Capítulo 260: Bibliotecário com uma AK-47
Iniciar um semestre atrasado… Os grupos de amizades e a relação entre o professor e os alunos eram formados no decorrer dos primeiros dias, assim, a hierarquia acabava sendo desestruturada com a chegada tardia de um discente, e, claro, inevitavelmente o aluno se tornava alvo de muita atenção indesejada.
Kurone Nakano (Iolite) sentiu um frio na barriga quando soube que frequentaria o ambiente acadêmico mais uma vez — não tinha boas recordações da sua vida escolar no Japão, sempre foi o tipo de aluno indesejado, por isso fazia questão de chegar tarde em todos os semestres.
Por sorte, ainda teria um tempo para se preparar.
Atualmente, estava no nono mês do ano de 8000 da Era dos Deuses, e a lua adornando o céu nas noites frias, com seu tom azulado, era Hipérion — a Sucessão Lunar ocorreu há alguns dias.
Devido ao atraso, só podia começar a frequentar as aulas no primeiro mês do próximo ano, contudo estava livre para estudar por conta, possuía um cartão estudantil na carteira.
O garoto ganhou um dormitório na universidade, era pessoal e raramente tinha visitas, sua existência ali era desconhecida por quase todos devido à demora nas terras de Sophiette.
Mas foi bom isso ter acontecido, não queria chamar a atenção em um lugar repleto de nobres esnobes, possuía poucas memórias de pessoas da nobreza que tinha uma relação amistosa.
Talvez fosse seu rosto de plebeu? Mesmo nobres bons às vezes não batiam muito bem com ele. Veja Lou Xhien Li, por exemplo, só faltou deixá-lo paraplégico no primeiro encontro. E como esquecer de Cynthia Sophiette e toda a sua marra?
No caso de Cynthia, Kurone teve sorte por ela ser a pessoa que reencarnaria como Flugel na próxima vida, o contato entre eles resultou em um choque inesperado, e isso fez a sua relação tomar um bom caminho.
Mas se a anomalia não tivesse acontecido, a relação seria diferente? Não sabia, mesmo, talvez nem trocassem palavras após saírem da carruagem.
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Quanto a Lou Xhien Li… não queria pensar muito nela.
Os olhos do menino, tentando afastar a cena trágica que vez ou outra retornava, foram direcionados para a cama, havia cartas enviadas das terras de Sophiette ali, a maioria pertencia a Cynthia, que escrevia nos intervalos dos seus estudos.
Sylford disse, em uma carta enviada há poucos dias, que faria uma visita à capital em breve e passaria na universidade. Ainda era constrangedor olhar para ele depois do incidente envolvendo “Salas Sophiette”, mas era algo passageiro, e o respeitava como seu mestre de espadas.
{A Celestial ainda possuía interesse sobre essas coisas chamadas “femboys” presentes em suas memórias. Ela gostaria de permissão para prosseguir com as pesquisas.}
“Sossega aí, projeto de serafim.”
{Ela gostaria de entender mais sobre os fetiches humanos, e Kurone Nakano possui muitos…}
Após ignorar as palavras de Ellohim e se espreguiçar, vagou pelo quarto até a janela do dormitório.
Estava no segundo andar. A Universidade Mágica possuía quatro pavilhões, contando com esse. Aqui ficavam os dormitórios femininos e masculinos, cada um em uma extremidade.
Como a maior parte dos estudantes pertenciam à nobreza de Andeavor, os dormitórios normalmente eram ocupados por jovens “talentosos” como Kurone, que foram pegos por alguém influente e mandados para cá — isso também era bom, havia muito espaço, ou seja, não precisava dividir o seu quarto.
Algumas vezes, encontrou nobres esnobes aqui e ali, esses eram pessoas nascidas em berço de ouro que vinham de reinos mais distantes de Andeavor, ou até mesmo do Continente Oriental.
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Nesse horário, todos já estavam em aula, então era o melhor momento para ir à biblioteca do terceiro pavilhão sem chamar muita atenção. Havia pessoas como Paltraint em abundância nesse mundo, alguém notar a sua aura anormal só deixaria sua vida mais difícil.
Kurone calçou suas botas e vestiu suas novas roupas: uma camisa branca e calças negras — sempre respeitava a paleta de cor do seu personagem. O corredor estava vazio e as janelas fechadas davam um ar solitário ao lugar.
Enquanto descia as escadas que davam no segundo andar dos dormitórios, tentou ordenar o que faria.
Sim, havia muitas coisas que precisava estudar, mas houve um fato que só foi notado recentemente…
Como foi dito, atualmente estava no ano 8000 da Era dos Deuses. Se pegasse uma linha reta e fosse colocado o ano de início e o do fim da Era nas extremidades, ele estaria mais próximo do começo. Chutou que levaria pelo menos vinte mil anos até a próxima Era, e até onde sabia, seu corpo não era o de um imortal.
Precisava encontrar uma maneira de viver até o ano de 1502 da Era Mágica após salvar Luminus.
