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    Lento demais.

    Os socos não encaixavam no momento certo, eram ainda piores que as técnicas de pés. Quanto à habilidade com a espada… estava quase no ápice humano, contudo ainda havia guerreiros melhores.

    Para todos os casos, Loright era lento demais, fraco demais.

    Por mais que ele desse o seu melhor, Kurone ainda podia prever todos os seus movimentos. 

    Ambos possuíam o mesmo mestre de lâminas, e Loright era mais velho que Kurone, como podia existir todo esse abismo de diferença?

    A resposta era simples: experiência. Não foram poucas as vezes que Kurone Nakano chegou perto de perder a sua vida. A cada batalha, a cada derrota, ele mudava.

    Sim, teve vezes que a insanidade e a depressão apossaram-se do seu ser, mas graças a ajuda de pessoas importantes, deu a volta por cima e retornou ainda mais forte.

    Seu ser era como o punho de um guerreiro, machucava-se, mas a dor servia para moldar os nós dos seus dedos. O Kurone Nakano atual era um punho calejado, não se machucaria com qualquer coisa e era mais forte que o punho dos lutadores menos experientes.  

    Ironicamente, até os seus inimigos mais repugnantes, como Edward Soul Za, serviram para que evoluísse. 

    Claro, a dor de Loright também era grande, tiraram a única família que possuía nesse mundo e ele não pôde fazer nada, porém isso ainda não foi suficiente para que enlouquecesse. 

    Kurone e Loright compartilhavam os mesmos pensamentos, por isso…

    — Eu perdi… haha… como esperado, você é mesmo um Gênio. Obrigado por não se segurar contra mim, Iolite — disse o jovem de cabelos negros, ajoelhado em frente ao garoto que o derrotou.

    Era manhã do primeiro dia do novo ano. 

    O duelo amistoso entre os dois jovens ocorreu no jardim da mansão, com Sylford, Cynthia, a irmã Daisy e alguns empregados como plateia.

    O resultado foi como todos esperavam. Sem dúvidas, Iolite era um prodígio com potencial de chegar ao nível do seu mestre — ou até mesmo superá-lo.

    A sacerdotisa fez menção de aproximar-se do jovem prostrado, porém sua ação foi parada por um movimento de mão dele. Fincando a espada que tinha em mãos com força, Loright ficou sobre os seus pés e encarou a todos.

    — Eu já entendi o que preciso fazer agora…

    — Não me diga que estava falando sério mesmo sobre aquilo? — a irmã Daisy questionou com um olhar preocupado.

    — Não posso me limitar a isso… se eu quiser ficar mais forte, preciso expandir meus horizontes.

    Não houve surpresa por parte da mulher religiosa. Provavelmente Loright e ela já haviam conversado muito sobre isso antes.

    Kurone, descansando sentado, não disse nada. O jovem de cabelos negros não estava errado, ele não poderia evoluir mais ficando apenas em Sophiette. Um Gênio conseguiria, mas uma pessoa comum como ele precisava de mais experiências.

    Hmmm, recebi atualizações de que o orfanato está quase pronto, — começou Sylford — tem certeza que deixará as sacerdotisas e as crianças no orfanato, sem proteção? 

    Isso era algo que alguns esqueceram, eles estavam ali de favor enquanto o orfanato destruído por Azazel van Elsie era reformado. Poder retornar para lá era bom, no entanto havia a chance de haver outro ataque…

    — Mas se atacarem, eu não vou poder fazer nada de novo… preciso ficar mais forte — murmurou Loright. Seus olhos eram os de alguém decidido, ele já havia pensado bem que precisava partir, a luta contra Kurone foi apenas uma confirmação de sua fraqueza. — Prometo que vou voltar o mais rápido possível. Alguns meses devem ser o suficiente.

    Não havia erro em sua afirmação. 

    Niflheim era um mundo perigoso, alguns meses perambulando por essas terras era tempo suficiente para aumentar muito a experiência. Além de inimigos perigosos, cada lugar possuía suas particularidades e, se o viajante não fosse esperto, seria morto pelo próprio ambiente.

    — Nesse caso, irei me certificar de ficar monitorando a situação do orfanato — falou o jovem Sophiette em um tom gentil.

    Sylford era alguém difícil de se ler. Ele era normalmente arrogante e desprezava as pessoas comuns, mas quando essas pessoas comuns se tornavam amigos, tratava-as como iguais. As suas decisões, do ponto de vista de qualquer um, também eram irracionais e sem sentido.

    Primeiramente, o orfanato da irmã Daisy ficava em Zhongu, no Continente Oriental, era bem distante dos domínios de Andeavor. Apesar de ser papel dos membros do clã Sophiette promover a paz e o equilíbrio em todo o mundo, isso não devia ser um trabalho para o líder do clã.

    Havia algo ali, Sylford sabia de alguma coisa que o motivava a continuar ajudando essas pessoas.

    De qualquer forma, era bom que as pessoas do orfanato tivessem proteção enquanto Loright estivesse fora. Kurone permaneceu em silêncio e retornou para a mansão, falar algo ali só iria piorar a situação do jovem de cabelos negros.

