03 / Ninguém é intocável (I)
— Agora que derrubei o vampiro, tudo fica mais fácil! — rugiu o caçador, pressionando Aisaka, lâmina em lâmina, enquanto o corpo de Alucard caía para dentro da muralha, dissolvendo-se em fumaça.
A lâmina que carregava a morte passou diante dos olhos de Sora, espirrando sangue na sua capa. Como uma reação alérgica à grotesca tinta vermelha, sua respiração acelerou como um carro sem freios.
Sangue.
Ele arfou. Cada respiração ficava mais difícil. Sora tentou parar os tremores das mãos ao apertá-las contra o peito, mas aquilo nunca iria funcionar; seu corpo inteiro começou a tremer.
Morte.
Sangue.
“Não! Eu, eu… de novo, eu…!”
Morte.
As manchas vermelhas surgiram de novo na sua mente. Daquele dia. Elas iriam corroê-lo, consumi-lo.
Suas pupilas dilatadas clamavam, pedindo para que ele desviasse o olhar, mas o corpo não obedecia.
Sora abriu a boca. Esforçou-se tanto para gritar, queria tanto gritar, mas nada saiu.
Sangue.
Ele conseguiu olhar de volta para Aisaka, mas enxergava só dois borrões estranhos. Olhou para baixo e suas mãos também pareciam borrões. Tudo era quente. Tudo era frio. Tudo era confuso. Por que suas pernas não paravam de tremer? Por que doía tanto respirar?
Não tinha mais equilíbrio, suas pernas pediam por desistência. É isso. Iria cair dali. Cair e morrer.
— Moleque imbecil, o que tá esperando?! — Aisaka gritou para o garoto. Confrontando o homem do arpão, ela gritou, fortificando seu corpo.
Uma aura vermelha-escura envolveu o corpo da capitã e explodiu com o movimento da espada, lançando o agressor para quilômetros de distância, floresta adentro. O impacto deixou fumaça para trás sobre aquela região da muralha que se dissipou aos poucos, revelando o par de chifres enrolados para cima, cor de obsidiana, na cabeça da capitã.
O estrondo e a figura daquela mulher trouxeram Sora de volta para a realidade. Foi aquele barulho que o salvou, e aos poucos, o fizeram voltar ao normal. Foi quando percebeu o quão suado estava.
Ele enxergou Aisaka de baixo para cima, como uma vez já tinha feito. Os olhos dela estavam roxos, do tom mais púrpura, recheados de animosidade. Sora conhecia aquela raça, já ouvira histórias da sua mãe. Com chifres e presas, uma das Três Raças Primordiais, oriundos da Força da Destruição, alimentados pelo desejo por guerra: demônios.
Ouviu-se um pequeno estouro de onde o agressor tinha vindo. Do solo ao céu, em um salto, o caçador coberto por mantos brancos esvoaçantes criou uma cratera ao saltar. Aisaka pôde observá-lo melhor, mesmo daquela distância. Os olhos amarelos do homem, perfurantes como as pontas dos seus arpões, se encontraram com os dela. Ambos, naquele instante, extraíram o máximo de informação visual que era possível de seus respectivos alvos.
“Ele tem um compartimento preso às suas costas que libera cordas ligadas a arpões. Ao que parece também pode arremessá-los sem as cordas”, pensou Aisaka. “Como um deles está aqui? Por que a Ordem decidiu atacar agora?!”
— T-tia…!
— Moleque, vai e pega as armas do Alucard lá embaixo! Ele está vivo! Nunca viu um vampiro antes na vida?! — gritou ela novamente, simultaneamente descendo sua espada na vertical frente ao caçador, mesmo estando muito distante dele.
O caçador se impulsionou pelo ar, mas antes mesmo de ser capaz de atacar, seu corpo foi atirado contra sua vontade para baixo, com imensa brutalidade. Aisaka Nobléte, ela era como uma força da natureza, uma lei que não pode ser desobedecida por ninguém. Mesmo em meio ao frenesi da ação, Sora não pôde deixar de olhar para ela e pensar “o quão bonita é essa força”.
— D-desculpa, certo!! — Sora respondeu, recobrando de vez os sentidos.
Ele se levantou com suas pernas trêmulas. Seus olhos que ainda tentavam se encontrar no ambiente olharam para a base da muralha, bem do seu lado. Sora conseguiu enxergar o amontoado de poeira no chão que era unido por uma cabeça. É, ele realmente era um vampiro. Um ser da noite que fica em seu ápice de poder apenas quando o Sol se põe. De qualquer forma, Sora tinha que ser rápido. Pensar e agir rápido. Ele não iria deixar que as coisas se repetissem.
“Bora, Sora, coragem. Você prometeu!”
