Índice de Capítulo

    Gravis respirou fundo mais uma vez.

    Esse tópico também não era fácil.

    Gravis narrou tudo o que tinha feito para trazer Mortis de volta e como conseguiu realizar isso.

    Como esperado, a pergunta que Gravis antecipava veio imediatamente após ele terminar de relatar os eventos.

    — Se eu sou o Mortis da sua realidade percebida, como posso ser o verdadeiro Mortis? Obviamente, não sou o que existia na realidade objetiva, mas fui criado por sua percepção de mim. Isso significa que eu pensarei e serei como você me percebeu — perguntou Mortis.

    — Tenho certeza de que você não é diferente — respondeu Gravis.

    — Como pode ter certeza? — Mortis perguntou com uma sobrancelha arqueada.

    — Porque você era apenas fragmentos de Leis que eu não entendia — explicou Gravis. — Quando olho para as pessoas, tenho uma certa percepção delas. Se eu tivesse manifestado uma versão viva de você na realidade objetiva, você estaria certo. Nesse caso, você agiria de acordo com como eu penso que você agiria.

    — No entanto, quando cortei nossa conexão emocional, você não era nada mais do que fragmentos de Leis. Em certo sentido, você não era um ser vivo, mas um objeto naquele momento. Claro, uma pedra pode parecer maior na perspectiva de outra pessoa, mas elas ainda verão uma pedra como pedra, desde que não estejam completamente insanas.

    — Nossa percepção das pessoas muitas vezes é diferente de como elas realmente são devido à falta de informação. Não conseguimos compreender completamente como suas mentes funcionam.

    — Contudo, ao olhar para um conjunto de objetos sem pensar em como funcionam, minha percepção não será distorcida. Eu simplesmente olho para a pedra e vejo uma pedra. É necessário tentar entender algo para que uma perspectiva distorcida seja formada.

    — No seu caso, é impossível para mim compreender como suas Leis funcionam. Eu apenas olhei para os fragmentos das Leis e os fundi novamente. Os componentes não mudaram, e a composição também não. Portanto, você é idêntico aos componentes originais, sem ter mudado em nada.

    Mortis coçou o queixo, refletiu por algum tempo e finalmente assentiu.

    — Faz sentido. Certo, então, com isso fora do caminho, o que me torna o verdadeiro Mortis?

    — Nada — Gravis respondeu com um suspiro.

    — O Mortis antigo existiu, e ele passou por dor. Dizer que o Mortis antigo não existiu seria negar sua dor e decisão. Ele foi o verdadeiro Mortis, e eu falhei em salvá-lo. Mesmo ressuscitando você, não posso mudar essa realidade. Ele está morto, e isso é impossível de consertar.

    — Então, eu sou falso? — Mortis perguntou.

    — Não, você é tão real quanto ele — respondeu Gravis.

    — O que faz você dizer isso?

    — O que define o que é real — Gravis respondeu.

    Mortis franziu a testa. A conversa tomou um rumo abstrato e filosófico, e ele não gostou nada disso.

    — Explique — disse Mortis.

    — Bem, poderíamos argumentar que todas as realidades percebidas são reais, mas isso seria estúpido — Gravis disse. — Precisamos encontrar um ponto na conversa onde as coisas ainda façam sentido. Então, simplesmente defino as coisas como reais desde que existam na realidade objetiva.

    Mortis ouviu enquanto coçava o queixo.

    — A realidade objetiva e a realidade percebida têm uma relação semelhante à de um plano diretor de uma filial de uma Seita e a filial real de uma Seita — continuou Gravis.

    — Imagine uma das Seitas mais poderosas. Para conseguir mais recrutas, ela cria várias filiais ao redor do mundo. Todas as filiais devem seguir o plano diretor que a Seita mãe criou. Todas precisam ter um Mestre da Seita, dois Vice-Mestres, dez Anciões e assim por diante.

    — Então, os fundamentos de cada filial são idênticos. Elas são a mesma coisa.

    — No entanto, as filiais terão pessoas diferentes, e algumas podem adicionar regras. Ainda assim, o plano completo deve ser seguido. Nenhuma regra do plano pode ser alterada ou removida.

    — Toda filial recebe o plano, e cada filial tem o plano dentro de si, que elas são obrigadas a seguir.

    — Cada realidade percebida tem os componentes básicos e inevitáveis da realidade objetiva. Afinal, um ser humano racional não olhará para uma pedra e acreditará que ela é uma pessoa. A realidade percebida precisa confiar na realidade objetiva de alguma forma.

    — Se definirmos ser real como existir na realidade objetiva, estamos dizendo que todas as outras realidades percebidas devem ser influenciadas por essa coisa real. Se você existe apenas em uma realidade percebida, você existe apenas nela. No entanto, se você existe na realidade objetiva, você está em todas as realidades, já que só pode existir em outra realidade percebida quando esta vê você na realidade objetiva.

