11 / Sem Reação
O CEP, ou Centro de Exames Práticos, é um prédio anexado ao prédio da Escola Militar. Como o nome sugere, nele são realizados quaisquer exames práticos que fazem parte da grade curricular do curso ao longo dos seus três anos.
Dentre sua enfermaria e até alguns dormitórios, sua maior estrutura é a quadra poliesportiva com cem metros de comprimento.
— Esta fase do exame é simples — disse a voz grossa e pouco rouca de Falcon, o professor-chefe, de frente para os 23 alunos do 1-A. Todos estavam dispostos nas arquibancadas, enquanto o professor ficava de costas para a grande arena — proeza de combate, habilidades estratégicas, controle do próprio poder, todas essas capacidades serão avaliadas em seu estágio inicial em uma série de confrontos individuais.
— Nós vamos lutar?! — disse um aluno.
— Hora de cair na porrada!
— Era isso que eu queria!
— E se nos machucarmos?!
Muitos alunos se manifestaram, mas a face do professor continuou séria. Sora, que estava sozinho na última fileira, fixou, centrado, os olhos no professor.
“É isso. É disso que a tia tava falando”, pensou.
Os murmúrios continuaram até aumentar em volume e proporção, mas todos voltaram ao silêncio quando o senhor no centro limpou a garganta.
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— Todos aqui! Entraram nessa escola para lutar pela nação, estou errado? — A voz dele saiu como um trovão, fazendo os demais concordaram fortemente com a cabeça. — Então, não há surpresas. Todos aqueles que se formarem estarão, diariamente, arriscando as suas vidas para proteger cada cidadão que reside no reino. Cada um deles!
A voz do homem era a única a ser ouvida. Potente, firme, convicta. Os ouvidos de Sora eram chamados por ela e seus olhos não pairavam sobre outro lugar que não fosse seu rosto. Ele sabia que as palavras daquele homem eram a única verdade e, em resposta, não pôde deixar de apertar os punhos.
Proteger a nação. Não sabia bem o que isso queria dizer, mas tinha um motivo para ficar mais forte.
— Ao fim desses três anos, vocês serão agentes cujas vidas serão colocadas em uma corda bamba em prol da defesa desse país. Inevitavelmente, irão se ferir. Inevitavelmente, deverão fazer decisões difíceis em muitas missões. E é para isso que estamos aqui, para que estejam preparados! Portanto, é também inevitável que nesse processo de amadurecimento vocês estejam dispostos a ganhar algum arranhão ou outro. — O professor continuou.
Da arquibancada, na primeira fileira, encolhido quase como se buscasse sumir, Álli escutava as palavras. “Defesa”. Ele olhou para cima. “Defender, é pra isso que tô aqui. Então…”, ele rangeu os dentes, em silêncio.
— Mas claro, como dita o termo de consentimento entregue junto a matrícula de vocês: não apenas daremos todo o apoio e preparo médico necessários, como também proibimos qualquer tipo de exercício ou exame com potencialidade letal acima da média. E épara garantir sua segurança— disse o professor, erguendo a mão para o topo da plataforma — que eles estão aqui.
Sora acompanhou a mão do tutor com o olhar, até que dois feixes desceram do céu da arquibancada, em um único respirar.
“Tão rápido!”, pensou Sora.
Os feixes se tornaram homens ao caírem no chão ao lado do professor.
— Oficiais Zeta e Delta. Dois bons soldados a serviço estarão aqui como segurança, mediando junto a mim este exame, assim como intervindo ao menor sinal de perigo real.
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— Mas só tem parralho! — disse o primeiro homem, de pele clara como mármore branco e olhar afiado.
— Pirralho, Zeta — disse o segundo homem, de pele bem mais escura e olhos redondos.
— Não me corrige não! Criança, pivete, tanto faz.
Falcon tossiu forçadamente, chamando atenção pra ele. Os dois homens, igualmente trajando o uniforme azul padronizado do exército, viraram-se para os alunos e fizeram uma reverência.
“Será que…vamos mesmo ficar bem?”, foi o que muitos pensaram.
— Pois bem. Peço agora que todos olhem para o telão no centro — disse o professor, direcionando agora sua mão para o centro da arena com quatro grandes telões, posicionados no alto de tal forma a criar quase um círculo, um telão para cada canto. Um deles se iluminou, mostrando a lista de presença dos alunos. — Sortearei os enfrentamentos. Suas lutas serão assistidas pelas outras turmas do mesmo ano e de anos posteriores, assim como outra parte da equipe docente… hm?
Falcon interrompeu sua fala à medida que viu a mão de um aluno levantada, Sora.
— Professor, e o que ganhamos com esse exame?
— Hm, ótima pergunta, mas acalme-se que eu já estava para chegar lá…
Sora sorriu desconcertado e abaixou a mão.
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— Os cinco melhores avaliados no exame receberão um encontro particular com Mestre Yke.
Os olhos da maioria dos alunos se arregalaram como pérolas recém-descobertas, ou como se a oportunidade dos sonhos estivesse ao alcance. Em verdade, era exatamente isso.
— Sério mesmo?! O Yke?! — disse um aluno para um colega.
