da garota e arremessou frascos que explodiram no ar e liberaram uma fumaça esverdeada.
O gás adentrou as narinas de Cynthia, e no mesmo momento ela sentiu todas as suas forças voltando. Dor não existia mais, os frascos eram poções de cura estranhas jamis vistas antes.
— Então vai morrer como os outros — murmurou Azazel van Elsie, entretanto a professora foi rápida e afastou-se do campo de batalha em um instante, escondendo-se atrás de um arbusto.
— Serei eu que lutarei contra ela primeiro, não atrapalhe — disse Cynthia, já revigorada, fazendo um sinal com a mão para impedir o avanço de Loright. — Preciso vingar o meu irmão.
Azazel van Elsie sorriu, com uma expressão maligna no rosto.
— Eu amo esse olhar selvagem dos Sophiette. Seu irmão tinha um olhar parecido, por isso eu comecei tirando um dos olhos dele.
As palavras da monstruosidade serviram como gatilho. A jovem Sophiette chutou o chão e reduziu sua distância, atacando tanto com o pedaço de espada quanto com a mão fechada em movimentos frenéticos.
Azazel apenas esquivou, a diferença de altura entre ela e a sua oponente a obrigava a fazer movimentos exagerados para desviar dos cortes do que sobrou da espada de Cynthia.
— Incrível! Incrível! Incrível!! Você está mais rápida que antes, mas será que consegue esquivar também na mesma velocidade? — falou a demônia, já desferindo um golpe com o joelho no estômago da nobre.
Na sua cabeça, essa monstruosidade devia pensar que a menina tentaria esquivar, ou pelo menos reduzir os danos usando os braços para defender-se, mas não foi o que aconteceu: Cynthia simplesmente suportou toda a dor do golpe e continuou a atacar com o pedaço de sua lâmina.
Foi preciso um movimento rápido da cabeça de Azazel para evitar que ela fosse atingida no olho esquerdo, contudo alguns fios do seu cabelo longo não escaparam ilesos.
— Que atrevida!!!
O braço com a lâmina foi agarrado e Cynthia foi arremessado com tudo contra uma árvore, rolando pelo chão novamente. Ela sentiu a dor de antes voltando com tudo, não podia ser diferente, afinal ela foi ferida da mesma maneira.
A garota rangeu os dentes e tentou levantar, mas os efeitos do golpe no estômago a atingiram com força, fazendo-a cuspir um bolo de sangue.
— Que lindo, que lindo, ela quer vingar o irmão… apenas porque fará bem para seu ego de princesinha nobre. Passou tantos anos odiando e agora quer fingir que ama o irmão. Hihi, você é uma pessoa terrível, aquele jovem deve ter nojo de você. Eu poderia fazer o favor de matá-lo agora mesmo só para ele não precisar olhar para essa cena deprimente.
— Cala boca!!! — berrou Cynthia, ignorando toda a dor e ficando sob os seus pés, passando a mão nos lábios para limpar o sangue. — Eu sei disso! Mesmo que eu desse minha vida por ele, isso não perdoaria meus pecados. Mas não quero escutar isso de uma demônia. O único que pode me condenar é ele, eu quero salvá-lo para escutar isso da boca dele, seus verdadeiros sentimentos!
Diversas emoções diferentes começaram a aflorar do interior do peito de Cynthia. Sempre foi uma pessoa terrível, jamais sentiu algo assim antes, sua vida mudou apenas quando conheceu Iolite. Aquele garoto mostrou que ela precisava pagar por seus pecados.
— E como acha que vai me derrotar? Nem mesmo seu irmão conseguiu isso, e logo você, que viveu tantos anos na tranquilidade, vai conseguir? Deve estar louca.
— É verdade. Eu fui mimada por tanto tempo… Mas um Sophiette ainda é um Sophiette, por mais patético que possa ser.
O cenho da demônia franziu por um momento.
Uma aura estranha começou a ser emanada de Cynthia, uma energia nada humana…
— A presença de um dragão? — balbuciou Azazel, tentando esconder sua surpresa.
— Quando nasci, pensaram em me sacrificar por causa da minha aparência. Por sorte uma maga me salvou desse fim terrível com seu conhecimento, afinal… eu nasci com muita compatibilidade com o sangue de dragão… sabe o que isso significa, demônio?
