Índice de Capítulo


    — Entendo… — comentou o homem ao lado de Kurone. 

    O jovem estava de joelhos, apertando os dentes com força. O flashback havia acabado há alguns minutos, no entanto ele não se moveu, continuava lamentando e amaldiçoando a própria existência patética. 

    — Você deve ter muitos arrependimentos — continuou o homem. Pelo sotaque forte, o garoto presumiu que ele também era um japonês. Letras como “L” e “V” eram trocadas por “R” e “B” em suas palavras.

    — Onde… — Kurone começou com a voz trêmula — onde eu estou? Não parece a sala da Cecily… E quem seriam vocês? — Ele lançou um olhar afiado para o homem de uniforme militar e a garota de cabelos loiros,

    A dupla observando o jovem, que enxugava as lágrimas, tinha uma expressão calma no rosto. O homem adiantou-se e falou em sua voz grave:

    — Primeiro, esse lugar não é exatamente um Domínio, garoto. Seja bem-vindo ao Hangar dos Mortos, sua trajetória chegou ao fim. —  Ele estendeu a mão e dissipou a escuridão, revelando um local mórbido semelhante a uma caverna.  

    O jovem parou de respirar por alguns segundos ao escutar aquelas palavras. Realmente, estava morto. O buraco em seu peito desapareceu, deixando apenas um enorme rasgo do tamanho de um punho fechado no centro da roupa branca de Santo. 

     — Meu nome é Ryuu Toshiro — apresentou-se com um sorriso amigável —, e essa bela mulher ao meu lado se chama Katherine. E quem seria você, garoto? —  perguntou o homem apontando para o jovem.

    — Kurone — disse enquanto tentava ficar de pé —, Kurone Nakano. Sou um maníaco que morreu de uma maneira patética.

    — Hahaha! Todos somos, essa é a única razão pela qual todos estão aqui — riu enquanto batia com violência nas costas do jovem. O modo de falar e as ações lembravam muito Orcus, o companheiro que deixou no mundo dos vivos. — Ei, galera, carne nova na área!

    Rapidamente, o cenário sombrio foi preenchido por diversas pessoas que estavam escondidas atrás de grandes rochas pontiagudas. Todos tinham expressões despreocupadas.

    — Não precisa ficar com vergonha —  a mulher loira começou —, todos nós somos iguais a você…

     — O que vocês querem dizer com “somos todos iguais”? — Kurone perguntou confuso olhando indiferente para a figura dos estranhos o encarando, havia mais de oitocentas ou novecentas pessoas ali. Era uma fila para o julgamento ou algo assim?

    — Eles querem dizer — pronunciou-se uma voz masculina oculta na multidão — que todos nós carregamos o mesmo fardo… Somos todos amaldiçoados pela alcunha de Lolicon Slayer.

    Quando viu o dono da voz, Kurone quase caiu de joelhos novamente. Ele não era tão velho quanto o homem de uniforme militar, mas os cabelos estavam grisalhos. As roupas eram as mesmas que usava quando morreu bem na frente do jovem.

     — S-supervisor… Isso não é possível — balbuciou de olhos arregalados, não querendo aceitar o desenrolar dos acontecimentos.

    — Parece que nos encontramos mais rápido do que eu esperava, moleque… — comentou o supervisor em um tom melancólico. 

    — Mas o que tá acontecendo aqui?! — berrou inconscientemente.

    — Bem — começou Ryuu, gesticulando para acalmar o jovem —, uma pessoa invocada por Cecily não pode ir para o céu ou inferno, então vem para cá, o Hangar dos Mortos. Aqui seria uma linha entre os dois locais, mas considero esse lugar como um verdadeiro paraíso, veja bem, não sentimos nem fome ou sono aqui…

    Kurone teve a impressão que sua cabeça dava voltas e mais voltas. Seu corpo estava pálido e fraco, passando a impressão que poderia desmaiar a qualquer momento.

    — Você já sofreu demais, garoto, é hora de descansar…

    — Todos são Lolicons Slayers… Não… não pode ser… — gaguejou incrédulo. Seu mundo estava desmoronando, não tinha tempo para assimilar os acontecimentos, sua mente estava focada em apenas uma coisa: Rory.

    Se todas aquelas pessoas detinham o mesmo maldito título, ou seja, se todos eram iguais a Kurone, então…

    — É difícil de aceitar assim tão de repente, mas quando se acalmar vamos te explicar tudo. Sei que está pensa nela, mas tente relaxar por enquanto, tome um ar e reflita um pouco, você acabou de rever aquele passado, deve estar com a cabeça cheia. — Ryuu fez menção de tocar o ombro do garoto, porém alguém gritou da multidão:

     — Não toque mais nele! Este menino não está morto! — exclamou um homem de baixa estatura. A expressão de todos mudou ao escutar o grito.

