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    O vento frio de inverno cortava a entrada do shopping, fazendo-me apertar ainda mais o cachecol contra o pescoço. As decorações de natal já cobriam todo o estabelecimento. Luzes brilhantes penduradas, algumas decorações pequenas, e claro, uma grande árvore de natal no centro.

    Respirei fundo, deixando o hálito visível ir embora junto do ar gélido, foi então que notei uma mão acenando para mim.

    — Finalmente, Shin! — Seiji exclamou, baixando os braços assim que me aproximei. — Não conseguia ficar mais um segundo te esperando nesse frio! Devia ter trago mais uma camisa…

    — Foi mal, foi mal — respondi, mas logo abri um sorriso provocador. — Talvez um… aquecedor de bolso fosse bom, não é?

    — Eu não vou comprar isso pra ela…! — ele resmungou, virando a cara.

    Dei uma risada de leve, olhando para Rintarou que apenas balançava a cabeça.

    — Continuar aqui fora vai fazer mal. Vamos logo — disse, e logo nós três adentramos o shopping. 

    Assim que atravessamos a porta giratória, o calor nos envolveu, fazendo-nos relaxar no mesmo segundo. Olhei ao redor, me deparando com várias lojas com decorações natalinas, enquanto uma música tocava de fundo. 

    “Que bonito…”

    O clima festivo era excitante.

    Enquanto caminhávamos, olhando as opções de presentes nas vitrines, decidi quebrar o silêncio com um comentário casual.

    — Então, Rintarou… pra quem você vai comprar o presente? — perguntei, sem olhar para ele, mas com a curiosidade me consumindo por dentro.

    — Para a Mai — respondeu no mesmo instante.

    Não achei que ele fosse dar uma resposta tão… direta. 

    Eu e Seiji desaceleramos o passo, piscando surpresos. Seiji arregalou os olhos, e logo um sorriso malicioso se formou em seu rosto.

    — Oh? Pra Mai é…? — começou, cutucando o braço dele. — Não me diga que… você tá gostando dela!?

    Eu apenas ri com aquele comentário dele, enquanto Rintarou apenas suspirou, já prevendo as provocações.

    — Rintarou? Gostar de alguém? — Entrei na brincadeira, envolvendo meus braços ao redor de Seiji. — Não, não. Isso é impossível, Seiji!

    — Não diga isso, Shin! Vai ver ela realmente conquistou o coração quieto do Rin! — Seiji respondeu, ainda brincando. — Nunca… nunca imaginei que esse dia chegaria… 

    — Nem eu… — continuei, fingindo um choro teatral. — Eu tô tão… tão orgulhoso, Rintarou!

    Logo após as provocações, apenas senti um leve tapa na cabeça.

    — Ai! — falamos ao mesmo tempo.

    — Sério, vocês dois não tem jeito. — Rintarou suspirou, ajustando os óculos. — Vou apenas retribuir por ela ter me emprestado um livro difícil de achar.

    “Agora faz sentido…”

    Segurei uma leve risada, enquanto Seiji ainda murmurava algo, ao tempo que massageava a cabeça com a mão direita.

    — Não precisava ter batido… — Ele bufou.

    — Vamos logo — puxei Seiji pelo braço, ainda rindo dele.

    Seguimos adiante, passando pelos largos corredores de pessoas carregando sacolas. O cheiro de doces típicos da época, e chocolates feitos recentemente, quase me fizeram distrair o suficiente para sair do caminho. 

    Andamos mais um pouco, até que Seiji parou bruscamente diante de uma… vitrine de pelúcias. Ergui o meu olhar, apenas para o ver encarando um urso com gorro vermelho. 

    — …Vai comprar isso pra ela? — perguntei, olhando para a pelúcia.

    Ele se assustou, recuando, como se não tivesse percebido que eu estava do lado dele.

    — Hã!? C-claro que não! Só achei bonito, só isso — ele respondeu de forma desesperada, gesticulando com as mãos.

    Claro, algo na reação exagerada dele me disse que aquilo era uma mentira.

