Capítulo 13: O Clube de Literatura
As palavras de Rintarou ecoavam na minha mente enquanto caminhava para a escola naquela manhã. A brisa fresca acariciava meu rosto, e o som distante de pássaros cantando era um tipo de contraste com a inquietação que tomava conta de mim.
Eu não conseguia parar de pensar no impacto que aquele livro havia deixado em mim. A história tinha me prendido de uma forma inesperada, diferente de tudo o que já tinha experimentado nos jogos.
Mas, ainda assim, a ideia de me juntar ao clube de literatura parecia… surreal.
Eu não era alguém que combinava com aquele tipo de coisa.
…Ou era?
Enquanto meus passos ecoavam no caminho para a escola, a indecisão começou a me consumir. A familiaridade dos jogos me chamava de volta, mas algo novo dentro de mim parecia pedir por mais. Algo além do que eu já conhecia.
Suspirei, olhando para o céu, como se ele pudesse me oferecer uma resposta, mesmo sabendo que não podia.
Então, em um impulso repentino, peguei minha carteira do bolso e saquei uma moeda.
— Tá bom… vamos resolver isso do jeito mais justo possível — murmurei para mim mesmo, segurando a moeda — Cara, eu vou para casa e jogo. Coroa, eu tento algo novo.
Por um instante, segurei a respiração e lancei a moeda ao ar. Ela girou, refletindo a luz do sol, antes de cair na palma da minha mão.
Coroa.
Um misto de desapontamento e excitação tomou conta de mim.
Eu…
…Eu poderia muito bem ignorar o resultado e seguir minha rotina habitual. Certo?
Isso era o que eu provavelmente faria.
Mas… talvez fosse um sinal. Talvez fosse hora de explorar algo além dos limites confortáveis que eu mesmo tinha criado.
Uma hora de acordar pra vida e sair da minha rotina monótona. Tentar algo novo…
Coloquei a moeda de volta no bolso, sentindo o peso daquela decisão. Meus passos ganharam um ritmo diferente enquanto eu caminhava até a escola, a mente ainda presa no que aquilo poderia significar.
Ao chegar ao portão, notei Yuki conversando com algumas amigas. Ela riu de algo que disseram, e o som parecia iluminar o ambiente ao redor.
Sem pensar muito, levantei a mão em um aceno discreto.
— Bom dia, Yuki — disse eu, tentando parecer casual.
— Bom dia, Shin — respondeu ela com um sorriso rápido, antes de se virar para continuar a sua conversa.
Continuei andando pelos corredores movimentados, passando por murais de arte estudantil e armários coloridos. Quando cheguei à sala de aula, avistei Seiji e Rintarou já em seus lugares, conversando sobre algo.
— E aí, Shin! — saudou Seiji. — Tá se sentindo pronto pra mais um dia?
— Nem tanto — respondi, meio seco. — Mas… acho que hoje pode ser diferente.
— Hm? Diferente? — perguntou Seiji, curioso.
Rintarou me lançou um olhar curioso, mas não disse nada.
As aulas começaram e eu me esforçava para me concentrar, mas minha mente voltava repetidamente para a ideia do clube de literatura. A voz do professor parecia distante enquanto ele explicava equações complicadas no quadro.
Ao meu redor, os colegas pareciam imersos em seus cadernos, mas eu só conseguia pensar na moeda que decidiu meu destino mais cedo.
Quando o intervalo finalmente chegou, tomei coragem e me dirigi à sala dos professores. A escola estava movimentada, com alunos indo e vindo, rindo e conversando. Passei por alguns grupos de estudantes discutindo sobre os últimos episódios de séries e trocando dicas de estudo.
Meu coração batia rápido enquanto me aproximava da porta da sala dos professores. Bati suavemente e entrei, sentindo um leve cheiro de café no ar e vendo pilhas de papéis espalhadas sobre as mesas. O Sr. Tanaka estava sentado atrás de sua mesa, revisando alguns documentos, mas ergueu os olhos e sorriu ao me ver.
— Com licença, professor Tanaka — comecei, vendo-o atrás da mesa.
— Ah, Shin! O que te traz aqui? — perguntou ele, erguendo as sobrancelhas.
Respirei fundo antes de responder.
— Eu… eu gostaria de me inscrever no clube de literatura.
Ele me olhou por um momento, surpreso, mas então sorriu.
— Oh! Finalmente encontrou algo que quer fazer? — perguntou, claramente feliz. Ele era o mesmo professor que tinha me questionado sobre meus planos para o futuro.
— Sabe como é, é sempre bom respirar novos ares. Li um livro por recomendação do Rintarou e… acho que gostei. Por causa disso, acho que quero me juntar ao clube de literatura.
Ele assentiu, parecendo satisfeito com minha resposta.
— Entendo. Fico feliz em ouvir isso, Shin. Aqui está a ficha de inscrição, preencha e me entregue.
Peguei a ficha e, com mãos um pouco trêmulas, comecei a preenchê-la. Terminei rapidamente e entreguei ao professor, que verificou com atenção antes de dizer se entrei ou não.
