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    Tradutor: MrRody 』 『 Revisores: Demisidi – Note – Nosoran 』


    Revistamos a vila abandonada. Bem, ‘revistar’ talvez não fosse a palavra certa, já que isso estava mais para saque. As ordens dadas pelo chefe da vila, que havia assumido o corpo do comandante, eram simples.

    — Vasculhem a vila e recolham tudo o que encontrarem!

    Móveis, decorações, equipamentos, instrumentos…

    Não fizemos distinção entre nada disso, e pouco nos importava se parecia útil ou não. Nosso único objetivo era reunir tudo conforme o comando.

    Agora, por que o chefe da vila deu essa ordem? Eu tinha um palpite, e não era porque ele odiava a ideia de ver tudo que construiu ali ir para o lixo ou algo assim. Não, havia apenas uma razão para ele fazer isso.

    Era porque Jerome Saintred teria dado exatamente a mesma ordem. Ele teria levado tudo sob o pretexto de ser para o bem da família real. Foi por isso que o chefe deu esse comando.

    — Os líderes de cada esquadrão devem pegar esses mapas e ir para as áreas designadas!

    E assim, o grupo de expedição se separou em seus esquadrões e começou a saquear as casas que os monstros teriam chamado de lar e onde criariam seus filhos. Era um trabalho tedioso e sem combate. No entanto, havia alguns que abraçavam esse trabalho manual entediante.

    — Artefatos usados pelos primeiros monstros capazes de comunicação!

    — Essas descobertas serão de grande importância para os estudos futuros!

    — É uma pena, porém… Se tivéssemos capturado um vivo, poderíamos ter feito perguntas…

    — Talvez haja alguns escondidos.

    Os magos estavam em sua habitual excitação com toda a pesquisa que poderiam fazer. Para eles, ao menos, essa monotonia era muito empolgante. Raven não era exceção, é claro.

    — Sr. Yandel… você disse que ficou aqui por um tempo, certo?

    — Sim?

    — Mais tarde… quando tivermos tempo, poderia me contar sobre sua visita?

    — Claro, quando tivermos tempo.

    — Isso é uma promessa, ok? Então vou indo. Meu intervalo acabou, nos vemos depois.

    De qualquer forma, nosso Esquadrão Temporário Quatro fez sua parte e vasculhou a seção que nos foi designada, embora eu não pudesse deixar de sentir um pouco estranho enquanto fazíamos isso. Como Raven disse, essa vila era um lugar onde vivemos e dormimos por semanas.

    — …Essa é a casa onde ficamos.

    — Oh! Aquele é o campo onde eu treinei com Piarochichi!

    — É um pouco assustador. As forjas estão acesas, mas não há ninguém lá dentro…

    — É… difícil de explicar… mas me sinto confuso. Embora fossem monstros, também havia alguns que eram decentes…

    O que separa as pessoas dos monstros? É a aparência? Certas características que todas as raças humanoides compartilham? A capacidade de acumular experiência?

    Então, agora que ele estava de volta ao corpo de um humano, o chefe da vila era humano de novo? Por outro lado, o que aconteceria se eu me transformasse em um monstro de alguma forma, ou acabasse no corpo de um? Então, eu seria um monstro?

    Eu já não tinha tanta certeza. Não tinha certeza nem se havia algum sentido em fazer essa distinção em primeiro lugar.

    — Yandel… você está bem? Não parece muito bem.

    — …Estou. Por que não estaria?

    — …Se você diz.

    Continuamos a cumprir a tarefa que nos foi atribuída, e quando terminamos de vasculhar nossa área, nos encontramos com os outros esquadrões no centro da vila. Logo, era hora de montarmos acampamento novamente.

    — Há muitas coisas aqui…

    — Isso era de se esperar. Centenas de indivíduos viviam nesta vila.

    Nosso dia de vasculhar e saquear chegou ao fim. No final, apesar de termos revistado toda a vila, não encontramos um único sobrevivente.

    Depois que completamos a lista de tarefas do dia, cada esquadrão escolheu uma casa vazia diferente para descansar à noite. Isso me deu a oportunidade que eu precisava para finalmente ter uma conversa com meus camaradas.

    — Nós vamos… estar na outra sala.

    — Sim. Por favor, não se importem conosco.

