Capítulo 747: Lição de Liberdade
A atmosfera mudou completamente com as palavras de Gravis. A conversa amigável e descontraída transformou-se em um ambiente carregado de irritação e indignação.
Em qualquer outra Seita, pelo menos um dos Anciãos ou Vice-Mestres teria se levantado e gritado sobre respeito aos mais velhos, mas não nessa Seita. Individualidade e liberdade eram importantes ali, e quando alguém era desrespeitado, era responsabilidade dessa pessoa lidar com a situação.
Todos olharam para Liran, esperando sua reação.
Liran fechou os olhos e respirou fundo.
— Por favor, elabore — disse ele lentamente. Obviamente, o comentário também o incomodara, mas ele queria ouvir a explicação de Gravis antes de reagir.
Gravis pegou outra fruta. — Supressão e liberdade — começou ele. — Dois opostos no mesmo espectro, certo?
Liran assentiu.
— Supressão e liberdade são opostos como luz e escuridão — explicou Gravis. — No entanto, como todos vocês já sabem, luz e escuridão ainda são a mesma coisa. Existe apenas um gradiente de luz. Um extremo é o que chamamos de luz, e o outro extremo é o que chamamos de escuridão.
— Liberdade e supressão são basicamente a mesma coisa. Ambas são percepções que só existem na mente de um ser inteligente. Uma pedra não pode ser suprimida. Uma pedra pode ser submetida a pressão física, mas isso é algo completamente diferente. Apenas um ser vivo e inteligente o suficiente para perceber sua situação pode sentir supressão ou liberdade.
Blub!
Gravis conjurou um pouco de água que flutuou acima de seu dedo. — Microorganismos, ou o que chamamos de Energia Vital, são seres vivos. No entanto, eles não são inteligentes o suficiente para compreender supressão ou liberdade. Eu poderia isolá-los, e eles não sentiriam diferença alguma.
— Vá direto ao ponto — interrompeu um Ancião ao lado de Gravis.
Gravis olhou para o Ancião e sorriu.
— Ah, não quero mais — disse Gravis.
Então, ele se levantou, pegou outra fruta e começou a caminhar para fora da sala.
Todos ficaram chocados. Gravis estava indo embora assim?
— Siegfried! Acalme-se! — gritou Liran.
— Mas…
— Não! Sente-se, Siegfried! — gritou Liran novamente.
De repente, o olhar de Siegfried mudou. — Eu não sigo ordens. Sou livre para fazer o que quiser! — gritou ele, teleportando-se para a frente de Gravis.
Gravis apenas olhou para Siegfried enquanto mastigava sua fruta.
— Você vai me contar agora! — ordenou Siegfried. — Passei minha vida inteira perseguindo a liberdade, e meu objetivo está ao meu alcance. Não serei parado tão perto de alcançá-lo!
Outra fruta começou a levitar da mesa em direção a Gravis. Ele simplesmente abriu a boca e deu outra mordida.
Vários segundos se passaram, o único som na sala era o de Gravis mastigando.
Siegfried encarava Gravis com intensidade.
Então, após quase 20 segundos de silêncio tenso, outra fruta flutuou em direção a Gravis. Ele abriu a boca para morder novamente.
BANG!
A fruta foi derrubada ao chão por Siegfried, que olhou para Gravis com fúria.
Gravis apenas olhou de volta para Siegfried com tédio.
— Não quero — disse Gravis.
O olhar de Siegfried tornou-se ainda mais ameaçador. — Você não tem escolha — disse ele.
— Ou o quê? — perguntou Gravis.
— Ou eu vou suprimi-lo até você me contar — respondeu Siegfried.
Gravis olhou ao redor da sala para observar as reações dos outros. A maioria tinha expressões neutras. Dois pareciam incertos. Liran, especificamente, parecia hesitar. Suas crenças filosóficas e suas emoções estavam em conflito.
Liran acreditava que deveria conceder a Siegfried a liberdade de fazer o que quisesse, como era a filosofia da Seita. No entanto, ele também sentia que seria injusto empurrar Gravis para uma situação de supressão enquanto apenas observava. Liran não sabia o que fazer.
Gravis olhou ao redor e esperou alguns segundos. Quando viu que ninguém se manifestava, balançou a cabeça em decepção.
— Vocês se autodenominam a Seita Irrestrita — disse Gravis. — No entanto, nenhum de vocês entende o que é liberdade.
Toda a simpatia que os presentes tinham por Gravis desapareceu com esse comentário. Eles haviam sentido pena de sua aparente fraqueza, mas agora, vendo-o enfrentar alguém muito mais poderoso do que ele, ainda sendo desrespeitoso, essa piedade sumiu.
A mente de Liran estava em turbilhão. Por que Gravis estava agindo assim?
Liran respirou fundo novamente. — Gravis — disse ele calmamente. — Por que está agindo assim? Não seria mais fácil simplesmente nos contar?
— Eu sei que você odeia ser suprimido. Todos nós odiamos — continuou Liran. — Tento seguir a filosofia da Seita, mas todos desejam tanto a liberdade. Por quase um milhão de anos, buscamos o segredo da liberdade, e agora ele está bem diante de nós. Não sei se posso deixar essa oportunidade escapar só porque você não quer.
— É isso que você quer? — perguntou Gravis.
Liran balançou a cabeça. — Não. Se dependesse de mim, eu não o forçaria a nada.
CLAP!
De repente, Gravis bateu palmas com força.