    — Resumindo, você existe na realidade objetiva, e isso o torna real — concluiu Gravis.

    Mortis piscou duas vezes, sem parecer impressionado.

    — Isso parece muito abstrato e filosófico — disse ele.

    — Porque estou tentando explicar um ponto de vista com lógica — respondeu Gravis. — No fim, tudo isso não é baseado em Leis. As Leis apenas definem o que é e como funciona. Não há realmente um conceito que decida o que é real e o que não é. Quero dizer, há, se você usar minha definição, mas minha definição não está em nenhuma Lei.

    — É uma questão de perspectiva — disse Gravis com um suspiro.

    Mortis permaneceu em silêncio por algum tempo enquanto coçava o queixo.

    Ele odiava pensar em coisas que não tinham uma resposta clara e lógica.

    As Leis eram muito mais simples nesse aspecto.

    As Leis tinham um único conjunto de regras que seguiam, e podiam ser compreendidas. Quando alguém compreendia a Lei, podia calcular todas as coisas que ela abrangia.

    Em comparação, todo esse negócio de ponto de vista não podia ser claramente categorizado.

    Fazia algum sentido, mas o fundamento era frágil, na melhor das hipóteses.

    Resumindo, algo como um ponto de vista não tinha uma resposta correta.

    Era apenas um ponto de vista.

    Por isso Mortis não gostava de pensar nessas coisas.

    Afinal, se não havia uma resposta correta, qual era o propósito de buscar uma?

    Em comparação, Gravis havia aceitado que nem tudo que não tinha uma resposta certa era inútil. Mesmo que fosse incerto, algo assim ainda podia ajudar alguém a tomar as decisões corretas.

    — O que você está dizendo faz sentido, mas tem uma base muito frágil — disse Mortis.

    — Sim — respondeu Gravis.

    Mortis pensou por alguns segundos mais.

    Então, assentiu.

    — Não consigo me preocupar com esse tipo de coisa — disse Mortis. — No fim, estou vivo. Posso pensar. Posso sentir. Tenho coisas que quero.

    — Não quero morrer, e não quero ser um chorão miserável.

    — Eu existo, e isso é inegável. Então, mesmo que alguém acredite que eu não sou real, ainda assim, sou real na minha opinião.

    — Além disso, agora estou na realidade objetiva.

    — Se alguém disser que eu não sou real, posso simplesmente socá-lo no rosto. Se eu não for real, esse soco também não seria real, e eles não deveriam ficar bravos.

    Gravis riu um pouco. Não tinha certeza se aquilo era uma tentativa de humor por parte de Mortis, mas achou engraçado.

    — De qualquer forma — disse Mortis. — Eu existo, e agora tenho que lidar com isso.

    — Qual é o nosso próximo plano?

    Gravis respirou fundo.

    — Compreender mais Leis não vai aumentar minha Força de Combate — disse ele. — Agora, a Lei Maior da Morte é a força mais poderosa que possuo. Uma Lei Elemental de nível oito poderia aumentar o poder do meu ataque ao se fundir com a Lei Maior da Morte, mas não temos acesso a isso agora.

    — Mesmo que compreendamos todas as Leis Elementais de nível seis e as combinemos com a Lei da Matéria para criar a Lei Maior do Mundo Morto, isso não aumentará realmente meu poder. Um ataque apenas com a Lei Maior da Morte é mais eficaz do que fundi-la com um Elemento de nível sete.

    — Você pode simplesmente fundir a Lei Maior da Morte com seu Raio Divino para criar ataques igualmente poderosos.

    — A pressão da Lei do Mundo Morto não chega nem perto de se comparar com o poder aprimorado da nossa Lei da Supressão, tornando-a essencialmente inútil.

    — Precisamos da Lei da Vida se quisermos fundir a Lei da Senciência com outra coisa, e tenho certeza de que meu talento nas Leis da Vida não é suficiente para compreender a Lei da Vida sem um refinamento.

    — Claro, eu poderia provavelmente esperar neste mundo por, sei lá, um milhão de anos até a tribulação se tornar poderosa o suficiente para me levar ao limite, mas, honestamente, não quero esperar tanto tempo.

    Gravis respirou fundo novamente e se virou para Arc.

    Arc estava ali o tempo todo, apenas ouvindo com interesse.

    Ele realmente não queria interromper Gravis e Mortis.

    — Arc, somos poderosos o suficiente para lutar contra você? — Gravis perguntou, de maneira direta.

    Arc apenas sorriu calorosamente.

    Então, ele assentiu.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (5 votos)

    Os comentários estão desativados.
    Nota