Capítulo 56: Promessas e Avanços
Quando terminei de comer, Yuki pegou o prato vazio e o colocou de lado, entregando-me um copo de água em seguida. Segurei-o com cuidado e tomei alguns goles, sentindo a garganta finalmente aliviar.
Era como se, pela primeira vez naquele dia, meu corpo estivesse começando a relaxar de verdade.
Digo, não tinha como relaxar direito com… Yuki por ali.
Coloquei o copo de volta na mesinha de centro, e o silêncio que se seguiu parecia confortável, mas também me fez sentir a necessidade de dizer algo. Olhei para Yuki, que ajeitava a toalha na bacia de água ao lado, parecendo focada no gesto.
— Então… sobre sua prova de atletismo. Tá tudo indo bem? — perguntei, quebrando o silêncio.
Ela parou por um momento, como se precisasse reunir os pensamentos, antes de assentir devagar.
— Tá, sim… — respondeu, mas havia uma hesitação na voz dela. — Só que, conforme o dia se aproxima, eu fico cada vez mais nervosa. É muito importante pra mim… mais do que qualquer coisa…
Havia algo na maneira como ela disse isso que me fez perceber o quanto aquilo significava. Não era apenas uma competição para ela. Era algo como… um marco, ou assim.
— Vai dar tudo certo. — Tentei soar confiante, esperando que isso a tranquilizasse um pouco. — Você sempre dá o melhor de si. É impossível não acreditar que você vai se sair bem.
Um sorriso suave surgiu em seus lábios, e por um momento parecia que ela queria dizer algo mais, mas acabou mudando de assunto.
— E o seu concurso? Como foi?
A pergunta me pegou de surpresa, e, de repente, era minha vez de hesitar. Ainda não estava totalmente acostumado com a ideia de ter vencido.
— Ah… — murmurei, coçando a nuca. — Eu… ganhei.
Os olhos de Yuki se arregalaram, e sua expressão mudou para uma mistura de surpresa e empolgação.
— Sério?! Isso é incrível, Shin! — disse ela, o tom de voz animado era quase contagiante, mas minha febre não deixava isso acontecer. — Parabéns! Eu sabia que você tinha uma chance enorme, mas… ganhar mesmo? É demais!
— Obrigado. — Um sorriso tímido escapou enquanto eu desviava o olhar. — Mas confesso que estava tão nervoso que quase não consegui subir no palco…
Ela riu suavemente, o som leve e reconfortante.
— Imagino como deve ter sido. Mas, de qualquer forma, você conseguiu. Isso é o que importa. — Ela inclinou a cabeça ligeiramente, o sorriso ainda nos lábios. — Bom, você cumpriu sua parte da promessa. Agora só falta eu cumprir a minha.
— Quando vai ser? — perguntei, curioso.
— Poucos dias depois das provas finais. — A resposta dela veio rápida, mas havia uma leve tensão no tom.
— Hm, entendi. Então posso ir torcer por você? — sugeri, tentando manter o tom casual.
Ela congelou por um momento, os olhos arregalando-se ligeiramente antes de piscar algumas vezes.
Foi claro que a pergunta a pegou desprevenida.
— Ah… — A voz dela saiu confusa, e ela gaguejou, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas, enquanto tocava numa mecha de seu cabelo. — Não sei… Se você estiver lá, talvez eu… acabe me distraindo…
“Distraíndo? Como assim?”
Fiquei em silêncio, esperando a continuação, sem querer pressioná-la. Depois de um instante, ela respirou fundo e tentou recuperar a compostura.
— Mas… se você realmente quiser ir, eu acho que não me importo.
Um sorriso cresceu no meu rosto. Havia algo adorável na maneira como ela dizia isso, tentando parecer casual, mas falhando ligeiramente.
— Então eu vou! Pode contar com isso!
Os olhos dela brilharam por um momento, mas Yuki rapidamente desviou o olhar, como se estivesse tentando esconder algo. Ainda assim, não pude deixar de notar a cor vermelha que subia por suas bochechas enquanto ela dava um pequeno sorriso.
— Obrigada… — murmurou, quase inaudível, enquanto mexia distraidamente na toalha na bacia de água ao lado.
O momento parecia íntimo, de uma forma inesperada,.
Depois de terminarmos a conversa, Yuki recolheu o prato vazio e levou até a cozinha. O som da torneira sendo aberta ecoou pela sala, enquanto eu observava suas costas na entrada da cozinha.
