Índice de Capítulo

    O jovem continuou sorrindo, como vinha fazendo desde que Gravis o encontrara.

    — Que tal eu te mostrar? — ele perguntou. — Talvez você consiga chegar à conclusão correta por conta própria.

    Gravis apenas ergueu uma sobrancelha. Como ele deveria reconhecer alguém apenas com base em algo que essa pessoa mostrasse? Gravis não conhecia ninguém tão poderoso quanto aquele jovem. Nesse ponto, já tinha certeza de que ele não mentiu ao dizer que até negociou com seu pai. Ser capaz de enxergar tanto e ainda guiar Gravis a entender uma Lei de Nível Quatro não era algo simples.

    CRRR!

    O corpo do jovem começou a se transformar, e quando terminou, os olhos de Gravis se arregalaram. Ele conhecia aquele corpo muito bem!

    O jovem não era humano, mas uma besta.

    Ele possuía pernas semelhantes às de um velociraptor, uma cintura fina e flexível, quatro braços, um peito largo e uma cabeça reptiliana. Suas escamas negras pareciam absorver toda a luz, deixando apenas um buraco negro no formato de um corpo.

    Esse corpo era quase idêntico ao de Gravis!

    No entanto, havia algumas diferenças sutis. Por exemplo, o jovem tinha apenas quatro braços, em vez de seis. Além disso, sua cabeça era menos parecida com a de um jacaré e mais com a de um dragão. Em vez de uma boca larga, sua boca era longa e fina, com dentes poderosos aparecendo. No topo de sua cabeça havia um chifre imponente que se estendia para frente.

    Gravis simplesmente não podia acreditar! Ele tinha quase certeza de que não era parente do rapaz. Ainda assim, a besta à sua frente era apenas marginalmente diferente dele. Se alguém os visse juntos, pensaria que eram pai e filho.

    Mas como isso seria possível? Nem de longe havia passado tempo suficiente para que qualquer um de seus filhos ou netos se tornasse tão poderoso. Era impossível que aquela besta fosse relacionada a ele.

    Então, por que eles eram tão parecidos!?

    O jovem riu um pouco ao ver a reação de Gravis. — Essa é uma de suas fraquezas, Gravis. Você deveria trabalhar nisso — disse ele, com um sorriso.

    Gravis estreitou os olhos. — O que você quer dizer? — perguntou.

    — Você vê meu corpo e imediatamente pensa que a aparência dele tem algo a ver com você — ele disse, fechando um dos punhos. — Você realmente acredita que ninguém mais seria capaz de criar um corpo igualmente poderoso ao seu? Acha que é a primeira pessoa ou besta que já teve a ideia de criar esse corpo?

    Gravis suspirou. — Você está certo — ele disse. — Em vez de considerar que outros seres também podem criar esse corpo, eu imediatamente presumi que você tinha essa forma por minha causa. No entanto, você provavelmente teve esse corpo muito antes de mim.

    — Correto — disse ele, sua cabeça de dragão ainda sorrindo. — Então, consegue adivinhar quem eu sou?

    Gravis olhou intensamente para o jovem. A conversa que tiveram passou por sua mente.

    “Espera!” pensou Gravis, coçando o queixo. “Ele disse que eu tenho algo que já pertenceu a ele. Além disso, ele é uma besta poderosa e sabe praticamente tudo sobre minha vida.”

    Gravis olhou para o céu. “Tudo isso está começando a fazer sentido. Minha mãe não podia observar minha vida no mundo intermediário, e ela está no Reino mais alto normalmente alcançável.”

    “No entanto, isso não significa que seja impossível para alguém nesse nível me observar em outro mundo. Minha mãe recebeu seu próprio poder e pode não ser capaz de usá-lo perfeitamente. É muito possível que seres no nível dela consigam enxergar através das fronteiras dos mundos.”

    Os olhos de Gravis brilharam ao olhar para o ser negro parecido com um dragão. — Acho que sei quem você é — ele disse.

    — Então me diga, quem sou eu? — perguntou o jovem.

    Gravis transformou um dos braços em sua forma de besta e olhou para ele. Com certeza, eram idênticos.

    — Você é o dono da escama negra que meu pai me deu — disse Gravis. — Isso também deve ter sido a negociação que você mencionou antes.

    O jovem riu e voltou à forma humana. — Está certo — ele disse. — Há pouco mais de vinte anos, seu pai veio até mim, querendo negociar por uma das minhas escamas.

    — Você deve saber que é abaixo do seu pai roubar algo de alguém tão fraco quanto eu, mesmo que eu seja um dos seres mais poderosos que existem. Ele me deu alguns artefatos bem interessantes, e eu lhe dei minha escama.

    — Eu não sabia o motivo pelo qual ele queria uma escama minha, então continuei observando. Queria saber para que ele precisava da minha escama. Consegue imaginar o que senti ao vê-lo entregar minha escama para você? — perguntou.

    Gravis suspirou. — Raiva — ele disse.

