Capítulo 98: Acertando o Alvo [Parte 2]

William rolou no chão para evitar uma lâmina de vento direcionada a ele. Depois de recuperar o equilíbrio, imediatamente convocou seu arco e mirou. O jovem disparou três flechas consecutivas em rápida sucessão contra seu alvo.

A ave de rapina que havia lançado a lâmina de vento contra William evitou seu ataque com manobras aéreas ágeis, fazendo com que ele estalasse a língua em frustração. Três meses haviam se passado desde que começou seu treinamento com John, e sua proficiência com o arco havia atingido o pico do Rank Prata.

A parte surpreendente de tudo isso era que William não estava se apoiando em nenhuma Classe de Trabalho. Em vez disso, utilizou tudo o que aprendeu com seus instrutores anteriores e colocou em prática.

O Treinamento de Estamina de Owen permitiu que ele aguentasse firme em uma batalha de resistência.

O Treinamento de Percepção de Trent o ajudou a ler a trajetória dos ataques do oponente para que pudesse evitá-los.

O Treinamento de Flexibilidade de Dwayne deu a William uma vantagem para realizar acrobacias difíceis tanto para atacar quanto para se esquivar, enquanto segurava firmemente o arco em sua mão.

Um grito agudo reverberou no céu quando Blitz o alertou sobre outro perigo iminente. Outra ave de rapina voou dos arredores da floresta em uma tentativa de rasgá-lo com suas garras. Parecia ser a parceira da outra que ele estava enfrentando, e as duas feras decidiram trabalhar juntas para subjugar o garoto que pretendiam comer no almoço.

“Blitz!” William gritou, e o falcão mergulhou do céu para responder ao chamado.

O jovem pulou nas costas do falcão e lançou um olhar de soslaio para as duas aves de rapina. Se fosse uma luta um contra um, William estava confiante de que poderia vencê-la. No entanto, como o reforço do oponente havia chegado, ele decidiu recuar.

Ele não era tolo. Com suas classes de trabalho seladas, lutar contra duas Bestas de Classe D era suicídio. Com um bater de asas poderoso, o Falcão deixou os arredores da floresta e pousou perto de um pequeno acampamento, onde seu mestre, John, estava esperando por eles.

“Como foi?” John perguntou.

William balançou a cabeça. John havia lhe dado a tarefa de procurar uma presa adequada dentro da floresta para o almoço, mas ele não encontrou nenhuma besta que fosse fácil de lidar. Por isso, decidiu circular pelos arredores na esperança de encontrar um oponente que pudesse derrotar.

Depois de uma hora de busca, finalmente encontrou um coelho com chifres cavando o solo. Estava prestes a matá-lo quando foi interrompido pelo Arqueoptérix de Escamas Verdes.

Naturalmente, o coelho com chifres percebeu o perigo e imediatamente fugiu. William, por outro lado, enfrentou a ave de rapina porque sentiu que poderia derrotá-la. Infelizmente, o Arqueoptérix era um osso duro de roer. Eles lutaram por um quarto de hora antes que o parceiro da criatura viesse ajudá-la, deixando William sem escolha a não ser recuar.

“Acho que teremos batatas cozidas no almoço”, John disse com um sorriso, tirando quatro batatas de seu anel de armazenamento.

William suspirou, pois já era o terceiro dia seguido comendo batatas cozidas. Blitz os deixou para caçar seu próprio almoço. Ele era o tipo de pássaro que não gostava de compartilhar suas presas com outras pessoas.

“O que foi?” John perguntou, olhando para o garoto deprimido que suspirava ao seu lado.

“Finalmente entendi como é difícil acertar um alvo em movimento”, William respondeu, olhando para a panela de batatas sobre o fogo. “É muito mais fácil acertá-los quando estão parados.”

“Se alguém estivesse prestes a atirar uma flecha em você, você ficaria parado?” John indagou.

“Claro que não”, William respondeu. “Eu não quero morrer.”