    Ele teria que partir logo também, as aulas da Universidade Mágica retornavam no mês seguinte, ou seja, tinha pouco menos de trinta dias para absorver o máximo de conteúdo possível da biblioteca da mansão.

    O Livro das Lendas deu-lhe muitas informações importantes, apesar de não ter realmente uma história toda focada na vida de Astarte. Se conseguisse juntar um pouco mais de conhecimento, poderia ajudar Luminus.

    {Ela estava pensando se a habilidade usada há pouco é suficiente.}

    “É suficiente pra monitorar o Loright, mas se alguma coisa der errado, preciso de um teletransporte urgente pra chegar onde ele tá.”

    A habilidade em questão foi aprendida nos últimos dias, enquanto ele lia um livro sobre feitiços. “Os Olhos que Tudo Veem”, essa também foi a habilidade usada por Hyze para monitorar as suas atividades desde que chegou a esse mundo.

    Os Olhos que Tudo Veem funcionavam como uma câmera que seguia o alvo. Devido ao alto consumo de mana, apenas trapaceiros como Hyze e Kurone Nakano podiam mantê-la ativada pelo tempo que quisessem.

    Uma pessoa como Sylford provavelmente conseguiria usá-lo por cerca de dez minutos.

    Enquanto pudesse ver Loright, tinha certeza que ele ficaria bem. Caso o evento que desencadearia o nascimento do Vassalo da Morte estivesse próximo, deixaria o que estivesse fazendo para evitar isso.

    “Seria muito útil se eu tivesse aprendido essa técnica antes, dava pra usar na Luminus.”

    Falando nela, ainda não havia nenhuma informação sobre a deusa loira e a garotinha de cabelos prateados. Eles ainda estavam nesse plano, mesmo?

    Não existiam também informações de Annie. 

    “Por enquanto, só posso ficar cada vez mais forte…”

    Uma após a outra, as crianças do orfanato despediram-se do seu irmão mais velho.

    Loright decidiu partir o mais breve possível. Sua bagagem era uma boa espada dada pelo seu mestre e alguns mantimentos — só havia muito volume na bolsa por conta da insistência da irmã Daisy.

    As outras irmãs também tiveram direito a um abraço de despedida. 

    Sylford estava sentado no assento do cocheiro, seria ele o responsável por levar o seu discípulo até as proximidades de Fallen.

    Como o jovem de cabelos negros não era alguém do interesse de Cynthia, ela sequer teve interesse em se despedir… assim como o Iolite.

    Na verdade, caso alguém olhasse na direção do segundo andar da mansão, bem no canto, poderia ver a figura de um garoto de cabelos dourados espiando pela janela.

    O menino tinha os seus próprios motivos para não se juntar ao pessoal no jardim, e Loright sabia disso, por isso não havia mágoa em seu peito. Na próxima vez que se vissem,  conversariam melhor.

    “Apenas obrigado por tudo, Iolite.” Ele desviou os olhos da janela e analisou todo o cenário.

    Jamais imaginou que um dia entraria nos domínios de Sophiette. Outrora comentara com  Luminus que um dia ainda conheceria o mundo, mas não era bem assim que queria, era para ambos estarem juntos.

    Os últimos meses foram uma tortura sem igual, não houve nenhuma notícia sobre a sua irmã. Embora fosse algo impossível de acontecer, tinha um pouco de esperança de encontrar Luminus em sua jornada.

    Precisaria evoluir, pois a deusa de cabelos dourados deixou bem claro que ele precisava ser forte o suficiente para tirar a menina das mãos dela e protegê-la de Azazel van Elsie.

    “Sim, preciso ficar forte o mais rápido possível.”

    Determinado, Loright deu um abraço demorado na sua amada irmã Daisy e subiu na carruagem. Era doloroso deixar a sacerdotisa, mas seria ainda pior se algo acontecesse com ela e ele não tivesse força suficiente para defendê-la, assim como foi com Luminus.

    — Se cuide, por favor, querido — a irmã Daisy disse em uma voz sussurrante.

    — Não se preocupa, eu sei tomar conta de mim…

    Loright parou por um momento. Sentiu uma energia ameaçadora vindo da janela do segundo andar. O que era isso? Iolite estava dizendo que as suas palavras não eram verdadeiras?

    “É sério, cara, eu sei me cuidar…”

    Decidiu não olhar mais na direção da janela. Estava pronto para iniciar a sua jornada em busca de mais poder, se ficasse mais tempo nesse lugar acabaria se arrependendo de algumas coisas, então o melhor era partir.

    Sylford entendeu os seus pensamentos e fez os cavalos se moverem, rumo à saída do jardim.

    — Eu vou querer uma segunda rodada contra o Iolite quando eu retornar — comentou o jovem de cabelos negros com um sorriso, tentando esquecer a presença esmagadora sentida ha pouco. Como uma criança como Iolite podia ser tão aterrorizante?

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