“Espero que eu não vire um daqueles caras maus que fazem tudo pra ter a imortalidade, não tenho uma risada de vilão boa.”
No fim, esse era um mundo de fantasia, havia muitas maneiras de alcançar a longevidade — existiam tantos métodos bons como obscuros. De preferência, queria encontrar um método bom para prolongar sua vida, de obscuro já lhe bastava o coração demoníaco e o Fogo Infernal.
Se tivesse acordado no corpo de uma pessoa de qualquer outra raça, teria uma vantagem, Hyze podia ter levado isso em consideração.
E falando em desvantagens, nos últimos dias, tentou ler vários livros, e descobriu outro problema: a escrita dessa época era diferente. Claro, a escrita estava em constante mudança, era inevitável ela mudar ao longo de tantos anos.
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Kurone começou a estudar a língua de Niflheim logo após a batalha contra Edward Soul Za. Enquanto viajava para Eragon, praticou um pouco escrevendo cartas que nunca chegariam às suas irmãs e sua mãe, embora houvesse mais caracteres japoneses nos textos.
Seu conhecimento da escrita desse mundo só foi consolidado após chegar à ilha Lou Souen, onde obteve a ajuda de Lou Xhien Li… e tudo isso era inútil nesse momento.
A habilidade de tradução inata não era suficiente para tornar as gírias dessa época entendíveis. De fato, alguns caracteres ainda eram semelhantes aos que conhecia, mas esses eram minoria, precisava encontrar um professor, com urgência, se quisesse encontrar algo a respeito da imortalidade nos tomos.
“Se bem que tem uma pessoa que pode me ajudar, mas duvido que eu consiga chegar lá por enquanto.”
Hyze veio à sua mente. A xamã possuía conhecimento sobre tudo nesse mundo, contudo sabia bem como era difícil chegar a ela, não foram poucas às vezes que quase morreu na sua primeira tentativa de alcançar a vila dos elfos.
Havia uma barreira de magia espacial nos arredores da vila que nem mesmo a xamã conseguia desfazer, só teve sorte de chegar lá porque Hyze mandou elfos para guiá-los, caso contrário estaria preso no loop até hoje.
Para chegar lá, precisava de muitos recursos, tais quais os cavalos da casa al Mare e o conhecimento de Lothus… infelizmente não possuía nada disso, encontrar a xamã Hyze estava fora de cogitação.
“Se os livros daqui tão assim, então nem quero pensar nos livros da biblioteca de Sophiette.”
Lera todos os volumes da biblioteca de Lou Souen sem problemas, mesmo que também fossem escritos por Karllos Sophiette, então podia supor duas coisas: ou os livros possuíam um feitiço que os atualizava, ou os membros do clã Lou Xhien faziam o upgrade deles manualmente.
Conhecendo o tipo de pessoa que era o Sophiette Fundador, era mais fácil se tratar da primeira possibilidade — ainda possuía uma sensação ruim quando pensava sobre a morte dele, magos poderosos possuíam o mal-costume de se tornarem lichs no fim da vida.
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“E eu não tô a fim de ter mais trabalho.”
Por ora, focaria em buscar alguém para lhe alfabetizar novamente, e a biblioteca era o melhor lugar para isso. Pedir ajuda aos nobres estava fora de questão. Infelizmente, não teve contato com nenhum professor, isso foi um problema, mas observaria o bibliotecário e as pessoas responsáveis pela limpeza da construção.
“Se a Nie tivesse aqui, ia ser mais fácil, que saudades da minha mulher.”
{A Celestial gostaria de lembrar que não existe uma relação matrimonial entre vocês.}
“Você tá bem falante depois que a Nie e o Azrael não tão mais aí.”
{Naturalmente.}
Encontrar Annie também era uma urgência, principalmente por saber que ela podia ter reencarnado com o corpo de qualquer pessoa do mundo.
E se ela estivesse no Continente Demoníaco? Ou se tomasse o corpo de algum criminoso? A deusa de coração gentil não podia lidar com isso…
Perdido em pensamentos, deixou o pavilhão dos dormitórios, atravessou o campo de aulas práticas e seguiu na direção do terceiro pavilhão — embora fosse uma construção enorme, não se equiparava ao tamanho da mansão Sophiette no futuro.
A biblioteca estava localizada no primeiro andar do terceiro pavilhão, e logo acima encontrava-se a sala do diretor e outras alas administrativas do campus.
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O formato desse prédio… era apenas uma suposição, mas essa construção e o castelo da família real deviam compartilhar do mesmo arquiteto, o layout era idêntico. Se fosse comparar com o castelo, a sala do diretor equivalia à sala do trono.
Quando chegou a esse mundo, não teve a oportunidade de ir ao castelo, todas as suas visitas à capital foram rápidas e cheias de ação, mas conseguiu avistá-lo de longe durante o funeral do rei e entender seu modelo.