“Correto.” John assentiu. “Naturalmente, as bestas contra as quais você está lutando também não querem morrer. No entanto, é assim que o mundo funciona. Ou você é o caçador, ou é a presa. Esses dois papéis podem se inverter a qualquer momento. Um minuto você é o caçador, no segundo seguinte você é o caçado.”

William sabia que John estava dizendo a verdade. Foi a mesma coisa quando lutaram contra o Xamã Hobgoblin pela primeira vez. Eles eram os caçadores, mas chutaram uma placa de aço. No final, a situação se inverteu, e o Xamã Hobgoblin quase aniquilou todo o grupo.

“Então, como se acerta alvos em movimento?” William perguntou. Ele esperava que John pudesse lhe dar algum conselho.

“Predizendo para onde eles irão se mover a seguir”, John respondeu. “É por isso que pedi para você caçar nosso alimento. Você precisa usar sua percepção e prever os próximos movimentos do seu alvo. Dessa forma, conseguirá acertá-los.”

“Prever…” William franziu a testa. Os movimentos do Arqueoptérix de Escamas Verdes eram muito erráticos para ele prever.

O que William não sabia era que, além da arquearia, o papel de John era ensiná-lo a ler a linguagem corporal de seus inimigos. Todos os Artistas Marciais eram proficientes nesse campo, mas os Caçadores eram os que prestavam mais atenção a seus alvos.

Acertar um inimigo à distância não era uma tarefa fácil. Requeria forte concentração e percepção para conseguir atingir o corpo do alvo.

A Profissão de John era Cavaleiro Aéreo. Ele era um caçador especializado em atirar em seus alvos do ar enquanto cavalgava sua montaria, Blitz.

O que ele mais dominava era caçar alvos em movimento. Foi por isso que conseguiu conter o Lobo Trovão de Chifre de Strathmore até que James e os outros chegassem como reforço.

Outro mês se passou, e William já havia se acostumado a caçar nos arredores da Floresta de Strathmore. Graças aos conselhos de John, ele conseguiu acertar seu alvo em 6 de 10 tentativas. Embora a taxa de acerto fosse apenas aceitável, era uma grande melhora em suas habilidades com o arco.

Ele havia acabado de matar um javali selvagem quando ouviu o grito de pássaros na floresta. O sexto sentido de William o alertou de que o perigo estava se aproximando. O jovem garoto não pensou duas vezes antes de correr para a saída da floresta.

Embora sentisse arrependimento por precisar deixar o javali para trás, sua vida era mais importante.

Ele havia percorrido apenas vinte metros quando uma Pantera de Asas Negras saltou para atacá-lo de lado. William já havia saltado para a esquerda, mas as garras da pantera ainda conseguiram fazer um corte em seu peito.

Felizmente, o ferimento não era profundo, mas mesmo assim tingiu suas roupas de sangue. William olhou para seu agressor com pavor enquanto sua habilidade de avaliação identificava a criatura diante dele.

‘Sistema, desbloqueie minhas Classes de Trabalho agora!’ William ordenou. Ele sabia que aquele não era o momento para segurar sua força, pois estava enfrentando um oponente mais forte do que sua Mama Ella em sua Forma de Íbex de Guerra.

William não arriscaria sua sorte contra tal adversário.

William sentiu seu corpo ficando mais leve e forte depois que suas habilidades foram liberadas.

‘Sistema, mude minha Subclasse para Monge.’

William guardou seu arco dentro do anel de armazenamento e correu em disparada, ziguezagueando entre as árvores usando sua técnica de movimento, Fantasma Celestial (Heavenly Phantasm).

A Presa Sombria o olhou com desdém enquanto saltava de galho em galho, perseguindo sua presa.

Quando a pantera estava prestes a saltar para a árvore mais próxima de William, o garoto deu um chute com toda a força no tronco, partindo a árvore ao meio. A mudança repentina pegou a pantera de surpresa, fazendo-a bater suas asas para ajustar o pouso.

