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    — Que os deuses estejam com vocês, porque eu não estarei — foi a última coisa que Lao Shi disse.  

    O Arquifeiticeiro queria ver com os próprios olhos a força do exército que o Monarca do Oriente estava se aliando. Todos perceberam as intenções dele, por isso ninguém reclamou.

    — É um prazer lutar novamente ao seu lado, Lia. Isso me lembra de quando nós estávamos com o Nakano — comentou Orcus com nostalgia. Amélia e ele se conheceram de maneira incomum, ficaram um pouco próximos durante a viagem para Eragon e edificaram aquela relação após se unirem à revolução.

    Algo que ambos compartilhavam em comum era a fé que, em algum lugar, Kurone ainda estava vivo.

    — Igualmente, Orcus. — A garota fez uma pequena mesura e seguiu para o seu esquadrão. O desejo era de conversarem por mais tempo, contudo sabiam o que deviam fazer, a missão era a prioridade naquele momento.

    Aquele Orcus e aquela Amélia eram completamente diferentes dos que Kurone Nakano conhecera, certamente, se o jovem os visse, não os reconheceria.

    A garota que anteriormente era uma cocheira cultivou o seu corpo e a arte da espada. Em suas costas, estava a grande Montante, um dos Tesouros de Karllos Sophiette, ela habituou-se rapidamente com o peso da arma.

    O cabelo castanho cresceu, o que aumentaria seus atributos femininos, isso se os músculos obtidos nos treinamentos com O’Blood e Brain não tivessem a deixado com aspecto mais masculino.

    Orcus, por sua vez, deixou sua barba crescer, a barriga fora de forma desapareceu, dando lugar a músculos firmes, e sua habilidade com a espada melhorou. Ele continuava com o mau hábito de se embriagar, mas sua vida estava mais saudável que antes.

    Voltando à graciosa Amélia, em seu grupo havia um guerreiro que se destacava. A maior parte daquele batalhão era formada por jovens alistados recentemente, o que tornava aquela missão ainda mais difícil.

    Em meio a alguns jovens mestres, filhos de baronetes e outros membros da subnobreza, havia o grande Baltazhar. O orc beirava os três metros, contudo podia ser maior que a especulação de Amélia, pois medir a olho nu não era sua especialidade, uma prova disso era o fato de pensar que sua montante possuía um metro, até Sophia mandar-lhe comprar óculos, pois a espada media um metro a mais que seu chute.

    — Ei, grandão, tem certeza que quer ir na linha de frente sozinho? — perguntou a garota, seu ofício era o de líder do esquadrão, e, como sempre, tentava forçar intimidade com o grande orc.

    — Sim, estou acostumado a lutar dessa maneira, nunca tive problemas com isso — respondeu Baltazhar em seu tom respeitoso, aquela atitude, por algum motivo, irritava Amélia.

    Além dos jovens humanos, alguns orcs completavam aquele esquadrão, era visível a diferença entre as duas raças, e a experiência no campo de batalha refletia em seus semblantes.

    — Então, um resumo rápido, eles estão avançando de maneira desleixada, é um pelotão único e o líder ainda não foi visto… estamos cogitando que é uma armadilha e, na verdade, o líder está entre os soldados.

    — Podiam ter confiado essa missão a apenas os orcs — comentou Baltazhar. — Não importa onde ele está se escondendo, nós vamos matá-lo como mataremos qualquer outro soldado.

    Amélia franziu o cenho. Apesar de parecer educado, aquele orc, indiretamente, insultava a raça humana, algo que ela não perdoaria.

    — Então, por que não fazemos uma brincadeira? — A garota pôs um sorriso presunçoso em sua face. — Aquele que matar o líder dos inimigos primeiro terá direito de ordenar o perdedor a fazer o que quiser. Uma boa aposta, não? Pode ter mais humanos, mas como você diz que são uma raça superior, não vão se importar em aceitar o desafio.

    — Senhorita, o campo de batalha não é lugar para brincadeiras. Como líder do pelotão, a senhorita deve demonstrar aos novos guerreiros como é a guerra — repreendeu o orc.

    Algo estava errado ali, Amélia sempre fora séria e educada, no entanto aquele guerreiro conseguia irritá-la, desenvolveu desamizade com ele desde o primeiro encontro, na área de Sophiette gerenciada pelo tio de Sophia.

    “Ser repreendida por um orc enquanto estou exercendo meu cargo de líder é uma vergonha, vou matar todos só para humilhar esse desgraçado.”

    Havia três pelotões espalhados pela floresta. Aquele liderado por Orcus era o maior, todos os integrantes eram guerreiros mais experientes.

    O segundo era o de suporte mágico. Lao Shi fez questão de dar a liderança dele para Ana, a bruxa Rank B. A menina não concordou com a ideia a princípio, mas logo foi convencida pela persuasão de todos e aceitou o cargo.

