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    Encontrou Cynthia no saguão e ambos seguiram em direção ao prédio principal, local onde teriam aula em poucos minutos. Como sempre, a garota Sophiette estava animada e cuidava de guardar cada parte do cenário em sua memória, como se não fosse mais o ver no dia seguinte.

    Kurone tinha outras preocupações no momento, contudo não negava que estava curioso em conhecer essa parte da Universidade Mágica. 

    Sua aliança com Minerva, a Inquisidora, a morte do bibliotecário, Azazel van Elsie e o reencontro com Annie que aconteceria em algum momento, tudo isso o atormentava, mas como não podia controlar esses eventos, não ia adiantar ficar se preocupando demais, era melhor gastar a sua energia em ficar cada vez mais forte.

    Ele e a nobre loira entraram com uma multidão de estudantes no prédio. O corredor da construção era largo e iluminado por tochas, que complementavam a iluminação natural vinda das janelas. Cada sala era numerada para que os alunos soubessem a localização das suas aulas.

    A primeira aula deles seria de botânica, e era em momento perfeito. Kurone tinha pouco conhecimento da matéria, e sentia que isso seria útil em suas pesquisas, sem falar que poderia aplicar seus conhecimentos em medicina para criar poções de cura.

    Embora pudesse direcionar a mana para se recuperar de ferimentos graves, seria bem mais prático ter uma poção que recuperaria sua vitalidade em instantes, a experiência já havia lhe mostrado que nem sempre o oponente daria tempo para a mana circular até as feridas.

    A sala de aula que adentrou era iluminada por uma única janela, havia bancos como os das universidades para os alunos se acomodarem e uma mesa repleta de frascos e tubos de ensaios demarcava o domínio do professor.

    Quando chegaram, já havia dois alunos no local, ambos sentados em postura ereta e silenciosos, aguardando o início das atividades. Qualquer um pensaria que se tratava dos nerds da turma, porém…

    — Querido, esses não são?…

    Kurone confirmou, balançando a cabeça. O penteado estava diferente e a postura deles era totalmente formal, mas sem dúvidas se tratavam dos delinquentes envolvidos na confusão da noite passada.

    O ruivo e o que dominava o Tipo Elemental Gelo tiveram uma mudança radical da noite para o dia.

    [Ela imagina que tenha a ver com a remoção de uma parte de suas almas.]

    “A presença deles tá diferente mesmo. Será que isso é temporário? Droga, essa Inquisidora é assustadora.”

    [A Celestial compartilha de mesma opinião.]

    Mexer na alma de alguém era uma habilidade terrível, se a Heroína Ádvena fosse atacar todos os alunos encrenqueiros, sem os matar, não haveria muito o que pudesse ser feito para impedi-la.

    — Cynthia, é melhor você não procurar encrenca com aquela Heroína Ádvena. Ouvi dizer que ela teve problema com esses dois ontem e hoje eles tão assim.

    — Desde que ela não fique tentando tomar você de mim, ela estará bem.

    Por algum motivo, sabia que essa garotinha não estava brincando. Cynthia não teve medo nem de enfrentar o subordinado de Belphegor dé Halls, uma Heroína Ádvena também não deveria lhe intimidar.

    Ambos sentaram em um banco no meio. Pela sua experiência acadêmica, Kurone conseguia dizer o arquétipo de cada aluno conforme o local que sentavam. 

    Os mais arrogantes preferiam os bancos de cima, pois assim podiam olhar todos como se fossem superiores, era o local favorito dos riquinhos mimados e dos Gênios arrogantes.

    Quem ocupava os primeiros bancos, próximos do professor, eram os mais esforçados, os nerds que não queriam perder uma palavra dita pelo palestrante ou apenas chamar a atenção com a sua inteligência.

    Portanto, o meio era o lugar dos alunos comuns, ali não chamaria muita atenção, o problema era a presença de Cynthia. A menina estava deslocada, o local dela era nos bancos de cima, olhando os outros como seres inferiores.

    De qualquer forma, Cynthia não era a única pessoa genial na sala, sua presença seria dissolvida pelos outros nobres de pesos próximos que já começavam a tomar seus assentos.

    Não demorou muito para a pessoa responsável pela matéria adentrar a sala, atraindo a atenção de todos.

    Era uma mulher de longos cabelos esverdeados, de alta estatura e aparência intelectual — seus óculos arredondado e o caminhar confiante realçavam isso.

    Ao lado da professora, flutuava um vaso com algo similar a uma árvore bonsai sobre ele. 

    — Muito bem, muito bem, peço silêncio, a poluição sonoro incomoda as plantas.

    Apenas com essa frase, Kurone pôde determinar que a sua professora de botânica era outra das pessoas excêntricas desse mundo. Era como a Inquisidora e a sua fissura pela punição dos pecados.