— Isso é tudo que eu precisava!! — disse outro para ninguém em particular.
— Se eu conseguir isso, será que ele me aceita?
— Não, nem ferrando! Ele não aceita ninguém há quase uma década!
Esses dois eram dois garotos que conversavam entre si. Sora estava logo abaixo deles. Não entendia bem, até tinha se assustado quando os murmúrios se multiplicaram e as vozes desordenadas impediam qualquer palavra de ser discernida.
— Ei amigo, quem que é esse tal de Yke? — Sora perguntou de forma inocente. Os dois garotos olharam com estranheza.
— Foi mal, não entendi direito…
— Quem é Yke? — Parecia ser algo que ele deveria saber, mas Sora só repetiu a pergunta.
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— Caramba, você é esquisito mesmo.
— Ele entrou na escola por engano mano, a Yunni já falou — disse o segundo menino. Ele ergueu um pequeno sorriso, meio maldoso.
Mas a expressão de Sora não mudou, para surpresa dele.
— E então? É só uma pergunta, pô.
— Han…bem… — O primeiro garoto pigarreou antes de continuar. — Yke, cara! O Grão-Mestre e Coronel da Polícia!
— Ele é forte igual a tia…digo, forte igual um capitão?
— Não, cê não entendeu. Ele é mais! O único homem acima de um capitão. Um amigo meu me disse que ele é até mais forte que o rei!!
— Aí não cara, tá doido já! — disse o outro garoto.
— Certeza que ele ganha num x1!!
Enquanto os dois meninos entraram na discussão, Sora se rendeu a sua imaginação.
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Existia uma pessoa ainda mais forte que a tia Aisaka naquele lugar? Isso era demais!
“Espera, o rei…”
Parando para pensar, Sora não o havia encontrado. Na sua mente, o rei só poderia ser um homem gigante de três metros cheio de músculos e uma grande coroa. Seus olhos começaram a brilhar.
— Ow, ow! …Ih, nem tá mais escutando.
— Deixa esse cara, ele é estranhão.
— Pô, mas a Yunni disse que ele ia ficar irritado se a gente falasse aquilo. Ele nem se mexeu…
Os dois meninos então se afastaram.
— Silêncio, silêncio! — Finalmente, Falcon tomou a palavra. Logo, a atenção de todos os alunos se voltaram para ele. — Como eu dizia, vocês devem saber o que isso significa. Esses cinco alunos podem buscar a aprovação do mestre Yke e terem a chance de estudar diretamente sob sua tutela caso concedida. Então, agora vamos mostrar a escala dos combates! Cada um de vocês terá apenas uma oportunidade de demonstrar suas capacidades em uma luta. Porém, como vocês são uma turma de 23, um aluno sorteado aleatoriamente, assim como todos os embates, terá a chance de lutar duas vezes. E agora, para o sorteio!
A tela azul gigante no meu pra arena brilhou brevemente em azul, exibindo a lista de 22 nomes em duplas repetidamente, embaralhando-os para os combates. Sora fixou o olhar no telão, empolgado, ansioso sobre quem seria seu oponente. E os nomes pararam, exibindo os confrontos finais.
Dentre muitos, lá estava:
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3° confronto: Sora Akatsuki VS Álli Bassfild.
— Álli…? — Sora arregalou os olhos.
No canto oposto da arquibancada, Álli, sozinho, expressava descrença, com olhos marejados.
Sora olhou para o amigo de longe, que rapidamente revirou o rosto, desconcertado.
— Álli…
Por fim, o nome a ser exibido duas vezes, no último embate, era o da garota parceira de Yunni, aquela que Sora lembrava bem. Sua oponente? A própria herdeira dos Heartz.
— Muito bem, os combates começam daqui meia hora. Será um de cada vez, com espaçamento de cinco minutos entre cada um deles. Julgaremos a extensão de um intervalo caso necessário para o último embate.
Portanto, alunos e futuros agentes da defesa da nação, preparem-se! Dependendo de seu desempenho aqui, podem até se tornarem discípulos do maior defensor do reino. Suponho que essa seja uma motivação e tanto, não?
[ • • • ]
Bateram na porta. Álli fingiu não ouvir. Seu corpo, largado à cama da sala de acomodação do estádio com seu número de chamada, só estava esperando a hora da luta, como se esperasse a hora do abate.
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Talvez… Na verdade, talvez nem precisasse passar por aquilo. Era melhor desistir da luta. Isso. Falcon não estabeleceu punições ou perda de pontos para o caso de um aluno optar por desistir da prova. Claro, não receberia nenhuma nota, mas ele era um bom aluno nos estudos teóricos, então não teria nenhum problema. Era melhor do que ter que olhar tão diretamente nos olhos daquele outro menino que chamava de amigo.
“Não. Isso só é fugir. Seja o que for, eu mereço apanhar.”
Bateram na porta, de novo. Álli não respondeu.
“Se eu esperar mais alguns segundos, quem quer que for vai desistir e ir embora”, pensou.
Mas mesmo depois de um tempo, voltaram a bater.
— … Já vai.
