Índice de Capítulo

    Gravis sentou-se em frente ao seu pai. Duas xícaras de café estavam entre eles.

    Por um tempo, os dois apenas permaneceram em silêncio.

    — Muito tempo se passou — disse Gravis.

    — Sim — respondeu o Opositor. — Mesmo quando você era pequeno, sempre gostou de café.

    Gravis assentiu enquanto um profundo sentimento de desconexão o invadia.

    Quando era apenas uma criança, ele também havia se sentado diante de seu pai assim, bebendo o mesmo café.

    Naquela época, Gravis ficava nervoso na presença do pai. Afinal, ele nunca havia sentido um amor verdadeiro vindo dele. Como criança, talvez não entendesse conscientemente o motivo desse sentimento, mas, no fundo, as crianças sempre percebiam.

    Gravis não tratava o Opositor como seu pai, mas sim como um estranho que precisava agradar.

    Sempre houve uma certa distância entre os dois.

    E era por isso que Gravis chamava o Opositor de ‘pai’.1

    Por outro lado, Gravis sempre esteve próximo de sua mãe, razão pela qual a chamava de ‘mãe’. 2

    Somente quando cresceu ele realmente entendeu os problemas de seu pai. Além disso, o Opositor também havia mudado bastante ao longo dos anos.

    Gravis já ouvira que teve uma irmã mais nova chamada Ártemis. Pelo que sabia, ela havia decidido não cultivar. No fim, o Opositor a tornou uma Imperadora Imortal, e ela morreu quando chegou a hora de sua tribulação.

    Desde então, o Opositor e sua esposa não tiveram mais filhos.

    No momento, o Opositor tinha apenas três filhos vivos.

    Essência do Zero, Orpheus e Gravis.

    Todos os outros já haviam morrido.

    Gravis era o filho mais novo ainda vivo do Opositor.

    Quando sua mente vagou para esses pensamentos, um frio opressor o envolveu.

    Ele esperava que seu pai ainda pudesse ter mais filhos no futuro.

    No entanto, isso não era uma certeza.

    — Como você se sente em relação a tudo isso? — perguntou Gravis em voz baixa, olhando para o café.

    O Opositor permaneceu em silêncio por um tempo, algo raro. Normalmente, suas respostas eram rápidas ou simplesmente não vinham.

    — É difícil — disse ele lentamente.

    Gravis apenas olhou para seu pai.

    — Eu estaria mentindo se dissesse que tive filhos apenas porque queria uma família. Obviamente, um dos meus principais motivadores sempre foi a criação de alguém que eu pudesse treinar e apoiar sem problemas — explicou ele.

    — Existem certas regras tácitas de conduta entre aquele velho desgraçado e eu. Enquanto nenhum de nós passar dos limites, não lutamos. Se eu pegasse uma criança talentosa aleatória na rua e a apoiasse com tudo, aquele velho desgraçado a mataria. No entanto, se for meu próprio filho, posso justificar minhas ações. Afinal, sou o pai.

    — Já se passaram 50 bilhões de anos — disse o Opositor lentamente. — Tive milhares de filhos, mas nenhum deles demonstrou algo que pudesse quebrar o molde. Sim, alguns mostraram talento digno de um Magnata Celestial, mas eu precisava de mais do que isso.

    — Eu precisava de algo que ninguém jamais conseguiu antes. Algo que jogasse o plano daquele velho desgraçado para escanteio, mesmo que por um momento. Eu precisava de alguém que pudesse ser impulsionado além do Reino Magnata Celestial sem provocar um ataque dele.

    O Opositor olhou para seu filho.

    — Você chegou muito longe, Gravis, mas há algo que não pode esquecer.

    — Aquele velho desgraçado ainda pode decidir matá-lo. Ele pode fazer isso agora, e eu não conseguiria protegê-lo adequadamente, pois estaria ocupado defendendo a mim mesmo.

    — Quando você criar seu Cosmos, ele ainda poderá fazer isso.

    — Quando ele estiver te fortalecendo no Reino Quebrador do Céu, ele ainda poderá fazer isso.

    — Se realmente quer alcançar seu objetivo, precisa manter isso em mente — disse o Opositor com uma voz pesada. — Você só poderá realizá-lo se for até o fim.

    — Laços emocionais resultarão em você abortando o processo ou morrendo.

    Gravis respirou fundo.

    — E você está bem com isso? — perguntou Gravis.

    Silêncio.

    — É difícil — repetiu o Opositor. — Se tivesse me feito essa pergunta dez milhões de anos atrás, eu teria respondido na hora. Eu não me importaria com o preço.