    — Hm, esse combinaria com Yumi. — Rintarou se aproximou, agachando até o nível da pelúcia na vitrine.

    — Quê!? Claro que não!? — Ele desviou o olhar, envergonhado. — Vamos procurar um presente logo!

    Não pude evitar de sorrir novamente. Ver Seiji tão… envergonhado, era algo tão novo e estranho, que era impossível não sorrir.

    Pouco depois, seguimos para uma loja ao lado. Rintarou entrou, e se aproximou de uma prateleira, analisando cuidadosamente. Então, estendeu a mão e pegou um marca-página metálico, de forma retangular e decorado com algumas linhas brilhantes. 

    Era bonito e elegante.

    — O que acham desse marcador? — ele se virou para nós, mostrando o marca-páginas.

    — Uau… — aproximei, olhando mais de perto. Cada detalhe cuidadosamente feito, fazia com que aquilo parecesse ainda mais especial. — É muito bonito, combinaria com ela.

    — Simples… mas até que é bonito. — Seiji também se inclinou, e logo balançou a cabeça em forma de aprovação. — Realmente combina com a Mai.

    Rintarou parecia satisfeito com a escolha e com nossas reações, então apenas acenou com um leve sorriso.

    Enquanto ele já tinha decidido o que comprar, resolvi vagar, olhando em cada prateleira. 

    Mas nada combinava com ela…

    Era estranho. 

    Quanto mais olhava, mais vazio parecia. 

    Caminhei tanto, na procura de algo que remetesse a Yuki, que fui parar em uma seção de roupas de inverno. Olhei ao redor por alguns segundos, até que meus olhos pararam em um cachecol castanho.

    Me aproximei dele, sentindo a suavidade no toque. 

    Talvez eu deveria…?

    — Já decidiu? Vai levar esse? — Ouvi a voz de Rintarou, que se aproximou de mim.

    Eu o olhei por um segundo, e voltei o olhar para o cachecol, com as dúvidas inundando dentro de mim.

    — Eu… não sei — respondi, tocando no tecido. — Não parece simples demais pra ela?

    Ele então suspirou, como se a resposta fosse óbvia. Ele me encarou, com aquele olhar honesto e gentil.

    — Shin, você não precisa dar algo grandioso, como o Seiji está tentando fazer. — Ele ajeitou os óculos. — Algo simples pode ser especial, dependendo de quem entrega. Além do mais, já estamos no inverno. O cachecol é uma ótima opção. 

    “Ah.”

    Olhei para ele, levemente surpreso. Rintarou sempre dava aqueles comentários que carregavam lógica, mas também algo a mais que não sabia explicar. 

    Ele sempre tinha as palavras certas, no momento certo.

    — Você tem razão — respondi, sorrindo de leve.

    Decidi comprar o cachecol para Yuki. 

    Mas enquanto pegava, senti um olhar carregado de frustração na minha direção. Virei a cabeça lentamente, apenas para me deparar com Seiji.

    — Que droga! Como vocês já escolheram algo!? 

    — Se você tivesse escolhido pegar algo simples, já estaríamos em casa… — Rintarou respondeu, sorrindo de leve.

    Seiji tentou ignorar o comentário de Rintarou, e continuou seguindo o olhar nas prateleiras. 

    Continuou assim por um bom tempo.

    — Vai levar esse?

    — Não.

    — E esse?

    — Não!

    — Que tal…

    — Sem chance!

    Depois de vários longos minutos, ele finalmente parou em uma secção de acessórios.

    Eu e Rintarou nos aproximamos, percebendo que ele tinha fixado o olhar em uma pulseira delicada, com alguns detalhes por dentro. 

    Acessórios eram o que mais combinava com alguém como Yumi, mas Seiji realmente iria comprar algo assim pra ela?

    Não, não. Não tinha como.

    Ele deveria ficar envergonhado demais para fazer isso…

    Eu e Rintarou nos viramos, já começando a caminhar para algum outro lugar. Deixamos ele para trás, procurando algum presente mais… simples, para ela.