    Assim que o Grupo de Aventureiros Armin e o Clã Hektz saíram para nos dar espaço, Versyl lançou um feitiço de isolamento sonoro para garantir a privacidade.

    Amelia foi a primeira a falar. — Então… o que aconteceu?

    — Ah, sobre isso…

    — E nem pense em tentar me convencer de que você e o comandante planejaram aquela briga juntos. Se tivessem, ao menos teriam nos avisado.

    Ela nem estava me dando chance de explicar.

    “…Mas ela não está errada.”

    As coisas poderiam ter ficado realmente perigosas. Pelo que a deusa me disse, meus aliados foram rapidamente emboscados e capturados depois que desmaiei. O fato de que eles não tinham ninguém para dar ordens os deixou em maus lençóis.

    — O que fazemos? Devemos lutar contra eles? Mas eles são o exército real?

    — O que Bjorn gostaria que fizéssemos?

    No momento em que estavam tentando decidir sem mim, o Clã Anabada foi imediatamente subjugado e detido antes que pudessem fazer qualquer coisa.

    “…Mas, felizmente, isso acabou sendo o melhor.”

    Ainda assim, o fato de que as coisas acabaram bem no final não foi porque eles decidiram ativamente que se deixar capturar era a coisa mais sábia a fazer, mas porque as coisas simplesmente aconteceram assim. Eles poderiam muito bem ter se reunido a tempo e resistido à prisão, e alguém poderia ter morrido ou sido gravemente ferido no processo.

    Foi por isso que ela não acreditou na minha história. Ela sabia que eu não era do tipo que deixaria a segurança do clã à mercê da sorte.

    — Você está certa, não havia plano secreto — confirmei. — Na verdade, Jerome Saintred estava tentando me entregar ao chefe da vila.

    Essa parte, ao menos, era verdade. Quanto ao resto…

    — Aparentemente, ele fez um acordo com o chefe em troca de um tesouro real perdido. No entanto, eu consegui resolver isso no final, e usamos isso para derrotar o chefe.

    — …E como você resolveu isso? — Versyl perguntou com cautela, claramente tentando entender o que estava acontecendo.

    Suspirei internamente, então respondi — Recebi ajuda de Reatlas.

    Essa parte também era verdade. Claro, a ajuda dela se resumiu a sugerir que eu fizesse o meu melhor para falar e sair da encrenca em que estava, mas ela definitivamente teve um papel na minha sobrevivência.

    — Você disse… Reatlas?

    — Espera, então o motivo daquele clarão de luz e de você ter desmaiado foi…?

    — Não posso dar todos os detalhes porque fiz uma promessa à deusa. Mas… — eu interrompi, então contei a eles a versão da verdade que eu podia realmente compartilhar. — No fim, as coisas acabaram bem. Consegui escapar da vila e fiz um acordo secreto com Jerome Saintred… eu esqueceria que ele tentou me vender ao chefe da vila, e ele me ajudaria a matá-lo.

    — …Então é por isso que ele começou a falar sobre suas contribuições e como queria recompensá-lo.

    Com isso, olhei ao redor. Eu havia mencionado o nome de uma deusa e amarrado o que parecia ser uma tentativa do comandante de me subornar, então a maioria das pessoas ali parecia acreditar em mim sem questionar.

    ‘A maioria’ sendo todos, exceto uma pessoa: Amelia.

    “…Ela vai tentar me pressionar por todos os detalhes assim que estivermos a sós.”

    Só de pensar nisso, já me dava dor de cabeça, mas não havia como evitar.

    Quanto menos pessoas soubessem sobre o segredo do chefe, melhor. Não importa o quão bom eu fosse em atuar, ele provavelmente perceberia se eu contasse a alguém. E se ele percebesse, a pessoa com quem eu compartilhei seu segredo também se tornaria alvo de sua natureza imprevisível, que poderia se manifestar a qualquer momento.

    “Mais importante ainda… quando as coisas realmente derem errado no futuro, eles poderão ajudar a provar que eu não tive nada a ver com isso.”

    De qualquer forma, respondi a algumas perguntas adicionais dos meus camaradas e então encerrei a conversa ali. Era hora de passar para o próximo item da agenda.

    — Todos poderiam sair por um momento?

