Capítulo 45: Desencontros
No clube, a atmosfera era a mesma de sempre, um equilíbrio entre o caos produtivo e a descontração típica.
Takumi estava concentrado, empilhando papéis com a precisão de quem parecia estar catalogando um arquivo inteiro. Mai gesticulava animadamente enquanto explicava algo a Rintarou, que ouvia com sua calma habitual. Kaori, por outro lado, estava afundada em uma pilha de livros ao lado de Taro, que, como sempre, dormia profundamente, imune a toda a agitação ao redor.
Me sentei à mesa, com o papel da minha história nas mãos, o texto rabiscado me encarando como se esperasse respostas que eu ainda não tinha. Suspirei, o peso no peito aumentando a cada segundo.
O pesadelo daquela manhã voltou à minha mente sem aviso, como um eco que eu não conseguia silenciar. A figura de Ryuuji, o olhar vazio dos meus amigos, e a sensação esmagadora de fracasso pareciam ainda tão reais que meu corpo reagiu sem que eu percebesse.
Meus dedos apertaram o lápis com força, e ele começou a bater na mesa em um ritmo irregular, rápido e nervoso. O som ecoava no ambiente tranquilo do clube, cada batida parecendo amplificar a ansiedade que se acumulava dentro de mim.
Meu pé balançava incessantemente, como se tentasse liberar a energia acumulada, mas isso só tornava a tensão mais evidente.
Era como se tudo estivesse me pressionando ao mesmo tempo: o prazo, a expectativa dos outros, e a minha própria incapacidade de decidir o final da história. Cada palavra que tinha escrito até o momento parecia boa… mas ainda não era o suficiente.
Enquanto olhava para o papel diante de mim, tentando ignorar a crescente opressão, senti os olhos de alguém pousarem em mim. O silêncio em volta começou a pesar, até que a voz de Kaori cortou o ar, suave, mas preocupada.
— Shin, tá tudo bem? — Kaori perguntou, aproximando-se com o mesmo tom de sempre, mas com uma preocupação evidente nos olhos.
Eu não olhei para ela imediatamente. Meu pé continuava balançando, o lápis rodando entre os dedos como se fosse a única coisa que eu ainda tinha controle.
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— É o concurso… — murmurei, minha voz carregada de tensão. — Tô ficando cada vez mais nervoso. Não consigo decidir o final da história. Não consigo pensar em nada que faça sentido.
Kaori se sentou ao meu lado, sua expressão suavizando enquanto ela inclinava levemente a cabeça.
— Ainda tem tempo. Você só precisa relaxar um pouco. Às vezes, isso ajuda mais do que ficar forçando — disse ela, com aquele tom encorajador que normalmente funcionava comigo.
Mas naquele momento, as palavras dela soaram como algo distante, inalcançável.
— Relaxar? — repeti, minha voz saindo mais alta do que pretendia.
Ela recuou levemente, surpresa, mas ainda tentou manter a calma.
— É, Shin. Talvez se você parar de pensar tanto nisso, as ideias vão aparecer naturalmente!
Aquilo foi como o estopim. As palavras ecoaram na minha mente, misturando-se à minha frustração crescente.
— Você acha que é tão fácil assim, não acha? — Minha voz subiu mais, e senti o olhar de todos no clube se voltarem para mim.
Kaori franziu as sobrancelhas, ainda tentando entender o que estava acontecendo.
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— Eu só tô dizendo que…
— Que eu preciso relaxar?! — interrompi, minha frustração finalmente transbordando. — Você não faz ideia de como é isso! É o meu nome que tá em jogo. A minha história! E se eu falhar?! Você acha que tudo vai continuar bem, só porque “ainda tem tempo”?
Ela abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada. A surpresa no rosto dela só aumentava minha sensação de culpa, mas naquele momento, eu não conseguia parar.
— Você sempre tá sorrindo, sempre brincando como se nada fosse sério. Mas nem tudo é só diversão, Kaori! — Minha voz tremia, e eu sabia que estava cruzando uma linha, mas as palavras continuavam saindo. — Você não entende nada do que eu tô passando!
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.
Kaori me olhou por alguns segundos, seu rosto antes cheio de luz agora parecia desarmado, como se ela não conseguisse acreditar no que acabara de ouvir.
— Shin, eu… — A voz dela saiu baixa, quase um sussurro. Ela desviou o olhar, pegou suas coisas rapidamente e se levantou. — Desculpa. Eu só… eu só tava tentando ajudar. Desculpa.
Antes que eu pudesse reagir, ela saiu da sala.
O clube permaneceu em silêncio. Mai, Takumi e Rintarou trocaram olhares nervosos, mas ninguém disse nada. Taro, até então adormecido, agora estava sentado, olhando para mim com uma expressão confusa.
