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    Com a parede se aproximando cada vez mais, Akemi corria com tudo o que tinha, e pela demora na reação, o gelo afiado ficou tão próximo que era possível sentir o frio ameaçador lambendo seus calcanhares. — EU NÃO QUERO MORRER AQUI!!! — Seus braços balançavam como se fossem de borracha, um desengonçado correndo pela vida.  

    Apoiada com uma das mãos na parede curva do túnel à direita, Nikko gritava para encorajar: — Vamos, pessoal! Vocês conseguem! Falta só mais um pouco! He hii! — Ela se divertia com a situação.  

    As estalactites começaram a ceder do topo da caverna; desviar de mais pontas, só que vindas de cima, complementava o desafio.  

    Mesmo sendo o mais alto do grupo, Minoru conseguia desviar com facilidade e agilidade, e após alguns segundos de corrida, ele passou pela entrada. Ao olhar para trás, mostrou o quão surpreso ficou enquanto ajeitava o ombro. — A aura daquela instrutora pode fazer uma coisa como essa?! Esse lugar parece estar vivo!  

    Logo atrás, Mayumi atravessou com seu olhar ainda fixo, mas com uma leveza que indicava alívio. Pelo visto, para ela não foi tão difícil correr ao mesmo tempo que desviava.  

    Agora, os três a salvo olhavam para o único que faltava: Akemi.  

    — Lembre-se da energia áurica! Respire como eu te ensinei!  

    A voz de Nikko chegou quase abafada nos ouvidos do ofegante.

    — Eu tô tentando! Mas esse ar gelado que chega no meu nariz não ajuda em nada! — Brshhh!!! — A-ha-hai! — Uma estalactite caiu ao seu lado, deixando-o tão desesperado quanto seus pensamentos.  

    “Sem contar que aquela sensação que esquenta o meu corpo não vem, é como se eu fosse trivial novamente…! Mas não posso desistir de correr!”

    A baixa temperatura era opressora, cada respiração quase tirava mais do que devolvia. O suor gelava na pele, mas não se podia ceder em um momento daqueles.  

    A voz de Nikko era um fio de esperança que mantinha o companheiro no caminho certo. — Não tem problema! Apenas se concentre em não perder o ritmo!

    O gelo avançava, faminto. As presas cristalinas, vindas por trás e por cima, estendendo-se cada vez mais perto, estavam a um fio de cabelo de Akemi, cada uma delas reluzia a morte. O som de rachaduras era um tamborilar ritmado com as batidas aceleradas de um coração aflito.  

    Contando com a sorte para não ser atingido na cabeça, o afoito sentia o frio queimando a pele, estilhaços e partículas davam advertências do que estava por vir se ele falhasse. Cada passo era um grito de resistência contra um péssimo destino.  

    Mas a entrada estava cada vez mais perto.  

    “Assim não vai dar! Preciso pular antes!”

    Com um último impulso, Akemi saltou para frente, atravessando para o buraco seguro, rolando ao cair no chão.  

    BBRRAAMMMM!!!  

    Os espinhos foram detidos, a largura da parede não permitia que o gelo avançasse mais. O perigo por ora estava contido, mas uma energia invisível recusava-se a desaparecer.  

    De pé, Akemi colocou as mãos nos joelhos, ofegante, seu corpo não cedia por pouco.  

    — Viu! Você conseguiu! — Nikko aproximou-se com um sorriso radiante no rosto e deu leves tapas nas costas do exausto.  

    Huff… Con… segui…? Huff…

    — É curioso imaginar como a instrutora tem controle sobre todas essas estruturas — dizia Mayumi — será que ela possui alguma forma de nos observar sem que percebamos?

    — Ela nos colocou em um grupo de quatro pessoas — lembrava Minoru — mas comparado ao tanto de alunos disponíveis, não era pra ter mais conosco? Só aquela carcereira de gaiola estava presa. Aliás, será mesmo que ela separou outros alunos em mais grupos?  

    — Contando com quatorze alunos, seria possível formar três grupos de quatro integrantes, restando dois. O que ela faria com esse par de alunos excedentes?  

    — Agora não temos como saber, ruivinha. Temos toda uma escuridão para desbravar! — Nikko estava empolgada. 

    — Correto. Dado que a escuridão é intensa, sugiro que sigamos junto a essa parede à direita. Dessa forma, reduzimos as chances de nos perdermos.  

    — Vocês já vão andar? Não podemos dar uma pausa?  

    — Sem descanso! — Todos retrucaram Akemi, que não teve escolha a não ser acompanhá-los.  

