Capítulo 8: Ele não era quem eu pensava ser
O tempo continuou voando, e logo não faltava muito até que as férias de verão terminassem, e com isso, o tão aguardado Festival de Verão, que acontece todos os anos no final de Agosto, se aproximava.
Eu estava sentado em meu quarto, olhando para o teto, sentindo-me entediado. Pensei em jogar algum jogo, mas a ideia de jogar sozinho parecia sem graça. Decidi, então, ligar para Seiji e Rintarou.
— Ei, Seiji! Vamos jogar um pouco? — convidei, tentando animar-me.
— Shin, eu adoraria, mas estou indo para um acampamento de treino de futebol. Lembra que eu mencionei? — respondeu Seiji, um pouco desapontado.
— Ah, é mesmo. Boa sorte lá então! — disse, tentando esconder minha decepção. Meu coração afundou um pouco mais com a resposta de Seiji.
Desliguei e imediatamente liguei para Rintarou.
— E aí, Rintarou? Topa jogar um pouco?
— Eu vou fazer uma viagem com a minha família, Shin, foi mal. — Rintarou respondeu, sua voz calma e tranquila como sempre, mas isso só aumentou minha sensação de isolamento.
Suspirei profundamente, sentindo o peso da solidão se abater sobre mim. — Sem problemas! — menti, tentando soar despreocupado. Mas a verdade era que me sentia mais sozinho do que nunca.
Dias se passaram, e finalmente chegou o grande dia. Eu estava ansioso, pensando se deveria chamar Yuki para ir comigo. Ver ela de yukata seria algo de outro mundo. Mas a ideia de convidá-la me deixou nervoso. Se eu a chamasse, seria o mesmo que confessar indiretamente os meus sentimentos. Acabei desistindo da ideia.
Antes de sair de casa, minha irmã Hana me fez um pedido. — Mano, traz umas comidas do festival pra mim quando voltar? Quero experimentar tudo!
— Claro. Vou trazer sim. — respondi, bagunçando o cabelo dela.
Enquanto caminhava para o festival, a ansiedade e empolgação aumentavam. As ruas estavam cheias de pessoas indo na mesma direção, e a atmosfera era contagiante. O som distante de risadas e música já podia ser ouvido, e as luzes das barracas brilhavam como pequenas estrelas no horizonte. Vi várias pessoas indo em direção ao festival, incluindo casais de mãos dadas, grupos de amigos rindo e famílias animadas. Senti uma pontada de inveja, mas logo a suprimi. Enquanto caminhava, torcia para que, de alguma forma, Yuki aparecesse no festival.
Chegando lá, fui envolvido pela atmosfera vibrante. Havia barracas de comida, jogos, música ao vivo. Era um verdadeiro paraíso de verão. Encontrei alguns colegas de classe, como Akira e Takeshi, que finalmente conseguiu tempo para sair por causa da recuperação de matemática.
— Ei, Shin! Que bom te ver aqui! — disse Akira, acenando com um sorriso enorme, sempre cheio de energia.
— Ei, Shin, finalmente tirei uma folga da recuperação de matemática. Estava precisando disso! — comentou Takeshi, rindo.
— Bom te ver também, galera. Como estão se divertindo? — perguntei, pegando um takoyaki e sentindo o aroma delicioso.
— Com certeza! Já tentamos todos os jogos. E Akira é péssimo em todos eles! — brincou Takeshi, com seu humor seco que sempre me fazia rir.
— Ei, eu só estou aquecendo! — retrucou Akira, fingindo estar ofendido e colocando as mãos na cintura de forma teatral.
— Sério, Akira? Até no jogo do martelo você falhou!? — continuei, rindo junto com eles.
— Tá, eu admito, não sou bom em tudo. Mas alguém precisa ser o palhaço do grupo, certo? — Akira disse, piscando.
— Pelo menos isso você faz bem! — Takeshi respondeu, dando um tapinha no ombro de Akira.
Passamos um bom tempo juntos, comendo e rindo. Akira contava piadas e histórias engraçadas da escola, e Takeshi falava sobre seus planos para melhorar em matemática no próximo semestre.
— Shin, já experimentou isso aqui? — perguntou Akira, me oferecendo yakisoba.
— Ainda não, mas parece ótimo. — aceitei e comecei a comer. O sabor era incrível, e o calor contrastava perfeitamente com a brisa fresca da noite.
— Ei, Takeshi, lembra aquela vez que o Shin quase botou fogo no laboratório de ciências? — Akira riu, quase engasgando com seu takoyaki.
— Como poderia esquecer? — respondeu Takeshi, rindo — A expressão no rosto da professora foi impagável!
— Ei, isso foi um acidente! — protestei, tentando não rir. — Aquele experimento era complicado.
— Complicado? Você só tinha que misturar duas substâncias! — Akira zombou, fazendo todos rirem ainda mais.
Enquanto conversávamos, notei que o tempo passava rapidamente. As horas voaram, e faltava cerca de uma hora para o início dos fogos de artifício, a atração principal do festival. Decidi procurar um bom lugar para assistir, então me despedi dos meus amigos.
— Vou procurar um lugar para os fogos. Vejo vocês por aí. — acenei, começando a me afastar.
