O sol começava a se pôr, tingindo o céu com tons de laranja e rosa, enquanto o festival esportivo se aproximava do seu final. Hiroshi chamou alguns membros para uma pequena reunião para dar continuidade aos eventos da tarde. Yuki também estava lá, e eu notei que ela parecia um pouco distraída.

    — Bom trabalho até agora, pessoal — começou Hiroshi, pegando o cronograma de eventos na mesa e começando a lê-lo. — O próximo evento será a caça ao tesouro, a corrida de obstáculos e depois encerraremos o dia com a corrida de revezamento.

    A notícia de que a caça ao tesouro estava prestes a começar gerou uma onda de excitação entre nós. O som de risadas e conversas animadas preenchia o ar enquanto começávamos a mover os objetos para o campo. Eu ia e voltava, carregando caixas, e vi Yuki parecendo desesperada, como se estivesse procurando por algo.

    — Está tudo bem? — perguntei, hesitante, enquanto passava por ela.

    — Sim, sim… — respondeu ela rapidamente, um pouco tensa, enquanto continuava a procurar ao redor das caixas.

    Senti uma pontada de preocupação, mas decidi não pressioná-la. A primeira rodada da caça ao tesouro terminou com muita torcida e barulho vindo do lado de fora. Estávamos cuidando dos equipamentos quando a segunda rodada começou.

    — Em suas marcas… preparar… vai! — e os corredores começaram a correr.

    Ao chegarem às caixas onde deveriam pegar um papel, perceberam que estavam vazias.

    — Ei! Está vazia! — gritou um dos corredores, levantando a caixa no ar.

    Hiroshi correu para dentro, desesperado.

    — As caixas estão vazias, onde estão os papéis?!

    Olhei ao redor e vi um envelope escrito “Papéis caça ao tesouro”. Peguei o envelope e corri rapidamente até o campo onde os corredores estavam.

    — Ei, peguem daqui! — gritei, abrindo o envelope e distribuindo os papéis.

    Enquanto os corredores saíam pelo campo em busca dos objetivos da caça ao tesouro, fui para dentro da escola para organizar os equipamentos da próxima competição, a corrida de obstáculos. O clima de tensão e expectativa estava no ar, com as torcidas se espalhando pelos arredores, gritando e apoiando suas equipes.

    Enquanto eu me movia entre caixas e equipamentos, arrumando tudo com cuidado, ouvi a voz de Yuki na sala ao lado. Ela estava conversando com duas amigas, sua voz um pouco trêmula.

    — Vocês viram um pequeno objeto que eu estava carregando? Acho que o perdi por aqui — disse Yuki, parecendo preocupada.

    Eu sabia que Yuki era uma pessoa reservada e raramente deixava transparecer suas emoções. Ver essa vulnerabilidade nela foi surpreendente, quase como se eu tivesse encontrado uma peça perdida de um quebra-cabeça que estava tentando montar há muito tempo. O que mais ela escondia por trás daquela fachada calma e controlada? Minha curiosidade foi imediatamente despertada, mas junto com ela veio uma preocupação crescente. Será que ela estava bem? Queria desesperadamente ajudá-la, ser o tipo de amigo em quem ela pudesse confiar e se apoiar. Mas ao mesmo tempo, temia invadir sua privacidade e torná-la ainda mais desconfortável. Era um equilíbrio delicado, e eu não queria cometer um erro que pudesse afastá-la. Enquanto essas dúvidas e sentimentos conflitantes se agitavam dentro de mim, percebi que, talvez, entender Yuki fosse mais complicado do que eu imaginava. E, de certa forma, isso só me fazia querer conhecê-la ainda mais.

    Eu hesitei por um momento, mas antes que eu pudesse me aproximar, fui chamado para ajudar a mover umas caixas.

    Do lado de fora, as líderes de torcida incentivavam com entusiasmo. — Equipe vermelha, vai! — Seus gritos enchiam o ar, adicionando uma energia vibrante ao ambiente.

    Quando a corrida de obstáculos finalmente começou, tudo correu conforme o planejado. Seiji, com seu físico impressionante e experiência no clube de futebol, liderou a corrida e garantiu o primeiro lugar para nossa equipe. Não fiquei surpreso, mas ainda assim, foi uma vitória que todos comemoraram.

    Mesmo assim, enquanto todos comemoravam a vitória do nosso time, minha mente continuava voltando para Yuki. Eu podia vê-la sorrindo e torcendo com o resto do grupo, mas havia algo em seu olhar que parecia distante, como se parte dela estivesse ainda procurando pelo objeto perdido.

    — O próximo evento é a corrida de revezamento! Será o último evento do dia! — anunciou o locutor.