    Até onde isso vai dar…?  

    Nikko levava a dianteira, guiando o grupo pelo caminho reto do túnel gelado, mas embora o ambiente fosse de pouca luz, não era o suficiente para que o grupo não pudesse ver um ao outro.

    — Esse lugar é sinistro — comentou Minoru, observando.  

    — Pois é, por acaso esse túnel não tem fim? — indagou Akemi, na retaguarda.

    Nikko revirou os olhos. — Ai, para de reclamar… Eu já posso sentir uma saída logo à frente.  

    — Pode sentir? — questionou Mayumi.  

    Ciente da atenção gerada, a outra jovem, com confiança no sorriso, repousou uma mão com elegância no centro do peito. — Não me resumo somente em dobrar o ar ao redor. Também consigo perceber a trajetória do vento em distâncias muito além do alcance da minha dobra.  

    — Sério?! O que você tá vendo?! — Os olhos de Akemi brilhavam de ânimo.  

    — Não estou exatamente vendo, mas estou sentindo o vento à frente mudando de direções, parece que há uma área muito mais aberta, talvez seja uma saída.  

    — Uma saída? Assim de cara?  

    — Melhor aparecer algo assim agora do que mais tarde.  

    Mayumi acrescentava a colocação de Minoru com serenidade: — Acredito que o nosso objetivo principal seja alcançar o topo do castelo, e quanto mais rápido o fizermos, melhor. Superar as próximas adversidades sem desperdiçar tempo e corpo deve ser o essencial que a instrutora procura, afinal, estamos em uma missão de resgate, não só explorando terreno.  

    Akemi entendeu o que foi dito. — Concordo, mas não é possível que seja só subir… Por mais que já tivemos que correr de uma parede de espinhos, essa calmaria não vai durar por tanto te-  

    Ktiiiiinn!  

    O barulho de algo pontiagudo cortando o ar fez com que todos virassem estátuas, ninguém mexia um músculo sequer. Porém, quem tomava mais cautela era Akemi, pois uma estaca de gelo em um formato peculiar acabara de atravessar sua visão, bem próxima de sua cabeça.  

    Fincada na parede à direita, a longa estaca reluzia olhos castanhos e assustados, um espelho que revelava todo o choque de um desavisado que mais uma vez viu a vida passar por um triz.  

    — É… g-gente, a-acho que a calmaria já acabou.  

    Todos olharam para trás, mas foi Nikko a primeira a se pronunciar. — Hãn! Olha pros seus pés! — Ela apontou, boquiaberta.  

    A sola do tênis de Akemi mantinha uma placa de pressão feita de gelo acionada, claramente o que disparara uma estaca congelada vinda do mistério à esquerda.  

    — Sabemos que está escuro e tudo mais, mas é sério que você não viu essa placa no chão? — Minoru abriu os braços com um riso.

    Nikko cruzou os braços. — Tenho que concordar, eu até levantei bem o pé pra deixar óbvio.  

    Mayumi observou, e logo, um sorriso sutil mostrou que sua mente foi iluminada em meio a tanta escuridão. — Na verdade, garoto, você foi muito bem — ela caminhou em direção ao objeto fincado.  

    — O que você vai fazer, ruivinha?  

    Perto da estaca azulada, Mayumi deslizava a mão pela superfície lustrosa, sentindo a estranheza de sua forma. Não era um cilindro, nem um cone, mas algo diferente.  

    Crusshh…  

    Um pó gélido caiu quando a estaca foi puxada.  

    — Não é um modelo no qual estou acostumada, mas posso usá-la como uma lâmina — analisou Mayumi, brandindo lentamente o equipamento improvisado com a mão canhota.  

    Naquele momento, sob a posse daquela garota, a silhueta da estaca lembrava o gume largo de uma espada. No entanto, o guarda-mão já se fundia à base do que seria a lâmina, um alerta para quem planejava usá-la.  

    Os rapazes se empolgaram.  

    — Wow! Isso é incrível!  

    — Da hora, agora temos uma a mais no time!  

    — Olha como fala, garoto! Ela é útil para nós de qualquer jeito! Mas diz aí, ruivinha! Isso daí é mesmo útil pra você? — perguntou Nikko, sincera.  

    A espada de gelo cabia como uma luva para a garota; era leve, manuseável, e possivelmente letal. A eficiência só poderia ser devidamente testada em um alvo à altura.  