    A mulher caminhou até a sua mesa e jogou o seu corpo esguio sobre a cadeira, ficando em uma posição relaxada que contrastava com seu ar intelectual. Com um movimento rápido, ela retirou os óculos e encarou seus alunos.

    — Me parte o coração ver quanto da natureza foi retirado para costurar essas suas roupas caras. — Ela levantou-se, e a sua árvore bonsai seguiu o movimento. — Meu nome é Sprout Ruderalis, e serei sua professora de botânica. Meu objetivo é fazer vocês, garotos e garotas, se conectarem com a natureza.

    Um burburinho generalizado tomou conta da sala.

    — Que tipo de substância essa mulher tomou antes de vir para a aula? — reclamou Cynthia, e um nobre ao seu lado concordou, cerrando os punhos e praguejando.

    Kurone também podia ver que aquela pessoa atrás da mesa estava sob o efeito de algum tipo de droga, e ela nem tentava esconder isso. Poderia realmente confiar no que ela iria ensinar?

    — Para começar, — a mulher continuou, sem se importar com as reclamações dos alunos — cada um de vocês terá uma companheira até o fim do ano, e ela também será a única nota de vocês.

    Após um movimento com a mão de Sprout, algumas folhas da bonsai flutuante voaram pela sala e se alocaram em frente aos alunos — cada um ficou com uma.

    — Toquem a folha — ordenou a professora Ruderalis.

    Alguns hesitaram, mas Kurone estava curioso para saber o que aconteceria. Cynthia adiantou-se e tocou a dela antes do garoto, e no mesmo instante um brilha surgiu entre o seu dedo e a folha. 

    — Que linda! — a menina Sophiette falou com um sorriso.

    No local que devia haver uma folha da bonsai, surgiu uma linda dália vermelha em um copinho preto. Os alunos ficaram mais interessados e começaram também a tocar suas próprias folhas.

    Kurone não mais demorou e também fez o toque. Sentiu um pouco da sua energia saindo corpo pelas pontas do dedo e seguindo em direção à luz. Em instantes, sua folha tornou-se em um broto.

    “Sou meio ruim em reconhecer plantas.”

    [É um broto de salgueiro. Ela tem informações de que salgueiros são difíceis de serem cultivados, e perecem rápido se forem manuseados de maneira descuidada.]

    “Parece que eu vou bombar nessa matéria, então.”

    — Querido, o que é isso?

    Ahhh, é um broto de salgueiro…

    — Isso não é bom, eles são árvores que crescem no oriente por conta do clima, ele não vai durar muito aqui.

    — Vocês querem destruir todas as minhas esperanças de ser aprovado nessa matéria, não é mesmo? — Kurone respondeu com um sorriso amarelo.

    — “Vocês”?

    — Esquece isso, agora acho que vou ter que me preocupar em não deixar esse salgueiro morrer, e a professora não parece ser daquelas que gostam de tirar dúvidas…

    Ehhh, querido… — Cynthia fez um sinal com um dedo discreto, apontando para algo que estava atrás do garoto.

    E esse “algo” era a professora Sprout.

    Ultimamente, havia muitas pessoas conseguindo escapar da sua percepção, e sabia que não estava mais fraco e nem descuidado. O caso era que as pessoas da Universidade Mágica eram monstros.

    — Qual o seu nome, garoto?

    — I-Iolite.

    — Iolite, parece que você já tem uma opinião ruim formada sobre mim, e também conseguiu um salgueiro. Eu estou aqui para ajudar meus alunos, garoto. A partir de hoje, você ficará tendo aulas de reforço comigo à tarde, já que seu salgueiro vai exigir cuidados extras.

    Cynthia pareceu não gostar da ideia, mas um olhar hostil de Sprout foi o suficiente para fazê-la hesitar por um momento. 

    Essa professora não era alguém que deviam irritar.

    — Querido, espero que ela não fique tentando dar em cima de você nessas aulas de reforço.

    — Acho que eu tenho que me preocupar com outras coisas, essa professora é muito estranha, e fede a… Ah!

    Kurone parou por um instante ao fazer contato visual com uma figura familiar no corredor — Minerva passava carregando alguns livros.

    A Santa logo desviou o olhar e se recompôs. 

    — Iolite, estarei lhe aguardando hoje à noite para nossas aulas suplementares, não se esqueça. Bom dia, senhorita Cynthia — disse a jovem antes de apressar o passo e desaparecer pelo corredor.

    Tsk, que ideia é essa de tantas aulas suplementares? Você está aprontando alguma coisa que eu não estou sabendo, querido?

    — Claro que não, é só que…

    Oh, é você. Preciso conversar com você sobre ontem à noite — disse a Inquisidora, ao tombar com a dupla no corredor. E essa foi a gota d’água. Cynthia segurou o colarinho de Kurone.

    — Querido, acha que nós também precisamos conversar um pouco, não é mesmo?  

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