Capítulo 108: Canções e Risadas (1)
O vento gelado de fim da tarde parecia atravessar o tecido das roupas quando chegamos diante do karaokê. As luzes da fachada piscavam em cores de vermelho e verde, já no espírito natalino.
Ao nos aproximarmos da entrada, eu, Seiji e Rintarou, avistamos um pequeno grupo da turma já do lado de fora esperando.
— Ei! Pessoal! — Seiji exclamou, balançando o braço no ar.
— Finalmente! — Akira respondeu, sorrindo ao cumprimentar Seiji com um aperto de mãos exagerado.
Olhei ao redor, vendo que a maioria da turma já estava lá. Mina, Yumi, Sasaki, Akira, Takeshi, Mai e outros colegas da sala. Estavam todos bem agasalhados, bufando por causa do frio que atravessava a rua.
— Ainda falta quem chegar? — Aiko perguntou, curiosa.
— Kazuki… Yuki… Ashiro… e mais alguns? — Yumi respondeu, com a mão no queixo enquanto olhava para o céu.
O nome dela ecoou na minha cabeça. Yuki.
Meu olhar vagou por um instante na entrada, imaginando em como ela viria. E também… se ela gostaria do meu presente, ainda que fosse apenas um simples cachecol.
Akira tremeu os ombros, esfregando as mãos.
— Ei! Vamos logo entrar antes que eu congele aqui! — disse, e ninguém discordou.
A sala do karaokê era confortável e quente. Algumas poltronas vermelhas ao redor da mesa do centro, junto de uma TV enorme na parede. O calor suave do aquecedor se espalhava pela sala, sendo recebido com suspiros de alívio pela maioria de nós.
— Muito melhor… — Mina disse, tirando o casaco grosso.
Antes que todos nós sentássemos, Sora e Seiji já estavam na poltrona, folheando o cardápio, com os olhos correndo e analisando cada refeição do menu.
— Que tal esse pra ser o primeiro!? — Seiji perguntou, olhando de canto para Sora.
— …Não, não! Essa é a melhor pra começar! — respondeu de forma tímida, mas firme.
Enquanto isso, Akira mexia no controle, olhando o catálogo de músicas disponíveis. Alguns trocavam mensagens no celular, enquanto outros se ajeitavam nas cadeiras.
O barulho das conversas baixas preenchia a sala, até que a porta abriu levemente, fazendo com que Seiji e Sora quase saíssem do lugar.
— A comida! — disseram ambos ao mesmo tempo.
Mas para a surpresa deles… não era a comida.
Entraram algumas pessoas que restavam para o encontro. Kazuki entrou primeiro, com aquele sorriso confiante de sempre, Ashiro e outros logo atrás, e depois… ela. Yuki.
Desviei o olhar, apenas para ver Seiji e Sora completamente cabisbaixos… por serem eles e não a comida. Não consegui conter a pequena risada que escapou ao ver a cena.
— Foi mal pelo atraso — Kazuki ergueu a mão, dando um pequeno sorriso. — Que frio, não é? Bom que já estamos todos aqui.
Ele foi cumprimentando alguns, enquanto as pessoas restantes se sentavam nas poltronas. Foi então que… de repente, Yuki sentou bem ao meu lado.
Fiquei nervoso no mesmo instante, o coração acelerando levemente. Não por ela estar ali, mas pelo presente que estava escondido na sacola, debaixo da mesa. A mão agarrou a barra, apertando com força.
“Dou agora!?”
Não, não. Ainda não era a hora certa.
— Boa noite, Shin! — ela disse, com uma leveza que tirou qualquer nervosismo que eu tinha.
— … Boa noite, Yuki — respondi, a voz levemente mais baixa do que o normal.
Antes que eu pensasse em mais alguma coisa, Akira ergueu a voz:
— Chega de papo, vamos começar isso logo!
O microfone então foi jogado para a Aiko, que não perdeu tempo e já estava colocando a música na TV.
— Vou cantar essa aqui! Duvido alguém tirar uma nota maior que a minha!
A música começou. Era uma música… antiga e meio brega, mas Aiko não ligava pra isso. Ela fechou os olhos e cantou com vontade, fazendo com que metade da sala risse, mas logo todos começaram a bater palma e a cantar juntos.
Foi nesse meio tempo que a comida chegou, com pratos e bebidas sendo colocados no centro da mesa.
— Finalmente chegaram! — Os olhos de Seiji e Sora brilharam, e, antes da música da Aiko acabar, eles já haviam atacados os pratos.
— Comer rápido assim vai deixar vocês dois com dor de barriga… — Rintarou suspirou, balançando a cabeça, enquanto eu ria da situação.
Enquanto isso, a música de Aiko chegou ao fim. A tela perdeu o brilho por um segundo, exibindo a nota da canção. Para a surpresa dela, conseguiu oitenta e nove de cem.
— Oh! Essa foi alta! — Kazuki disse, surpreso. — Quem é o próximo agora?
— Eu escolho… você! Mai! — Aiko apontou o microfone para Mai, que arregalou os olhos na hora.
— E-eu!? Não… passa para outro… — ela tentou recusar, mas Akira e outros começaram a incentivar ela.
Todos começaram a bater palmas ao mesmo tempo, incentivando ela.
— Vai, Mai! Você consegue! — Mina ergueu um braço ao ar.
— Não tem como você escapar dessa! — Seiji completou, de boca cheia.
Ainda que estivesse completamente vermelha, ela ganhou coragem e escolheu uma música.
A introdução começou, lenta, e a tela logo mostrou a letra de uma música de um anime famoso.
Todos se entreolharam, surpresos.
E então… ela começou a cantar.
— Mesmo que este sentimento não chegue até você… ele ainda pinta meu mundo com o mesmo azul.
“Oh…”
Eu fiquei completamente surpreso. Não esperava aquilo dela, de verdade.
Digo, acho que ninguém esperava isso…
Ela tinha uma voz firme, afinada e também cheia de emoção. Era realmente incrível. Não demorou até que a turma entrasse no ritmo e cantasse junto.
E, sem perceber, eu comecei a cantar junto, mesmo que baixo. Meus dedos batendo de leve na mesa, acompanhando o ritmo da música.
Foi então que senti um olhar sobre mim. Olhei de canto, me deparando com Yuki que me observava com um leve sorriso.
— O que foi…? — perguntei, levemente nervoso com o olhar dela. — Tem algo no meu rosto?
Ela apoiou o queixo na mão, balançando a cabeça suavemente.
— Não, não. — ela disse, sorrindo levemente. — Só não imaginava que você conhecia essa música.

Cocei a nuca, um pouco envergonhado. Aquele sorriso… fazia meu coração acelerar.
— Bem, ela é famosa, não é…? — respondi, desviando o olhar. — E minha irmã costuma ouvir ela também…
Ela ergueu as sobrancelhas, levemente surpresa. Uma risada leve, que me hipnotizou, escapou, enquanto ela cobria a boca com as mãos.
— Entendi. Kaito também costumava colocar ela no carro.
Por um instante, imaginei a cena deles dois. E logo, também ri sem nem perceber. Nossos olhares se encontraram de novo, e algo no peito ficou leve… e quente.
Enquanto isso, Mai continuava a cantar ao fundo, acompanhado de risos, vozes e tudo misturado. Tudo criava aquele… caos caloroso e único.
Mas para mim, só existia aquele momento.
O sorriso dela.
E a lembrança do presente esperando bem no fundo da sacola.

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