Sessenta metros. Pular era a única opção. Antes de fazer qualquer coisa, Sora se levantou e pelo canto do olho deu uma última olhada em Aisaka. A capitã saltou da muralha, deixando para trás apenas a cratera formada pelos seus chutes na muralha de concreto.
“Eu sabia que ela não era gente ruim!”, Sora concluiu e com um sorriso leve no rosto, contrapondo a gota de suor frio que escorria pelo canto, ele saltou para dentro da muralha. “Tá! É só distribuir o peso do corpo pra…”, o seu pensamento foi interrompido pelo bater da queda. Antes de decidir a sua postura, ele já estava com a cara enfiada no chão.
— … Ai. — Ele não teve nenhum ferimento além de leves dores. — Caramba, não doeu tanto…
[ • • • ]
“Não consigo me regenerar.”
O vampiro estava reduzido a apenas uma cabeça. Alucard olhou para baixo, encontrando seu corpo todo em poeira. A poeira se misturava e se revirava, buscando se unir e formar uma figura humana, mas todas as tentativas acabavam da mesma maneira: um cenário igual ao de um castelo de areia derrubado. Não tinha forças para conceber uma forma.
“Quão miserável”, ele pensou e suspirou. Ele então voltou o olhar para o arpão caído e manchado de sangue à sua direita.
“Entendo, uma ferramenta de combate anti-vampiro. Provavelmente foi forjada por um anjo ou outro ser da Criação. Não devo conseguir me reformar nos próximos dez minutos…’Agora que peguei o vampiro, tudo fica mais fácil’, foi o que o caçador disse. Então não sou eu quem ele quer. E se o objetivo fosse o menino, ele o teria matado de uma vez. Ele veio preparado para lidar comigo, então seu objetivo é… “
O alvo do inimigo ficou bem claro em sua mente. Ele percebeu isso, então, não podia mais perder tempo ali. Aisaka. Por Aisaka.
O vampiro gritou, mostrando suas presas pela primeira vez. As veias do pescoço pulsaram violentamente conforme sua voz ficava mais voraz e seus olhos se enegreceram. Tudo era um esforço para conseguir reformar o seu corpo o quanto antes. Dedo por dedo, a poeira conseguiu se recompor, mas logo retornou ao chão. Era em vão. O máximo que conseguira foi manter sua cabeça e um braço unido. Sua única opção era esperar mais tempo enquanto poupava suas energias e confiar que Aisaka aguentaria até lá. Isso até olhar para o outro lado.
— Tio, você tá bem?! Não vai morrer, né?!!
Era Sora falando. O garoto olhava para a criatura da noite, suando frio. Parecia também estar procurando alguma coisa. O vampiro não conseguiu entender de primeira aquela cena.
“Esse garoto… Como ele chegou até aqui? Não, em primeiro lugar, por que ele está aqui?”
— Não…eu ficarei bem. Agora, sai…
— Tá, então cadê as armas?!
Alucard foi pego de surpresa pela mudança abrupta no assunto. Deu uma boa olhada no menino. Era engraçado. Ele estava com as pernas tremendo e suando, claramente com medo. Então por que estava bem ali?
“Esse garoto, ele…”
— E então, tio! Cadê?
— Huh…! Em alguns minutos estarei inteiro de novo. Agora, separe esse monte de poeira na sua frente e verá as duas armas e o meu distintivo. Pegue-os e vá. Aisaka quem pediu, certo?
Sora assentiu com a cabeça. Com rapidez, derrubou o monte de pó. Encontrou sob ele duas pistolas, cor de bronze. O peso delas era normal e não tinham nenhum detalhe visível que as tornassem especiais. Sora também pegou o distintivo e o colocou no peito. Apesar de não ser ‘pra valer’, aquele broche o deixou mais confiante.
— Ótimo, agora vai, confio em você.
Os olhos do menino brilharam, azuis como safiras. Aquelas últimas palavras; Alucard não saberia dizer o porquê as havia dito, apenas fez. Sora assentiu com a cabeça novamente, levantou-se e olhou de volta para o vampiro no chão.
— Tô indo! Vem logo você também, tio!! — disse ele, antes de começar a correr o mais rápido que podia, segurando uma arma em cada mão.
O vampiro olhou a figura do menino se afastando e ficando cada vez menor.
“Entendo. Então foi isso que viu nele, Maki…?”, pensou o vampiro.
Grunhindo de força novamente, ele foi capaz de reformar seu braço direito momentaneamente para trazer para perto da cabeça o seu rádio.
— Comando para as forças policiais da fronteira do Sul!! Estamos sob ataque de um integrante da Ordem da Verdade! Toda a força policial, envie reforços armados imediatamente para os portões da fronteira! A capitã Nobléte entrou em combate fora dos portões e receberá meu apoio em breve. Um garoto de cabelos brancos passará pelo portão. Liberem o caminho para ele! De resto, operem segundo o protocolo azul!! — A voz do vampiro saiu firme por todos os rádios dos agentes de baixo escalão da província. “O garoto deve ficar seguro. Mesmo que tenha mais de um deles, contanto que ele saia de Nikuma, não será um alvo.”
