Capítulo 278: Te Espero Mais Tarde
Encontrou Cynthia no saguão e ambos seguiram em direção ao prédio principal, local onde teriam aula em poucos minutos. Como sempre, a garota Sophiette estava animada e cuidava de guardar cada parte do cenário em sua memória, como se não fosse mais o ver no dia seguinte.
Kurone tinha outras preocupações no momento, contudo não negava que estava curioso em conhecer essa parte da Universidade Mágica.
Sua aliança com Minerva, a Inquisidora, a morte do bibliotecário, Azazel van Elsie e o reencontro com Annie que aconteceria em algum momento, tudo isso o atormentava, mas como não podia controlar esses eventos, não ia adiantar ficar se preocupando demais, era melhor gastar a sua energia em ficar cada vez mais forte.
Ele e a nobre loira entraram com uma multidão de estudantes no prédio. O corredor da construção era largo e iluminado por tochas, que complementavam a iluminação natural vinda das janelas. Cada sala era numerada para que os alunos soubessem a localização das suas aulas.
A primeira aula deles seria de botânica, e era em momento perfeito. Kurone tinha pouco conhecimento da matéria, e sentia que isso seria útil em suas pesquisas, sem falar que poderia aplicar seus conhecimentos em medicina para criar poções de cura.
Embora pudesse direcionar a mana para se recuperar de ferimentos graves, seria bem mais prático ter uma poção que recuperaria sua vitalidade em instantes, a experiência já havia lhe mostrado que nem sempre o oponente daria tempo para a mana circular até as feridas.
A sala de aula que adentrou era iluminada por uma única janela, havia bancos como os das universidades para os alunos se acomodarem e uma mesa repleta de frascos e tubos de ensaios demarcava o domínio do professor.
Quando chegaram, já havia dois alunos no local, ambos sentados em postura ereta e silenciosos, aguardando o início das atividades. Qualquer um pensaria que se tratava dos nerds da turma, porém…
— Querido, esses não são?…
Kurone confirmou, balançando a cabeça. O penteado estava diferente e a postura deles era totalmente formal, mas sem dúvidas se tratavam dos delinquentes envolvidos na confusão da noite passada.
O ruivo e o que dominava o Tipo Elemental Gelo tiveram uma mudança radical da noite para o dia.
[Ela imagina que tenha a ver com a remoção de uma parte de suas almas.]
“A presença deles tá diferente mesmo. Será que isso é temporário? Droga, essa Inquisidora é assustadora.”
[A Celestial compartilha de mesma opinião.]
Mexer na alma de alguém era uma habilidade terrível, se a Heroína Ádvena fosse atacar todos os alunos encrenqueiros, sem os matar, não haveria muito o que pudesse ser feito para impedi-la.
— Cynthia, é melhor você não procurar encrenca com aquela Heroína Ádvena. Ouvi dizer que ela teve problema com esses dois ontem e hoje eles tão assim.
— Desde que ela não fique tentando tomar você de mim, ela estará bem.
Por algum motivo, sabia que essa garotinha não estava brincando. Cynthia não teve medo nem de enfrentar o subordinado de Belphegor dé Halls, uma Heroína Ádvena também não deveria lhe intimidar.
Ambos sentaram em um banco no meio. Pela sua experiência acadêmica, Kurone conseguia dizer o arquétipo de cada aluno conforme o local que sentavam.
Os mais arrogantes preferiam os bancos de cima, pois assim podiam olhar todos como se fossem superiores, era o local favorito dos riquinhos mimados e dos Gênios arrogantes.
Quem ocupava os primeiros bancos, próximos do professor, eram os mais esforçados, os nerds que não queriam perder uma palavra dita pelo palestrante ou apenas chamar a atenção com a sua inteligência.
Portanto, o meio era o lugar dos alunos comuns, ali não chamaria muita atenção, o problema era a presença de Cynthia. A menina estava deslocada, o local dela era nos bancos de cima, olhando os outros como seres inferiores.
De qualquer forma, Cynthia não era a única pessoa genial na sala, sua presença seria dissolvida pelos outros nobres de pesos próximos que já começavam a tomar seus assentos.
Não demorou muito para a pessoa responsável pela matéria adentrar a sala, atraindo a atenção de todos.
Era uma mulher de longos cabelos esverdeados, de alta estatura e aparência intelectual — seus óculos arredondado e o caminhar confiante realçavam isso.
Ao lado da professora, flutuava um vaso com algo similar a uma árvore bonsai sobre ele.
— Muito bem, muito bem, peço silêncio, a poluição sonoro incomoda as plantas.
Apenas com essa frase, Kurone pôde determinar que a sua professora de botânica era outra das pessoas excêntricas desse mundo. Era como a Inquisidora e a sua fissura pela punição dos pecados.