Eu me sentei lentamente, o calor da raiva ainda pulsando nas veias, mas já começava a ser substituído por algo muito pior.
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— O que eu tô fazendo? — murmurei para mim mesmo, apoiando a cabeça nas mãos.
O peso do que tinha acabado de acontecer caiu sobre mim como uma avalanche. Kaori, sempre tão positiva, sempre ao meu lado, tinha saído, magoada pelas minhas próprias palavras.
Suspirei, tentando ignorar o olhar dos outros.
— Shin… — começou Takumi, mas levantei-me antes que ele pudesse terminar.
— Eu… preciso sair.
Peguei minha mochila e saí correndo, o coração pesado como se cada passo nos corredores estivesse me puxando para baixo. A culpa queimava em minha mente enquanto a cena do que eu tinha feito repetia sem parar: as palavras que eu nunca deveria ter dito, o olhar ferido de Kaori, a maneira como ela saiu correndo sem olhar para trás.
Passei o resto do dia procurando por ela, tentando consertar o estrago que eu mesmo havia causado.
Fui até a sala dela, o estômago revirando de ansiedade enquanto perguntava às amigas se ela estava por lá. As respostas foram todas negativas, acompanhadas de olhares curiosos ou preocupados.
— Ela saiu mais cedo. Não disse pra onde ia — disse uma delas, enquanto eu assentia em silêncio, sentindo o peso da frustração crescer.
Corri até o pátio, minhas pernas já começando a fraquejar, mas a cada esquina, a cada corredor vazio, a esperança ia se dissipando.
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De repente, uma figura de costas chamou minha atenção, e meu corpo congelou por um instante. A postura, a maneira como andava, tudo parecia certo. Meu coração disparou, e uma onda de esperança quase desesperada tomou conta de mim.
— Kaori! Espera! — chamei, a voz saindo mais alta do que pretendia, carregada de urgência.
Apressei os passos, tentando alcançá-la, mas algo começou a parecer errado. O ritmo do andar, o jeito como os ombros dela se moviam… Não era o mesmo. Mesmo assim, eu me recusei a parar, agarrando-me àquela possibilidade.
Mas quando a figura virou levemente o rosto, a realidade caiu sobre mim como uma pedra. Não era Kaori. Não era nem alguém remotamente parecido com ela. Apenas outra aluna, que agora me olhava com uma expressão confusa, talvez até um pouco assustada.
— Ah… desculpa. Confundi você com outra pessoa — murmurei, desviando o olhar e recuando apressadamente.
A onda de esperança que antes me sustentava evaporou no ar, dando lugar a uma sensação ainda mais pesada de frustração. Minhas mãos estavam suadas, e o nó no estômago parecia apertar mais a cada passo que dava.
Eu estava perdido, buscando respostas que não estavam ali.
Quando o sinal finalmente tocou, indicando o fim das aulas, o som parecia um lembrete cruel de que meu tempo havia acabado.
Caminhei para casa devagar, com o peso no peito transformado em algo quase insuportável.
Ao chegar, meu olhar foi direto para a casa ao lado, onde Kaori morava. Por um momento, fiquei parado na frente da porta, a mão hesitando a centímetros da campainha.
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— E se ela nem quiser me ver agora? — murmurei para mim mesmo, tentando reunir coragem.
Toquei a campainha, mas ninguém respondeu. Esperei, insisti uma segunda vez, mas a única coisa que recebi foi o silêncio.
Suspirei fundo, e a frustração transbordou. Senti a necessidade de fazer algo, de dizer algo a ela… mas agora parecia tarde demais.
Por que eu fiz aquilo? Por que eu perdi o controle com ela, logo com ela?
Subi para o meu quarto, e o ambiente que antes era meu refúgio agora parecia estranho, vazio. O cheiro familiar de papel e tinta, a mesa cheia de anotações da minha história, tudo parecia distante, como se pertencesse a outra pessoa.
Sentei-me na cama e fechei os olhos, tentando organizar os pensamentos, mas a culpa não dava trégua.
As palavras de Kaori ecoavam em minha mente, junto com minha resposta áspera. Eu sabia que ela só queria ajudar, e mesmo assim…
Me joguei para trás, encarando o teto como se pudesse encontrar uma resposta ali. Mas tudo o que sentia era um nó apertado na garganta, uma sensação de arrependimento que parecia crescer mais a cada segundo.
Eu precisava resolver isso. Eu precisava me desculpar, de verdade, e mostrar a ela que eu não queria dizer aquilo.
Mas, naquele momento, tudo o que consegui fazer foi ficar ali, imóvel, consumido pela frustração e pela culpa, perguntando-me como poderia ter deixado as coisas chegarem naquele ponto.
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