    — Mas agora, as coisas são diferentes — disse o Opositor, colocando sua xícara de café na mesa. — Existem duas escolhas, e eu não estou bem com nenhuma delas.

    — Você precisa entender, Gravis. Estou nessa situação há tempo demais. Até minha resistência tem um limite. Em algum momento, meu Cosmos me matará — disse o Opositor pesadamente.

    Gravis assentiu levemente.

    — Eu entendo, pai. Sei que tem sido extremamente difícil para todos vocês.

    Silêncio.

    Por um tempo, nenhum dos dois falou.

    — E se eu não for adiante com isso? — perguntou Gravis.

    — Ainda assim, eu o apoiaria — disse o Opositor. — Nunca se esqueça de que esta é sua vida. Nunca o forcei a nada e sempre apoiei suas escolhas. Isso não mudou e nunca mudará.

    — Se não quiser fazer isso, não precisa. Como já disse antes, meus inimigos não precisam ser seus inimigos. Minha luta não é sua responsabilidade.

    — Tenho certeza de que posso garantir a imortalidade para sua família imediata sem problemas. Enquanto você não tentar alcançar o próximo Reino, aquele velho desgraçado não tornará as coisas tão difíceis.

    — Você pode passar a eternidade neste Cosmos com sua família. Se decidir fazer isso, não o culparei.

    — No entanto, nada disso importa. Afinal, não é isso que você quer.

    Gravis apenas desviou o olhar com uma expressão distante.

    — Eu não sei mais o que quero — disse. — Quero ver o mundo lá fora, quero ver coisas novas. Quero viajar por todos os Cosmos ao lado de Stella. Mas também quero que você e mãe não se preocupem.

    — No passado, talvez eu não visse a segunda opção como algo ruim. No entanto, agora, percebo o quão horrível é ficar confinado a este Cosmos, e vocês dois estão presos aqui há tanto tempo.

    — Eu ficaria bem em deixá-los para trás nesta jaula enquanto eu parto?

    — Claro que não.

    Silêncio.

    — Tenho que tentar — disse Gravis. — Não vejo nenhuma chance de sucesso, mas pelo menos preciso tentar.

    O Opositor olhou para seu filho.

    — Mesmo que tenha que pagar o preço final?

    Gravis suspirou.

    — Eu não quero pagar o preço. Realmente não quero. Se houvesse algo que eu pudesse fazer para evitá-lo, eu faria.

    Gravis franziu as sobrancelhas.

    — Mas a escolha não cabe a mim.

    Por um tempo, Gravis apenas permaneceu em silêncio.

    — Pai, você acha que nosso sonho pode se tornar realidade? — perguntou Gravis.

    — Eu gostaria que pudesse — respondeu o Opositor. — Eu estaria bem em deixar aquele velho desgraçado viver se isso significasse que você não precisaria pagar o preço.

    — Infelizmente, isso é apenas um sonho.

    — Nós quatro temos vivido em um sonho por mais de nove milhões de anos, e todos temos agido como se o sonho fosse a realidade.

    — Mas, não importa o quanto ajamos como se fosse real, não é.

    Gravis apenas desviou o olhar enquanto seu pai falava.

    — Eu não quero — disse Gravis.

    — Eu sei — respondeu o Opositor.

    — Mas eu preciso — disse Gravis.

    — Você não precisa — respondeu o Opositor.

    Gravis suspirou.

    — A definição de liberdade de Orthar não é a minha definição de liberdade — disse Gravis lentamente. — Acho que Manuel estava certo. Liberdade não é fazer o que se quer, mas poder escolher qual escolha fazer.

    — No fim, liberdade não é um conceito definido por uma única pessoa. O significado da liberdade é o que decidimos que seja.

    — E, na minha definição de liberdade, posso fazer qualquer escolha que quiser.

    — Mesmo que eu não queira fazê-la.

    Silêncio.

    O Opositor não respondeu.

    — Não vou mais fugir — disse Gravis.

    — Quanto mais cedo resolvermos isso, melhor.

    Quando Gravis disse isso, seu entorno tremeu com uma reverberação de Leis.

    Gravis acabara de compreender a Lei do Cosmos.

    1. Gravis sempre optou pelo uso de Father ao invés de Dad, o que é algo + formal, é como se ele chamasse seu pai de Senhor toda vez que o visse. Se eu soubesse disso desde o começo da tradução, teria usado senhor, mas bem, estamos no fim né.[]
    2. Gravis sempre optou por Mom, que é o normal ao se chamar uma mãe em inglês, ao invés de Mother, que seria o mais sério.[]
    Um pequeno gesto, um grande impacto!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 96.67% (6 votos)

    Nota