— Parte disso é culpa nossa. Mandamos ele para cá e ele aceitou com tanto entusiasmo que nem pensamos sobre isso; sobre o que essa realidade poderia fazer com alguém como ele. — Alucard falava para a esposa que andava um pouco mais a frente dele.

    Alucard e Aisaka Nóblete estavam andando pelo pátio externo da escola no dia seguinte, sábado. Ele estranhou a falta de resposta dela.

    — Aisaka?

    A capitã não respondeu.

    Ao olhar mais para baixo, o vampiro viu uma gota de sangue escorrendo pelo punho da mulher, de tão fortemente fechado. Ele se aproximou mais dela e segurou em sua mão, dando um aperto gentil.

    — Eu sei…a culpa é nossa…

    Passados poucos minutos, ambos se encontravam de pé, na frente da porta aberta do quarto de Sora.

    — Oi tio, tia! — Sora os cumprimentou. Logo, os olhos de Alucard pesaram.

    Sora estava com olheiras sob os olhos. Seu sorriso era tão…frágil.

    Aisaka não disse nada. Apenas entrou no quarto pela brecha que Sora deu. Ela foi andando diretamente até a escrivaninha.

    — T-tia? Tá tudo bem?

    Ela parou bem na frente da mesa, tocando com as próprias mãos os papéis rasgados que um dia foram um livro e se virou para Alucard.

    — Fizeram isso com você, não foi? — o vampiro disse, cortando outras palavras.

    — E-eh? Não foi nada! Não, pera, como vocês ficaram sabendo disso?

    — Recebemos uma ligação da coordenação educacional. Parece que algum aluno viu uma cena de intimação e denunciou para o professor Falcon.

    Sora arregalou os olhos. O único que tinha visto a cena foi…

    — Perdoe-nos, Sora. — Alucard deu um de seus gigantes passos e repousou a mão esquerda sobre o ombro do garoto.

    — Han? N-não, perdão pelo quê?

    Aquela inocência machucava o coração do vampiro ainda mais.

    Enquanto isso, Aisaka examinava os papéis. Um de seus punhos estava bem apertado com veias pulsando.

    “Eu vou ir pra uma escola de verdade?! Caraca, isso é demais! Só esperem. Em uma semana eu vou ficar mais forte que vocês!!”, Aisaka lembrou das palavras que ele disse quando soube da sua inscrição. Ele estava tão feliz. Tão feliz que conseguiu arrancar até um riso dela naquele dia. “Hah, você riu, tia! Eu fiz você rir, hahah!!”

    Aquele garoto de quinze anos, sem qualquer tipo de poder, aquele garoto que ficava tão feliz com qualquer coisa. Inconsequente, impulsivo, teimoso; esse foi o garoto que salvou a sua vida.

    — Sora! — Aisaka disse, levantando a voz.

    O menino se assustou e Alucard sorriu discretamente.

    A capitã se virou para o garoto, com as mãos nos bolsos do seu colete. Do outro lado,. 

    — Você não vai sair dessa escola até estar formado, ouviu bem? Não quero saber o que essas ruivinhas podres dizem, eu não vou deixar que você saia dessa escola. Entendeu?! Você merece estudar aqui… — a voz da capitã saiu como um trovão. Uma determinação que só ela era capaz de fazer, antes de continuar, ela deu mais um passo.

    Aquelas palavras podiam ser duras, mas o peso daquela mão e o olhar irritado da mulher, para Sora, só significavam uma única coisa:

    Você não está sozinho.

    — …porque você é mais forte do que qualquer um. — a capitã concluiu.

    Os olhos dentro das sombras da escola, o peso em seus ombros e aquelas armas em forma de palavras; quem poderia dizer quando iriam cessar? Mas mesmo assim, tudo isso parecia não mais importar.

    O seu peito não mais doía.

    O rosto do garoto mais uma vez se encheu de lágrimas. Ele mordeu os lábios, não querendo se render. Em vão. Abriu a boca, como uma criança. Foi assim que ele, mais uma vez, a abraçou. Suas lágrimas escorriam sem medo.

    Alucard abriu um sorriso ainda maior.

    Aisaka ficou um pouco confusa. Seus braços ficaram acuados. Era para ela fazer o quê mesmo? Ela voltou o olhar para o marido, que apenas assentiu com a cabeça, com a calmaria contagiosa que só ele conseguia passar a ela. 

    — Hmf! — Timidamente, os braços da capitã envolveram Sora, respondendo o gesto. — Não se acostume, garoto.

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