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    O silêncio do quarto tinha sido quebrado antes mesmo do despertador tocar. Abri os olhos devagar, sentindo o coração bater um pouco mais rápido que o normal. O teto acima de mim ainda não estava totalmente clareado, mas eu já não conseguia voltar a dormir.

    Algo pesava no meu peito, apertando como um lembrete incômodo.

    O dia das provas finais tinha finalmente chegado.

    Soltei um longo suspiro, ligando o celular para checar o horário. Ainda faltavam alguns minutos para o alarme tocar, mas ficar deitado ali, esperando, só fazia minha ansiedade crescer.

    Eu tinha estudado. Muito. Mais do que em qualquer outra época de provas. Cada fórmula, cada data histórica, cada regra gramatical tinha sido revisada várias vezes.

    Mas… será que isso seria o suficiente?

    Sacudi a cabeça, afastando os pensamentos antes que começassem a me consumir. O melhor que eu podia fazer era me manter focado.

    Levantei e fui direto para o banheiro, lavando a cara com a água fria, que ajudava a tirar um pouco da tensão sob meus ombros.

    Depois de colocar o uniforme, desci até a cozinha, onde minha mãe já estava acordada, organizando algumas coisas no balcão, enquanto Hana mastigava distraidamente uma fatia de pão com manteiga. Ela ergueu o olhar assim que me viu.

    — Bom dia, Shin. Nervoso para as provas?

    — Só um pouquinho — respondi, pegando uma torrada e me servindo de café.

    — Tenho certeza de que você vai se sair bem — ela disse com um sorriso encorajador. — Você se dedicou bastante.

    Assenti, mas não consegui responder de imediato. A verdade era que, mesmo depois de todo o esforço, uma parte de mim ainda sentia que poderia ter feito um pouco mais.

    Depois de terminar o café da manhã, peguei minha mochila e saí para a rua. O ar fresco da manhã ajudou a me despertar um pouco mais, mas o aperto no estômago continuava.

    Seiji e Rintarou já estavam do lado de fora, esperando por mim.

    — Finalmente! Achei que ia ter que te arrastar da cama hoje. — Seiji brincou assim que me viu, os braços cruzados atrás da cabeça, um sorriso mais largo do que o normal para alguém que estava prestes a encarar um dia de provas.

    — Bom dia, Shin. — Rintarou cumprimentou com a calma habitual.

    — Bom dia… — respondi, ainda franzindo a testa para Seiji. — E por que você tá tão animado?

    Ele soltou um suspiro exagerado, como se minha pergunta fosse óbvia.

    — Isso é simples! Decidi ignorar completamente que hoje tem prova. Só vou pensar no Festival Escolar e ser feliz.

    Fiquei olhando para ele por um segundo antes de rir baixo.

    — Então sua estratégia é fingir que as provas não existem?

    — Exatamente! Eu sou um gênio, pode falar!

    Antes que eu pudesse responder, uma voz familiar soou atrás de nós.

    — Seiji… você tem certeza que quer ignorar as provas? Porque, se for mal, vai acabar na recuperação… e adeus Festival Escolar.

    Kaori apareceu ao nosso lado com um sorriso provocador, os olhos brilhando de diversão.

    Seiji congelou no mesmo instante. O sorriso sumiu do rosto dele, e ele ficou pálido como se tivesse acabado de receber uma sentença de morte. Mas talvez realmente fosse.

    — …Recuperação?! — Ele piscou várias vezes, assimilando as palavras. Então, de repente, agarrou os ombros de Rintarou e começou a sacudi-lo com desespero. — Rintarou! Me ajuda! Eu não posso perder o Festival!

    Rintarou soltou um suspiro profundo, como se já esperasse algo assim desde o momento em que saiu de casa.

    — Seiji… a gente já tá no caminho da escola. O máximo que você pode fazer agora é tentar lembrar do que estudamos.

    Seiji afastou-se, colocando as mãos na cabeça.

    — Você fala como se fosse fácil…

    — Quem mandou perder tempo reclamando em vez de focar? — Kaori continuou a sua provocação, cutucando o braço dele.

    Seiji soltou um suspiro dramático.

    — Eu devia ter decorado mais história… espera, o que foi mesmo que aconteceu na Revolução de…

    — Anda logo, Seiji — respondi, rindo.

    Ele ainda murmurava fórmulas baixinho, tentando absorver alguma coisa no último segundo enquanto seguíamos o nosso caminho até a escola.