— E aí está! — exclamou ele. — É por isso que vocês não entendem a liberdade.
Os presentes ficaram confusos novamente. Gravis estava dizendo que eles precisavam ajudá-lo para entender a liberdade? Isso parecia ridículo!
— Vocês me perguntaram por que estou agindo assim — disse Gravis — mas depois responderam sua própria pergunta sem nem perceber.
— Porque eu não quero — disse Gravis.
— Eu preciso de outro motivo?
A sala mergulhou novamente no silêncio.
— Sabem — continuou Gravis. — Ironia das ironias, a pessoa que parece estar mais próxima do conceito de liberdade é Siegfried.
Siegfried ficou surpreso. Ele acabara de interromper Gravis e ameaçá-lo, mas agora Gravis estava elogiando-o?
— Olhem para vocês — disse Gravis. — Liberdade é fazer o que se quer. Enquanto isso, a julgar por suas expressões desconfortáveis, vocês não estão fazendo o que querem. ‘Pelo bem da Seita’, vocês estão fazendo coisas que não desejam.
— Liran — disse Gravis. — Você queria me proteger, mas não o fez. É isso que a Seita Irrestrita representa? Restringir sua própria liberdade para que outros possam ser livres?
Gravis balançou a cabeça.
— Siegfried — chamou Gravis, enquanto Siegfried ficava tenso. Gravis não parecia apenas um mero Imortal para ele. De alguma forma, Gravis parecia superior. — Você me parou, sabendo muito bem que eu provavelmente continuaria falando em outra hora, mesmo sem sua intervenção. Parar-me foi literalmente contraproducente.
— No entanto, você fez isso mesmo assim. Por quê? Foi por vergonha de eu ter saído por causa de suas palavras? Foi por ego, por causa de seu poder superior? Foi por sentimento de posse? — perguntou Gravis.
— Não importa — disse Gravis. — Você fez o que queria. Não é isso que significa liberdade? — perguntou ele com um sorriso.
Siegfried sentiu como se seus olhos tivessem sido abertos. Sua percepção de liberdade mudou completamente.
Ainda assim, ele não havia compreendido a Lei da Liberdade.
As explicações anteriores de Gravis, aparentemente irrelevantes, culminariam em um único argumento.
Supressão era algo que um ser inteligente sentia quando outro ser exercia um efeito supressor sobre ele. Liberdade era o oposto, o que significava que era algo que um ser inteligente sentia quando nenhum outro ser tinha qualquer efeito sobre ele. Isso significava uma coisa.
Supressão era algo que dependia de outros seres para ser aprendido.
Liberdade, por outro lado, era algo que só podia ser compreendido por si mesmo.
Liberdade não podia ser ensinada. Era algo que alguém tinha que compreender por conta própria. Liberdade não podia ser concedida, apenas conquistada.
Foi por isso que Gravis havia dito que Liran não conhecia a Lei da Liberdade. Liran havia pedido a Gravis que o ensinasse sobre liberdade, algo que, em sua essência, era impossível.
O ato de Gravis de sair repentinamente também era uma lição sobre liberdade. Ele mostrou que podia fazer o que quisesse, sem interferência de ninguém. E daí se ele sentia que devia algo a Liran por ter salvado sua vida? Se Gravis quisesse, poderia simplesmente abandonar essa dívida.
Isso era liberdade.
No entanto, era importante lembrar que Gravis não sentia essa dívida ou qualquer outra obrigação. Isso era apenas um exemplo.
O silêncio voltou a dominar o salão.
— Eu faço o que quero — declarou Gravis. — Vocês não.
— Agora, saia do meu caminho, ou você estará morto dentro de uma hora. Prometo isso a você — disse Gravis repentinamente para Siegfried, em um tom frio.
O quê?
Ninguém podia acreditar no que acabara de ouvir. Sabiam que Gravis era incrivelmente poderoso, mas Siegfried era um Ancião. Ele era um Imortal no Pináculo!
A Lei da Honestidade de Gravis preencheu o ambiente, e todos perceberam que ele estava falando a verdade. No entanto, apenas Liran conseguiu reconhecer que era a Lei da Honestidade em ação, e não uma Lei de Mentiras ou Enganos.
Gravis não estava mentindo?
Isso significava que Gravis acreditava plenamente que podia matar um Imortal no Pináculo em apenas uma hora? Como isso era possível!?
E, ainda assim, se isso não fosse possível, a Lei da Honestidade de Gravis não teria sido ativada.
Isso era verdade? Gravis poderia matar um Imortal no Pináculo?
Agora? Não.
Em uma hora? Sim.
Por quê?
Era importante lembrar que Gravis era um humano, não uma besta. No mundo intermediário, ele havia cultivado como uma besta, consumindo outras bestas. No entanto, isso não significava que Gravis não pudesse cultivar como um humano. A razão pela qual ele não cultivava como um humano era a ausência de recursos relevantes no mundo intermediário.
Como os humanos cultivavam?
A maioria usava tesouros naturais, mas havia também um método menos eficiente para elevar o próprio Reino.
Que recurso era esse?
Pedras Imortais.
Absorver Pedras Imortais levava algum tempo, mas aumentava o Reino de alguém ao absorver uma quantidade suficiente delas. Esse era o motivo pelo qual as Pedras Imortais eram tão valorizadas entre os humanos.
Agora, dito isso…
Quantas Pedras Imortais Gravis tinha mesmo?
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