William aproveitou essa oportunidade para avançar contra a Presa Sombria e desferir sua carta na manga mais poderosa dentro do arsenal do Monge: o “Golpe Avassalador”.

Um som estrondoso reverberou na floresta quando o punho de William se conectou com a perna da pantera. A besta rugiu de dor ao ser lançada para longe pelo golpe de força total de William. Sua pata dianteira ficou dobrada em um ângulo antinatural, o que provava que o garoto havia conseguido aleijar seu agressor.

No entanto, a batalha ainda não havia terminado. A pantera bateu suas asas e várias penas foram disparadas em direção a William. As asas da Presa Sombria eram tão duras quanto aço, permitindo que ela usasse suas penas como armas de longo alcance contra seus inimigos.

William dobrou seu corpo em um ângulo incomum para desviar das penas, algo que só foi possível por causa de sua flexibilidade.

Após esquivar-se do ataque, William fugiu, pois aquela era sua única chance de escapar. Ele esperava que a Pantera Alada desistisse e o deixasse em paz.

Infelizmente, ninguém ouviu suas preces, pois um rugido vingativo ecoou pela floresta. Mesmo com a pata dianteira aleijada, a Presa Sombria ainda podia se mover voando pelos ares.

Quando William saiu da floresta, a Presa Sombria já estava sobre ele, pronta para arrancar sua cabeça.

Foi então que um grito estridente cortou o céu, e Blitz colidiu com a Pantera Alada com suas garras prontas para atacar.

A Presa Sombria foi forçada a abandonar seu plano de decapitar William e se voltou para lutar contra o falcão que ousava se meter em seu caminho.

A pantera e o falcão engajaram-se em um combate corpo a corpo, desferindo arranhões, bicadas, golpes e mordidas um no outro no ar. William só podia assistir ao espetáculo se desenrolar enquanto as duas bestas lutavam com tudo o que tinham.

“Pare de brincar, Blitz,” John disse ao aparecer ao lado de William. “Não brinque com sua comida.”

Blitz gritou relutantemente enquanto olhava para a Pantera com desdém. A Presa Sombria sentiu que algo estava errado, mas ainda assim continuou atacando o falcão à sua frente.

O corpo do falcão cresceu de tamanho até ficar tão grande quanto dois ônibus combinados. Suas garras afiadas cortaram fundo o peito da pantera, deixando marcas profundas. A Presa Sombria percebeu que estava em apuros e decidiu fugir. Mas Blitz não lhe deu essa chance.

As garras do falcão rasgaram as asas da pantera, arrancando-as de seu corpo. A Presa Sombria rugiu de dor ao cair de cabeça no chão.

Blitz estava prestes a dar o golpe final quando um som agudo cortou o ar. Uma flecha voou diretamente para a boca aberta da pantera e atravessou sua cabeça.

Ao ver seu inimigo morrer diante de seus olhos, o falcão lançou um olhar para William, como se dissesse “Que diabos você está fazendo, mano?”. Claramente, Blitz não gostou de ter seu “abate roubado” por outra pessoa.

William, por outro lado, tinha um sorriso convencido no rosto ao ver que foi ele quem deu o golpe final na Besta que quase o matou momentos antes.

“Tio John, então é assim que é prever os movimentos do inimigo,” William disse com um sorriso presunçoso. “Tudo saiu exatamente como eu planejei.”

O canto dos lábios de John se contraiu enquanto ele olhava para o garoto descaradamente convencido ao seu lado.

‘Que parte do que aconteceu foi planejada por você?!’

Essa era a pergunta que tanto Blitz quanto John queriam fazer ao garoto, que agora olhava para o cadáver da Pantera com olhos gananciosos. Por um breve momento, seu olhar lembrou-lhes o de James quando estava prestes a saquear um acampamento de bandidos em busca de tesouros.