    Conforme nos aproximávamos da entrada da escola, ficava cada vez mais claro que ninguém ali estava pensando no Festival Escolar. A energia no ar era completamente diferente da dos últimos dias — nada de empolgação ou conversas animadas sobre o evento. Em vez disso, o nervosismo pairava sobre os alunos como uma sombra inevitável.

    Grupos espalhados pelo pátio murmuravam entre si, repassando fórmulas de última hora ou tentando relembrar explicações dos professores. Alguns seguravam cadernos e folheavam páginas rapidamente, enquanto outros apenas encaravam o vazio, já aceitando o seu destino.

    — Bem, vou indo. Boa sorte pra vocês. — Kaori se despediu, acenando antes de se afastar para sua sala.

    — Você também. — Rintarou respondeu, enquanto Seiji apenas suspirava pesadamente ao lado.

    Enquanto subíamos as escadas, nos misturando ao fluxo de alunos que caminhavam pelos corredores, Akira apareceu do nada, praticamente deslizando ao nosso lado.

    — Ei, rapidinho! — Ele disse apressado, olhando para nós com urgência. — Qual era mesmo a fórmula de matemática que o professor explicou na última aula?

    Seiji, do jeito mais confiante possível, levantou o peito deu um tapinha nas costas de Akira.

    — Qual é, Akira! Essa é tão fácil que até eu sei.

    — Ah, é? Então fala aí.

    — Claro! É aquela fórmula da base que divide pela área e depois…

    — Não é assim. — Rintarou interrompeu, sem nem precisar olhar para ele.

    Seiji travou no mesmo instante.

    — Hã?! Mas eu tenho certeza de que é assim!

    — É base maior multiplicado pela menor vezes a altura, tudo sobre dois.

    Um silêncio pairou por um segundo, antes de Akira soltar um riso curto e dar um tapinha no ombro de Seiji.

    — Valeu pela tentativa. Ainda bem que o Rintarou tava aqui.

    E então ele se afastou rapidamente, indo perguntar a outra pessoa mais alguma coisa de última hora. Seiji ficou parado no meio do corredor, piscando lentamente, como se toda sua confiança tivesse acabado de evaporar no ar.

    — Eu tô ferrado…

    Rintarou ajeitou os óculos e balançou a cabeça com um suspiro.

    — Você já devia saber que sua intuição não é confiável.

    Antes que Seiji pudesse protestar, o som alto do sinal ecoou pelos corredores, cortando qualquer outra conversa.

    O momento havia chegado.

    Entramos na sala, e o ambiente estava carregado de um silêncio tenso. O professor já estava à frente, empilhando as folhas de prova com calma cuidadosa. O som do giz riscando o quadro preencheu o espaço enquanto ele escrevia a duração da prova e as próximas matérias do dia.

    — Leiam bem cada pergunta antes de responder. — Sua voz ecoou pelo ambiente, sem pressa, mas carregada de autoridade. — E boa sorte.

    O barulho seco do papel sendo colocado sobre minha mesa fez meu coração disparar um pouco mais rápido.

    Respirei fundo.

    Passei os olhos rapidamente pelas questões antes de começar. Primeiro, uma leitura superficial. Algumas eram familiares, os exercícios que resolvemos juntos na lanchonete ou as explicações de Yuki na biblioteca. Outras exigiam mais esforço, me forçando a procurar na memória as anotações rabiscadas nos cadernos.

    Peguei o lápis e comecei a responder. Aos poucos, as palavras fluíam para a folha. Um cálculo aqui, uma resposta desenvolvida ali.

    O tempo parecia correr de forma estranha — uma hora era rápido demais, outra era dolorosamente devagar.

    Olhei ao redor. Seiji estava completamente concentrado, algo raro de se ver. Seus olhos corriam pela folha de prova, e ele mordia a ponta do lápis, claramente tentando lembrar de alguma resposta para as perguntas.

    Outros alunos seguravam as canetas com força, alguns franzindo a testa, enquanto um ou outro já rabiscava as respostas com confiança.

    Quando estava prestes a passar para a última folha da prova, a voz do professor cortou o silêncio.

    — Faltam cinco minutos!

    Senti uma leve onda de adrenalina.

    Revisei as respostas rapidamente, ajustando pequenos detalhes aqui e ali, garantindo que cada número e explicação estivessem no lugar certo.

    Então, o sinal tocou.

    O som coletivo de canetas e lápis sendo largados ecoou pela sala. Alguns alunos suspiraram de alívio, outros afundaram na cadeira, claramente derrotados.

    O professor começou a recolher as provas fila por fila, e conforme entregávamos as folhas, os primeiros murmúrios começaram a preencher a sala novamente.

