Capítulo 13: O Clube de Literatura
As palavras de Rintarou ecoavam na minha mente enquanto caminhava para a escola naquela manhã. A brisa fresca da manhã e o som distante de pássaros cantando pareciam tentar acalmar meus pensamentos agitados.
A ideia de me juntar ao clube de literatura ainda parecia distante, mesmo depois de ter lido “O Nome do Vento” e me encantado pela história. Eu ainda ansiava pelas horas de jogo ao voltar para casa, mas uma parte de mim também estava curiosa. A indecisão me consumia, então, em um momento de desespero, peguei minha carteira e decidi jogar uma moeda ao ar.
Cara, eu iria para casa jogar. Coroa, eu tentaria algo novo. Segurei a respiração e lancei a moeda. Coroa. Um misto de desapontamento e excitação tomou conta de mim. Talvez isso fosse um sinal para explorar algo além dos jogos.
Caminhei até a escola, os pensamentos girando em torno da moeda e da decisão que ela representava. Quando cheguei ao portão, vi Yuki e acenei.
— Bom dia, Yuki — disse eu, tentando parecer casual.
— Bom dia, Shin — respondeu ela com um sorriso rápido, antes de se virar para conversar com suas amigas.
Continuei andando pelos corredores movimentados, passando por murais de arte estudantil e armários coloridos. Quando cheguei à sala de aula, avistei Seiji e Rintarou já em seus lugares, conversando sobre algo.
— E aí, Shin! — saudou Seiji. — Pronto para mais um dia de tortura?
— Nem tanto — respondi, rindo. — Mas acho que hoje pode ser diferente.
— Diferente? — perguntou Seiji curioso.
Rin me lançou um olhar curioso, mas não disse nada. As aulas começaram e eu me esforçava para me concentrar, mas minha mente voltava repetidamente para a ideia do clube de literatura. A voz do professor parecia distante enquanto ele explicava equações complicadas no quadro. Ao meu redor, os colegas pareciam imersos em seus cadernos, mas eu só conseguia pensar na moeda que decidiu meu destino mais cedo.
Quando o intervalo finalmente chegou, tomei coragem e me dirigi à sala dos professores. A escola estava movimentada, com alunos indo e vindo, rindo e conversando. Passei por alguns grupos de estudantes discutindo sobre os últimos episódios de animes e trocando dicas de estudo. Meu coração batia rápido enquanto me aproximava da porta da sala dos professores. Bati suavemente e entrei, sentindo um leve cheiro de café no ar e vendo pilhas de papéis espalhadas sobre as mesas. O Sr. Tanaka estava sentado atrás de sua mesa, revisando alguns documentos, mas ergueu os olhos e sorriu ao me ver.
— Com licença, professor Tanaka — disse eu, vendo-o atrás da mesa.
— Ah, Shin! O que te traz aqui? — perguntou ele, erguendo as sobrancelhas.
Respirei fundo antes de responder.
— Eu gostaria de me inscrever no clube de literatura.
O Sr. Tanaka me olhou por um momento, surpreso, mas então sorriu.
— Finalmente encontrou algo que quer fazer? — perguntou ele, claramente feliz. Ele era o mesmo professor que tinha me questionado sobre meus planos para o futuro.
— Sabe como é, é sempre bom respirar novos ares. Li um livro por recomendação do Rintarou e gostei. Por causa disso, acho que quero me juntar ao clube de literatura.
Ele assentiu, parecendo satisfeito com minha resposta.
— Fico feliz em ouvir isso, Shin. Aqui está a ficha de inscrição. Preencha e me entregue.
Peguei a ficha e, com mãos um pouco trêmulas, comecei a preenchê-la. Terminei rapidamente e entreguei ao Sr. Tanaka, que verificou com atenção antes de dar seu veredito.
— Está aprovado. Bem-vindo ao clube de literatura, Shin.
— Obrigado, professor — respondi, sentindo um alívio misturado com nervosismo.
Voltei para encontrar Seiji e Rintarou. Seiji me olhou curioso quando me viu.
— Onde você estava? — perguntou ele.
— Estava me inscrevendo no clube de literatura — respondi.
Os olhos de Seiji se arregalaram de surpresa.
— Você? Entrando em um clube? E de literatura ainda? Achei que ia correr para casa e jogar como sempre.
Rin sorriu, visivelmente contente.
— Então você decidiu tentar algo novo, hein? Estou orgulhoso de você, Shin.
As aulas seguiram seu curso normal, com professores explicando conceitos e alunos tentando acompanhar. Quando o sinal finalmente anunciou o fim do dia escolar, senti uma ansiedade crescente enquanto seguia Rin até o clube de literatura. No corredor, alguns alunos ainda discutiam os eventos do dia, enquanto outros se apressavam para seus clubes. O caminho parecia mais longo do que de costume, e a expectativa fazia meu coração bater mais rápido a cada passo.
Quando nos aproximamos da porta, ouvimos fragmentos de uma conversa.
— Ah, parece que temos um novo membro — disse uma voz animada.
— É um amigo do Rin — respondeu outra.
Rin bateu levemente antes de abrir a porta, convidando-me a entrar. A sala estava repleta de estantes abarrotadas de livros e alguns estudantes espalhados, lendo ou conversando.
— Olá, pessoal. Este é o Shin, nosso novo membro — anunciou Rintarou.