    — Ah… sim, você precisa descansar…

    — Exceto você, Missha.

    — …Hein?

    Quando a destaquei, ela ficou nervosa como uma aluna sendo chamada pelo professor.

    A meu pedido, o resto da equipe saiu para descansar e nos deixou a sós. Missha se remexia na cadeira, suas mãos cerradas em punhos sobre os joelhos. Então, cuidadosamente, ela perguntou:

    — O q-que foi…? Por que você pediu para eu ficar…?

    Eu não tinha intenção de rodeios, então fui direto ao ponto.

    — A Pedra da Ressurreição.

    Essas palavras foram o suficiente para fazer os ombros da Missha estremecerem.

    Eu me perguntava como alguém como ela tinha conseguido esconder algo assim por tanto tempo, mas, pensando bem, isso era culpa minha. Eu deveria ter sido mais persistente em garantir que fizesse as perguntas certas desde o início, mesmo que tivesse que pressioná-la.

    Ainda assim, por algum motivo, eu achava difícil ser duro com ela.

    — Foi o Baekho que te deu? — perguntei diretamente.

    Missha nem se deu ao trabalho de perguntar como eu sabia ou tentar desviar. Com uma voz quase inaudível, tudo o que ela disse foi: — É…

    — O que ele disse quando te deu isso?

    — Que eu precisava ficar ao seu lado… e que se você morresse, eu deveria usá-la para s-salvar você…

    Exatamente como eu pensava.

    Como eu já esperava isso, não fiquei tão surpreso. No entanto, ainda tinha algumas curiosidades.

    — Você sabia que, quando se usa a Pedra da Ressurreição, a pessoa perde todas as memórias?

    — …O quê?

    Pelo jeito que seu rosto se contorceu, parece que ela não sabia dessa parte.

    Rapidamente, segui para a próxima pergunta.

    — Se você não sabia disso, por que não me contou logo que tinha a pedra? Não vejo qual seria o problema em me deixar saber.

    — Porque ele disse… que se você soubesse… coisas ainda piores aconteceriam com você…

    — Então você escondeu isso de mim? Porque aquele desgraçado disse isso?

    Missha abaixou a cabeça e mordeu o lábio.

    Apesar de sentir que talvez devesse estar com raiva, enquanto a encarava, senti uma estranha agitação no peito. Meus pensamentos acelerados começaram a se aquietar, e, embora minha expressão permanecesse neutra, meu coração começou a bater cada vez mais rápido.

    Esse sentimento estava longe de ser pena. O que era?

    — Entendi. Você pode ir agora.

    Incapaz de identificar o que estava sentindo, tentei encerrar nossa conversa ali. Era um ato de gentileza, uma tentativa de evitar causar mais desconforto a ela. Contudo…

    Missha permaneceu colada à cadeira, em completo silêncio.

    Então, falei novamente.

    — Por que você não está saindo? Vá descansar. Já ouvi tudo o que precisava.

    Ao ouvir isso, ela lentamente ergueu a cabeça.

    — Você… ouviu tudo? — As palavras pareciam sufocadas, como se tivesse que forçá-las a sair. — É só… isso?

    Achei a pergunta estranha.

    — Por quê? Você precisa de mais alguma coisa?

    Ela não respondeu.

    — Não tenho intenção de te repreender ou punir — expliquei, tentando ser claro. — Você não escondeu isso de mim com má intenção. Na verdade, tudo isso não foi para tentar me ajudar?

    Missha permaneceu em silêncio por mais um tempo.

    — Eu não…

    Finalmente, as palavras saíram trôpegas de sua boca.

    — Eu não aceito isso… — ela disse ainda com a cabeça abaixada. — Só… Só me diga o que você pensa. Seja o que for, está tudo bem…

    Eu podia sentir o desespero em seu pedido. Aquele pedido arrancou mais palavras de mim antes que eu pudesse detê-las.

    — Eu só não achei que houvesse mais nada a dizer para você.

    Era interessante. Eu não percebi que poderia falar o que sentia, mesmo quando eu mesmo não sabia o que estava sentindo.

    — Principalmente porque acho difícil acreditar em qualquer coisa que você diz.

