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    Uma expressão de desagrado surgiu no rosto de Peaceful Chaos ao ver Izroth surgir ao lado de Azalea.

    O que ele estava fazendo nos Carstes de Kifa? Mais importante ainda: qual era a relação dele com a invasora e por que haviam pisado em território da Blue Oasis?

    Seja qual fosse o motivo, Peaceful Chaos não tinha uma boa impressão de Izroth. Foi por causa desse homem diante dele que a Blue Oasis teve de juntar os cacos e preencher o vazio deixado pela saída de Niflheim. Ele também era o principal motivo de a guilda ter perdido a grande chance de se tornar a primeira guilda oficial de RML.

    Vale lembrar que se tornar a primeira guilda oficial vinha acompanhado de recompensas e benefícios próprios. No entanto, os aspectos mais importantes eram a fama e o reconhecimento.

    Quanto mais uma guilda de elite espalhava seu nome por RML, maiores eram as chances de atrair jogadores habilidosos. Além disso, os patrocínios e os fundos recebidos aumentavam, já que investidores buscavam conexões com os líderes do cenário para garantir posição na estrada futura.

    Mas Izroth havia jogado tudo isso no lixo. Na verdade, Peaceful Chaos jamais o perdoou pelas ações egoístas e absurdas que cometeu durante a raid ao Palácio do Grande Mar.

    Infelizmente, Izroth já não era mais um desconhecido qualquer. Por isso, a Blue Oasis foi forçada a engolir a humilhação — o que deixava um gosto amargo em suas bocas.

    ‘Quem diria que uma oportunidade tão boa surgiria bem diante de mim? Talvez não possamos agir diretamente contra Izroth, mas aquela garota é outra história. Como estão invadindo o território da guilda, não poderão nos culpar pelo que acontecer. E se ele decidir interferir… ninguém poderá dizer que a culpa foi nossa.’ pensou Peaceful Chaos, estreitando os olhos.

    “Ora, ora… Se não é o Mestre do Palácio Izroth. Por acaso conhece essa espiã que andou se esgueirando por nosso território?” questionou Peaceful Chaos.

    “Peço desculpas, mestre. Fui descuidada e não percebi a tempo que eles instalaram talismãs de detecção furtiva na área”, disse Azalea com um tom de arrependimento.

    ‘Talismãs do Olho Revelador? Por que colocariam isso num lugar como este?’

    Embora os jogadores se referissem a eles como talismãs de detecção furtiva, o nome real era Talismã do Olho Revelador. Eram talismãs caros, que podiam ser posicionados em qualquer lugar e revelavam automaticamente qualquer alvo furtivo dentro de certo raio — alertando o dono do talismã assim que alguém fosse detectado.

    Ainda assim, mesmo que este local fosse considerado território da Blue Oasis, instalar Talismãs do Olho Revelador na área apenas como medida defensiva era um exagero.

    Havia também o fato de que um membro de alto escalão da Blue Oasis estava presente. Embora os Carstes de Kifa fossem um bom local para membros de elite das principais guildas coletarem recursos e ganharem experiência, estavam longe de ser ideais para jogadores do núcleo da guilda. Por isso mesmo, guildas como a Sleeping Gardenia — ou até mesmo a Defiant — não designavam jogadores centrais para ficarem nos Carstes de Kifa. Afinal, a melhor forma de ganhar experiência e adquirir equipamentos era por meio de dungeons ou raids.

    A presença de Peaceful Chaos tornava tudo ainda mais suspeito, considerando que havia um evento em andamento. Em vez de usar cada segundo disponível para acumular pontos de contribuição, como faziam os outros jogadores de elite das grandes guildas, ele estava isolado em um lugar fora do caminho, como os Carstes de Kifa.

    ‘Eles devem estar protegendo ou escondendo alguma coisa.’

    Izroth achava coincidência demais o fato de a Blue Oasis ter instalado medidas defensivas justamente no mesmo local onde Azalea detectara a maior concentração da mana do Empyrean. Sem contar que era também a área com a maior intensidade e prevalência de mana infectada.

    Claro, Izroth não acreditava que Peaceful Chaos e os demais membros da Blue Oasis presentes fossem capazes de subjugar o Empyrean — muito menos impedi-lo de escapar. Ainda assim, havia uma chance de que soubessem o que havia acontecido ali. E, de um jeito ou de outro, Izroth planejava conseguir essas respostas.

    “Espiã? Sua imaginação é bem vívida. Até onde sei, nem você nem a Blue Oasis são donos oficiais deste território. Qualquer jogador em RML é livre para explorá-lo como quiser. Ou devo declarar que sou dono de toda Amaharpe e que qualquer membro da Blue Oasis que entre lá é um espião?” declarou Izroth com calma.