Ao abrir a porta, o quarto foi iluminado pelo exterior e pelos longos cachos ruivos da elfa.
— Ah, o-oi Yunni.
Vendo ela do outro lado da porta, Álli teve que se esforçar muito para não deixar escapar um suspiro.
— Que cara desanimada, ein? O que que houve? — disse a voz angelical.
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O olhar dos dois se cruzaram. Os olhos pesados dele e os olhos puros dela.
Álli ficou em silêncio, olhando para o chão. Era fácil só fechar a porta, mas por algum motivo, não conseguiu fazer.
— Vamos, não vai me responder? — Yunni levantou a mão, guiando-a até o rosto do menino, lentamente o acariciando. — Assim me deixa magoada.
— Para com isso…
— Hm? O que foi? Você gostava tanto de quando eu te fazia carinho. — Ela estava certa. — E ainda mais quando eu deixava você deitar a cabeça no meu colo.
Álli fechou os olhos.
Aquela voz o fazia derreter. Aquele maldito sorriso de raposa, olhos enganadores que ele mesmo já havia se perdido tantas vezes; nas palavras e toques venenosos.
— Por que tá fazendo isso agora…? — O loiro agarrou a mão dela, para sua surpresa, tirando-a do rosto e a soltando. — Foi…foi você quem disse que não queria mais nada comigo!
Yunni arregalou os olhos, só por um momento. Foi o tipo de surpresa que se tem quando um insetinho no qual pisou mostra ainda estar vivo.
— Huh…huhuh! — ela começou a rir.
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Riu um pouco mais, e ele só a encarou, com os lábios trêmulos.
— Desculpa, desculpa. Eu só não esperava que você soubesse responder assim, huh, desculpa. Mas está tudo bem. Eu só quis te ver pra te desejar boa sorte — disse ela, aproximando-se lentamente, quase sem poder ser percebida. A cada passo de avanço, era um passo para trás de Álli — Para a luta contra aquele bichinho.
Em que exato momento foi que ela conseguiu levá-lo de volta para o quarto? Álli não saberia responder. Estavam os dois, no quarto sem luz.
— Yunni, ele…
— Sabe, me chateou um pouco ver você, alguém que eu amava tanto, se aproximando de uma pessoa assim. Pode parecer que estou sendo malvada às vezes, mas tudo o que faço é para o bem da escola e para o seu bem também. Eu não sabia se você iria conseguir vir para a mesma escola que eu, por isso terminei com você. Imagina o sofrimento que você teria passado se eu não tivesse feito isso?
Ela levou sua mão até a dele, entrelaçando-a.
Álli não reagiu. Afinal, como poderia?
— Mas sabe…eu odeio traições. Na semana passada, eu dei uma bronquinha no Sora e agora meu pai me disse que me acusaram injustamente de bullying. Quem poderia ter feito isso? Odeio me sentir traída. Nem sei quem poderia ter feito uma injustiça assim.
Suas pálpebras cansaram. Álli fechou os olhos de novo, bem quando sentiu a respiração da outra, próxima do seu ouvido.
Uma respiração quente, com um ar de toxicidade, mas estranhamente agradável. Com ela, era sempre assim.
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— Certamente não foi você, né? Alguém que entende as razões por trás do que faço. Alguém que defende o bem de todos. Você nunca faria isso, né? Você que tanto se esforçou pra entrar aqui…Seria muito chato se acabasse tendo que sair por algum motivo ou outro… — Com a outra mão, Yunni tocou o peito dele, em um falso abraço, forçando-o a morder os lábios e apertar os punhos. — Não é, meu pequeno príncipe?
E ela se soltou dele, voltando para a porta com passos alegres.
— Y-yunni, eu…
— Boa sorte, viu? Vê se detona com ele! — disse ela, contente.
Com um sorriso no rosto e um aceno, a elfa fechou a porta, entregando de boa vontade o menino para a escuridão do quarto.
[ • • • ]
Os dois eram os únicos dentro da quadra, a dez metros de distância um do outro. Acima deles, um mar de gente: alunos do terceiro ano, professores e coordenadores. Mas para os dois, eram os únicos ali.
Sora e Álli.
— Ei… por que tá me evitando? — perguntou Sora, no meio da arena.
— …Vamos logo com isso, Sora. Por favor.
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Sora arqueou uma sobrancelha.
— É que… você do nada não tá falando mais comi…
Em um lapso, o loiro estourou em corrida, erguendo o punho na direção do outro para um soco.
— Ei!! — Sora se esquivou.
— Só vamos logo, Sora. Não quero te bater então só… me vença logo.
— Nem ferrando! Não quero ganhar de você assim!
O outro não respondeu.
— Álli. Você é um defensor, né? Não foi isso que me falou?! Então vem, me mostra seu escudo!!
Álli parou e apertou os punhos. Aquelas palavras o levavam para um passado distante, um passado no qual se sentia mais seguro, abraçado pela mãe. Um tempo, no qual sonhava com a justiça.
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Peço desculpas pela demora para o último capítulo, mas estou de volta! Correria de fechamento de semestre e tudo mais. E agora sim a luta começa de verdade. kkkk
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