Capítulo 275: Invadindo a biblioteca
Uma multidão reuniu-se no centro do campus, perante um palanque improvisado, para a cerimônia de recepção dos calouros. Havia um rosto conhecido ali, era ninguém menos que Paltraint Atrex, seu “benfeitor”.
Ao lado do vice-capitão da guarda de Andeavor, estavam alguns professores conhecidos apenas de vista por Kurone — Minerva Clergyman era a única pessoa ali que mais interagiu com ele. Os docentes pareciam incomodados por serem designados para essa tarefa em uma tar tão quente.
Como sempre, havia uma aura incomum emanando da Santa — a presença da deusa Lucy conectada à sua alma —, mas o que mais chamou a atenção do garoto foi outra energia vinda do palanque.
A aura pertencia a uma garota tentando ocultar-se atrás dos docentes. A maioria dos alunos sequer notou a presença dela ali, Kurone só conseguiu notá-la devido aos seus sentidos aguçados.
À primeira vista, era uma garota como as outras… como as outras do seu mundo original. Ela vestia um moletom verde que combinava com o seu cabelo curto de mesmo tom. Não era muito alta ou baixa, passava a impressão de ser uma adolescente reservada.
— Essa aura me é familiar…
— Hm? Qual o problema, querido? Não me diga que se apaixonou por aquela garota?
Como esperado de uma Sophiette, Cynthia notou tanto o murmúrio discreto do garoto ao seu lado quanto a estranha tentando ocultar-se entre os professores.
— Espero que não seja isso, querido. Ela é uma Heroína Ádvena que não se interessa por ninguém.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
A última frase o fez franzir o cenho.
Conhecia o título de ‘Herói Ádvena’, dado a pessoas vindas do seu mesmo mundo. A diferença entre os Ádvenas e os reencarnados era que os primeiros eram invocados do outro mundo, enquanto os últimos morriam antes de assumir a identidade de um residente de Niflheim com as memórias da vida anterior.
Inconscientemente, encarou a Heroína Ádvena por mais tempo que deveria e recebeu um olhar ameaçador dela como resposta. A olhadela raivosa fez calafrios percorrerem o corpo de Kurone.
Nesse momento, a pessoa que falava algumas palavras de agradecimento era Minerva Clergyman. Kurone esteve tão focado na presença da conterrânea que não reparou nos olhos curiosos da Santa o mirando.
Ser alvo do olhar das duas garotas o deixou nervoso, sentia como se fosse ele a pessoa discursando para todos os alunos ali reunidos.
Mas não devia demonstrar fraqueza, qualquer deslize seu acabaria levantando suspeitas. Todos nesse lugar eram seus inimigos, exceto o…
— Estranho, eu ainda não vi o bibliotecário.
— Ele não é nenhum dos que estão ali? Bem, não acho que “bibliotecário” seja um cargo tão relevante para estar presente nesse momento.
Assim que a boca da jovem Sophiette fechou-se, Minerva Clergyman soltou um fato relevante meio desconexo com o seu discurso, como se estivesse respondendo aos dois jovens conversando discretamente:
— … E apesar da triste perda que tivemos, a biblioteca será aberta a partir de amanhã, tendo a senhorita Hime como nova bibliotecária. Todos os assuntos pendentes dos alunos devem ser repassados para ela.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
Houve uma pausa após a fala da Santa e os docentes moveram-se, empurrando a jovem de cabelos curtos esverdeados para frente. “Hine” observou a multidão com um leve desgosto e começou:
— Olá. Sou a nova bibliotecária e supervisora do campus. É um prazer.
Ela simplesmente baixou a cabeça com uma leve reverência e deixou o palanque vazio, que Paltraint logo ocupou, levemente desconcertado.
A apresentação da Heroína Ádvena causou comoção nos estudantes — os mais idiotas devam notas para o corpo dela, enquanto os Gênios avaliavam sua força. Entre os murmúrios, Kurone escutou algo interessante.
— É essa vadia que chamam de “Inquisidora”, não é?
— Tsk, deve ser ela mesmo. Deve ter vindo por causa do que rolou no tribunal no ano passado.
As duas pessoas conversando eram velhos conhecidos de Kurone: os dois delinquentes que criaram uma brecha perfeita o início da sua estratégia antes.