Logo, um esquadrão de soldados, por volta de cem deles, armados com lanças e pistolas em coldres e uniformes azuis-escuro marcharam apressadamente até os portões, em posição. Divisões levantaram escadas na muralha, subindo até o topo e se posicionando com rifles de precisão customizados com diferentes fontes de energia. Nem todos tinham aparência totalmente humana. Muitos tinham orelhas de animais, outros muito menores do que o restante. Uns portavam relâmpagos como munição, outros, balas de ar super comprimido. Sua formação era distinta, em alerta, cobrindo toda a área da fronteira.
Sora, graças ao distintivo de Alucard no peito e a orientação deste último, passou pelos portões sem interrupção. Assim que deixou para trás os portões da cidade e pôde sentir o cheiro das árvores, apressou o passo.
Fora das muralhas da fronteira do Sul de Nikuma, só há floresta. Até onde os olhos do garoto conseguem enxergar, não havia nada além de mata densa. A vegetação alta composta por árvores de lustrosos galhos se estendia até dez metros de altura, tampando a passagem de luz quase que totalmente.
— Bora Sora, bora! — gritou para si mesmo, com um sorriso estampado no rosto; um sorriso recheado de nervosismo mas com uma pitada de ousadia.
O garoto saltou, agarrando o galho de uma árvore e usando-o como propulsor. A força colocada estourou o galho, mas empurrou o garoto ainda mais longe.
A umidade era muita, tal que respingos de água voavam a cada salto do garoto que atravessava folhas e copas sem hesitação. Ele não parava. Não mudava de rumo. Era quase como se criasse seu próprio caminho por meio da mata. Troncos caídos no chão, galhos no topo das árvores, tudo que podia ser um obstáculo servia como impulso para o seu corpo. Não, para ele, não havia obstáculos. Ele estava acostumado àquele lugar. Era a sua casa. Conforme corria e saltava, os pequenos brejos e poças de água iam se tornando mais comuns. Alguns sapos com três chifres sobre a cabeça se escondiam na terra úmida ou na água rasa, com medo dos saltos barulhentos do garoto.
“Agora, pra onde eles foram?”
Sora parou por um momento e fechou os olhos. Levando as mãos até atrás das orelhas, ele passou a se atentar no som. Do mais alto canto dos pássaros e coaxares, à mais delicada queda do orvalho.
“Tá, é só escutar…”
Do remexer de água, a quebras de galhos, até que enfim, ouvir o tilintar de lâminas se confrontando.
— Ali, mais rápido! — Sora acelerou.
A cada segundo percorrido a luz do sol ia entrando ainda mais e o solo mais macio e úmido. Sora sabia o que isso significava: um lago estava logo à frente.
A poucos metros de si estava um lago, aberto em um grande círculo sem árvores muito próximas com apenas uma vegetação parecida com manguezal.
Mas um lago era apenas isso, água; jamais um desafio.
À essa altura seus pés mal tocavam o chão, mas ainda levantavam folhas e terra a cada passo. Uma cortina de vento se formava atrás de si pela velocidade.
Enfim, ele flexionou seus joelhos e saltou, desmoronando a terra na beira do lago. O lago de cinquenta metros de extensão foi sobrevoado e deixado para trás pelo menino em um segundo, cujos olhos só visavam a frente. Ele aterrissou do outro lado com uma queda desesperada, manchando sua roupa de terra úmida. Apenas levantou e continuou correndo.
Após correr tanto, os lampejos e os ruídos de metal ficaram mais intensos.
Sora estava perto. Era logo ali, tinha que se apressar para conseguir protegê-la, como Alucard desejava.
[ • • • ]
— Eu imaginava que os caçadores da Ordem da Verdade fossem melhores que isso. Mesmo em emboscadas não conseguem me ferir — dizia Aisaka, de pé. Sua lâmina estava guardada e seus chifres desapareceram. Não precisava mais deles.
— Sua desgraçada! — O oponente estava no chão deitado, tentando se levantar. — Esse não é o fim, nunca vai ser!!
O homem saltou com tudo para cima, passando a copa das árvores. Entretanto, não foi longe. Da mesma forma que o braço de Aisaka que foi movimentado de cima para baixo, assim também fora o corpo do invasor, colidindo brutalmente contra o solo, pressionado, como se o peso de três elefantes estivesse sobre si. Seu corpo era prensado na terra, afundando centímetro por centímetro, rachando o solo. O grito do oponente era a aflição em pessoa. Não ser capaz de suportar a própria massa em relação à gravidade era um verdadeiro pesadelo. Esse era o poder de Aisaka Nobléte, seu Mabda.
