Capítulo 2: Yuki
A sensação de estranheza ainda me acompanhava enquanto caminhava pela escola. O sol estava baixo no céu, lançando longas sombras pela calçada. A brisa da tarde estava fresca, mas não conseguia afastar a confusão que pairava na minha mente.
Tinha sido um dia estranho e cansativo na escola. Ainda me perguntava por que ninguém tinha me acordado depois das aulas terem terminado. De certa forma, senti uma mistura de alívio por não ter perdido nenhuma aula, afinal, eu estive presente em todas elas, mesmo que eu estivesse dormindo, mas também desconcerto por ter sido deixado para trás por todos.
Enquanto caminhava em direção ao portão, vi Yuki novamente, parada ali, como se estivesse esperando alguém. Meu coração deu um salto. Por um breve momento cheguei a cogitar que Yuki estava esperando por mim, mas porquê ela esperaria?
— Yuki? — chamei, tentando parecer casual.
Ela virou a cabeça na minha direção, os olhos castanhos me observando com uma serenidade que contrastava com a confusão que eu sentia.
— Ah, Shin! Você está melhor?
— E-eu? Acho que sim — respondi com uma certa incerteza — Está esperando por alguém?
Yuki olhou para a rua por um momento, como se ponderasse sua resposta.
— Sim, ele disse que já está chegando — respondeu Yuki enquanto olhava para o seu celular.
— Ele?
Instantaneamente um carro preto e elegante parou em frente à escola. Um homem alto e bonito saiu do carro, acenando para Yuki. Ele parecia muito mais velho, com um ar confiante e despreocupado. Meu coração afundou. Seria ele o namorado de Yuki?
— Ei, Yuki! — chamou ele, sorrindo — Vamos?
— Tchau, Shin, te vejo amanhã! — disse Yuki enquanto acenava para mim.
— T-tchau! — respondi com uma leve tristeza no coração.
Yuki correu em direção ao homem, entrando no carro rapidamente. Enquanto o carro se afastava, uma onda de perguntas tomou conta da minha mente. “Será que Yuki gosta de caras mais velhos? Ele é realmente o namorado dela?”
Eu observava o carro desaparecer na distância, uma sensação de desconforto crescendo em meu peito. Balançando a cabeça para afastar os pensamentos, comecei meu caminho para casa.
A rua estava calma, com apenas algumas pessoas indo e vindo, provavelmente voltando do trabalho ou da escola. O som dos pássaros ao longe misturava-se com o barulho distante do trânsito. A atmosfera tranquila contrastava com o turbilhão de pensamentos na minha cabeça.
Quando cheguei, minha mãe me recebeu com um sorriso caloroso.
— Como foi a escola, Shin?
— Foi… normal, eu acho — respondi, ainda distraído pelos acontecimentos do dia.
— Alguma coisa te incomodou hoje? — perguntou ela, percebendo minha expressão pensativa.
— Ah, só um dia estranho, mãe. Nada demais — respondi tentando parecer indiferente.
Subi para o meu quarto, joguei minhas coisas na cama e peguei meu celular para ligar para Seiji e Rintarou. Estava ansioso para compartilhar o estranho encontro meu com a Yuki e aquela pessoa com eles, mas antes precisava ir jantar com a minha família.
Depois do jantar, fui tomar um banho para relaxar. A água quente ajudou a clarear minha mente, mas as dúvidas sobre Yuki ainda estavam lá, persistentes.
Após o banho, fui direto para o meu quarto. Liguei o computador, ansioso para jogar e esquecer meus problemas. Mas algo estranho aconteceu: Ao tentar abrir a pasta do jogo que tinha jogado na noite anterior, meu coração afundou ao ver que ela estava completamente vazia.
“Isso não faz sentido…”, pensei, meu coração acelerando. Revirei a pasta novamente, como se estivesse esperando que, de alguma forma, os arquivos magicamente aparecessem de volta. Nada. “Eu tenho certeza de que estava aqui… Eu joguei a madrugada toda! Como pode simplesmente… sumir?”
Meu estômago deu um nó. “Será que apaguei sem querer?” Impossível… não havia como ter apagado algo tão importante assim, tão deliberadamente.
Revirei a lixeira do sistema, conferi as pastas ocultas, refiz cada passo que tinha dado na noite anterior. Mas era como se o jogo nunca tivesse existido.
“Isso é muito estranho”, pensei, engolindo em seco.
Mas sem querer perder tempo tentando entender, decidi jogar outro jogo. Liguei para Seiji e Rintarou para ver se queriam se juntar a mim.
— Ei, Seiji e Rin, querem jogar algo? — perguntei.
— Claro, mano! Que tal aquele novo jogo de batalhas que tá bombando na internet? — Seiji respondeu animado.
— Estou dentro — Rintarou acrescentou, com sua voz sempre calma.
— Beleza! Vamos jogar então!
Conectei-me com eles online, e logo estávamos imersos em outro jogo, deixando as preocupações de lado por algumas horas. A jogatina e as risadas ajudaram a aliviar a estranheza do dia. Mesmo assim, uma parte de mim não conseguia esquecer o olhar de Yuki, o homem que a pegou, e o desaparecimento inexplicável do jogo.
— Opa, já está ficando tarde, acho melhor parar por aqui — disse eu.
— Ah verdade, vou desligar aqui então, vejo vocês amanhã Shin e Rintarou! — respondeu Seiji.
— Até amanhã — disse Rintarou com sua voz monótona como sempre.
— Até!
Quando finalmente desliguei o computador e me deitei, meus pensamentos voltaram novamente para Yuki. Quem era aquele homem? E por que o jogo desapareceu? Com esses pensamentos girando na minha mente, tentei dormir, esperando que o próximo dia me trouxesse respostas.
Enquanto o sono finalmente chegava, um último pensamento cruzou minha mente: “Talvez amanhã eu descubra mais sobre Yuki e aquela pessoa misteriosa, preciso saber mais sobre o que está acontecendo e se ele é realmente o namorado dela.”