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    A energia elétrica parecia bater em ondas contra minha pele, mesmo sem me tocar diretamente. Quando virei, quase perdi o fôlego… Sophia estava coberta por uma aura elétrica que crepitava como uma tempestade prestes a explodir. Seus olhos brilhavam em um dourado intenso, faiscando a cada segundo. Hernán arregalou os olhos, a boca entreaberta em puro espanto. Cratos deixou escapar um riso curto, incrédulo, antes de dizer algo que se perdeu no meio dos murmúrios ao redor. Os aventureiros próximos observavam como se vissem um fenômeno impossível, ouvi alguns comentando entre si que jamais haviam presenciado um poder assim.

    Sophia ergueu a mão e vi a eletricidade se condensar na frente dela, ganhando forma. Cada faísca parecia obedecer como se fosse um fio moldado à sua vontade. Aos poucos, a energia se alongou, afilou e se tornou uma rapieira dourada que vibrava com um zumbido constante, cortando o ar ao menor movimento. O som me fez sentir um arrepio subir pela espinha.

    Ela avançou alguns passos, Hernán e Cratos abriram espaço automaticamente, como se já soubessem seu lugar naquela cena. Quando Sophia parou entre os dois, lançou um olhar firme e disse com a voz carregada de energia:

    — Essa é apenas mais uma criatura grande.

    Eles não hesitaram. Hernán soltou um suspiro, assentindo com seriedade. Cratos girou o machado e envolveu a lâmina em chamas intensas, que faiscavam como se fossem responder ao trovão que Sophia carregava. Juntos, formaram uma linha, a sintonia quase natural.

    — É estamos acostumados com criaturas assim… essa é só um pouco mais… tudo, eu diria. — completou Hernán enquanto canalizava sua energia.

    A Guardiã avançou, rugindo, e o chão tremeu sob a força de sua investida. Cratos foi o primeiro a reagir, golpeando com o machado em um arco incandescente que abriu espaço na ataque. Hernán ergueu as mãos e vinhas brotaram do piso encharcado, dessa vez mais grossas e velozes, se enrolando em torno das escamas da serpente para travar seus movimentos.

    — Vejo que alguém prestou atenção — disse Rose com um ar de superioridade.

    Sophia surgiu no mesmo instante, tão rápida que mal pude acompanhar com os olhos. Um clarão dourado cortou o campo de batalha, em um piscar de olhos ela já estava diante da Guardiã, a rapieira elétrica perfurou as escamas com precisão cirúrgica. O som do impacto reverberou, uma mistura de trovão e um estalo metálico.

    A serpente se contorceu, atingida de vários lados. O calor das chamas de Cratos se misturava ao que parecia o cheiro do ar após uma tempestade deixado pelos golpes de Sophia, enquanto Hernán forçava as vinhas a se prenderem ainda mais fundo, as plantas rangendo sob a pressão colossal. Pela primeira vez desde que a Guardiã se fundiu, ela parecia recuar, irritada e ferida.

    — Agora! — Cratos rugiu, suas chamas explodindo junto de um golpe que abriu brechas nas escamas.

    Sophia não perdeu tempo: em um movimento veloz, deslizou pelo corpo da serpente, a rapieira traçando linhas douradas que crepitavam na água e na carne.

    Quando a Guardiã rugiu em fúria e tentou retaliar, Selene surgiu pelo flanco, sua espada envolta em fogo carmesim, cortando o ataque antes mesmo que ele ganhasse forma. O impacto iluminou tudo ao redor em vermelho e dourado.

    Sophia, Cratos e Selene pressionavam a frente com golpes devastadores, enquanto Hernán recuava rapidamente em direção a Aqua. Vi a determinação em seu rosto: ele não ia deixar que ela permanecesse caída.

    Os três mantinham a ofensiva, cada um sustentando seu próprio ritmo, mas em perfeita sintonia. Os golpes de Sophia ecoavam como trovões dentro da torre, cada estocada de sua rapieira elétrica soltava um estalo ensurdecedor que reverberava nas paredes e fazia meu coração acelerar.

    Cratos avançou logo em seguida, as chamas envolvendo seus pés o impulsionando. Ele saltou mais alto do que precisava, girando o machado em chamas no ar e descendo em um golpe brutal contra a cabeça em chamas da Guardiã. Apesar de não ter causado nenhum dano considerável, o impacto foi devastador: escamas se partiram e o corpo colossal da serpente vacilou, perdendo o equilíbrio por um instante.

    Selene não hesitou. Com precisão, ela se lançou na brecha criada, sua espada carmesim cravando direto no olho da criatura. O rugido de dor da Guardiã sacudiu todo o andar, como se o próprio ar tremesse.

    — Você tem muito potencial, guerreiro! — Selene exclamou no meio do caos, sem desviar o olhar do inimigo.

    Cratos sorriu, ofegante mas confiante, respondendo com firmeza:

    — Obrigado… o reconhecimento vindo de alguém como você significa mais do que imagina!

    A Guardiã se contorceu furiosa, golpeando o chão com a cauda e espalhando ondas de destruição, mas o trio permaneceu firme. A luta escalava em intensidade, e por um breve instante, tive a sensação de que a criatura finalmente estava próxima de cair.

    Foi então que a serpente se ergueu, preparando outra rajada devastadora de ataques. Antes mesmo de se recuperar do golpe anterior a boca da cabeça em chamas começou a se abrir, a energia acumulando em um brilho ameaçador. Mas antes mesmo que pudesse liberar seu poder, Sophia já estava no ar.