A mulher caminhou até a sua mesa e jogou o seu corpo esguio sobre a cadeira, ficando em uma posição relaxada que contrastava com seu ar intelectual. Com um movimento rápido, ela retirou os óculos e encarou seus alunos.
— Me parte o coração ver quanto da natureza foi retirado para costurar essas suas roupas caras. — Ela levantou-se, e a sua árvore bonsai seguiu o movimento. — Meu nome é Sprout Ruderalis, e serei sua professora de botânica. Meu objetivo é fazer vocês, garotos e garotas, se conectarem com a natureza.
Um burburinho generalizado tomou conta da sala.
— Que tipo de substância essa mulher tomou antes de vir para a aula? — reclamou Cynthia, e um nobre ao seu lado concordou, cerrando os punhos e praguejando.
Kurone também podia ver que aquela pessoa atrás da mesa estava sob o efeito de algum tipo de droga, e ela nem tentava esconder isso. Poderia realmente confiar no que ela iria ensinar?
— Para começar, — a mulher continuou, sem se importar com as reclamações dos alunos — cada um de vocês terá uma companheira até o fim do ano, e ela também será a única nota de vocês.
Após um movimento com a mão de Sprout, algumas folhas da bonsai flutuante voaram pela sala e se alocaram em frente aos alunos — cada um ficou com uma.
— Toquem a folha — ordenou a professora Ruderalis.
Alguns hesitaram, mas Kurone estava curioso para saber o que aconteceria. Cynthia adiantou-se e tocou a dela antes do garoto, e no mesmo instante um brilha surgiu entre o seu dedo e a folha.
— Que linda! — a menina Sophiette falou com um sorriso.
No local que devia haver uma folha da bonsai, surgiu uma linda dália vermelha em um copinho preto. Os alunos ficaram mais interessados e começaram também a tocar suas próprias folhas.
Kurone não mais demorou e também fez o toque. Sentiu um pouco da sua energia saindo corpo pelas pontas do dedo e seguindo em direção à luz. Em instantes, sua folha tornou-se em um broto.
“Sou meio ruim em reconhecer plantas.”
[É um broto de salgueiro. Ela tem informações de que salgueiros são difíceis de serem cultivados, e perecem rápido se forem manuseados de maneira descuidada.]
“Parece que eu vou bombar nessa matéria, então.”
— Querido, o que é isso?
— Ahhh, é um broto de salgueiro…
— Isso não é bom, eles são árvores que crescem no oriente por conta do clima, ele não vai durar muito aqui.
— Vocês querem destruir todas as minhas esperanças de ser aprovado nessa matéria, não é mesmo? — Kurone respondeu com um sorriso amarelo.
— “Vocês”?
— Esquece isso, agora acho que vou ter que me preocupar em não deixar esse salgueiro morrer, e a professora não parece ser daquelas que gostam de tirar dúvidas…
— Ehhh, querido… — Cynthia fez um sinal com um dedo discreto, apontando para algo que estava atrás do garoto.
E esse “algo” era a professora Sprout.
Ultimamente, havia muitas pessoas conseguindo escapar da sua percepção, e sabia que não estava mais fraco e nem descuidado. O caso era que as pessoas da Universidade Mágica eram monstros.
— Qual o seu nome, garoto?
— I-Iolite.
— Iolite, parece que você já tem uma opinião ruim formada sobre mim, e também conseguiu um salgueiro. Eu estou aqui para ajudar meus alunos, garoto. A partir de hoje, você ficará tendo aulas de reforço comigo à tarde, já que seu salgueiro vai exigir cuidados extras.
Cynthia pareceu não gostar da ideia, mas um olhar hostil de Sprout foi o suficiente para fazê-la hesitar por um momento.
Essa professora não era alguém que deviam irritar.
— Querido, espero que ela não fique tentando dar em cima de você nessas aulas de reforço.
— Acho que eu tenho que me preocupar com outras coisas, essa professora é muito estranha, e fede a… Ah!
Kurone parou por um instante ao fazer contato visual com uma figura familiar no corredor — Minerva passava carregando alguns livros.
A Santa logo desviou o olhar e se recompôs.
— Iolite, estarei lhe aguardando hoje à noite para nossas aulas suplementares, não se esqueça. Bom dia, senhorita Cynthia — disse a jovem antes de apressar o passo e desaparecer pelo corredor.
— Tsk, que ideia é essa de tantas aulas suplementares? Você está aprontando alguma coisa que eu não estou sabendo, querido?
— Claro que não, é só que…
— Oh, é você. Preciso conversar com você sobre ontem à noite — disse a Inquisidora, ao tombar com a dupla no corredor. E essa foi a gota d’água. Cynthia segurou o colarinho de Kurone.
— Querido, acha que nós também precisamos conversar um pouco, não é mesmo?
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