— Desculpa, de novo, por te fazer cuidar de tudo… — murmurei, ainda meio envergonhado.
Ela virou o rosto para me encarar por cima do ombro, com um sorriso tranquilo.
— Não foi nada, Shin. É só um mingau e um copo de água. Não precisa se preocupar.
Houve um breve momento de silêncio antes de um som inesperado quebrar o ar. A chave girando na fechadura chamou nossa atenção ao mesmo tempo. A porta da frente se abriu, e minha mãe e Hana entraram juntas, carregando sacolas de compras. Minha mãe lançou um olhar preocupado para mim.
— Shin, você está… — começou, mas parou abruptamente ao ver Yuki na cozinha.
Hana, por outro lado, abriu um sorriso malicioso que me fez querer me esconder debaixo do sofá que eu estava.
— Oh, quem é ela? — perguntou ela, com um tom cheio de implicância e curiosidade misturadas.
Yuki rapidamente enxugou as mãos em um pano de prato e deu alguns passos para a sala, inclinando levemente a cabeça em cumprimento.
— Ah… meu nome é Yuki. — A voz dela era suave, mas havia um toque de timidez. — Eu vim trazer alguns materiais de estudo que o nosso professor entregou, mas… Shin não estava bem, então fiquei para ajudar um pouco.
Minha mãe trocou um olhar com Hana antes de sorrir calorosamente para Yuki.
— Muito obrigada, Yuki. Você foi um anjo em cuidar dele. Isso significa muito pra mim.
— Não foi nada… — respondeu ela, encolhendo os ombros enquanto desviava o olhar, visivelmente desconfortável com a atenção.
Yuki começou a pegar as suas coisas para ir embora, mas minha mãe a interrompeu.
— Ah, tem certeza de que não quer ficar para o jantar? — Minha mãe perguntou, com um tom acolhedor que não deixava dúvidas de que o convite era genuíno.
— Ah, não, obrigada! — Yuki balançou as mãos na frente do corpo. — Eu já estava de saída mesmo…
Mesmo ainda fraco, me levantei com cuidado e a acompanhei até a porta, ignorando o olhar atento e curioso de Hana, que claramente se divertia com a situação.
Quando chegamos à porta, Yuki virou-se para mim com um sorriso leve, mas um pouco hesitante, como se estivesse ponderando algo.
— Obrigado… por tudo, de verdade — murmurei, sentindo as palavras saírem com mais peso do que eu esperava.
Ela pareceu absorver aquilo por um instante antes de responder.
— Não tem problema! — começou, com um leve tom de hesitação. — Sabe, Shin… se quiser, podemos estudar juntos para as provas finais. Como fizemos na biblioteca, lembra?
Fiquei surpreso por um momento, mas rapidamente assenti, tentando não demonstrar o quanto aquilo significava para mim.
— Sim… claro! Eu adoraria!
Yuki sorriu de forma genuína, o tipo de sorriso que parecia iluminar tudo ao redor.
— Então combinado! Eu aviso quando estiver livre.
Ela deu um último aceno e começou a caminhar pela rua. Fiquei parado na porta, observando-a desaparecer na distância, enquanto uma brisa fresca balançava levemente as árvores ao longo da calçada.
Eu ainda estava fraco, mas havia algo dentro de mim, uma leveza, uma sensação de calor reconfortante, que me fez sentir melhor do que qualquer medicamento seria capaz.
Deixei escapar um pequeno sorriso, fechando a porta com cuidado antes de me apoiar contra ela por um instante. Voltei ao sofá com passos lentos, mas minha mente não estava mais presa na febre ou no cansaço.
Eu me sentia diferente… melhor.
Deitado ali, olhando para o teto da sala, não pude deixar de pensar na gentileza dela, na maneira como ela cuidou de mim sem hesitar. Tudo parecia tão simples para ela, mas, para mim, foi… especial.
— Heh…? Uma garota, Shin? — Hana interrompeu meus pensamentos.
“Que irritante…”, pensei, tentando ignorar ela.
Um pensamento me atravessou de forma inesperada, como se fosse óbvio e inevitável:
“Ela é incrível.”
Fechei os olhos, permitindo que a sensação de calma me envolvesse. Por mais estranho que fosse, pela primeira vez naquele dia, senti que o mundo estava exatamente no lugar certo.
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