    Ela saltou tão rápido que meus olhos mal acompanharam. E então, como se o próprio ar a tivesse segurado, ela ficou suspensa, pairando no ar por alguns segundos impossíveis. A eletricidade a envolveu por completo, faiscando e rugindo como uma tempestade contida em um único corpo.

    Sophia concentrou toda aquela energia na ponta de sua rapieira dourada e, em um único impulso, avançou. A cena se gravou em minha mente: ela parecia uma flecha gigante, dourada, atravessando o espaço com velocidade e precisão inumanas.

    O impacto foi devastador. Sophia perfurou a cabeça da Guardiã de lado a lado, deixando um rastro de destruição no caminho. As escamas explodiam em fragmentos faiscantes, e a eletricidade se espalhava em ondas pelo corpo colossal da criatura, que rugiu em agonia, o andar inteiro tremendo com o som.

    Sophia não parou depois do ataque devastador. Com a respiração pesada, ela ergueu novamente a rapieira dourada, os olhos faiscando como se quisesse acabar com tudo de uma vez. Selene avançou ao seu lado, ambas se preparando para perfurar a última cabeça da Guardiã. Por um instante, eu acreditei que conseguiriam.

    Mas então… vi a centelha nos olhos de Sophia se apagar. A energia elétrica que antes rugia em torno dela desapareceu como um sopro. Seu corpo vacilou no ar e, em um segundo, ela desabou pesadamente no chão, incapaz de se mover.

    A Guardiã não perdeu tempo. De suas presas, jorraram duas lâminas de água comprimida, afiadas como espadas, disparadas direto contra Sophia indefesa. Meu coração congelou.

    — Garota! — Selene gritou, avançando com tudo o que lhe restava.

    Ela conseguiu segurar Sophia e se virou para a guardiã, erguendo a espada no último instante. Conseguiu desviar o primeiro golpe, mas o segundo cortou o ar em uma curva traiçoeira. O som do impacto ecoou, e eu vi o sangue escorrer. Selene cambaleou, um corte profundo marcando suas costas, mas ainda assim segurava Sophia em seus braços, protegendo-a com cada fibra de seu ser.

    Enquanto isso, a Guardiã rugia triunfante. Diante dos meus olhos horrorizados, a cabeça destruída começava a se regenerar lentamente, escamas e carne se rearranjando em um espetáculo grotesco. O que acreditávamos ser o fim… não passava do início do verdadeiro pesadelo.

    Um silêncio pesado caiu entre os aventureiros, quebrado apenas pela respiração irregular de Selene. O desespero tomou conta do grupo. E dentro de mim, uma angústia insuportável crescia, como se algo me esmagasse por dentro.

    Selene caiu de joelhos, ainda abraçando o corpo desacordado de Sophia, o sangue manchando suas roupas. Eu corri até elas, a mente girando em um turbilhão. Não… não pode ser assim… nossa aventura não poderia acabar assim.

    Meus passos ecoavam no andar, cada vez mais rápidos, até que me ajoelhei ao lado delas. O peso da situação me sufocava, e a Guardiã, imponente se regenerava, rugia como se já tivesse vencido.

    Naquele instante de desespero absoluto… tudo pareceu ruir. Segurei Selene com força, tentando ignorar o tremor das minhas próprias mãos. Meu coração pareceu parar no instante em que senti a umidade quente se espalhando entre os dedos. Sangue. O sangue dela.

    Olhei para o rosto de Selene, pálido, os lábios apertados em dor, a cena diante de mim trouxe à tona a lembrança do dia em que a conheci em Rivendrias. Fomos atacadas por um elemental de água, tia Sienna foi ferida enquanto me protegia… é como se eu estivesse destinada a ver as pessoas importantes para mim se ferirem.

    A lembrança me esmagou. Lembrei da sensação de impotência, do pânico em minhas veias… e, ao mesmo tempo, da chama que nasceu de mim naquela ocasião, como se fosse um milagre, como se meu próprio corpo tivesse recusado aceitar o destino que tentava ser imposto. Foi esse fogo que curou Sienna… mas agora, nada. Eu precisava do poder.

    A frustração queimava mais do que qualquer coisa. Eu queria gritar. Eu queria entender meus poderes. Eu queria… eu precisava salvar Selene. Mas nada vinha.

    A Guardiã, enquanto isso, se erguia lentamente, suas feridas fechando-se em silêncio. Era como se ela estivesse saboreando cada segundo, apreciando o espetáculo do nosso desespero. Os aventureiros recuavam, olhos cheios de pavor. Hernán gritava, a voz rouca:

    — Curandeiros! Façam alguma coisa! AGORA!

    Mas ninguém se movia. O medo os paralisava. O medo nos devorava.

    Apertei os olhos com força, tentando bloquear tudo, tentando me agarrar a qualquer coisa. Foi então que uma lembrança suave se infiltrou no meio da tormenta. Uma manhã calma em Rivendrias, o cheiro de pães de maçã recém-assados preenchendo a cozinha. Sienna estava sentada à mesa, sorrindo com aquele jeito caloroso que só ela tinha, e me ofereceu um pedaço com as mãos ainda quentes do forno.

    — Quer saber um segredo, Ashley? — ela disse com uma voz tranquila. — Para proteger aquilo que é importante… às vezes, você precisa deixar o coração queimar antes da razão.

    Na lembrança, ela me puxou num abraço apertado. Pude sentir o calor daquele abraço me acolhendo de todas as direções. Deixar o coração queimar. As palavras que ela disse, por algum motivo, parecem fazer mais sentido agora do que nunca.

    Fim do capítulo 54: Ignição de Corações.

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