    “Essa é uma visão bastante absurda, Mestre do Palácio Izroth. No entanto, se desejar seguir essa lógica, então sim, seria o caso. Isso, claro, se todas as grandes guildas concordassem com tal absurdo. O que, pessoalmente, acho bastante improvável”, respondeu Peaceful Chaos, contendo sua indignação com a declaração de Izroth.

    Ele então explicou: “Talvez você não esteja ciente, então permita-me esclarecer. Nos Carstes de Kifa, a Blue Oasis, juntamente com as outras grandes guildas, chegaram a um acordo para dividir o território. Neste momento, você está em território da Blue Oasis. Ao violar as regras estabelecidas pelas principais guildas, receio que nem mesmo o Mestre do Palácio Izroth sairá impune.”

    “Oh? Mas não acho que exista alguém capaz de me fazer pagar tal preço”, respondeu Izroth de forma despreocupada.

    “Todos temos que pagar por nossas ações, mais cedo ou mais tarde,” comentou Peaceful Chaos.

    “Quanto a isso, estou de acordo”, acrescentou Izroth.

    À primeira vista, parecia que os dois haviam encontrado um ponto em comum; no entanto, estavam em lados completamente opostos.

    “De qualquer forma, ignorância não é desculpa para quebrar as regras. Dito isso, não sou um homem mesquinho. Já que essa garota está com o Mestre do Palácio Izroth, tudo o que precisam fazer é se desculpar em nome dela e seguirem seu caminho”, disse Peaceful Chaos, com aparente casualidade.

    Alguns jogadores da Blue Oasis ficaram surpresos com a facilidade com que Peaceful Chaos parecia disposto a encerrar o assunto. Ele era conhecido por ser o mais inflexível e intransigente entre os Capitães da Blue Oasis. O fato de que estava disposto a liberar os dois com um simples pedido de desculpas fez parecer que Izroth e sua companheira estavam saindo barato demais.

    No entanto, aqueles com mais discernimento não puderam deixar de admirar Peaceful Chaos.

    Se ele conseguisse fazer Izroth se desculpar com a Blue Oasis, ajudaria a recuperar parte da imagem perdida após o ocorrido no Palácio do Grande Mar. Mas, se Izroth recusasse, mesmo diante de uma oferta ‘razoável’, pareceria arrogante e incapaz de reconhecer suas falhas. Nesse ponto, seria desprezado por todas as grandes guildas por ignorar sua autoridade.

    Claro que Izroth viu através das palavras de Peaceful Chaos imediatamente. Sabia que o verdadeiro objetivo não era arrancar um pedido de desculpas, tampouco humilhá-lo diante das demais guildas. Na verdade, o propósito era muito mais bárbaro e simplista do que aparentava. E Izroth pretendia usar isso a seu favor.

    ‘Que tentativa infantil. Mas tudo bem… por que não jogar o jogo e lhe dar exatamente o que quer?’

    “Como ousa—!” começou Azalea, mas Izroth ergueu a mão à sua frente e lançou-lhe um olhar significativo, o bastante para fazê-la recuar sua indignação.

    Izroth então voltou seu olhar para Peaceful Chaos e declarou:

    “Se você tiver outro método para resolver isso, estou aberto à razão. No entanto, nem eu nem os meus pediremos desculpas quando não fizemos nada de errado.”

    Ao ouvir isso, Peaceful Chaos quase não conseguiu conter sua euforia. Era exatamente esse o cenário que ele queria criar.

    “Já que o Mestre do Palácio Izroth não quer resolver com palavras, que tal uma abordagem diferente? Proponho um duelo. Se vencer, deixaremos tudo para trás. Porém, se perder… terá de admitir publicamente seus erros contra a Blue Oasis”, declarou Peaceful Chaos.

    Azalea mal conseguia conter a raiva ao ouvir aquilo. Erros? Que absurdo! Ele só queria usar o nome e a fama de seu mestre para alavancar a reputação própria e da Blue Oasis!

    “Muito bem. Mas tenho uma condição adicional: se eu vencer, você e todos os membros da Blue Oasis estarão banidos permanentemente do meu Palácio do Reino Místico”,  disse Izroth, com naturalidade.

    Após essas palavras, um momento de hesitação tomou Peaceful Chaos. Os demais membros da Blue Oasis também demonstraram receio.

    Perder o acesso ao Palácio do Reino Místico era o mesmo que amarrar mãos e pés da guilda. Mas abrir mão de uma chance tão grande de restaurar sua reputação era demais.

    “Eu aceito suas condições…!” disse Peaceful Chaos entre os dentes cerrados.

    “Capitão…!” exclamou um dos jogadores da Blue Oasis, chocado.

    “Silêncio…! Tenho, no mínimo, essa autoridade!” rosnou Peaceful Chaos.

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