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    “Aqui está, William”, disse Herman, entregando ao jovem um peixe grelhado.

    “Obrigado, Tio Herman”, respondeu William, aceitando o alimento com prazer.

    Após os três Trolls da Montanha saírem da clareira, o grupo decidiu almoçar à beira do rio. Est continuava a lançar olhares furtivos para William, enquanto o menino comia feliz o peixe grelhado. Seus olhos frequentemente se voltavam para o colar de mithril que pendia do pescoço do garoto.

    Naturalmente, William percebeu o olhar, mas não deu importância. Todos em Lont lhe lançaram olhares curiosos quando viram seu colar de escravo pela primeira vez. Contrariamente às expectativas de William, ninguém fez um grande alarde sobre isso em Lont.

    Eles apenas o olharam com interesse e acharam que o colar em seu pescoço parecia legal. Até mesmo os adultos que haviam percebido que se tratava de um colar de escravo acharam que era apenas uma brincadeira de Celine para atenuar a travessura de William.

    Claro, essa mentalidade era restrita à cidade de Lont. Para as pessoas que não sabiam de nada, elas simplesmente achavam que William era um Half-Elf lamentável que havia sido vendido por traficantes de escravos.

    “Por falar nisso, William, obrigado por nos salvar mais cedo”, disse Est com uma expressão séria. “Eu juro pelo meu nome que vou retribuir esse favor.”

    “Pode me chamar de Will”, respondeu William com um sorriso. “Além disso, você não precisa me retribuir. Eu só fiz o que achei certo. Tenho certeza de que, se fosse você no meu lugar, também teria feito o mesmo.”

    “Mas…”

    “Nada de ‘mas’. Você não precisa de uma razão para ajudar alguém que precisa.”

    Herman observava a troca entre as duas crianças e balançava a cabeça em aprovação. Ele gostava muito de William e sentia um certo arrependimento por não ter um neto como ele.

    Est percebeu que William estava firme em não aceitar nenhum tipo de recompensa por ter salvo sua vida, então decidiu retribuí-lo no futuro, quer seu salvador gostasse disso ou não. Por ora, ele queria saber mais sobre esse pastor que lhe transmitia uma sensação misteriosa, mas agradável.

    “Você disse que está indo para o Templo Sagrado, certo?”, perguntou Est. “Qual o motivo de ir até lá?”

    “Estou indo ao Templo Sagrado para encontrar um Deus… quer dizer, quero rezar para os Deuses para que protejam Lont e mantenham os habitantes da cidade seguros”, William inventou uma desculpa para cobrir seu deslize anterior.

    “Lont?” Est olhou para Herman. Seus olhos claramente perguntavam: “Você sabe algo sobre Lont?”

    Herman fechou os olhos e refletiu um pouco. “Se não me engano… Lont é uma cidade pequena localizada na borda da Região Oeste. Ah! Você é talvez parente daquele velho filho da mãe, o James?”

    William sorriu e acenou com a cabeça. “Meu nome completo é William Von Ainsworth. Porém, pode me chamar de Will, Tio Herman.”

    “Ainsworth”, Nana fez um gesto com os lábios. “Então, aquele velho sem vergonha é seu avô.”

    “Nana? Você conhece o avô do William?”, perguntou Est.

    “Claro.” Nana assentiu com a cabeça. “Ele é o velho sem vergonha que se aproveitou do caos durante a batalha da Cidadela Guardiã do Vento. Ele e seus companheiros foram os responsáveis por derrubar o Dragão do Dilúvio, Ouroboro, e a Amphisbaena1.

    “Esse velho teve a cara de pau de anunciar para todos no campo de batalha que as forças combinadas do Reino Hellan venceram porque ele atraiu o Dragão do Dilúvio e quebrou a cadeia de comando do Exército de Monstros.

    “Agora, todos os nobres da capital estão amaldiçoando o nome dele. Até o Rei tem dor de cabeça sobre como lidar com as consequências da batalha por causa das travessuras dele.”

    Herman riu enquanto olhava para William. “Seu avô era um sujeito muito astuto. Enquanto todas as forças do reino estavam lidando com o Exército de Monstros, ele atraiu os três Grandes Chefes e conseguiu subjugá-los. Basicamente, ele usou a aliança como bucha de canhão2 para colher o maior lucro nessa batalha. Esse seu avô tem coragem!”

    William já ouvira a história de seu avô, pois o velho adorava se gabar de suas proezas. Mesmo assim, William ainda estava muito impressionado com a maneira como o pequeno grupo conseguiu se tornar o grande vencedor da guerra contra o exército de monstros.

    Ian resmungou ao ouvir os comentários de Nana e Herman sobre o avô de William.

    “Embora ele tenha conseguido colher os maiores benefícios nessa batalha, o neto dele ainda acabou se tornando um escravo”, Ian zombou. “Isso não é o que chamam de Karma?”

