Capítulo 193 - Aguente

Aguente

O humor de Ophelia enquanto esperava pela notícia da morte de Carlisle azedou com o passar do tempo. Nenhum relatório chegou, embora já tivessem se passado horas desde que o Marquês Shelby partiu para a missão. Cassana aproximou-se desconfortavelmente, então falou com a Imperatriz.

“Sua Majestade. Enviei alguém para verificar a situação e eles trarão notícias em breve.”

“…”

Ophelia não respondeu. Como agora, um atraso provavelmente significava que a tentativa de assassinato não havia saído como planejado. Ela ainda não conseguia descobrir o porquê. O marques Shelby acumulou uma força considerável e Ophelia também enviou tropas adicionais. As chances de tal falha eram pequenas e, mesmo nesse caso, um relatório não chegaria tão tarde.

‘O que diabos aconteceu lá?’

Houve uma investigação completa das habilidades de luta de espada de Carlisle e do número de guardas que ele levou com ele. Depois de enviar assassinos atrás dele por anos, ela naturalmente acumulou grandes quantidades de dados sobre sua habilidade. A menos que a emboscada fosse vazada de antemão, seria impossível para Carlisle sobreviver.

‘… A menos que alguém que eu não esperava se envolvesse.’

Carlisle era tão persistente quanto uma barata, mas nem ela sabia como ele poderia voltar da batalha…

A atmosfera ao redor de Ophelia tornou-se desagradável e seus olhos brilharam como os de uma cobra.

Bang!

A porta foi repentinamente escancarada e Cesare, o irmão mais novo de Ophelia e chefe da família Anita, invadiu a sala, parecendo um leão vermelho furioso.

“Irmã.”

Ao chamado de Cesare, Ophelia olhou para ele e exigiu respostas.

“Conte-me. Deve ser ruim ver que você está aqui em vez de um mensageiro. O que aconteceu?”

“Eles estão…”

Cesare estranhamente parecia incapaz de encontrar suas palavras. Então ele gritou com raiva.

“Estão todos mortos!”

“… O quê?”

“Só voltei depois de ver com meus próprios olhos. Todos foram exterminados.”

“Todos eles?”

“Sim minha irmã.”

Ophelia estava atordoada e incrédula. O fracasso era possível, sim, mas um massacre completo? Isso não era possível. Não importa a rapidez com que os reforços de Carlisle chegassem, não fazia sentido. No entanto, ao contrário dos pensamentos de Ophelia, a resposta de Cesare permaneceu inalterada.

“Não acreditei no mensageiro, então fui lá e vi os corpos empilhados como montanhas.”

Kwaang!

Normalmente uma figura calma, Ophelia golpeou o braço de sua cadeira com impaciência.

“Como isso é possível?!”

“Dado que os corpos parecem ser dilacerados pelas garras de uma fera, talvez a sede de sangue…”
Cesare parou e olhou para Cassana de pé ao lado da Imperatriz Ophelia. Não era algo que ele pudesse falar nem mesmo para os assessores mais próximos. Cassana sentiu sua intrusão e falou rapidamente.

“Vou deixar você falar livremente. Estarei esperando lá fora.”

Com essas palavras, Cassana levou todas as outras servas para fora da sala e logo tudo ficou quieto novamente. Cesare deu uma olhada cautelosa ao redor, mas não havia mais ninguém nas proximidades. Com os dois sozinhos, Ophelia falou pela primeira vez com uma expressão rígida.

“Mesmo a sede de sangue não lhe daria tanta força.”

“É sobre isso que estou curioso. Droga. O sangue do dragão é forte. Isso o mantém persistindo.”

“Ele não tem a capacidade de controlá-lo à vontade… então por que esse poder se revelou agora?”

Ophelia olhou com desagrado. Como imperatriz, ela sabia que o sangue de dragão corria nas veias de Carlisle. Por causa desse poder extraordinário, Carlisle se tornou o príncipe herdeiro e conseguiu enganar a morte várias vezes.

Ophelia não era tola e continuou a considerar isso em seus cálculos quando mobilizou seus assassinos e enquanto Carlisle era um monstro, isso não significava que ele era imortal. No entanto, não foi fácil aceitar o fracasso mais uma vez.

“… Algo estranho.”

Havia algo diferente das vezes anteriores e desta noite. Algo mais que Ophelia não sabia.

“Não há sobreviventes?”

“Nenhum, minha irmã.”

“Eu não me importo como, mas encontre uma testemunha de um jeito ou de outro. Se você não conseguir descobrir, suborne um dos funcionários de Carlisle. Deve haver algo. Algo que eu não sei…”

“Muito bem. Farei isso.”

Ophelia gradualmente acalmou seus nervos e virou a cabeça. Depois dessa falha catastrófica, era provável que ela fosse a próxima a ser localizada. Agora, era hora de jogar fora a família Shelby como um escudo de carne.

“Primeiro, livre-se de evidências de qualquer conexão com a família Shelby. Não deixe ninguém saber que estávamos envolvidos nisso.”

“Sim irmã.”

À resposta de Cesare, Ophelia pressionou os dedos contra a têmpora.

“Precisamos de mais informações sobre Carlisle novamente.”

Ophelia abriu os olhos novamente com uma intenção sangrenta.

“Não falhe duas vezes.”

Ao ouvir suas palavras, Cesare fez uma profunda reverência.

“Vou fazer um novo plano, irmã.”

Essas foram as palavras que mais se repetiram para Elena em sua última vida.

“Líder, se você viver assim, um dia morrerá.”