— O sangue de dragão, é? Que inesperado! Eu odeio essas surpresas, é como descobrir que a bela dama que você levou para a cama é, na verdade, um rapaz de vestido. Ninguém merece um rapaz de vestido, hihi.
A aura emanada da garota ganhou um tom avermelhado, seus caninos aumentaram e escamas começaram a brotar da sua pele. Das suas costas, surgiram um par de asas com uma textura semelhante à de brasas vivas.
Cynthia estudou um pouco sobre o assunto. Raros membros do clã Sophiette nasciam com uma compatibilidade muito alta com o sangue dos Sophiette originais, isso permitia que tivessem acesso a uma forma dracônica: a forma que lembrava os Sophiette originais, monstros enormes cupidores de fogo, sedentos por sangue e com muita mana.
“Sophiette Verdadeiro”, essas pessoas eram denominadas assim.
Apesar da forma aumentar os poderes de várias formas, a garota nunca teve interesse no combate, por isso ela selou a sua forma e prometeu jamais usar, pois as escamas prejudicariam a sua pele.
Nesse momento, ela se arrependia de ter sido tão vaidosa. Percebeu que o seu lugar deveria ser ao lado do seu irmão, no campo de batalha. Se treinasse muito para dominar a forma de Sophiette Verdadeiro, Sylford não teria se machucado assim, ela teria sido suficiente para matar a terrível Azazel van Elsie.
— Mas o que é isso? Está incompleta, não parece nada com aquela aparência de Wylberg Sophiette. Ah, claro, você deve ter achado que a aparência era muito grotesca para uma dama do seu nível e por isso não treino. Pfff, que patético.
— Wylberg?… Mas esse e o nome de…
— Chamavam ele de “Grande Ancião”. Uma pena, ele queria proteger a Reencarnação de Astarte, por isso eu o matei. O que acha? Nem mesmo um Sophiette Verdadeiro como ele conseguiu me vencer, você acha mesmo que tem alguma chance com sua forma incompleta?
— Você fala demais!!
Cynthia aproximou-se da monstruosidade em um instante com a sua nova velocidade e desferiu um golpe com todas as forças na direção do peito da oponente.
Booooooooooooom!!!
Um estrondo ecoou pelo lugar quando a demônia defendeu o golpe com a mão aberta.
— Ahhhhhhh!!!
A jovem Sophiette não se amedrontou e continuou a disferir golpes estrondosos, seu objetivo era quebrar elo menos uns ossos de Azazel. Apesar da demônia continuar a desviar, ela precisava se esforçar mais.
Repentinamente, Cynthia chutou o chão com força e jogou-se com um salto para trás, tomando distância. Ela parou no ar e abriu a boca adornada com caninos longos.
Fogo choveu do céu na direção de Elsie. Cynthia podia cuspir fogo como um autêntico dragão.
— Tome cuidado! Nós ainda estamos aqui!!! — reclamou a Santa, que precisou erguer uma barreira para proteger os companheiros da enxurrada de fogo.
A garota no céu ignorou totalmente as palavras de Minerva e novamente abriu a boca para atacar com suas chamas ao notar que a demônia também conseguiu defender-se. Os olhos da menina começaram a ganhar um brilho vermelho intenso.
— Haha, isso sim vai ser interessante, essa Sophiette idiota está perdendo a racionalidade! Se não puder se controlar, vai ficar tão inteligente quanto uma Besta Mágica! — falou Azazel, expandindo sua aura para provocar Cynthia.
— Não! — gritou a Santa, tentando avançar em meio à ventania criada pela presença demoníaca.
Cynthia cerrou os dentes com força ao ser confrontada. Ela pousou devagar, recolhendo suas asas ao tocar o chão. Sua posição não estava muito distante da oponente. A jovem Sophiette encarou a demônia:
— Eu nunca seria controlada por instintos vulgares, afinal de contas fui criada como uma dama recatada que sabe controlar suas próprias emoções. — Seus olhos voltaram ao tom azulado original, e no rosto de Cynthia surgiu uma expressão um pouco arrogante. — O que aconteceu agora pouco foi um momento de fraqueza, mas agora lutarei a sério, demônio.
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