    As Classes dos integrantes daquele pelotão eram: Bruxa, Feiticeiro, Arqueiro e Curandeiro. Apesar da diversidade, havia poucas pessoas, a divisão era desproporcional, havendo mais arqueiros.

    O cenário para a primeira campanha de Sophiette era a floresta para chegar à vila de Vim. 

    Campo aberto não era uma boa opção, então só restava aquele lugar, próximo ao local que deveriam defender. O exército de Azazel van Elsie não esperaria um ataque quando estavam tão próximos de seu objetivo, e havia o fato que estavam cansados da marcha.

    A viagem do norte de Sophiette para Vim era tranquila, alguém de carruagem chegaria em menos de um dia, mas o exército inimigo estava em desvantagem por terem que dar a volta para não entrarem no domínio da marquesa Sophia.

    Estavam a pé, para evitar chamar a atenção, e os mantimentos entregues a eles eram o essencial. A moral de alguém forçado a lutar com o básico do básico para sobreviver só podia ser a mais baixa possível.

    Para evitar que algo similar acontecesse com o seu exército, Sophia pediu para que todos fossem alimentados com a melhor comida durante a campanha, havia guerreiros suficientes para o rodízio de sono e fora prometida uma recompensa aos soldados que se sobressaíssem durante a batalha.

    “A marquesa Sophiette é uma pessoa incrível…”, pensou Amélia após um suspiro.

    O som de ossos próximos só podia indicar que os inimigos finalmente estavam ali. A líder e todo o seu pelotão entraram em formação, marchando lentamente para a parte mais oculta da floresta.

    O plano era atacar por ondas. Primeiro seria o esquadrão de Orcus, com guerreiros especializados no combate com espadas e armas similares. Após alguns minutos de batalha, o grupo de Amélia se aproximaria lentamente e, por fim, os magos, arqueiros, bruxas, feiticeiros e os aventureiros de Vim apareceriam.

    Os inimigos não sabiam quantos guerreiros estariam ali, afinal nem mesmo esperavam um ataque surpresa de Sophiette.

    Folhas e galhos se movendo sinalizaram que o grupo de Orcus já estava se movimentando. 

    O líder inimigo ainda não deu qualquer demonstração de sua presença ali, o que deixou um gosto amargo na boca de Amélia. Uma coisa era certa: eles podiam não saber que seriam emboscados, mas certamente tinham uma maneira de revidar um ataque surpresa.

    Mesmo após Orcus e seu pelotão saírem dos arbustos e atacarem de repente, os soldados de Azazel não apresentaram medo, muito pelo contrário, aquilo em seus rosto parecia um sorriso sombrio.

    Amélia fez um sinal com a mão, impedindo Baltazhar, que cuidaria da linha de frente do grupo sozinho, dar mais um passo. Sua expressão séria fez até aquele grande orc parar e obedecer.

    — Eles vão aprontar alguma coisa.

    — Não devíamos avisar ao senhor Orcus? — questionou Baltazhar, também encarando aquela cena incomum à frente.

    — No fim das contas, Orcus é um guerreiro experiente, ele deve ter percebido que essa não será uma batalha normal… mas se eles só estiverem querendo morrer mesmo, então só podemos realizar esse desejo. Avance com cuidado.

    Após o aviso, a mão com músculos magros da garota foi abaixada e o grande orc pôde caminhar novamente.

    Aquele ainda era o exército de Azazel van Elsie, nenhum daqueles soldados estava ali por opção. Talvez, em suas mentes, fosse melhor morrer no campo de batalha, assim não dariam o gosto da demônia matá-los e nem condenariam suas almas tirando a própria vida.

    No fim, queriam morrer como guerreiros, pelas mãos de inimigos dignos.

    Em um sinal com a mão, Amélia começou a se mover, sendo seguida pelo seu pelotão. Sua guarda estava alta e os olhos continuavam fixos nos inimigos.

    “Mas, desse jeito, não vai restar ninguém quando chegarmos lá…”, murmurou internamente ao ver Orcus e seu grupo matando os soldados de Andeavor sem dificuldade. Um corte era o suficiente para dar um fim às suas vidas.

    Vendo aquilo, ela apenas desacelerou e guardou a montante carregada em mãos. Foi realmente só aquilo? Os soldados desejavam morrer, e o ataque a Vim era uma ocasião perfeita… a garota estava prestes a aceitar aquilo quando viu uma movimentação estranha nos soldados mortos.

    Uma fumaça roxa pairou no ar e, sem explicação, aqueles que não deviam mais se mover levantaram. Suas peles possuíam um tom cinza incomum, veias arroxeadas pulsavam pelo corpo e os olhos ganharam um brilho anormal.  

    Não havia outra palavra para descrever aquelas criaturas, anteriormente soldados, senão “zumbis”. Azazel foi quem preparou uma emboscada para eles, não deviam ter subestimado aquele ser doentio que mexia até mesmo com as leis naturais e usava truques hereges para alcançar seus objetivos.

    — Agora, ataquem! — bravejou Amélia com ódio.


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