    — É uma arma robusta, mas o fio de corte deixa a desejar um pouco, quem dera fosse um pouco mais afiada. Terei de improvisar com ela — Mayumi abaixou a espada, e com um olhar confiante, caminhou para depositar uma mão nos ombros de Akemi. — Obrigada, garoto. Se não fosse por você, não sei se poderia ajudá-los o bastante. Agora, posso somar melhor para a equipe — um firme aceno positivo com a cabeça motivou.  

    — A-ah, hehe, fico feliz que tenha ajudado! — O rapaz coçou a nuca.  

    — Muito bem, garoto bisonho! — exaltou Nikko, de longe — quem diria que a sua sonsice serviria de tanta ajuda, He hii!  

    Sério, Minoru cruzou os braços. — Mas não conte com a sorte o tempo todo. Pode ser que a próxima “placa” que você pisar não nos dê um resultado positivo.  

    — Prometo ter mais atenção de agora em diante! — Akemi prestou continência, trazendo novamente o riso do outro rapaz.  

    — Tsc, certo, certo. Mas ô da espada, tem certeza que deseja usar isso? Tá na cara que a instrutora nos deixou a mercê do não uso de armas nos desafios de hoje… — com uma breve pausa, o garoto levou a mão ao queixo — mas sinceramente, acredito que ela não imaginava que alguém poderia pisar naquela placa.  

    — Creio que seja uma recompensa pela audácia. Posso afirmar que ela não consideraria consequências nesta situação, pois na verdade, seria uma falha da parte dela. Mas de qualquer forma, precisamos seguir.  


      

    Após alguns minutinhos andando, Akemi comentava o que sentia: — Este lugar tá entrando na minha mente. Tô começando a escutar coisas.  

    — Escutando coisas? — repetiu Minoru, pensativo — eu não escuto nada, apenas nossos passos e vozes chegam nos meus ouvidos. O que, parando pra pensar, também é sinistro.  

    — Incomodar-se com sons isolados perturba o espírito, vocês devem meditar com mais frequência — orientou Mayumi.

    — Galera! Já posso ver uma luz no fim do túnel! — revelou Nikko, apontando euforicamente para o horizonte.  

    Os passos dos jovens foram acelerados involuntariamente, a ansiedade para sair da escuridão era grande.  

    — Mas, pessoal — interrompeu Akemi — aquela luz não está meio estranha? O que de tão azul traria tanta iluminação num lugar aparentemente fechado como este?  

    — Só há uma maneira de saber! Apertando ainda mais o passo! — respondeu Nikko, deixando os outros para trás ao correr em linha reta.  

    — Nikko! Não vá assim! Lembre-se de que devemos ficar juntos!  

    — Sabe, acompanhar o ritmo dela pode não ser o pior dos mundos. Quem ficar por último é um fracassado! — anunciou Minoru, já saindo em disparada e deixando dois companheiros para trás.  

    — Ah, qual é?! Eu não quero mais correr…  

    Enquanto toda essa brincadeira acontecia, Nikko já vislumbrava tudo o que o fim do túnel guardava. — Wooooohohoooo! — Ela não conseguia parar de contemplar os arredores, com exclusividade para o topo, onde uma luz iluminava seus olhos verdes com um brilho azulado.  

    — Hahaa! Cheguei em segundo mas não em último! Qual daqueles dois será o fracassado da vez? — Minoru chegou animado, ainda olhando para o túnel escuro, mas ao se virar, ele se surpreendeu — E-eita…! Ehm… Ô garota de chiquinhas… Que parada toda é essa?  

    Uma imensa área circular estendia-se diante dos jovens, fazendo-os sentirem formigas no centro do formigueiro.  

    Dominada pelos mais belos tons índigos, o lugar contava com uma beleza única, onde cada detalhe do chão lembrava o mármore mais refinado.

    Tanto nas paredes como no chão, linhas e padrões formavam arabescos glaciais, como se um artista tivesse trabalhado em cada centímetro, criando uma obra de arte inspirada no gelo.  

    Fechando um domo acima, incontáveis estalactites longas e reluzentes pendiam como cristais mágicos, entrelaçadas de forma a não deixar qualquer espaço vazio. Elas brilhavam intensamente, soltando partículas cristalinas, banhando todo o ambiente com uma luz cerúlea que pintava todas as superfícies, refletindo e refratando tons frios.  

    Posteriormente, os restantes saíram lado a lado do túnel vazio. A reação da espadachim armada foi uma leve surpresa ao ver a sua volta, diferente do outro, que teve o seu olhar desconfiado entregue ao espanto.  

    Todos olhavam para cima, contemplando a magnitude brilhante do domo.  

    — Caramba… Onde estamos?!

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