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    Então, a sala foi ficando mais quieta. A tela da TV começou a mudar, e a música começou a tocar.

    Segurei o microfone com as duas mãos, firme, e engoli em seco.

    — Na… noite, me escondo em um pequeno guarda-chuva… — comecei a cantar… mas minha voz saiu mais alta do que pretendia. 

    Logo minhas mãos começaram a tremer de leve, e o microfone ficou mais quente. O coração batia tão rápido, que era quase como se estivesse acompanhando o ritmo da música.

    E, ali de pé, não conseguia parar de pensar em como fui parar naquela situação.

    Mas… era estranho.

    Muito estranho.

    Era como se apenas minha voz ecoasse pela sala.

    Ninguém estava cantando junto?

    Tentei desviar um pouco o olhar da tela, indo de encontro com alguns rostos. Alguns olhavam para mim, em completo silêncio e olhos arregalados. 

    “Hã?”

    Aquela reação… eles estavam surpresos por eu cantar melhor do que eles imaginavam!?

    Não, não.

    Minha voz não parecia estar no tom certo, mas e se eles realmente estivessem impressionados?

    “Talvez eu nem seja assim tão ruim”

    Ao pensar nisso, um pequeno sorriso surgiu no canto do meu rosto, enquanto comecei a cantar com mais vontade.

    — Mesmo aquelas nuvens de verão… — continuei, um pouco mais solto.

    …Até que ouvi aquilo.

    — Pffft.

    Eh?

    Aquilo era alguém rindo? Não lembrava de ter algo engraçado na letra.

    Quando virei o rosto… me deparei com Seiji. Ele estava com a mão na boca, as bochechas infladas como se fossem explodir a qualquer segundo, o corpo levemente tremendo… até que ele não segurou mais.

    — Isso é incrível! — Ele explodiu na risada.

    Eu fiquei paralisado.

    O microfone quase escorregou da minha mão quando ouvi aquele som… o som da sala toda rindo junta.

    De mim.

    — Ei! — resmunguei, olhando para o rosto de cada um. 

    Rintarou olhava para baixo, cobrindo o rosto. Aiko limpava as lágrimas com a manga da camisa. Akira e Seiji riam descontroladamente

    E ela…

    Yuki…

    Quando olhei para ela, vendo se também estava rindo, ela virou o rosto imediatamente, colocando a mão na cara.

    — É sério…? — murmurei baixo.

    Então… todo aquele tempo, eu estava cantando horrivelmente? 

    “Que vergonha!”

    — Por que parou!? Continua! — Kazuki disse, com aquele sorriso no rosto.

    — Isso é realmente incrível… — Aiko terminou de enxugar as lágrimas. — Achei que você só fosse desafinado, mas é bem pior do que eu imaginava!

    — E-ei! Qual é! Nem é tão ruim assim! — respondi rapidamente sem pensar, enquanto a música ainda tocava ao fundo.

    Eu não era o melhor cantor ou assim, mas não tinha como ser tão ruim como ela dizia…

    …Certo?

    — Continua cantando, Shin! — Takeshi disse, com as mãos ao redor da boca. — Quero ver seu placar!

    Eu realmente não conseguia acreditar nisso.

    As palmas começaram a surgir novamente, enquanto algumas risadas ainda ecoavam na sala. Peguei o microfone, e, numa mistura de vergonha e raiva, cantei até a última nota da música.

    Assim que a música terminou, pousei o microfone e não perdi tempo. Abri a porta da sala, junto da sacola que peguei por algum motivo, sendo recebido por um vento fresco que entrou ali.

    Seria ainda mais vergonhoso eu ver minha nota e ouvir mais risadas…

    Do lado de fora, respirei fundo, o leve frio entrando pelas narinas. O suor na testa ia descendo, enquanto senti um leve arrepio ao lembrar do que havia acabado de acontecer.

    — Que desastre… 

    Me encostei na parede fria e fiquei ali por alguns instantes. Talvez ainda tentando recuperar a dignidade perdida, se é que ainda restava alguma. Após algum tempo, olhei pelo corredor, e decidi ir até a máquina de vendas no final do corredor.

    Talvez uma bebida quente pudesse apagar aquela memória vergonhosa. 

    Mesmo que fosse embaraçoso.

    Anda assim… era bom.