Pelo menos as construções da capital não mudariam quase nada nos próximos anos, isso era bom, esperava que não houvesse uma calamidade como a de Eragon até o ano de 1502 da Era seguinte.
Enfim, cessou o fluxo de pensamentos ao chegar à entrada da biblioteca. Como esperado, não havia quase alunos nesse horário e o silêncio estendia-se por toda a extensão do local, esse ar nostálgico fazia-o lembrar do Japão.
Após dar alguns passos, parou em frente ao balcão de madeira.
— Seu cartão, por favor.
A voz responsável por profanar o ar silencioso pertencia ao bibliotecário, era um senhor de aparência comum, com rugas escondidas por trás de um monóculo e sob a barba grisalha.
O que o homem exigia era um cartão marrom, portado por todos os alunos da universidade, Kurone recebeu-o de Paltraint na mansão Sophiette, e foi avisado que não podia perdê-lo se quisesse ter acesso aos benefícios de estudante.
Estava prestes a entregar a ficha quando um vento repentino a tirou da sua mão. O objeto voou como uma borboleta e tentou fugir pela entrada, e quase conseguiu, mas uma mão fina o parou de repente.
Os pés desajeitados de Kurone já haviam começado a se mover quando uma pessoa impediu o seu cartão fujão e o estendeu para ele.
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Os olhos dele e da pessoa com a ficha se encontraram antes que a mão alcançasse a borda do papel de tom escuro. Nesse momento, o garoto sentiu um choque atravessando sua mente.
A figura parada à frente, uma mulher loira com mechas azuladas na franja, arregalou os olhos redondos e deixou um queixo cair um pouco. Não foi o rosto bonito ou o corpo maduro que deixou o menino paralisado, mas sim a aura emanada de todo o seu ser.
Já sentiu isso antes, mas onde? A presença estava gravada em sua mente, contudo era o seu primeiro encontro com essa mulher… Então, seus olhos repousaram nas roupas dela, quando tentaram fugir da encarada opressora.
O corpo esbelto da moça era revestido por tecidos da cor branca, havia uma calça, uma camisa externa e uma capa longa… Uniforme de Santo, soube na hora. O botão dourado na área do pescoço possuía o símbolo de uma lua minguante cravado em seu interior.
“A igreja da desgraçada.”
Deixou um suspiro escapar sem querer ao confirmar uma dúvida que teve durante a viagem à capital: Lucy já havia feito a sua lavagem cerebral nos humanos e assumido a identidade de Annie nessa época.
Logicamente, a pessoa à sua frente era ninguém menos que a Santa da geração, a última pessoa que queria encontrar nesse momento.
Dentro do seu interior, havia a prova da sua conexão com a Lucy do futuro — devia existir algo igual no cerne da mulher loira à frente.
Podia sentir uma Lucy atrás de si encarando a que existia na retaguarda da mulher, como dois animais selvagens prontos para brigar, mas ao invés de mostrar os caninos e rugirem, ambas trocavam sorrisos sádicos sob os lábios vermelhos.
A aura de hostilidade ao redor deles aumentou, fazendo o bibliotecário levantar e encará-los atentamente, demonstrando que agiria no primeiro movimento de qualquer uma das partes.
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Kurone tentou suprimir a presença vazando do seu corpo, não queria imaginar o que aconteceria caso o poder da Lucy do futuro entrasse em contato com a sua versão do passado. Existir duas pessoas com o papel de Santo da mesma deusa ia contra todas as leis da natureza.
A pessoa que fez o primeiro movimento foi a Santa. Ainda com um olhar afiado voltado ao garoto, jogou o cartão em mãos no chão e virou as costas, entrando no local com a escada que levava ao próximo andar.
Mesmo ela saindo, passou alguns minutos até se estabilizar e apanhar o seu cartão… A mulher deve ter percebido também sobre o perigo de fazerem contato físico, precisava ficar alerta para o próximo encontro.
— Não mova um músculo…
O corpo do menino estremeceu e ele parou na posição que estava, com uma mão tocando o cartão jogado sobre o chão de madeira. No canto do olho, podia ver um cano negro apontado para sua cabeça.
“AK-47.”
— Alguém capaz de fazer a Santa Minerva Clergyman agir daquela forma não é uma pessoa comum, como um servo fiel da deusa, não posso deixar isso impune.
Podia reagir… mas adiantaria mesmo contra alguém capaz de escapar da sua percepção? Sentia que, caso fosse atingido por um tiro da AK-47, experimentaria uma terceira morte.
{A Celestial gostaria de dizer que você está com problemas.}
“Grande dedução da parte dela.”
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{Ela deve agir?}
“Ainda não.”
— Você vai me acompanhar até a minha sala, menino. — O senhor desmaterializou a arma e andou na frente, não se importando com as costas desprotegidas, nem se deu o trabalho de olhar se o garoto o seguia. — Não estou escutando seus passos.
O que era toda essa confiança?
“E se eu desse um tiro agora?”
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