— Está aprovado. Bem-vindo ao clube de literatura, Shin!
— Obrigado, professor — respondi, sentindo um alívio misturado com nervosismo.
Voltei para encontrar Seiji e Rintarou durante o intervalo. Seiji foi o primeiro a me notar, e o olhar curioso dele logo se transformou em uma expressão de pura surpresa quando me aproximei.
— Ei, onde você tava? — perguntou ele, cruzando os braços e inclinando a cabeça como se já estivesse pronto para me provocar.
Respirei fundo, tentando soar casual.
— …Me inscrevendo no clube de literatura.
Houve um silêncio momentâneo antes de Seiji explodir em uma risada alta e incrédula.
— Você? Num clube? E de literatura ainda? — Ele me deu um leve empurrão no ombro, ainda rindo. — Cara, achei que você ia sair correndo pra casa jogar como sempre. Desde quando você curte livros!? Isso não faz seu estilo mesmo…
Rintarou, por outro lado, não parecia nem um pouco surpreso. Ele apenas sorriu de lado, ajustando os óculos enquanto me olhava com um misto de aprovação e alívio.
— Então você decidiu tentar algo novo. — Ele assentiu sorrindo, bagunçando meu cabelo de leve. — Estou orgulhoso de você, Shin. É bom ver você explorando outras coisas além dos jogos de sempre.
Um leve sorriso surgiu no meu rosto naquele instante.
As aulas seguiram seu curso normal, com professores explicando conceitos e alunos tentando acompanhar.
Quando o sinal finalmente anunciou o fim do dia escolar, senti uma ansiedade crescente enquanto seguia Rintarou até o clube de literatura. No corredor, alguns alunos ainda discutiam os eventos do dia, enquanto outros se apressavam para seus clubes.
O caminho parecia mais longo do que o normal, e a expectativa fazia meu coração bater mais rápido a cada passo.
Quando nos aproximamos da porta, ouvimos fragmentos de uma conversa.
— Ah, parece que temos um novo membro! Finalmente mais um! — disse uma voz feminina animada.
— É um amigo do Rin — respondeu outra.
Rintarou bateu levemente antes de abrir a porta, me convidando a entrar. A sala estava repleta de estantes cheias de livros e alguns estudantes espalhados, lendo ou conversando.
— Olá, pessoal. Este é o Shin, nosso novo membro no clube — anunciou Rintarou, com um sorriso encorajador.
Todos se voltaram para mim, sorrisos calorosos nos rostos. Senti meu nervosismo aumentar, meu estômago revirando. Minhas mãos estavam suadas e, por um momento, pensei em sair rapidamente da sala.
— Yo! Bem-vindo, Shin! — disse uma garota com um sorriso radiante, acenando com energia. — Eu sou Kaori! Espero que se sinta em casa aqui!

— Oi, Kaori. Prazer em conhecê-la — consegui responder, embora minha voz estivesse mais baixa do que eu pretendia. Meu nervosismo parecia evidente, mas o jeito dela me fez relaxar um pouco.
Enquanto olhava ao redor, meus olhos se detiveram em uma figura familiar: Mai, da minha classe. Ela estava sentada em um canto, segurando um livro aberto. Seus olhos se ergueram brevemente, e ela acenou levemente, com um sorriso educado, antes de voltar a sua leitura. Ver um rosto conhecido ali foi reconfortante, mesmo que só um pouco.
No entanto, enquanto observava os outros, a realidade caiu sobre mim como um peso. Ali estavam pessoas que claramente adoravam livros, enquanto eu… bom, eu tinha lido apenas um livro na vida até o momento.
Sentia-me como um intruso em um mundo que não era o meu. Mas, ao mesmo tempo, havia algo naquela sala, talvez fosse a energia contagiante da garota extrovertida, ou a calma natural de Rintarou, que me fez querer tentar.
Afinal, eu estava ali para aprender, não é?
— Então, Shin, vamos encontrar um lugar para você se sentar. — Rintarou me chamou de volta ao momento, com um gesto tranquilo. — Aposto que você vai se sentir em casa antes que perceba.
Eu não tinha tanta certeza disso, mas assenti, seguindo-o para dentro da sala. Era um novo começo, e talvez, apenas talvez, eu conseguisse me encaixar naquele mundo feito de palavras e histórias.
A sala era aconchegante, com algumas luzes suaves, perfeitas para ler, e estantes de madeira cheias de livros. O chão de madeira rangia suavemente sob nossos pés. Havia mesas espalhadas, algumas ocupadas por alunos lendo ou discutindo animadamente sobre livros.
O presidente do clube, um aluno do terceiro ano chamado Takumi, se aproximou com um sorriso.
— Então, Shin, o que te trouxe ao clube de literatura? — perguntou ele.
— …Bem, Rintarou me recomendou um livro e eu gostei tanto que decidi tentar algo novo.
— Ótimo! Espero que encontre muitas outras histórias para ler! — disse Takumi, apertando minha mão.