    — Em suas marcas… preparar… vai! — e todos começaram a correr rapidamente, passando os bastões adiante.

    As torcidas estavam a todo vapor, com gritos e incentivos para suas equipes.

    — Oh! A equipe vermelha está liderando, seguida pela azul, amarela e branca! — disse o locutor com entusiasmo.

    Enquanto a corrida de revezamento acontecia, os gritos de incentivo das torcidas ecoavam ao nosso redor, criando uma atmosfera emocionante. Eu estava ocupado organizando os equipamentos, mas minha mente ainda estava parcialmente focada nos eventos do dia. Quando abri uma das caixas, um pequeno objeto chamou minha atenção.

    — Hm? O que é isso? — pensei, pegando-o com cuidado. Imediatamente, lembrei-me de Yuki procurando algo desesperadamente mais cedo. Sem hesitar, guardei o objeto no meu bolso, determinado a devolvê-lo a ela assim que tivesse uma chance. Enquanto isso, anunciavam com entusiasmo:

    — A equipe azul termina em primeiro lugar, seguida pela amarela e branca! E finalmente a equipe vermelha chega ao objetivo! — As comemorações começaram instantaneamente, marcando o fim do nosso festival esportivo.

    — Assim se encerra nosso festival esportivo! Muito obrigado a todos que compareceram. Assim que a contagem terminar, teremos a cerimônia de premiação.

    Os gritos de comemoração ecoaram pelo campo enquanto as equipes se reuniam para celebrar suas conquistas. Senti uma mistura de alívio e satisfação ao ver a alegria no rosto de todos. Com o final das competições, a multidão começou a se dispersar lentamente, e os alunos se dirigiram para a área onde seria realizada a cerimônia de premiação.

    Aproveitei o momento para voltar à sala e pegar minhas coisas. Ao entrar, encontrei Yuki revirando sua mochila, visivelmente preocupada. Era o momento perfeito para devolver o que ela tinha perdido.

    — Isso é seu, Yuki? — perguntei, tirando o pequeno objeto do meu bolso.

    Ela olhou para mim, surpresa, e um largo sorriso apareceu em seu rosto.

    — Como você achou isso?! — exclamou.

    — Encontrei no depósito dentro de uma caixa — respondi, entregando-lhe o seu pertence.

    — Que bom que você encontrou isso, Shin. Sem isso, eu costumo ficar nervosa. Hoje na caça ao tesouro, acabei estragando tudo.

    Fiquei admirado com o que ela dizia, sentindo uma pontada de empatia.

    — Ah, acabei falando demais, desculpa — disse ela, envergonhada.

    — N-não, que nada, não se preocupe com isso — respondi, tentando confortá-la.

    Ela sorriu, um pouco mais relaxada, e olhou para o meu joelho.

    — Ah! Me lembrei, você caiu, né? Você está bem?

    Seu olhar preocupado fez meu coração acelerar. Fiquei envergonhado, uma onda de calor subindo pelo meu rosto. Eu quase havia esquecido do incidente, tentando enterrá-lo sob o turbilhão de eventos do dia. Por que ela ainda se lembrava disso?

    — Sim, não foi nada demais…

    — Achei legal quando você se levantou rapidamente — disse ela, despedindo-se. — Obrigada por encontrar isto para mim.

    Ela se despediu, e fiquei ali parado, processando suas palavras. Ela realmente achou ‘legal’ quando eu me levantei? Na minha mente, aquele momento foi uma catástrofe, um lembrete embaraçoso da minha falta de graça. Mas Yuki não viu dessa forma. Para ela, o que importou foi que eu me levantei, que eu não desisti. Esse simples comentário dela fez uma enorme diferença para mim. Talvez eu realmente pensasse demais nas coisas, transformando pequenos incidentes em grandes dramas. E talvez, apenas talvez, houvesse algo de bom em mim que eu ainda não tinha percebido.

    Com a mochila nas costas, saí da escola enquanto o sol se punha, pintando o céu com tons suaves de laranja e rosa. O ar fresco da tarde trazia uma sensação de renovação, e os sons das risadas e conversas dos outros estudantes que voltavam para casa ecoavam ao longe. A cada passo, meus pensamentos voltavam para os eventos do dia – a expressão de alívio de Yuki quando entreguei o objeto perdido, as corridas intensas e as pequenas vitórias que marcaram o festival.

    Caminhando pelas ruas tranquilas, passei por lojas fechando suas portas e por pessoas terminando seus dias de trabalho. O ambiente ao meu redor era uma mistura harmoniosa de rotina e final de tarde. Quando virei a esquina, avistei a biblioteca com seu letreiro iluminado suavemente. As luzes dentro da biblioteca davam um ar acolhedor ao lugar, e lembrei-me do cartaz que anunciava a vaga de meio-período. Senti uma onda de determinação e decidi aproveitar a oportunidade.

