Capítulo 102: A Chegada Dele
O primeiro dia de férias havia chegado.
Um silêncio confortável típico pairava no quarto, iluminado pela luz da manhã, mas de alguma forma, era… diferente. Parecia que havia algo no ar, algo que eu não conseguia descrever.
Ignorei essa sensação, erguendo a cabeça lentamente em direção à cabeceira ao lado. Peguei o celular, e logo a tela se iluminou com uma nova mensagem.
“Eiii! Tá acordado já!? Vamo jogar?”
Seiji já estava de pé, pronto pra começar o primeiro dia de férias jogando. Sorri de leve, pensando em me juntar, mas logo algo me puxou de volta pra realidade.
A minha história.
— Ah, verdade… — murmurei pra mim mesmo.
No entanto, algumas horas não iria fazer mal… certo?
Certo.
Iria deixar a escrita para mais tarde, e aproveitar algumas horas de jogatina com eles.
“Tô dentro, 5 minutos”
No entanto, mesmo com isso tudo, algo latejava no fundo da minha cabeça. Algo incômodo pairava no ar, como se carregasse algo que eu não podia ver.
Sentia que algo estava… prestes a mudar, e eu não sabia se isso era algo bom ou não.
Balancei a cabeça, afastando aqueles tipos de pensamentos, e logo levantei da cama e entrei no jogo.
— Ah, finalmente! Férias! — Seiji exclamou, com aquela energia habitual dele. — Tchau tchau, professores, despertadores e provas!
— Só por algumas semanas. — Rintarou interrompeu, com aquele tom sério mas cuidador. — Não se esqueça do que o professor falou…
— Ei, ei, ei. Você não cansa!? — Seiji respondeu, rindo levemente. — Temos bastante tempo até as aulas voltarem, vamos jogar agora! Né, Shin?
— …Não sei não, Seiji — comecei, hesitante. — Talvez seja melhor estudarmos também…
— Ei, até você!? — Seiji falou, alto, arrancando uma risada de nós todos.
As horas de jogos começaram logo.
Entramos, jogamos, falamos besteiras, rimos bastante quando Seiji cometia erros bobos, e, por um momento, consegui esquecer de tudo. Apenas nós três ali, se divertindo, como se mais nada importasse.
Ainda assim, algo não mudava.
Aquela sensação… ainda pairava no ar.
Tentei ignorar, mas era impossível. Ainda assim, continuei jogando, me divertindo por algumas horas.
Logo chegou a hora do almoço. Tirei os fones e desci as escadas, sendo atingido pelo incrível aroma vindo da cozinha.
Hana já estava na mesa, impaciente, balançando as pernas, enquanto minha mãe ajeitava os pratos e as panelas com a calma de sempre.
— Bom dia. Dormiu bem?
— Sim — respondi, puxando uma cadeira. — Primeiro dia de férias…
— Finalmente! — Hana exclamou, rindo.
Logo começamos a comer. O silêncio da casa era preenchido pelo som dos talheres batendo de leve nos pratos. No entanto, essa não era a única coisa que preenchia a casa.
Uma curiosidade também.
Olhei para a minha mãe, que, entre garfadas, desviava o olhar da mesa para o calendário. E do calendário para o relógio.
Continuou assim por um tempo, e logo não aguentei mais.
— Tá esperando algo?
Ela parou por um instante, hesitando. Mas logo sorriu, de um jeito estranho. Um sorriso que me deixava com mais perguntas que respostas.
— Sim… — respondeu, voltando o olhar para o prato. — Não deve demorar muito também…
Minha mente parou por um segundo, buscando por alguma resposta, mas apenas mais dúvidas vinham.
“Era isso que ela tava olhando ontem… o que será…?”
Não perguntei mais nada após, talvez fosse apenas uma encomenda qualquer ou algo assim. Terminamos de comer em silêncio, lavei o prato e logo subi novamente para o quarto.