    Seiji saiu junto comigo e praticamente se jogou contra a parede do corredor, soltando um gemido exagerado.

    — Minha alma saiu do corpo naquela pergunta…

    Rintarou passou ao nosso lado, e Seiji o agarrou pelo ombro.

    — Rin! Naquela pergunta sobre forças, o que você colocou?

    Rintarou ajeitou os óculos, respondendo com a tranquilidade de quem sabia exatamente o que estava fazendo.

    — A resposta C.

    Seiji piscou lentamente, o pânico crescendo em seu rosto.

    — O quê!? Tá falando sério?! Eu coloquei A… — Ele passou a mão no rosto com força.

    — Bom… pelo menos tivemos várias questões que estudamos na lanchonete. — Rintarou disse, tentando soar reconfortante. — Você deve ter acertado uma boa parte.

    Seiji suspirou, ainda um pouco abatido, mas assentiu.

    — É… tinha umas lá que eram exatamente iguais. Boa, Rintarou!

    Antes que pudessem continuar, o som do sinal tocou pelos corredores novamente, indicando o fim do intervalo.

    — E lá vamos nós… — murmurei.

    — Mas já!? A gente acabou de sair! Fala sério, tão torturando a gente… — Seiji suspirou.

    Com um suspiro coletivo entre os alunos no corredor, seguimos para as respetivas salas. O dia de provas ainda não tinha terminado.

    Assim que recebi a prova de ciências, uma das perguntas me chamou a atenção.

    Fiquei olhando para ela por um instante antes de um pequeno estalo de reconhecimento surgir na minha mente. Era idêntica a uma questão que Yuki me perguntou na biblioteca no dia anterior.

    Um sorriso discreto surgiu nos meus lábios enquanto pegava o lápis e repetia os passos que ela havia me ensinado, lembrando da paciência e clareza com que explicou cada detalhe.

    A prova seguiu, e o tempo, que antes parecia se arrastar, passou voando sem que eu percebesse.

    Quando o professor anunciou os cinco minutos finais, uma última onda de tensão percorreu a sala. Ajustei os últimos detalhes, revisando cada resposta, verificando cada conta, garantindo que não havia deixado nada em branco.

    Então, o último sinal tocou.

    Por um segundo, houve um silêncio absoluto.

    E então, como se alguém tivesse apertado um botão invisível, um murmúrio de alívio percorreu a sala. Suspiros, sussurros animados, algumas cabeças caindo sobre as mesas, exaustas.

    Seiji se espreguiçou exageradamente, jogando os braços para trás como se tivesse escapado de alguma situação terrível.

    — Ah, finalmente! Eu sobrevivi!

    Rintarou guardava seu material calmamente, enquanto eu terminava de fechar minha mochila.

    Saímos para o corredor, onde encontramos Kaori, Akira e Takeshi já reunidos conversando.

    — Então, como foram as provas? — Akira perguntou, ajeitando a mochila no ombro.

    — Até que tinha umas perguntas bem fáceis. As explicações do Rintarou e do Shin realmente ajudaram! — Kaori respondeu, enquanto cutucava o meu braço.

    — Eu só quero apagar isso da minha memória e seguir em frente… — murmurou Takeshi, parecendo genuinamente exausto.

    — Bem, acho que merecemos uma recompensa agora — Akira suspirou, colocando as mãos na cintura. — Que tal irmos comer alguma coisa?

    O grupo se animou imediatamente.

    — Sim! Vamos até o café, pegar um lanche e depois… — Seiji começou, mas foi interrompido pelo próprio estômago roncando alto.

    — Acho que seu corpo concorda com essa ideia. — Kaori riu, batendo nas costas dele.

    Eles continuaram conversando animadamente, já fazendo planos para o resto do dia, debatendo onde ir e o que comer primeiro. O clima estava mais leve, como se um peso tivesse sido retirado de nossos ombros.

    Eu os observei por um instante, deixando suas vozes se misturarem ao barulho dos outros alunos no corredor. O estresse das provas finalmente tinha ficado para trás, mas, para mim, outro pensamento já começava a ocupar espaço.

    As provas tinham acabado.

    O que significava que eu não tinha mais desculpas.

    Eu teria que focar inteiramente no meu manuscrito, de revisar cada detalhe, polir cada linha e implementar os refinamentos que Shihei havia sugerido.

    O prazo para o envio se aproximava, e essa era a minha chance de mostrar que eu realmente podia fazer isso.

    Respirei fundo, ajustando a alça da mochila no ombro, enquanto os seguia.

    A próxima prova me esperava.

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