“Inquisidora” era uma palavra nova. Não havia nada sobre ela nos livros de história lidos na mansão Sophiette. Por ora, assumiria que a jovem era uma adolescente em seus quinze ou dezesseis anos.
Mas a presença dessa nova figura era algo para se preocupar depois, sua prioridade, nesse momento, era descobrir o que aconteceu com o bibliotecário, ele nem sequer deixou um recado e nunca mencionou que seria removido do seu cargo nesse ano.
A cabeça de Kurone estava a mil quando foi surpreendido por mais uma fala vinda do palanque.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
— Iolite, por favor, venha dar as palavras finais.
Demorou um pouco para a mensagem ser compreendida pelo seu cérebro que processava outras informações no momento. O que Paltraint Atrex queria dizer com isso?
— Vamos, meu garoto, não seja tímido, um Gênio como você precisa encorajar os outros jovens a darem o seu máximo também nesse ano!
Com a palavra “Gênio”, alguns dos estudantes olharam confusos para o garoto loiro ao lado da Sophiette. Naturalmente, com o que aconteceu no saguão dos dormitórios, a última coisa que pensariam era na possibilidade de Kurone ser um dos Gênios da Geração.
O garoto também não queria demonstrar seu talento, o seu plano iria bem se não fosse essa intervenção de Paltraint, mas sem problemas, ainda dava para contornar a situação.
Ele deu alguns passos e, quando se aproximou do palanque, tropeçou de propósito, provocando uma série de gargalhadas na multidão. Como um bom palhaço, passou a mãos na nuca, esfregando a cabeça, e fingiu estar constrangido.
O vice-capitão pôs a mão no rosto por um momento, mas logo se recompôs e puxou o garoto para o seu lado.
— O que há com você, garoto? Vamos lá, não me envergonhe assim, tive muito trabalho para convencer o reitor a deixar você dizer as palavras finais — sussurrou o homem com um tom de voz um pouco irritado.
Kurone ignorou Paltraint e encarou os alunos, a maioria o olhava com julgamento, pensando, provavelmente, que só estava sendo favorecido por ser o protegido do vice-capitão, que era alguém bem influente ali.
Isso era ótimo.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
Puxando o ar com força para os pulmões, preparou-se para dar as palavras que encerrariam a cerimônia informal de início das aulas.
— Bem, espero que todo mundo se esforce esse semestre e que todos possamos nos dar bem e nos divertir durante nossas atividades acadêmicas.
Não foi ruim, embora também não fosse digno de palmas. Kurone discursou como um nobre qualquer discursaria, mas pelo menos evitou que Paltraint fosse mais envergonhado. Perder o apoio do seu benfeitor seria péssimo para seus planos.
Em meio a um silêncio constrangedor, o garoto retornou ao seu lugar e os professores, ordenadamente, começaram a deixar suas posições e seguirem seus caminhos. Paltraint orientou que os jovens fossem comer no refeitório para recuperarem suas energias.
— O que você está tentando fazer? — perguntou Cynthia, levemente irritada, após o fim definitivo da cerimônia.
— Também gostaria de saber — disse Paltraint, compartilhando do mesmo semblante da jovem Sophiette. — O que escutei há pouco não foram palavras que combinam com um monstro como você.
Kurone apenas sorriu.
— Faz parte do meu plano para conquistar a Universidade Mágica. Não sou o único Gênio aqui, mesmo que os calouros sejam realmente fracos, há verdadeiros monstros nesse campus.
O garoto olhou para o grande prédio onde aconteciam a maioria das aulas. Lá dentro, a cerimônia dos veteranos também devia estar em seu final. Certamente era algo bem mais formal que essa reunião sob o sol escaldante da tarde com os jovens novatos.
O vice-capitão pareceu entender e apenas assentiu, dizendo “faça como quiser, então, mas não me faça passar tanta vergonha”, enquanto acenava.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
— Mudando de assunto, o que aconteceu com o bibliotecário? Por que ele foi substituído?
Paltraint hesitou por um momento, mas logo abriu o jogo:
— Morto. Encontramos o velho, morto, logo após o início das férias, deve ter morrido até mesmo antes disso. Não teve sangue, tudo indica que foi alguma doença, é o que a maioria acredita, mas tenho minhas dúvidas.
— Algum motivo específico para essas dúvidas? — questionou Cynthia, intrigada com a história.