    Ver o sorriso no rosto de todos da turma… fez um pequeno sorriso surgir no meu rosto.

    …Mesmo que eles não estivessem rindo comigo, mas sim de mim.

    — Quente… quente…? — murmurava, analisando cada opção da máquina, enquanto esses pensamentos passavam pela minha mente.

    Foi então que ouvi passos no corredor. Virei a cabeça lentamente, ainda pensando em algo quente para beber, quando meu olhar se prendeu nela.

    — Yuki? — falei, quase sussurrando, vendo ela olhar ao redor e depois para mim.

    Ela então me viu, e um pequeno sorriso surgiu no rosto dela.

    “Ah, droga. Ela também me viu cantando…”

    — Shin! Te achei! — ela se aproximou. — Vim te procurar. Seiji perguntou onde você estava, já que estava demorando.

    — Eu já estava prestes a voltar pra sala, só ia pegar algo quente pra beber — respondi, meio tímido, voltando o olhar para a máquina de vendas.

    Ela se aproximou mais, também olhando para as opções na máquina.

    — Entendi! Você tinha saído rápido da sala, então achei que poderia estar com algum problema. — ela começou. — …Mas não sabia que você também cantava assim.

    Meu corpo enrijeceu.

    — Esqueça isso, por favor! — respondi, completamente envergonhado e com a cara queimando. — Foi um desastre completo…

    Eu olhei para ela, que colocou a mão na boca e riu timidamente.

    — Desculpa, desculpa. Mas para ser sincera, eu também não canto bem. — Ela colocou as mãos atrás das costas. — Então na próxima vez, posso… cantar junto. Para te ajudar.

    Meu coração errou uma batida naquele momento. E o frio, que antes sentia, logo foi embora.

    — Sim, sim… — respondi, coçando a nuca, enquanto ela ria baixinho. — Não precisa continuar me provocando…

    Então, enquanto olhava meu reflexo no vidro da máquina de vendas, me dei conta da situação. 

    Eu estava sozinho com Yuki no corredor.

    Era a hora de entregar o presente para ela. 

    — Vamos voltar para a sala? — ela disse, já se virando.

    — Espera um pouco. — assim que falei isso, ela parou e olhou para mim.

    Minhas mãos começaram a suar um pouco, e senti meu rosto ficando um pouco quente. Peguei a sacola, e estendi a mão. 

    — Eu… comprei isso pra você. — disse, timidamente, desviando o olhar. — É simples, mas espero que goste.

    Um silêncio se instalou pelo corredor ali. Virei-me na direção dela, vendo seus olhos… arregalados, completamente surpresa. O rosto ficou levemente vermelho, e vi um pequeno sorriso tímido surgir ali.

    — P-pra mim…? — ela perguntou, com a voz baixa.

    Eu não consegui encarar ela por muito tempo, então apenas desviei o olhar novamente e assenti.

    “Por favor, goste… por favor…”

    Yuki pegou a sacola, abriu e olhou o presente. Ela então deixou o saco de lado e pegou o cachecol, tocando suavemente no tecido dele. 

    Ela ficou em silêncio por um momento, e então pressionou o presente contra o peito.

    — O-obrigada! — sua voz saiu suave, tímida. — Eu vou usar!

    E, antes que pudesse responder, ou sequer pensar em algo, ela enrolou o cachecol no pescoço. 

    “Mas já!?”

    — Hã? Você já vai usar…? — soltei, meio surpreso.

    Ela riu baixinho, cobrindo a boca com o tecido do cachecol.

    — É que eu estava com um pouco de frio, esse corredor é gelado. — ela disse, suavemente. — E também combinou com a minha roupa…

    Meu rosto queimou de vergonha, e meu peito se encheu de calor naquele exato instante.

    — Entendi… — respondi, coçando a orelha.

    Começamos a caminhar juntos indo para a sala, enquanto ouvíamos vozes vindo de outras salas do karaokê. 

    O meu rosto ainda estava quente, e o leve frio do corredor parecia ter sumido completamente.

    Pelo menos da minha parte.

    Olhei de canto para Yuki, vendo o cachecol que estava firmemente enrolado no pescoço dela. 

    Ela andava em silêncio, mas o pequeno sorriso tímido em seu rosto dizia tudo.

    Era perfeito.

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