    — Marcell, o que você quer dizer? É claro que ele está morto, senão não estaria aqui — comentou Ryuu com um sorriso amarelo.

    — Não sente esta aura? Ele ainda está ligado com o mundo dos vivos, você sabe exatamente que existem exceções, não é? — disse o homenzinho lançando um olhar hostil para Kurone. — Diga, o que é você? Como morreu? Pelo seu estado não parece ter sido da melhor maneira.

    — Chega, Marcell, eu sei exatamente como ele morreu! — interrompeu Ryuu um pouco irritado. — Com certeza foi aquela demônia maldita, Azazel van Elsie.

    — Ei — Kurone começou —, a Rory… ela… O que é ela exatamente — indagou com a voz trêmula. 

    — Rory? Hahaha! Então foi esse o nome que você deu para a Luminus? Ela sempre ficava irritada quando eu a chamava de loli, mas acabou recebendo um nome como esse, hahaha! Sério, você podia ter sido mais criativo. — Ele riu incansavelmente por alguns minutos.

    — Luminus? — repetiu Kurone surpreso.

    — Luminus streix Astaroth — continuou Ryuu —, não consigo pronunciar direito por conta do meu sotaque, mas é algo assim. Esse é o nome real dela.

    — Na verdade, é Astarte e não Astaroth, coroa — comentou o homenzinho, Marell.

    — Eu chamava ela de Lux… — disse Katherine colocando a mão no queixo. — Ela nunca se importou com a maneira que era chamada.

    — Se todos vocês conhecem a Rory, então… — Kurone não teve coragem de continuar, mas os outros entenderam o que ele queria dizer.

    — É o que você está pensando — disse o supervisor —, a garotinha que você chama de Rory vagou por aquele mundo mais de uma vez, mais precisamente mil vezes, o número exato de pessoas que tem aqui, contando com você, claro. Rory, Lux, Luminus streix Astaroth ou Astarte, ela muda o nome toda vez, porém continua sendo a mesma, revivendo o mesmo pesadelo tentativa após tentativa.

    Kurone estava certo ao pensar que a garotinha podia retornar da morte, porém não era imediatamente, por algum motivo, ela precisava estar ao lado de alguém de outro mundo para reviver. Agora estava explicado o motivo da sua personalidade! Ela era como Kurone.

    O jovem se tornara um delinquente para mascarar a perturbação em seu ser, as vozes gritando incessantemente, querendo afundá-lo no desespero. Ele não pedia ajuda visivelmente, mas suas ações violentas mostravam que queria ser salvo.

    Rory tornara-se uma delinquente pelo mesmo motivo, estava cansada de tudo aquilo, queria que alguém a salvasse, afinal, pelas suas contas, ela esteve naquele ciclo por mais de mil anos — e continuaria nele se ninguém não fizesse nada.

    — Preciso voltar e salvar a Rory, prometi que não ia perder mais nenhuma irmã! — gritou cerrando os punhos.

    — Eu entendo seu sentimento, mas veja, garoto, não tem como voltar. — Assim que terminou de falar, a multidão concordou em uníssono. Pelas expressões, todos sabiam que as palavras do homem eram verdadeiras.

    Na verdade, eram palavras lógicas, a morte era imutável, não havia com vencê-la, pelo menos Kurone, idiota e fraco, não conseguiria fazer nada em relação àquilo. Seria realmente o fim?

    — Eu disse, não disse? Esse garoto não está morto. Tem algo conectando a alma e o corpo dele… Mas nem mesmo minha habilidade pode dizer o que é — falou o homenzinho intrigado.

    — Gente… sei que a conversa tá boa e tal… mas o que é aquilo? — disse Katherine apontando para algo distante.

    — Não é possível! É-é o portão para o outro andar! — concluiu o supervisor. — Isso não é bom, aquele portão não devia estar se abrindo!

    — P-por que não? — perguntou Kurone assustado. O homem voltou um olhar sério para ele e explicou:

    — O Hangar dos Mortos é composto por 100 andares, cada um abriga seres diferente… e aquele andar ali é onde os Espíritos Ceifadores estão presos, os portões não podem ser abertos… 

    — É culpa desse estranho! Os ceifadores estão aqui por causa dele, eu falei que ele não está morto — gritou Marcell fugindo do local com toda a multidão de Lolicons Slayers aterrorizada.

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