— Ele possuía muitas pesquisas importantes para o futuro de Andeavor, alguém com o objetivo de prejudicar o reino deve ter encontrado uma brecha para agir.
— Pesquisas, é?
— Não sei do que se trata por ser confidencial, mas deve ser algo bem importante. Vou continuar minhas investigações, porém como tenho muito trabalho, a nova bibliotecária vai estar nas investigações principais, me mandando relatórios.
Paltraint respondeu ao garoto com toda a sua sinceridade. Embora Kurone soubesse que ele tinha mais conhecimento do que dizia, ficou satisfeito com as informações fornecidas.
— Então, a nova bibliotecária é uma agente infiltrada.
— Não sei o que você quis dizer exatamente… Sim, ela está do nosso lado. Conte com ela se tiver algum problema. E vá comer para ganhar um pouco mais de massa.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
O homem despediu-se dele com um toque firme do seu ombro. Apesar das palavras sinceras dele, não queria chegar a confiar naquela garota, a nova bibliotecária. Algo nela lhe dava calafrios, e o fato dela se chamar Hime…
“Se eu tiver certo, aquela garota deve tá escondendo uma espada enorme em algum lugar.”
Kurone queria pensar um pouco mais sobre as informações obtidas nessa cerimônia, mas um som estridente não lhe permitiu. A origem do barulho era a estômago da sua companheira.
Cynthia corou imediatamente com o som incontrolável sinalizando que era hora de comer, e gritou algumas coisas incompreensível para Kurone, apontando o dedo, como se ele fosse o responsável por isso.
Sem perder tempo, o garoto loiro tomou essa mão com o dedo apontado para o seu rosto, e arrastou a garotinha até o refeitório.
Apesar de terem trocado risadas ao longo da tarde, a cabeça do menino não parou de trabalhar.
Logo ao cair do sol, Kurone esgueirou-se e saiu dos dormitórios. No caminho, viu os delinquentes unidos também saindo da construção, mas seus objetivos eram diferentes.
Os delinquentes iam rumo à festa apenas para veteranos acontecendo no prédio principal da Universidade Mágica. Dificilmente eles teriam êxito e era bem provável que acabariam sendo punidos pelos estudantes mais velhos.
Kurone evitou que os dois garotos o vissem, assim como os casais se amando loucamente nos cantos escuros das paredes, e seguiu em direção à biblioteca.
O prédio estava escuro e nada convidativo, nem parecia que estaria aberto no amanhecer do dia seguinte.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
Ignorando a aparência assustadora da construção, Kurone aproximou-se da porta. Por algum motivo, não estava trancada como no dia veio com Cynthia. Poderia haver alguém ali dentro? Talvez empregados fazendo a limpeza do local?
Ele decidiu não pensar muito e adentrou com cuidado, apagando sua presença ao máximo. Rapidamente, atravessou a recepção e seguiu o mais rápido possível para o coração da biblioteca. Estava utilizando seus instintos para navegar pela escuridão, qualquer luz chamaria atenção ali.
O lugar estava quieto, sem sinas de que alguém fazia limpeza. As mesas normalmente ocupadas por leitores e repletas de livros estavam vazias, o que indicava que nenhum aluno havia adentrado no local até o momento.
Ainda havia um lugar a ser verificado. Rapidamente, o garoto moveu-se e chegou ao escritório da biblioteca. Assim como a entrada, o local não estava selado por magia e podia ser acessado com truques simples para abrir fechaduras.
Lá dentro, tudo estava como se lembrava. Esse fora o lugar onde teve a sua primeira reunião com o bibliotecário, que era um reencarnado em posse de uma AK-47. Alguém como ele não seria morto tão facilmente, a ideia de ter sido acometido por uma doença parecia ser verídica…
Clack!
Atrás de Kurone, a porta abriu e fechou com força, fazendo o garoto olhar para trás rapidamente, já em posição de luta. Se alguém conseguiu chegar tão perto, era porque conseguia ocultar sua presença, e isso já tornava o seu oponente uma ameaça em potencial.
— Agora podemos conversar um pouco, Iolite. Se é que esse é o seu verdadeiro nome — disse a pessoa responsável por preparar aquela armadilha, com um sorriso de provocação. — Eu e você temos muitos assuntos a serem tratados.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.