Capítulo 11: Novas Perspectivas
Acordei despreocupado, sentindo o sol da manhã atravessando pelas cortinas. Olhei para o relógio na minha mesa e, para minha surpresa, percebi que estava estupidamente atrasado. O ponteiro dos minutos quase se encontrava com o dos segundos, e uma onda de pânico me atingiu em cheio.
Saí da cama em um salto, correndo para o banheiro.
— Que droga! Vou chegar muito atrasado hoje! — murmurei enquanto escovava os dentes com pressa.
Desci as escadas correndo, quase esbarrando no corrimão e tropeçando no último degrau. Minha mãe estava na cozinha, preparando o café da manhã em meio ao aroma reconfortante de café e pão torrado. Ela olhou para mim com uma expressão surpresa.
— Shin, por que toda essa correria? — perguntou ela, com uma sobrancelha levantada.
— Tô atrasado para a escola! — respondi, quase tropeçando na correria.
Minha irmã, que estava à mesa, riu e balançou a cabeça.
— Do que você está falando? Hoje é sábado… — disse ela, rindo.
Parei imediatamente e olhei para o calendário na parede.
“Ah…”
Ela estava… certa. Senti uma onda de alívio me inundar, seguida por um toque de frustração e, finalmente, um suspiro profundo de alívio.
— Ah… é mesmo — murmurei, sentindo minhas bochechas queimarem de vergonha.
Minha mãe e minha irmã riram de mim enquanto eu me sentava à mesa para tomar o café da manhã.
Talvez eu estivesse cansado demais com tudo o que aconteceu na escola no dia anterior.
Após o café, voltei para o meu quarto, sentindo o peso do cansaço. Pensei que um jogo rápido poderia ajudar a clarear minha mente. Sentei-me na minha cadeira e liguei o computador. O jogo começou a carregar, e eu aproveitei aquele momento de pausa para pensar no que havia acontecido na escola.
A interação com Yuki ainda estava fresca na minha mente. “Bom dia, Yuki”, eu havia dito, minha voz tremendo ligeiramente. Ela sorriu, e por um momento, o mundo ao nosso redor pareceu desaparecer.
Eu tinha finalmente conseguido falar com ela, mas sentia que ainda estava muito longe de onde queria estar. Muito longe mesmo.
Meus pensamentos se misturavam com a trilha sonora do jogo que começava a tocar. Eu me perguntava como seria a próxima semana, se eu teria coragem de falar mais com Yuki ou se continuaria apenas observando de longe. Essas reflexões me acompanharam enquanto jogava, tornando difícil me concentrar completamente no jogo.
O tempo passou voando enquanto eu estava imerso na tela, e logo era hora do almoço. Comi com minha família calmamente, sem nenhuma pressa, mas pouco tempo depois, meu celular tocou. Era Seiji.
— Onde você tá, mano? — perguntou ele, sua voz cheia de expectativa.
Fiquei confuso por um momento. Onde era suposto eu estar?
— Hã? Do que que você tá falando? — perguntei, ainda meio distraído. — Eu estou almoçando agora…
— Cara? A gente tá te esperando no fliperama! — respondeu Seiji, impaciente.
Então me lembrei da conversa na escola.
— Ah, droga! Já vou pra aí! — respondi rapidamente, desligando o telefone e me preparando para sair.
Eu realmente estava com a cabeça nas nuvens.
Subi pro quarto e logo vesti uma roupa qualquer, peguei minha carteira e saí correndo para o fliperama.
Quando cheguei, Seiji, Rintarou e alguns outros garotos da nossa turma já estavam lá, jogando e rindo.
O fliperama estava lotado, com o som das máquinas de jogos e risadas ecoando por todo o ambiente. O cheiro de pipoca e refrigerante misturava-se ao ar, criando uma atmosfera perfeita pra jogar.
— Finalmente, Shin! — disse Seiji, dando um tapinha no meu ombro. — Pensamos que você tinha esquecido.
— Quase esqueci mesmo… — admiti, sorrindo de forma envergonhada. — Desculpa a demora, pessoal.
— Relaxa, o importante é que você chegou — disse Rintarou, entregando-me um controle. — Vamos começar com uma corrida?
Nos divertimos bastante jogando uma variedade de jogos. Era bom poder relaxar e esquecer das preocupações por um tempo.
No meio da diversão, notei alguém entrando no fliperama. Parei de jogar por um segundo e me virei, tentando ver quem era.
Kazuki.
O clima ficou estranho para mim no mesmo instante, e senti um nó se formar no meu estômago. Tentei ignorar a presença dele e aproveitar o momento, mas era difícil não sentir sua confiança irradiando pela sala.
Kazuki entrou com um sorriso despreocupado, como se estivesse atrasado por um bom motivo.
— E aí, pessoal! Desculpa o atraso — disse ele, juntando-se ao nosso grupo.
— E aí, Kazuki! — respondeu Seiji, sempre amigável. — Achamos que você não ia aparecer também.
— Eu não podia perder essa, né? — Kazuki riu, pegando um controle para se juntar ao jogo.
Fiz um esforço para não deixar minha insegurança transparecer. Kazuki parecia tão confiante e à vontade, o que só aumentava minha sensação de inadequação. Mas continuei jogando, determinado a me divertir e esquecer de tudo naquela tarde.