    — Correto, raiva — disse o jovem, com um sorriso sanguinário. — Minha escama, a escama de um dos seres mais poderosos da existência, foi entregue a uma simples formiga do Reino Unidade. No entanto, minha curiosidade já havia sido despertada, e eu queria ver sua morte. Uma escama pode protegê-lo até certo ponto.

    — Mas, quando você começou a se tornar cada vez mais parecido comigo, percebi que você tinha uma mente bem inteligente — disse o jovem. — Você criou um corpo muito semelhante ao meu sem sequer saber como eu era. Sendo alguém tão fraco, conseguiu criar algo semelhante ao corpo de um dos seres mais poderosos da existência.

    — E quando vi você de repente consumir o corpo de um Céu Inferior, soube que você não era nada simples — disse o jovem. — Eu não fazia ideia de que você já havia matado um Céu Inferior. Isso é bastante impressionante, até pelos meus padrões.

    — Fiquei um pouco irritado com seu acesso emocional ao saber que precisava de filhos, mas eu conheço humanos. É assim que vocês são. Então, quando vi você destruir o mundo inteiro apenas pelo seu próprio poder, comecei a admirá-lo.

    — É assim que deve ser — disse o jovem, cerrando brutalmente um dos punhos. — Os fracos morrem, e os fortes ficam mais fortes. Resumindo, eu gosto de você, garoto — disse ele, com um sorriso.

    Isso explicava como aquele ser sabia tanto sobre Gravis. Ele não apenas estava sendo observado pelo Céu e por seu pai, mas também por essa besta. No entanto, Gravis não podia concordar totalmente com sua avaliação.

    — Eu não sou tão bom quanto você faz parecer — disse Gravis com um suspiro. — Recebi a melhor posição inicial e muita ajuda ao longo do caminho. Até o Céu mais elevado poupou minha vida para me treinar.

    — E daí? — disse o jovem com um sorriso.

    Gravis franziu o cenho. — O que quer dizer com ‘e daí’? Eu não conquistei tudo sozinho.

    — E daí? — repetiu o jovem, ainda sorrindo.

    Gravis franziu o cenho, mas o jovem riu novamente.

    — Vocês, humanos, sempre complicam demais as coisas, Gravis — disse o jovem.

    — Existe uma única verdade no mundo. Ela tem apenas três palavras. E isso não é porque descreve pouco o mundo, mas porque não precisa de mais palavras. Qualquer palavra adicional contaminaria essa verdade singular com bobagens irrelevantes.

    BANG!

    O jovem fechou o punho lentamente, mas quando o fez, um estrondo inimaginavelmente alto ecoou por toda a cidade.

    Tudo parou.

    Silêncio.

    A cidade inteira ficou em completo silêncio.

    Ninguém se movia, enquanto as cores desapareciam do mundo.

    Quer fossem mendigos ou os líderes da organização mais poderosa da cidade, todos estavam igualmente congelados em uma quietude cinzenta.

    O centro movimentado do Mundo mais alto foi mergulhado no silêncio.

    O jovem apenas olhou para Gravis com um sorriso sanguinário.

    — Poder. É. Tudo! — disse ele lentamente.

    Gravis sentiu seu interior estremecer. Por algum motivo, essas palavras atingiram o cerne do seu ser.

    — Poder externo é poder. Leis são poder. Seu corpo é poder. Dinheiro é poder. Equipamentos são poder. Tudo, não importa se você conquistou por conta própria ou não, é poder. Alguém que conquistou tudo por si mesmo pode se sentir superior, mas, quando é morto por uma Formação de Matrizes cara de algum jovem príncipe, ainda está morto.

    — Aos olhos deles, o jovem príncipe é muito mais fraco. No entanto, são eles que estão no chão, despedaçados. O Céu poderia ter escolhido qualquer pessoa em todos os mundos para passar por esse refinamento, mas escolheu você. Isso é sorte? Tudo isso é por causa da sorte?

    Gravis permaneceu em silêncio.

    — Não, não é. O Céu não é um idiota. Se houvesse alguém mais adequado, ele teria escolhido outra pessoa, mas escolheu você. E daí que muitas das suas conquistas vieram com a ajuda de pessoas mais poderosas? Ainda assim, é o seu poder!

    — Isso é justo? Claro que não! Mas justiça é apenas um conceito que vocês, humanos, criaram para se sentirem satisfeitos com sua fraqueza. Eu posso matar todos nesta cidade sem motivo. Isso é justo? Não! E daí? Eles morrerão de qualquer forma, e absolutamente nada acontecerá comigo. Isso é poder, Gravis. Não existe justiça ou injustiça no poder. Poder é simplesmente poder.

    A mente de Gravis estava girando enquanto ele começava a refletir sobre seu próprio poder. Ele sentira vergonha por ter recebido tanto, mas deveria realmente se envergonhar?

    O jovem continuou, enquanto a cidade permanecia presa no silêncio.

    — Hoje, eu o ajudei a entender mais uma Lei e mais sobre si mesmo. Isso também é poder externo, mas quem se importa? É poder! Qualquer um que o olhe com desprezo por aceitar minha ajuda estará deitado em uma poça de sangue diante de você.

    — Um monte de carne não tem opinião.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.
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