    No entanto, a voz dele nos fez parar de caminhar no mesmo instante.

    — Vai ser isso.

    “Hã?”

    Ele realmente falou aquilo?

    Eu e Rintarou nos entreolhamos, claramente surpresos. Nunca imaginaria que ele realmente escolheria… uma pulseira de presente.

    Ele realmente estava falando sério?

    Me aproximei dele, olhando para a etiqueta de preço.

    — Que caro! — exclamei, recuando levemente.

    — Ei, Seiji. Tem realmente certeza de que vai querer comprar isso? — Rintarou indagou, tentando olhar para o rosto virado de Seiji. — Você não precisa dar algo assim, algo simples já é bom.

    Olhei para Seiji, que permaneceu quieto por alguns instantes. Então, ele respirou fundo, e sua voz soou mais baixa do que o normal, quase séria. 

    — É para Yumi. Não tem problema.

    Permaneci ali, parado, por alguns instantes. 

    Sem saber… o que dizer.

    — Mas… — tentei falar algo, mas fui interrompido.

    — A verdade é que… eu… ainda gosto dela. — A voz dele saiu suave. Algo raro de se ver nele. — Sentimentos não vão embora fácil assim.

    “…..”

    Fiquei em silêncio por um instante, absorvendo o tom dele. 

    Havia uma sinceridade profunda e carregada em sua voz. Uma sinceridade que me fez perceber que… eu fui um idiota por pensar que ele havia superado aquela rejeição. 

    Aquele simples comentário foi suficiente para me fazer parar e pensar mais fundo.

    Ver Seiji agir de forma tão diferente fez as peças se encaixarem na minha cabeça. Os sentimentos nunca tinham ido embora do coração dele. 

    E, de certa forma, fazia sentido.

    Ergui o olhar do chão, vendo Seiji que ainda estava de costas para nós, encarando a pulseira.

    — É meio idiota, não é? — Ele riu, mas era como se estivesse rindo de si mesmo. Sua voz logo baixou novamente. — Eu fui rejeitado, mas ainda tenho sentimentos por ela. Isso é tão estúpido.

    Ver Seiji naquele estado… era estranho. Meu peito se apertou no mesmo segundo.

    Olhei de relance para as suas mãos, que estavam cerradas. Seu rosto levemente abaixado, e os ombros levantados.

    — Nem por isso. — Rintarou colocou a mão em seu ombro, fazendo com que Seiji finalmente o olhasse. — Isso acontece.

    — É! Mais do que você imagina — completei, colocando a mão direita no outro ombro. — …É normal se sentir assim, Seiji. Você não é idiota por ter esses sentimentos ainda com você.

    Ele se virou totalmente para nós. Havia um leve brilho em seu olhar, e eu notei isso. Seu rosto logo começou a ficar levemente corado, e um sorriso sincero se formou no seu rosto.

    — É, acho que sim. Desculpa. — ele disse, parecendo um pouco mais leve. — Vamos logo pagar isso tudo e ir comer algo!

    “Ainda bem…”

    Eu e Rintarou trocamos um breve olhar, e ambos demos um leve sorriso. O aperto no peito logo começou a se desfazer, enquanto caminhávamos para a caixa de pagamentos.


    Saímos do shopping com as sacolas na mão. O vento frio de inverno nos atingiu no mesmo segundo que colocamos o pé fora da porta, enquanto os cabelos voavam.

    — Que frio… — Seiji disse, com a voz tremendo. — Talvez aquele aquecedor de bolso poderia ter sido útil…

    Rintarou balançou a cabeça, suspirando, enquanto eu não consegui conter a risada. Sem demora, nós três estávamos rindo juntos, no meio daquela calçada gelada enquanto as sacolas balançavam ao ritmo de nossos passos. 

    O vento poderia ser gélido, mas aquela sensação entre nós aquecia meu peito. 

    Os presentes haviam sido comprados, cada um com seu devido significado por trás, e logo o próximo passo nos esperava.

    Entregá-los no encontro no karaokê.

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