Ela era inabalável diante da morte. A única razão pela qual ela sobreviveu foi para retribuir o sangue de sua família. Quando ela fechava os olhos, ela podia ouvir o grito de Mirabelle, e quando ela comia, o corpo de Derek e de seu pai oscilava diante de sua visão. Não houve um momento de conforto para ela. A vida não valia a pena ser vivida.

Suas habilidades no campo de batalha lhe renderam uma reputação cruel e, quando surgiu a oportunidade, ela foi formalmente nomeada cavaleira em um país que era inimigo do Império Ruford. Embora ela tivesse trabalhado como mercenária por anos, ela não teve a oportunidade de segurar sua espada contra o pescoço de Paveluc.

Elena se esforçou muito e rapidamente ascendeu na hierarquia da cavalaria. Isso foi uma conquista enorme por si só, mas ela ainda não estava satisfeita.

“Líder, você ficou acordada a noite toda?”

Elena sempre ficava no centro de treinamento, a ponto de esquecer onde ficava seu quarto. Quase todas as noites ela ficava acordada. Cair em um sono profundo significava menos tempo treinando com uma espada, e mesmo quando ela sobrecarregava seu corpo, ela se recusava a desmaiar.

Sempre que ela fechava os olhos, ela sempre voltava para aquela última noite no Castelo Blaise. Tochas vermelhas tremeluziam em seus corredores e gritos de medo ecoavam por eles. Em sua imaginação, Mirabelle gritaria por socorro.

“Irmã! Elena! Ajuda! Me ajuda!”

Elena não conseguiu salvar Mirabelle nem em seus sonhos. Não importa o quanto ela tentasse, seu irmão Derek a levou para fora da cidade e ela foi forçada a abandonar sua preciosa irmã. As últimas palavras de Derek eram sempre as mesmas.

“Vá. Vá e sobreviva, irmã.”

Então ela teve que escapar.

Escapar e suportar a amarga maldição que era a vida. Ela abandonou Mirabelle e Derek se sacrificou. Vingança, ressentimento e arrependimento passaram por ela uma e outra vez. Era uma lembrança que, por mais que tivesse passado, nunca havia desaparecido.

“Ela pode sorrir? Acho que nunca a vi sorrir.”

Elena não sorria. Como ela poderia, quando todos que ela amava estavam mortos? Apenas viver e respirar já era um inferno para ela, e sua única fé era matar Paveluc. Quando ela olhava para trás, às vezes ela pensava,

‘Eu queria me livrar da culpa de sobreviver sozinha?’

Ela percebeu agora que, mesmo que matasse Paveluc no passado, a culpa continuaria a assombrá-la. Na verdade, ela não se importava se perdesse a vida, desde que pudesse salvar sua família agora. Ela faria essa escolha mil vezes, porque a pior parte era…

‘Ser deixada sozinha de novo.’

Elena não queria experimentar o mesmo inferno duas vezes, então ela jurou morrer antes de sua família, não importa o quê. Talvez sua morte por flecha envenenada fosse o final que ela esperava. Ela arriscou sua vida fazendo algo por sua família e morreu antes deles.

‘Mas…’

A última imagem nebulosa dos olhos azuis de Carlisle apareceu na frente dela. Ela ainda se lembrava de sua expressão de desespero, como se tivesse perdido o mundo inteiro. Seu grito penetrou em seu coração.

“Aaaaaaaah!”

Carlisle, que nunca demonstrava fraquezas, parecia que iria desmaiar com a morte dela. Se ela se fosse, ela temia que ele passasse o resto de sua vida sofrendo.

Ela não queria isso.

‘… Eu não quero morrer.’

Ela queria ficar com Carlisle um pouco mais, se pudesse. Ela queria fazê-lo feliz, e ser feliz ao seu lado. Separar-se dele agora só pioraria as coisas.

À medida que Elena ficava mais desesperada pela vida, ela começou a sentir uma dor ardente nas costas. Foi tão forte que um gemido fino saiu de sua boca.

“… Huum.”

Ela abriu os olhos, mas sua visão estava muito embaçada para distinguir qualquer coisa. De repente, várias vozes soaram com urgência em seu ouvido, mas só havia uma a qual ela se agarrou.

“Droga! Ela está sofrendo! Esse é o jeito certo de fazer?”

Era Carlisle. Ela podia ouvir claramente o terror em sua voz.

“S-Sua Alteza, este é o único modo.”

“Se ela não conseguir se levantar depois disso, eu vou matar todo mundo. Faça o que for preciso, salve-a!”

A voz tranquilizadora de Zenard falou por trás dos gritos de Carlisle.

“Acalme-se, Alteza. Os médicos estão se esforçando ao máximo.”

“Máximo? Se alguém falar em apenas tentar, eu cortarei suas gargantas primeiro. Eu não me importo com o processo, apenas traga resultados!”

A situação atual era tão tensa que não parecia incomum se ele esfaqueasse alguém. Mas a atmosfera gelada quebrou quando Elena deu um pequeno gemido.

“… Ah.”

Alguém agarrou a mão de Elena. Sua visão não estava muito clara, mas o toque quente por si só provou que era Carlisle.

“… Elena, se você me deixar, eu não vou te perdoar.”

O tom de Carlisle era forte, mas estranhamente desesperado.

“Aguente.”

Ela queria abrir os olhos e olhar para o rosto dele, mas uma dor aguda atravessou-a como um raio e ela gritou.

“Aaaagh!”

Conforme seus gritos agonizantes ficavam mais altos, ela podia ouvir Carlisle na frente dela. Embora fosse ela quem estava com dor, era como se Carlisle estivesse sofrendo mais.

Elena perdeu a consciência novamente.

Tradução: Sa-chan

Revisão: BI4X

Obrigada pela leitura. ^-^