O primeiro jogo foi uma corrida. Concentrado, senti a adrenalina enquanto manobrava meu carro virtual pelas curvas fechadas da pista. Para minha surpresa, venci a corrida, deixando Takeshi e Seiji para trás. Uma onda de satisfação me inundou, e um sorriso de vitória se espalhou pelo meu rosto.
— Caramba, Shin! — exclamou Seiji, surpreso. — Você realmente mandou bem!
— Obrigado — respondi, ainda sorrindo, esticando os braços. — Foi uma boa corrida.
Kazuki, observando a cena, se aproximou com um sorriso no rosto.
— Oh… boa corrida — disse ele olhando pra mim, parecendo ser sincero. — Você joga bem.
— Valeu, Kazuki — respondi, surpreso pela gentileza. Apesar de minhas inseguranças, não pude deixar de apreciar o elogio.
— Então… que tal competir comigo em um jogo de luta, ein? — ele me desafiou, levantando uma sobrancelha.
— Claro…
Escolhemos um jogo de luta e começamos a jogar. A competição era acirrada, e para minha surpresa, Kazuki era realmente bom. Cada rodada era disputada, e a sala se encheu de torcidas e risadas enquanto nos enfrentávamos.
— Você joga bem, Kazuki — admiti, durante uma pausa. — Confesso que não esperava isso vindo de você.
— Ah, que isso. Sabe como é, eu jogo bastante em casa — respondeu sorrindo.
— Parece que temos algo em comum — disse eu, mostrando um leve sorriso
Essa revelação me fez perceber que Kazuki não era tão diferente de mim. A competição continuou, e comecei a me sentir um pouco mais à vontade na presença dele.
Exploramos o fliperama, jogando em diferentes máquinas. A máquina de pinball emitia sons familiares de moedas caindo junto de umas luzes, que nos levava ainda mais longe nesse mundo sem preocupações. Jogamos um jogo de dança que arrancou muitas risadas de todos, especialmente quando Akira e Seiji tentaram acompanhar os movimentos rápidos e desajeitados na tela.
Durante uma pausa para um lanche, fui até a área de alimentação do fliperama com Akira e Rintarou. A fila estava cheia de crianças e adolescentes, todos ansiosos para pegar algo para comer. Peguei um cachorro-quente e um refrigerante, enquanto Rintarou escolheu pipoca e Akira, um enorme algodão doce.
— Esse lugar é realmente legal — comentou Akira, lambendo os dedos melados de açúcar. — A gente devia vir aqui mais vezes.
— Real… — respondi, olhando ao redor. — É um bom lugar para relaxar.
Enquanto comíamos, vi Kazuki sentado perto de nós, conversando com um grupo de garotos mais novos. Ele parecia genuinamente interessado no que eles diziam, sorrindo e rindo junto com eles. Aquilo me surpreendeu, de certa forma.
Não esperava vê-lo tão à vontade e amigável com outras pessoas, mas já devia ter notado isso na escola.
— Viu, Shin? — disse Rintarou, notando minha expressão surpresa. — Kazuki não é tão ruim quanto você pensa.
— É… talvez eu tenha sido um pouco injusto com ele — admiti, sentindo uma pontada de vergonha. — Ele parece ser um cara legal, na verdade.
— Do que vocês estão falando? — Akira interrompeu, dando uma mordida no algodão doce.
Quando voltamos aos jogos, senti uma mudança na forma como via Kazuki.
Claro, ainda havia um pouco de insegurança, mas de alguma maneira, eu estava mais aberto a conhecê-lo melhor. Jogamos várias rodadas de jogos de luta, corridas e mais uma rodada do jogo de dança. Foram tantos jogos que logo minha carteira começou a se esvaziar.
Durante uma pausa, sentei-me com Seiji e Rintarou, aproveitando para conversar.
— Cara, eu tô ficando sem dinheiro — disse, olhando para a minha carteira quase vazia.
— Eu também — disse Akira, que estava ao meu lado. — Gastei muito com a comida daqui.
Rintarou, sempre o mais sensato do grupo, olhou para nós e sugeriu:
— Talvez a gente devesse considerar conseguir um trabalho de meio-período. Seria bom ter uma renda extra para esses momentos.
Akira, com seu jeito descontraído, riu e disse:
— Vou procurar um trabalho que se adeque a mim. Talvez algo que envolva comida!
Não sabia o motivo, mas sentia que era hora de tomar uma decisão séria sobre isso. Conversei com eles sobre as possibilidades, e cada um tinha suas próprias ideias.
— Talvez um trabalho em uma cafeteria — sugeriu Rintarou. — Eu ouvi dizer que eles estão contratando.
— Ou algo que envolva jogos — disse Akira, empolgado, quase rindo. — Seria perfeito para você, Shin!
Enquanto pensava nessas possibilidades, percebi que precisava dar um passo para frente. Decidi que iria começar a procurar um emprego de meio-período, algo que me ajudasse a ganhar dinheiro e a crescer como pessoa.
Eu precisava de uma mudança de rotina. Precisava acordar.
Quando o dia no fliperama chegava ao fim, agradeci a Rintarou e Seiji por ter pagado mais algumas rodadas de jogos para mim e Akira. Rintarou apenas sorriu e disse que era o mínimo que podia fazer como amigo.
A caminhada de volta para casa foi tranquila, e comecei a perceber que Kazuki não era o vilão que eu imaginava. Ele tinha suas qualidades, e compartilhar um interesse em comum como os jogos ajudou a quebrar o gelo entre nós.
Talvez… fosse hora de deixar de lado meus preconceitos e abrir espaço para novas amizades.
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