Kaori, aquela garota energética, começou a puxar conversa comigo sobre seus livros favoritos, me envolvendo rapidamente na dinâmica do clube. As conversas eram animadas e acolhedoras, e logo me senti um pouco mais à vontade.
— Então, Shin, qual é o seu livro favorito!? — perguntou ela, os olhos brilhando de curiosidade.
— Eu li apenas “O Nome do Vento” até agora — respondi, um pouco envergonhado.
— Sério? Esse é um ótimo começo! — exclamou Kaori, animada. — Você deveria experimentar “Mistborn” também! É incrível!
— Parece interessante, vou procurar por ele — respondi, sentindo-me mais à vontade.
— E qual é o seu gênero favorito? — perguntou curiosa.
— Ainda estou descobrindo — respondi, rindo. — Mas acho que gosto de Fantasia…
— Fantasia é incrível! — ela exclamou, quase pulando em cima de mim. — Tenho várias recomendações se você quiser!
A animação no clube era contagiante. As pessoas tinham diferentes personalidades, mas compartilhavam a paixão por ler. Cada um parecia trazer algo único para o grupo, tornando as interações interessantes e enriquecedoras.
Enquanto procurava um livro para ler, acabei por notar a proximidade entre Mai e Rintarou. Ela sempre tentava puxar papo com ele, mesmo sendo tímida, e ele respondia sempre com um sorriso, o que era raro de se ver pra mim.
“Parece que dariam um bom casal… pena que ele só liga pros estudos.”
Ao mesmo tempo, percebi que, embora eu tivesse lido apenas um livro até aquele instante, havia uma comunidade ali que compartilhava da mesma paixão. Eu queria aprender mais, me aprofundar nesse novo mundo que começava a descobrir.
O tempo passou rapidamente. A tarde no clube foi uma experiência nova e agradável, diferente de tudo o que eu já tinha feito. A atmosfera tranquila e as discussões sobre livros me fizeram perceber como clubes podiam ser divertidos e como a leitura podia ser uma paixão compartilhada.
Enquanto caminhava, me perdi em pensamentos, refletindo sobre como minha vida parecia estar mudando, mesmo que de pouco em pouco.
Antes, minhas tardes eram gastas sozinho no quarto, mergulhado em jogos que me transportavam para outros mundos.
Era uma rotina que eu conhecia bem, confortável e previsível.
Uma rotina que nunca mudava.
Mas no momento, havia algo diferente.
E isso… era bom, de certo modo.
As ruas estavam tranquilas, com poucas pessoas passando, e o céu começava a ter tons alaranjados do entardecer. Pensei nas novas amizades que poderia fazer no clube e nos livros que ainda iria descobrir.
Cheguei em casa mais tarde do que o habitual, entrando pela porta da frente da nossa casa. Minha mãe, que estava na cozinha preparando o jantar, notou imediatamente minha chegada.
— Você chegou mais tarde hoje, Shin. Onde estava? — perguntou ela, curiosa.
— Ah, desculpa, mãe. — respondi, sorrindo. — Esqueci de te avisar que agora me juntei ao clube de literatura da escola.
Ela ficou surpresa, mas logo um sorriso de satisfação iluminou seu rosto.
— Sério? Ah, estou feliz por você ter encontrado algo que gosta. — Seus olhos brilhavam com uma mistura de alívio e orgulho, algo que parecia carregar anos de preocupação silenciosa.
Quando eu era mais novo, meus pais tentaram me introduzir a várias atividades: esportes, música, clubes escolares…
Mas o problema era que nada despertava meu interesse.
Ainda me lembrava de como eles olhavam para mim, esperando que algo chamasse minha atenção, apenas para acabar frustrados com a minha indiferença.
Eu me sentia culpado por isso.
“Desculpa, mamãe. Não quero mais fazer isso.”
Talvez minha mãe tivesse se preocupado por tanto tempo, pensando que… eu nunca acharia algo que realmente me movesse. Algo que eu realmente gostasse.
Mas, isso parecia finalmente ter mudado.
— Sim, acho que encontrei algo novo, mãe. — As palavras saíram mais sinceras do que eu esperava, acompanhadas de um leve sorriso.
Ela me abraçou, apertando-me com carinho, e era como se eu pudesse sentir a tensão que ela carregava há tanto tempo se dissolver um pouco mais.
— Isso é ótimo, Shin. Eu… sempre soube que você encontraria algo especial no seu tempo. — Sua voz carregava um tom encorajador, mas também uma leve emoção que ela tentava esconder.
Subi para o meu quarto e, ao abrir a porta, meus olhos no armário. Lá dentro, em alguma caixa, devia estar um livro empoeirado e antigo. Devia ser um presente de meu avô, que sempre dizia que os livros tinham o poder de mudar vidas, mas que eu nunca deu muito crédito a isso.
Mas que, no momento, começava a fazer mais sentido.
Me joguei na cama e olhei para o teto, pensando sobre como aquele clube de literatura podia ser a chave para algo novo em minha vida.
E como, lentamente, as coisas estavam mudando.
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