Índice de Capítulo

    Quantas vezes já viajou de carruagem desde que chegou àquele mundo? 

    Kurone foi de um lado para o outro em um curto intervalo de tempo. Certamente, passou mais tempo em uma carruagem que em qualquer outro lugar. 

    No início, sentia um pouco de náuseas e ficava tonto ao olhar para a paisagem, mas naquele momento, seu corpo já se acostumara. Considerando que suas últimas viagens de carruagem não eram com Amélia, ele não sentia qualquer ponta de náuseas, devido à velocidade. 

    O jovem e a empregada, Noah, estavam a caminho da capital para o julgamento de Sophia que aconteceria em breve. Se passaram quase dois dias. Considerando a velocidade, chegariam na capital com tempo de sobra…

    E então, o que fariam? 

    Era um julgamento fechado em que apenas um número específico de pessoas — nobres, para ser mais específico — podiam participar. Uma empregada e um desconhecido não conseguiriam nem mesmo entrar no edifício, quem dirá ajudar a marquesa. 

    Mesmo se fosse algo a ser resolvido com força bruta, Kurone seria inútil para o serviço, afinal, sem Rory, não passava de um japonês comum.

    “Oração”, “Fortalecimento de corpo”, “Exorcismo”, “Compartilhamento de mana”, “Autorecuperação” e “Fé”. Excluindo o “compartilhamento de mana”, não tinha a mínima ideia da utilidade das outras habilidades. O jovem ainda carregava o papel entregue pela chefe de guilda. Como não conseguia ler a escrita daquele mundo, transcreveu uma cópia para o japonês com a ajuda da tradução de Amélia.

    — Ei Nakano… O que você acha que vai acontecer? 

    — Não faço a menor ideia. 

    — O que posso fazer para ajudar a Lady Sophia? 

    — Não faço a menor ideia. 

    O tom de voz de Noah se tornou melancólico desde que entrou na carruagem. O sentimento de impotência aumentava conforme se aproximavam da capital.

    — Mas podemos provar que estivemos com a Sophia nesses últimos dias, já é algo, não?

    — Talvez…

    — Já posso ver a capital daqui! — anunciou o cocheiro.

    Colocando a cabeça na janela, Kurone viu o muro do qual se aproximavam.

    Naquele momento, acabara de amanhecer, e mesmo assim, várias carruagens iam e voltavam, alguns aventureiros também já adentravam a floresta para cumprir missões. O caminho até a entrada da capital estava repleto de monstros, todos eram completamente diferentes daqueles vistos até o momento pelo jovem. Alguns se assemelhavam a javalis com três chifres, outros, eram avestruzes gigantes com presas e penas coloridas. Mas, apesar da aparência ameaçadora, os monstros corriam com medo dos veículos.

    — Esses são monstros especiais. — Noah começou a explicar ao jovem confuso. — Essas aves gigantes são chamadas de strouths. Os ovos deles são bastante utilizados na culinária, sem falar que as penas são essenciais em roupas para a elite. — A empregada apontou para dois homens que carregavam ovos para uma carroça. Assim como as aves, os ovos eram enormes e coloridos.

    — Aqueles ali são Aprums. — Apontou para o pseudo-javali e continuou: — A pele deles é utilizada em vestimentas para aventureiros e as presas podem virar armas. A carne também é deliciosa.

    — Diferente dos outros monstros, Aprums e Strouths se reproduzem muito rápido e não costumam atacar os humanos. Esses dois se tornaram o símbolo de Andeavor por trazer prosperidade à capital. Em compensação, foram aplicadas algumas regras a respeito da caça deles. 

    Kurone ouvia atentamente a explicação de Noah. Era nesse ponto em que ele via a diferença entre a ecologia da Terra e daquele mundo. Seu corpo também modificou-se desde que reencarnou nesse mundo. Usar magia era algo impensável para o jovem até alguns dias atrás enquanto fazia faculdade de medicina.

    A carruagem foi parada pelos guardas do portão. A explicação dada pela garota o fez se esquecer da passagem de tempo e entrou novamente em seus momentos que se esquece de tudo ao redor enquanto está pensando.

    — A taxa para entrar é de uma moeda de ouro por pessoa.

    — Você é idiota? Não vê o brasão na carruagem? Nós somos da mansão Sophiette.

    — A-ah, M-me d-desculpe! Podem p-passar imediatamente!

    — Ei Noah, não precisava ser tão agressiva assim! — Kurone sussurrou para a empregada na janela.

    — Humpf! Eu tenho meus motivos para não gostar das pessoas da capital. Sem falar que isso vai servir de aprendizado para ele não cometer mais enganos.

    Assim como na terra, naquele mundo, a elite também era isenta de taxas. Um brasão era tudo que precisam para conseguir o melhor quarto em uma hospedaria sem vagas ou o primeiro lugar em uma fila com mais de trezentas pessoas. “Esse é o verdadeiro poder da influência de um nobre.”

    — O que aconteceu!?

    A carruagem mal se moveu quando foi parada novamente. Ainda estavam a poucos metros do portão. Noah abriu a porta com raiva. Dessa vez, ensinaria uma lição para os guardas folgados.

    Apesar de ter seus motivos pessoais, essa raiva em relação aos guardas era por conta do nervosismo. A cabeça da garota certamente estava confusa, Kurone notou isso ao ver o quão rápido o tom de voz mudou de melancolia para raiva. A empregada chegou a capital e em poucos minutos assistiria o julgamento de sua mestra, mas alguém estava em seu caminho…

    — Eh… Kurone… — A voz da garota chamou o jovem que estava na carruagem.

    Haviam cerca de vinte pessoas, todas ajoelhadas e com roupas idênticas. Poder-se-ia dizer que eram importantes na capital e que tinham um edifício próprio… Mas não eram guardas que atrapalhavam o caminho, como Noah pensou.

    — Você chegou!

    Uma mulher se levantou enquanto as outras continuavam ajoelhadas, com as mãos juntas e olhos fechados — como se estivessem orando.

    As vestimentas das mulheres, túnicas pretas e toucas cobrindo a cabeça, denunciavam que eram de alguma ordem religiosa daquele mundo, assim como as freiras da igreja católica do mundo de Kurone… Olhando bem, eram vestimentas semelhantes as daquela sacerdotisa da vila.

    — Você chegou — a mulher repetiu. 

    — E-ei ei ei… a-acho que está havendo algum engano aqui!

    — “Ela” nunca se engana… a grande deusa nos revelou que o missionário chegaria na capital em breve.

    Missionário. Essa era a classe desconhecida do jovem. De acordo com Linda, era uma classe restrita a membros da igreja, isso tinha alguma relação com o que estava acontecendo? As palavras-chave eram “grande deusa” e “missionário”. De alguma maneira, essas mulheres sabiam muito sobre Kurone.

    — A deusa nos orientou para guiar seu missionário até a nossa santa igreja.

    — E-ei Noah! Quem são essas pessoas?!

    — Pela túnica parecem ser aqueles hereges esquisitos que adoram uma deusa… Ah sim! São da Seita da Deusa Cecily!

    — C-Cecily…

    — Nakano, é melhor ficar longe dessas pessoas… Nakano!

    Ignorando a empregada, Kurone desceu da carruagem e foi em direção a mulher que estava de pé, ele tomou as mãos que seguravam o símbolo de sua seita: uma medalha com um pentagrama dourado no centro. O jovem aproximou bem o rosto…

    — Qual o seu nome? —  Apertou firme as mãos da mulher, fazendo-a ficar corada.

    — É-é Inri, caro irmão.

    — Inri, me leve até a Cecily!

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