O invasor lançou um olhar de maldição para a mulher e estendeu a sua mão, tentando alcançá-la, ela que o apenas o olhava de cima.
— Talvez não seria o seu fim se tivesse ido atrás de qualquer capitão fraco, mas selou o seu destino no momento que pôs seus olhos em mim. Lembre-se, você decidiu isso. — Essa era a voz da mais forte capitã de Nikuma. — Agora, você vai responder todas as minhas perguntas antes que eu te enterre vivo.
Os olhos púrpura da capitã eram o destaque da sua feição de superioridade, a mesma face de uma autoridade máxima e inabalável.
Mas a autoridade foi quebrada. Ninguém fica no topo por muito tempo, muito menos é intocável.
O vento parou.
As folhas deixaram de cair.
Os olhos da capitã se encheram de surpresa, quando uma lâmina atravessou o seu ombro. Seu corpo foi atirado contra uma árvore, preso graças a ponta fincada da arma. Acima de fúria e dor, estava a surpresa e o choque no rosto da mulher.
Em meio a pressão esmagadora do próprio peso, um arpão atravessou o corpo do caçador, ignorando a gravidade e acertando a capitã. O homem então se levantou, sem temor, levando seus cabelos grisalhos para trás, reclamando um pouco da dor. Era bizarro: um arpão havia acabado de passar pelo seu corpo mas não tinha nenhum sinal de ferimento.
— Você deve estar se perguntando: “Como ele conseguiu?! Eu o tinha na palma da minha mão!!”, não é? — Ele se aproximou pouco-a-pouco, mexendo suavemente na corda ligada ao arpão, remexendo na perfuração, provocando a dor aguda de se ter suas entranhas sendo remexidas. — A resposta é bem simples — disse, levando o dedo indicador esquerdo até a lateral da cabeça. Usando do dedo, atravessou sua própria cabeça. Mas não houve sangue, nem ferimento algum. O dedo apenas atravessou a cabeça como se fosse feita de água e voltou. Era etéreo. Aisaka entendeu de imediato, não era preciso ele dizer mais nada.
Fantasmas, descendentes da Força do Equilíbrio. Assim como todas as raças, eles também possuem uma característica exclusiva: intangibilidade.
— Vocês… Na teoria, era pra vocês, fantasmas, impedirem guerras, mas eu acho que essa é uma habilidade muito útil para um Caçador ter, não é, maldito? — a capitã disse, em pausas, resistindo só ferimento.
— Aisaka Nobléte, além de sua posição, o que mais se orgulha é do seu Mabda: controle de gravidade pessoal. Mas olha só! Em mim, ela não funciona! — Debochado e confiante, ele disse. Estava muito mais expressivo do que antes, como alguém que finalmente tinha mostrado a própria natureza. — Ainda assim, me pegou de surpresa. Mirei na sua garganta, mas você foi ágil o bastante para desviar, hah!
Aisaka mantinha sua respiração curta e firme. Lutava para manter sua consciência. O sangue começou a escorrer a um bom tempo do ferimento aberto e não tinha força alguma naquele braço.
— Mas a intangibilidade de vocês… é temporária, não é? — Ela levantou a cabeça, ousando encará-lo com um olhar desafiador. Ela sabia que estava certa, afinal, o golpe anterior o atingiu com sucesso.
Em uma explosão súbita, seus chifres surgiram novamente e por conta própria, agarrou o arpão, partiu-lhe em pedaços e se levantou. Aquilo doeu, muito, mas uma capitã de Nikuma jamais aceitaria só ficar deitada esperando a morte.
Aisaka atirou os pedaços da arma de volta ao seu atirador, apenas para ver os fragmentos passando através dele como se acertassem apenas o vento.
— Hm, você sabe disso? Parece que subestimei Nikuma um pouco.
— Ghh! Você está sozinho?!
— Acha que só eu não seria capaz de dar conta do trabalho? Huh, mas pouco importa… Esse é o fim, o seu e o início do fim da sua nação. — Ele agarrou mais um arpão, prestes a lançá-lo.
— Tia!! — Outra voz bradou na clareira, mais aguda, mais jovem.
Aisaka olhou na direção da voz. Era o garoto, arremessando uma das pistolas de bronze na direção dela.
“O quê? Não! Por quê? Por que você está aqui? Não era para ter voltado!”, a capitã pensou, com seus dentes rangendo. Estava sentindo raiva? Tristeza? Preocupação? Ou quem sabe, no fundo… Não, isso não importa. Agora, só há um caminho: vencer.
O invasor recuou alguns passos, sorrindo de volta, enquanto a capitã agarrou uma das armas. Olhando em seus olhos, ela atirou.

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