Coloquei os fones novamente, me sentando na cadeira, e logo entrei no jogo, mesmo que minha mente pesasse com a ideia de escrever.
— Só por mais um pouco… — murmurei baixo. — Quem sabe isso me dê novas ideias…
Claro que era uma desculpa…
Acabei rindo de leve, enquanto me conectava com Seiji e Rintarou. Continuamos falando de estratégias, novos jogos que lançariam e outras coisas triviais durante os jogos.
— Olha isso aqui! Genial, não é? — Seiji começou, mostrando uma nova forma de ganhar em um jogo.
— É verdade! Onde você viu isso? — respondi, curioso com aquilo.
— Viu? Meu caro, fui eu que inventei…
— Que mentira. — Rintarou completou, tirando uma pequena risada de mim.
Tudo estava indo bem, até um som quebrar aquele ambiente confortável.
A campainha tinha tocado.
O som ecoou pela casa, alto o suficiente para cortarem as vozes deles e me fazer tirar um lado do fone.
— Hm, deve ser isso que ela estava esperando… — murmurei, pensando na minha mãe. Logo coloquei o fone por um segundo, me dirigindo aos dois. — Já volto!
Desci as escadas sem pressa, com passos lentos, e o coração levemente acelerado, por algum motivo.
Ouvi a voz de minha mãe, meio animada. Mais do que o costume, pelo menos. Cheguei perto da porta, pensando em que tipo de encomenda poderia ser para que ela risse tanto assim.
No entanto, o que eu vi foi completamente diferente do que eu imaginava.
Eu o vi.
A porta estava aberta levemente, o vento frio entrando pela porta e me envolvendo. Minha mãe sorria, parada diante de uma pessoa.
Meu corpo congelou no mesmo instante. As mãos começaram a suar, minhas pernas a tremer levemente, o coração acelerou mais do que devia.
O ar ficou… pesado.
Era sufocante.
Era ele.
“Por quê…?”
Nossos olhares se cruzaram, e o mundo pareceu cair em silêncio.
— Olá, Shin. — Aquela voz calma, junto de um sorriso leve, me puxou de volta. — Estou de volta.
…Meu pai.
Por quê?
— O… o que você tá fazendo aqui!?
Minha mente virou um caos completo.
A hora de mudar tinha chegado?
Não podia ser.
“Vamos ter que esperar até que eu resolva isso no trabalho. Pode demorar um pouco, mas vamos nos mudar.”
Ele… já tinha terminado tudo no trabalho?
Iria tudo começar novamente?
Eu iria… me mudar de cidade?
Perder tudo e todos ali?
Não, não, não…
Fui puxado de volta pra realidade quando ele deu um passo à frente.
— Vim passar o Natal com vocês — respondeu, sorrindo levemente.
— Em família, Shin — minha mãe completou.
Antes que pudesse responder, ou sequer pensar em algo, Hana surgiu correndo pelo corredor, rindo alto.
— Papai! — disse, antes de pular nele em um abraço forte. — Eu senti sua falta!
— Hana! — Ele a segurou com cuidado, sorrindo suavemente enquanto bagunçava seus cabelos. — Eu também senti.
Eu apenas permaneci em pé, congelado. Sem saber o que dizer… ou sentir.
Alegria? Raiva? Medo? Alívio?
Não sabia, só sabia que tudo se misturava naquele momento, de alguma forma.
E, no fundo, minha mente ainda corria. Pensava se ele realmente tinha ido apenas passar o Natal juntos… ou se era tudo uma mentira, como da primeira vez.
Era confuso.
Apenas assenti, sem dizer alguma palavra, e subi as escadas. Cada passo era… pesado. Entrei no quarto e fechei a porta, me jogando na cama. Peguei os fones, mas ainda era possível ouvir as vozes animadas lá embaixo.
Algo tinha mudado.
Meu pai tinha voltado…
E eu não sabia o que esperar disso.

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