Capítulo 2: Templo dos Dez Mil Deuses
Quando William abriu os olhos, encontrou-se deitado em cima de uma pequena nuvem dourada que voava pelo céu.
A princípio, ele achou que ainda estava sonhando, mas as lembranças de Belle desabando na sua frente vieram à tona. Junto com essa enxurrada de memórias, uma realização lhe ocorreu.
“É verdade. Eu já estou morto”, murmurou William. Ele instintivamente colocou a mão sobre o peito para sentir os batimentos cardíacos, mas não sentiu nem ouviu nada.
Após suspirar, o garoto sentou-se de pernas cruzadas sobre a nuvem, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Ao fazer isso, as memórias de sua vida passaram diante de seus olhos.
William viu lembranças felizes, tristes e lembranças que ele nunca queria ver novamente. Ao final de sua reflexão, a imagem de uma bela garota, com longos cabelos negros, fez com que ele mordesse o lábio em frustração.
A verdade é que ele estava muito preocupado com ela.
Será que a operação foi um sucesso? Os médicos chegaram a tempo? O Diretor do Hospital cumprirá sua promessa?
Muitas perguntas surgiram em sua cabeça. No entanto, ele sabia que não havia mais nada que pudesse fazer para afetar o resultado dos eventos que aconteceram. O motivo? Ele já estava morto. Não fazia sentido se preocupar com coisas que estavam além de seu controle.
“Espero que você esteja bem, Belle” William disse levantando a cabeça.
Um portal dourado brilhava à sua frente, e ele sabia que sua jornada havia chegado ao fim. Ele nunca acreditou em Deus antes, pois Deus nunca fez nada por ele enquanto estava vivo. Ele também não acreditava em Céu e Inferno.
A única coisa em que ele acreditava era na Reencarnação.
Talvez ele tenha sido influenciado pelos inúmeros romances que leu enquanto estava no hospital. Seu único hobby era ler histórias sobre cultivo, construção de reinos, slice of life, transmigração, romance histórico e muitos outros temas.
“Se realmente existe um Deus, é melhor que ele esteja preparado para receber um soco meu.” William estreitou os olhos enquanto olhava para o portal dourado, que ficava maior a cada segundo. “Se eu descobrir que Ele também levou Belle, vou bater Nele até que nem a Mãe Dele o reconheça.”
Essas foram as últimas palavras de William antes que a nuvem entrasse no portal dourado.
O que ele viu do outro lado do portal o deixou impressionado. Lembrou-lhe a vez em que sua turma foi ao planetário para a Excursão de Ciências.
“Mas o que é isso?” William perguntou distraidamente enquanto olhava para a vastidão do espaço. Incontáveis estrelas, planetas e galáxias podiam ser vistas à distância.
Antes que o adolescente pudesse sequer processar tudo o que estava vendo, a nuvem acelerou e se dirigiu para um planeta gigante que parecia muito com a Terra.
Surpreendentemente, várias outras nuvens douradas apareceram ao lado de William enquanto a nuvem avançava em direção ao planeta.
Uma formação de nuvens douradas, numerando em milhões, formou-se em menos de um minuto. Cada uma delas também carregava uma pessoa — cada uma variando em idade. Alguns eram velhos, alguns eram jovens e outros eram incrivelmente jovens. Crianças com não mais de três anos olhavam para William com um olhar curioso, enquanto chupavam seus dedões.
William sentiu um aperto no peito ao olhar para as crianças com uma expressão triste. Elas o lembraram de seus irmãos e irmãs mais novos no orfanato.
À medida que se aproximavam do planeta, uma mudança surpreendente ocorreu na formação das nuvens douradas. As nuvens que carregavam pessoas idosas se soltaram do conjunto e seguiram para o lado Leste do planeta. As nuvens que carregavam crianças com menos de cinco anos voaram para o Sul.
Não demorou para que William percebesse que eles estavam sendo “segregados” por algum poder desconhecido que parecia estar manipulando a ordem das nuvens.
A nuvem em que William estava não mudou de direção e continuou indo direto para o centro do planeta. Algumas outras pessoas estavam no mesmo grupo que ele, mas elas eram menos de cem.