— Certo, nos vemos mais tarde! — respondeu Takeshi, acenando de volta.
Enquanto caminhava pela multidão, procurando um lugar com uma boa vista, avistei Yuki. Meu coração quase parou e senti um nó se formar na garganta. Ela estava deslumbrante em um yukata azul floral, cada detalhe parecia destacar sua beleza ainda mais. Sua presença irradiava uma luz que fazia todo o resto parecer desbotado. Uma onda de calor e nervosismo tomou conta de mim, e minha mente começou a correr com pensamentos e possibilidades.
Mas então, algo inesperado aconteceu. O tempo pareceu parar quando vi um homem ao lado dela, rindo e conversando. Era o mesmo homem que a havia buscado na escola antes. Meu coração se partiu em mil pedaços.
Sentindo uma mistura de tristeza e frustração esmagadoras, decidi que não queria mais ver os fogos de artifício. Cada passo que dava parecia mais pesado, como se estivesse carregando o peso do mundo. Comecei a caminhar para o outro lado, querendo apenas ir para casa e esquecer aquela dor repentina e aguda.
Enquanto eu caminhava na direção oposta da multidão, com o coração apertado e a visão ligeiramente embaçada pelas lágrimas que segurava, acabei esbarrando no homem que estava com Yuki.
— Desculpe. — murmurei, sem coragem de levantar os olhos, tentando seguir meu caminho com o olhar fixo no chão, na tentativa de esconder meu rosto transtornado.
— Ah, espera. — ele disse, colocando a mão no meu ombro — Já nos vimos antes, não?
Olhei para ele, confuso. — Hã? Ah, acho que sim. Você estava com Yuki na escola.
Ele sorriu, parecendo lembrar. — Ah, sim. Eu sou o irmão dela, Kaito.
A confusão tomou conta de mim. — Irmão? Eu pensei que você fosse… — não consegui terminar a frase.
Ele riu. — Namorado dela? Não, não. Somos só irmãos.
O alívio que senti naquele momento foi indescritível. Era como se um peso gigante tivesse sido tirado de meus ombros. — Ah, eu… Eu pensei errado, então.
— Quer assistir aos fogos com a gente? — ele perguntou, gentilmente, mas meu coração começou a bater forte novamente, desta vez de ansiedade e nervosismo.
— Obrigado, mas acho que vou encontrar um lugar por conta própria. — respondi, tentando soar casual, mas meu interior estava um verdadeiro caos. A ideia de ficar perto de Yuki agora, com esses novos sentimentos e confusões, era ao mesmo tempo tentadora e aterrorizante.
— É uma pena — respondeu Kaito. — Vou comprar algumas comidas para Yuki. Se você mudar de ideias, vá até ela e me espere lá — disse ele antes de se afastar para comprar comida.
Ele se despediu, deixando-me ali, aliviado e confuso ao mesmo tempo. Yuki não tinha um namorado. A esperança voltou ao meu coração. Decidi ficar e assistir aos fogos. Encontrei um lugar com uma boa vista e me sentei, refletindo sobre tudo o que havia acontecido. Sentia-me aliviado por Yuki não ter um namorado, mas também triste por não ter a coragem necessária para me aproximar dela.
Os fogos de artifício começaram, iluminando o céu noturno com cores vibrantes. Cada explosão no céu parecia sincronizar com as batidas do meu coração, que ainda estava acelerado depois da conversa com Kaito. Por um breve momento, todos os meus problemas pareciam desaparecer naquelas cores deslumbrantes. Ao meu redor, os rostos das pessoas brilhavam com alegria e admiração.
Eu também me permiti sorrir. As explosões no céu refletiam um sentimento renovado dentro de mim. A confusão e a tristeza deram lugar a uma nova esperança. Sabia que as férias de verão estavam chegando ao fim, mas essa noite me mostrou que ainda havia tempo e oportunidade para mudar as coisas.
Enquanto os fogos continuavam, fiz uma promessa a mim mesmo novamente. Quando as aulas voltassem, eu tentaria me aproximar mais de Yuki. Não queria mais ser apenas um observador à distância. Queria ser alguém importante para ela, assim como ela já era para mim.
Quando os fogos finalmente terminaram, o céu voltou a sua escuridão tranquila, preenchida apenas pelo murmúrio das pessoas começando a dispersar. Peguei as comidas que prometi para Hana e comecei a caminhar de volta para casa. A noite tinha sido uma verdadeira montanha-russa de emoções, cada alta e baixa me ensinando algo novo sobre mim mesmo e meus sentimentos.
Conforme caminhava pelas ruas agora mais calmas, senti uma determinação renovada crescer dentro de mim. O festival não foi apenas um evento de verão, mas um ponto de virada. A tristeza inicial, a confusão ao ver Yuki com Kaito, e o alívio ao descobrir a verdade, tudo contribuiu para um novo entendimento.
Prometi a mim mesmo que as próximas semanas seriam diferentes. Eu não deixaria mais minhas inseguranças me pararem. Quando as aulas começassem novamente, faria de tudo para me aproximar de Yuki, para conhecer melhor a pessoa por quem estava me apaixonando. A esperança e a determinação encheram meu coração enquanto caminhava de volta para casa, carregando não apenas as comidas para Hana, mas também um futuro cheio de possibilidades.