    — Ah, se não é o jovem leitor curioso! — disse ele, reconhecendo-me instantaneamente quando entrei. — Espero que tenha aproveitado a revista que te recomendei da última vez, hein? — acrescentou com um tom de brincadeira, referindo-se à revista que ele havia oferecido de forma provocativa anteriormente.

    Senti meu rosto esquentar e soltei uma risada nervosa.

    — Claro, claro… — respondi, tentando desviar o assunto. — Na verdade, eu vi o cartaz na porta sobre a vaga de trabalho de meio-período. Gostaria de saber se ainda está disponível.

    O bibliotecário, ainda risonho, bateu com a mão na testa, como se lembrasse de algo.

    — Ah, a vaga! Com certeza, está aberta sim! E quem diria que você se interessaria por isso? — Ele fez um gesto para que eu me sentasse em uma cadeira próxima, ainda com um sorriso no rosto. — Me diga, além de ler revistas “educativas”, você tem alguma experiência em bibliotecas?

    Sua pergunta descontraída me fez relaxar um pouco mais.

    — Não especificamente em bibliotecas, mas recentemente comecei a ler alguns livros e também organizar. Acho que me adaptaria bem — respondi, começando a me sentir mais à vontade.

    Ele assentiu, parecendo satisfeito.

    — Ler e organizar, hein? Parece um bom começo. E considerando o seu histórico de bom gosto literário — ele piscou, ainda brincando — acho que você se sairá bem por aqui.

    Então ele fez algumas perguntas sobre minha disponibilidade de horários e meu interesse em trabalhar na biblioteca. Contei-lhe sobre minha rotina escolar, as aulas, o clube, e como eu podia ajudar a organizar eventos, mencionando o festival esportivo que havia acontecido naquele dia.

    O bibliotecário parecia genuinamente interessado e satisfeito com minhas respostas. Ele se inclinou para trás na cadeira, cruzando os braços.

    — Bem, parece que você seria um ótimo complemento para a nossa equipe. Podemos começar com algumas tarefas simples e ir aumentando conforme você se familiariza com o trabalho. Que tal começar amanhã à tarde? — sugeriu ele, agora com um sorriso encorajador, mas sem perder o tom leve.

    Saí da biblioteca sentindo-me mais confiante e satisfeito. O dia havia sido produtivo e, de alguma forma, a ideia de trabalhar ali, com ele, parecia muito promissora.

    Enquanto caminhava para casa, a sensação de realização crescia em meu peito. A cada passo, eu relembrava os acontecimentos do dia, sentindo uma mistura de cansaço físico e satisfação emocional. Nunca tinha imaginado que um festival esportivo poderia ser tão revelador e transformador.

    Quando finalmente cheguei em casa, subi para o meu quarto e me joguei na cama, deixando o peso do dia se dissipar. O teto do meu quarto parecia mais amigável naquele fim de dia, como se compartilhasse do meu contentamento silencioso.

    De repente, meu celular vibrou. Sentei-me rapidamente e peguei o aparelho, curioso. Meus olhos se arregalaram ao ver o nome de Yuki na tela. Pela primeira vez, ela havia iniciado a conversa. Um sorriso involuntário surgiu no meu rosto enquanto eu abria a mensagem.

    “Obrigada mais uma vez por hoje, Shin!”

    Uma simples mensagem, mas que significava muito para mim. Era um pequeno passo, mas parecia um grande avanço em nossa relação. Respondi rapidamente, sentindo uma onda de excitação e felicidade.

    “Não foi nada, sério”

    “Gostaria de te agradecer apropriadamente. Tem alguma bebida que você goste?”

    “Não precisa, Yuki. Eu fiz o que qualquer um faria.”

    “Eu insisto!.”

    “Bom, já que você insiste, eu gosto de chá gelado.”

    “Sério? Eu também!”

    A partir daquele momento, nossas conversas fluíram naturalmente, cada mensagem nos aproximando mais. Era incrível como algo tão simples como uma mensagem de texto podia fazer meu coração disparar.

    Enquanto conversávamos, percebi que o dia não tinha sido apenas sobre vitórias esportivas ou eventos bem-sucedidos. Tinha sido sobre conexões, descobertas e pequenos gestos que faziam a diferença. Sentia que, de alguma forma, tudo estava começando a se encaixar. E com isso, adormeci com um sorriso no rosto, de alguma forma, tudo parecia estar se encaixando para mim.

    Nota