À medida que as nuvens em que estavam desciam do céu, um magnífico templo apareceu diante de seus olhos. Um velho, com longos cabelos e barba brancos, estava em frente à entrada e olhava para eles com um sorriso no rosto.
“Saudações a todos e cada um de vocês”, disse o velho com uma voz gentil e acolhedora. “Eu sei que todos vocês têm muitas perguntas. Embora eu não tenha as respostas para todas elas, ficarei muito feliz em responder aquelas que eu souber. Alguém aqui gostaria de fazer uma pergunta?”
“Eu!” um jovem magro que parecia ter cerca de vinte anos levantou a mão.
“Continue”, respondeu o velho.
“Você é Deus?” o jovem magro perguntou.
“Não”, respondeu o velho. “Sou apenas um de seus muitos ajudantes.”
“Seus ajudantes? Quer dizer que existe mais de um Deus?” perguntou uma bela moça.
“Oh, sim.” O velho sorriu. “Alguns são antigos e outros são novos. A propósito, o nome deste templo é o Templo dos Dez Mil Deuses. Embora eu diga Dez Mil Deuses, o número exato de Deuses que residem aqui é desconhecido.”
O velho fez uma pausa antes de continuar sua explicação. “Já se passaram eras desde que este templo recebeu esse nome, e muitos Deuses nasceram ao longo do tempo. Claro, também é verdade que muitos Deuses pereceram.”
William e os outros ficaram em silêncio enquanto absorviam as palavras do velho. Mesmo assim, sendo tão jovens, a curiosidade deles acabou vencendo.
“Por que tantos?” um garoto bonito, de cabelos loiros e olhos azuis, perguntou. “Não existe apenas um Deus Verdadeiro?”
“Boa pergunta.” O velho assentiu em aprovação. “Você veio da Terra, certo?”
“Sim”, respondeu o garoto bonito.
“Digamos que na Terra existe um Deus Verdadeiro.” O velho sorriu. “Então, e os outros mundos? Se cada mundo tivesse um Deus Verdadeiro, isso não significaria que há incontáveis Deuses Verdadeiros nos vários mundos deste universo?”
O garoto bonito arregalou os olhos ao entender o que o velho estava dizendo e não fez mais perguntas.
O velho fez um gesto em direção ao Templo dos Dez Mil Deuses e continuou sua explicação.
“Veja bem, um Deus nasce das crenças das pessoas. Com essa lógica, isso também significa que um novo Deus nasce de tempos em tempos. Quanto mais forte a crença, mais forte o Deus será.”
“Com o passar do tempo, muitos Deuses nasceram e muitos Deuses foram esquecidos. O momento em que um Deus é esquecido é o momento em que esses Deuses deixam de existir.”
“Em resumo, em vez de irem diretamente para o Ciclo da Reencarnação, todos vocês terão a chance de escolher um Deus patrono antes de seguirem para sua próxima vida”, acrescentou o velho.
“Espere! Eu conheço isso!” O garoto nerd ajustou seus óculos enquanto se preparava para expressar seu palpite. “Se formos de acordo com o que li em light novels, esses Deuses nos darão poderes especiais, artefatos poderosos, armas divinas e outras bênçãos que nos darão uma vantagem na próxima vida, certo?”
“Algo assim”, respondeu o velho enquanto brincava com sua longa barba. “Cada Deus tem sua especialidade, e a maioria deles dá a seus seguidores os mesmos itens ou habilidades.”
“Eu sabia!” O garoto nerd levantou o punho com entusiasmo. Seus olhos brilhavam enquanto olhava para o portão atrás do velho com expectativa.
“Como não temos muito tempo, vou direto ao ponto”, anunciou o velho. “Todos vocês estão aqui porque os Deuses olharam para vocês favoravelmente. Talvez vocês tenham feito algo em suas vidas que merecesse o reconhecimento deles.”
O velho fez uma breve pausa para deixar que o significado de suas palavras fosse compreendido.
“Bem, se não houver mais perguntas, vamos entrar.” O velho acenou com a mão e o portão do templo se abriu. “Permitam-me dar as boas-vindas mais uma vez ao Templo dos Dez Mil Deuses!”