Todos se voltaram para mim, sorrisos calorosos nos rostos. Senti meu nervosismo aumentar, meu estômago revirando como se eu estivesse prestes a subir em uma montanha-russa. Minhas mãos estavam suadas e, por um momento, pensei em sair rapidamente da sala.
— Bem-vindo, Shin! — disse uma garota extrovertida, acenando. — Eu sou Kaori.
— Oi, Kaori. Prazer em conhecê-la — respondi, tentando esconder minha timidez.
Logo notei uma garota familiar, Mai, da minha classe, que também parecia gostar de ler.
Eu me sentia um pouco deslocado, tendo lido apenas um livro até agora, enquanto todos ali já eram experientes na literatura. Mesmo assim, eu estava disposto a aprender mais.
A sala do clube de literatura era aconchegante, com luzes suaves e estantes de madeira polida cheias de livros. O chão de madeira rangia suavemente sob nossos pés, criando uma trilha sonora tranquila enquanto nos movíamos. Havia mesas espalhadas, algumas ocupadas por alunos lendo ou discutindo animadamente sobre livros.
O presidente do clube, um aluno do terceiro ano chamado Takumi, se aproximou com um sorriso.
— Então, Shin, o que te trouxe ao clube de literatura? — perguntou ele.
— Bem, Rintarou me recomendou um livro e eu gostei tanto que decidi tentar algo novo — expliquei.
— Ótimo! Espero que encontre muitas outras histórias para se apaixonar — disse Takumi, apertando minha mão.
Kaori, a garota extrovertida, começou a puxar conversa comigo sobre seus livros favoritos, me envolvendo rapidamente na dinâmica do clube. As conversas eram animadas e acolhedoras, e logo me senti mais à vontade.
— Então, Shin, qual é o seu livro favorito? — perguntou ela, os olhos brilhando de curiosidade.
— Eu li apenas “O Nome do Vento” até agora — respondi, um pouco envergonhado.
— Sério? Esse é um ótimo começo! — exclamou Kaori, animada. — Você deveria experimentar “Mistborn” do Brandon Sanderson. É incrível!
— Parece interessante, vou procurar por ele — respondi, sentindo-me mais à vontade.
— E qual é o seu gênero favorito? — perguntou curiosa.
— Ainda estou descobrindo — respondi, rindo. — Mas acho que gosto de Fantasia.
— Fantasia é incrível! — exclamou ela. — Tenho várias recomendações se você quiser!
A animação no clube era contagiante. As pessoas tinham diferentes personalidades, mas compartilhavam a paixão por ler. Cada um parecia trazer algo único para o grupo, tornando as interações interessantes e enriquecedoras.
Enquanto procurava um livro para ler, notei a proximidade entre Mai e Rin. Ela sempre tentava puxar papo com ele, mesmo sendo tímida, e Rin respondia sempre com um sorriso, o que era raro de se ver. Observando-os de longe, parecia que fariam um bom casal, mas Rin provavelmente estava mais focado nos seus estudos e livros do que romances.
Ao mesmo tempo, percebi que, embora eu tivesse lido apenas um livro até agora, havia uma comunidade ali que compartilhava da mesma paixão. Eu queria aprender mais, me aprofundar nesse novo mundo literário que começava a descobrir.
O tempo passou rapidamente. A tarde no clube foi uma experiência nova e agradável, diferente de tudo o que eu já tinha feito. A atmosfera tranquila e as discussões sobre livros me fizeram perceber como clubes podiam ser divertidos e como a leitura podia ser uma paixão compartilhada.
Enquanto caminhava, me perdi em pensamentos sobre como minha vida estava mudando, mesmo que lentamente. Lembrei-me das tardes passadas jogando sozinho em meu quarto, comparadas com a energia e entusiasmo que sentia agora. Era uma sensação estranha, mas agradável, como descobrir um novo nível em um jogo favorito. As ruas estavam tranquilas, com poucas pessoas passando, e o céu começava a adquirir os tons alaranjados do entardecer. Pensei nas novas amizades que poderia fazer no clube e nos livros que ainda iria descobrir.
Cheguei em casa mais tarde do que o habitual, entrando pela porta da frente da nossa casa. Minha mãe, que estava na cozinha preparando o jantar, notou imediatamente minha chegada.
— Você chegou mais tarde hoje, Shin. Onde estava? — perguntou ela, curiosa.
— Ah, desculpa, mãe. Esqueci de te avisar que agora me juntei ao clube de literatura da escola — respondi, sorrindo.
Ela ficou surpresa, mas logo um sorriso de satisfação iluminou seu rosto.
— Estou feliz por você ter encontrado algo que gosta, Shin. — Seus olhos brilharam com uma mistura de alívio e alegria.
Quando eu era mais novo, meus pais me introduziram a várias atividades, como esportes, música e mais, mas nada me interessava. Talvez minha mãe estivesse preocupada com o fato de eu nunca achar algo que eu gostasse, mas isso agora tinha mudado.
— Sim, parece que encontrei algo novo, mãe — respondi, sentindo-me contente.
Ela me abraçou, e eu pude sentir a preocupação dela se dissolvendo um pouco mais.
— Isso é ótimo, Shin. Sempre soube que você encontraria algo especial. Espero que continue explorando e se divertindo.
Subi para o meu quarto e, ao abrir a porta, meus olhos pousaram em um livro empoeirado e antigo que estava na prateleira. Era um presente de meu avô, que sempre dizia que os livros tinham o poder de mudar vidas. Joguei-me na cama e olhei para o teto, pensando sobre como aquele clube de literatura podia ser a chave para algo novo em minha vida.