    No passado, ela havia sido a pessoa em quem eu mais confiava no mundo. Mas não podíamos mais ter aquele nível de confiança entre nós. Não era totalmente culpa dela, claro. No panorama geral, Baekho carregaria a maior parte da culpa.

    — Para ser honesto… — admiti — Quando você terminou sua história agora há pouco, a primeira pergunta que surgiu na minha mente foi se você estava escondendo mais alguma coisa de mim.

    Missha demorou a responder.

    — Certo, entendo…

    “Sinto muito.”

    A vontade de dizer isso a ela me atingiu, mas eu também não achava que isso fosse algo pelo qual eu deveria me desculpar, então me calei.

    Missha me encarou por mais um longo momento. Então, ela se levantou sem dizer uma palavra e fechou a porta ao sair.


    No dia seguinte, após o término da nossa reunião matinal, tive a chance de ter uma conversa privada com o chefe da vila.

    — Não podemos simplesmente acabar com a reunião matinal, já que é uma perda de tempo? — resmunguei.

    — Não podemos. Jerome Saintred é alguém que dá muita importância a manter uma agenda rígida.

    — Bem, isso é verdade.

    — De qualquer forma, você já pensou na recompensa que mencionei ontem?

    — Ah, estou pensando em guardar isso para mais tarde. Não preciso de nada agora.

    — Nesse caso, você pode me dizer quando decidir algo.

    — Combinado. Mas chega disso… precisamos descobrir o que vamos fazer daqui para frente… Qual é o seu plano a partir de agora?

    A resposta do chefe da vila permaneceu a mesma.

    — Como disse antes, vou demorar para me acostumar com este corpo.

    — Acostumar-se… — repeti. Em outras palavras, ele ainda não confiava em mim. Provavelmente passaria seu tempo tentando descobrir quais essências ele possuía, se uma delas era realmente de Iblus, se havia realmente um Altar Herege ativo na cidade, e assim por diante. — E depois de se acostumar?

    — Vou deixar este lugar imediatamente.

    Simplificando, no momento em que ele confirmasse que possuía a essência de Iblus, sairia do meu caminho. Eu mal podia esperar por esse dia.

    Ainda assim, deixando de lado minhas preferências pessoais, eu não podia deixar de questionar seu curso de ação.

    — Mas se você planeja viver nesse corpo, não seria melhor ficar com a gente e sair quando nós sairmos? Você não pode apagar a essência de Iblus depois que suas cargas acabarem.

    Pode ser que fosse o jogador dentro de mim falando, mas usar uma das cargas do Altar Herege apenas para sair um pouco mais cedo parecia um desperdício para mim. Na verdade, era um desperdício enorme.

    Eu nem era o que sairia perdendo aqui, mas não pude deixar de argumentar por princípio.

    — Além disso, a família real não vai gostar nada de você morrer sozinho e acabar de volta na cidade. Você pode não conseguir manter sua posição de poder na guarda real.

    — Ahaha, interessante! Não esperava que você fizesse sugestões.

    — Estamos do mesmo lado por enquanto, e também, talvez possamos encontrar oportunidades de trabalhar juntos na cidade. E, a propósito, você está ficando melhor em rir.

    — Estou me acostumando aos poucos. A este coração humano.

    — Então, qual é a sua resposta?

    — Não mudou. Vou sair imediatamente depois de me familiarizar com este corpo.

    Por que ele insistia em fazer algo tão ineficiente?

    O chefe da vila, percebendo a pergunta nos meus olhos, forçou um sorriso.

    — Faz cerca de cem dias desde que você desceu a este andar, correto?

    — Provavelmente?

    — Você ainda não sabe nada sobre este lugar. — Quando o nó na minha testa não desapareceu, ele esclareceu: — Claro, como está registrado na pedra, você um dia escapará de suas garras… mas não há como dizer quanto tempo isso vai levar. E este momento… Esperei por este momento por muito tempo.

    Desta vez, a emoção em sua voz não parecia forçada. Era um anseio intenso, algo que eu nunca tinha ouvido dele antes.

    O surto de sentimento, no entanto, foi passageiro.

    — Haha, todos temos nossas prioridades, certo? Se eu puder sair deste lugar nem que seja um dia antes, qualquer preço vale a pena para mim.

    Com isso, o sorriso artificial voltou ao rosto do chefe da vila.

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