    “Ian, não seja rude!” Est repreendeu seu acompanhante. “William, peço desculpas pelas palavras do meu retentor. Ele é só uma pessoa direta.”

    “Sem problema.” William suspirou. “Acho que você também pode chamar isso de Karma. Meu avô surtou quando descobriu que eu virei escravo depois que ele voltou para Lont.”

    “Eh? Ele sabe que você se tornou um escravo?”, Isaac, o gêmeo de Ian, olhou para William surpreso. Embora ninguém estivesse dizendo isso em voz alta, eles pensavam que William era um dos sobreviventes da Calamidade da Maré de Bestas e havia sido vendido para se tornar escravo.

    Atualmente, havia um grande número de escravos chegando na capital, e a maioria deles eram sobreviventes das aldeias e cidades devastadas pelo exército de monstros. Inicialmente, pensavam que William fosse um desses sobreviventes.

    “Mmm.” William acenou com a cabeça.

    “Então, por que ele não comprou sua liberdade?”, perguntou Est.

    “Ele não tem como pagar.”

    “Eh?”

    William acariciou o colar de mithril em seu pescoço. “Um Half-Elf tão bonito e talentoso como eu vale um preço astronômico. Mesmo os ganhos que meu avô adquiriu durante sua curta expedição não foram suficientes para comprar minha liberdade.”

    “Você deve estar exagerando?”, Est desafiou. “Quanto seu avô precisaria pagar para conquistar sua liberdade?”

    “Vamos dizer que, mesmo que a Família Real do Reino Hellan esvaziasse seu tesouro inteiro, eles ainda não poderiam me comprar de volta”, respondeu William com uma expressão orgulhosa. “Até mesmo o resgate de um imperador fica pequeno perto do meu valor.”

    Est, Nana, Herman, Isaac: “…”

    “Posso socar seu rosto?”, Ian perguntou. “Minhas mãos estão coçando muito agora.”

    O garoto olhou para William com desdém. Embora os escravos Half-Elf fossem caros, eles não passavam de dez a quinze mil moedas de ouro, no máximo. Mesmo que o matasse, ele não acreditaria que o pastor à sua frente valesse um resgate de imperador.

    “Suas mãos estão coçando? Você deve estar sofrendo de pé de atleta3”, William zombou. “Meus pêsames.”

    “Eu disse mãos, não pés!”

    “Você é um idiota? Parabéns! Não há cura para a burrice.”

    “V-Você!”

    Isaac apressou-se em segurar seu gêmeo, pois ele estava prestes a partir para cima de William. Nana e Herman trocaram um olhar e balançaram a cabeça, impotentes.

    William revirou os olhos para o garoto bonito à sua frente. Ele não mentiu quando disse que um resgate de imperador ficava pequeno comparado aos ingredientes que Celine perdeu durante seu experimento. Alguns dos itens que ela perdeu não poderiam ser comprados, mesmo com dinheiro. Era assim de raro e valioso que eram.

    Ele só não entendia por que o garoto chamado Ian estava lhe atacando de graça.

    “Será que ele está com inveja porque sou três vezes mais bonito que ele?”, pensou William. “Hah~ Ser bonito é realmente um pecado.”

    Se Ian ouvisse os pensamentos de William, ele provavelmente teria brigado com seu gêmeo para ter a chance de espancá-lo até a morte.

    “Que tal vocês? Por que foram tão longe para visitar o Templo Sagrado?”, William perguntou depois de terminar de comer. “Embora suas roupas não pareçam caras, o design delas é bem diferente do que é comum na Região Oeste. Talvez todos vocês venham da capital?”

    Os olhares de Nana, Herman, Ian e Isaac se voltaram para Est.

    William percebeu a sutil mudança nas expressões deles e olhou com expectativa para o delicado menino de cabelo e olhos castanho-claro.

    “Nossos motivos para ir ao templo são os mesmos”, respondeu Est. “Eu também estou indo lá para rezar e pedir misericórdia aos Deuses.”

    William assentiu, compreendendo. Todos vão ao templo rezar para os Deuses, então o motivo de Est não era incomum.

    Depois disso, o grupo começou a conversar sobre coisas aleatórias, o que deixou a atmosfera mais animada. Meia hora depois, eles saíram da clareira e continuaram sua jornada rumo ao Templo Sagrado.


    1. @Asimov: Me da um desconto, juro que se pesquisar a tradução disso ‘Amphisbaena’ é nada com nada, mas é basicamente a cobra de 3 cabeças mencionada antes.[]
    2. @Asimov: bucha de canhão seria aqueles figurante aleatório que geral sabe que vai morrer, mas pelo menos tá lá pra fazer número[]
    3. Tipo uma coceira que acontece no pé quando corre demais[]
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