Capítulo 08: Chegando no Objetivo
O vento castigava o vale seco, arrastando consigo a poeira ressecada de ossos esquecidos e a areia fina que tilintava contra o metal corroído de armaduras despidas. O deserto entre o covil e Elbag se estendia como uma ferida aberta no mundo, um mar de terra partida onde nada crescia — e onde ninguém em sã consciência caminhava.
Mas Veron e Amin não eram homens. E o que os movia não era sanidade.
Eles andavam lado a lado, ou pelo menos, Veron seguia na frente com passadas firmes e constantes, enquanto Amin tentava manter o ritmo. Seus ossos estalavam de tempos em tempos, alguns deslocados pelo esforço de atravessar o solo irregular. Acima deles, o céu se tornava opaco. As nuvens esbranquiçadas eram como véus fúnebres flutuando sobre um mundo onde até o tempo parecia abandonado.
— Por que estamos indo para cá? — perguntou Amin, mais para si do que para Veron.
— Porque os humanos são preguiçosos e arrogantes.— respondeu Veron, sem virar o rosto. — O Lich pode os considerar apenas inimigos, mas eles nos veem como criaturas idiotas. Seguimos andando na mesma direção todos os dias, ordenados para guerrear para eles. Quantas vezes já havia feito aquilo ontem? Eles já devem estar esperando nossa movimentação de novo.
O silêncio que veio depois parecia natural, parte da paisagem. Mas não era confortável. Amin sentia que cada passo mais distante do covil o afastava não apenas do trono de espinhos, mas de tudo o que compreendia como segurança. Ainda assim, havia algo magnético na presença de Veron. Um propósito bruto. Direto. Algo que fazia seus pés continuarem.
Eles cruzaram uma ponte de pedra rachada, antiga, que se estendia sobre um abismo estreito. Ao fundo, formações rochosas lembravam garras erguidas, como se o deserto tentasse resistir à decomposição. Amin olhou para baixo, mas não havia nada — nem vento, nem som — apenas escuridão.
— O que exatamente espera encontrar em Elbag? — ele perguntou, a voz seca pelo pó que invadia os ossos da mandíbula.
— O tal Inibidor de Mana — respondeu Veron. — Um núcleo cristalizado. Um artefato que impede conjurações ao redor dele. É um tipo de item diferente que corta a relação da mana numa área grande. É o que precisamos para matar aqueles conjuradores.
— E como você sabe onde ele está?
Veron parou por um momento. Olhou o horizonte. Elbag ainda não era visível — mas ele sabia o caminho.
— Porque as Torres são os lugares mais comuns para guardar itens. Eles esperam que ninguém possa invadir, nem mesmo que cheguem perto por conta da condição. — Veron não mostrou nenhuma empatia pelo passado. — Sei disso porque eu faria o mesmo.
Amin engoliu a pergunta seguinte, percebendo que ela provavelmente já havia sido respondida.
Continuaram a caminhar. À medida que o sol artificial do céu pálido descia, o terreno se tornava mais arenoso e instável. Em certos pontos, colunas semi-enterradas no solo indicavam antigos postos de defesa — quebrados, corroídos, agora engolidos pela negligência.
A noite não traria frio. Aquele deserto não conhecia variação.
— Você já foi humano, não é? — Amin soltou de repente. — Eu sei que não se deve perguntar isso. Mas… você entende demais. Sente demais.
Veron não parou de andar. Mas sua resposta veio depois de longos segundos.
— Já fui muita coisa. Muito mais do que gostaria de dizer, mas você também.
Os dois mantiveram o silêncio, Amin nunca tinha sido humano. Na verdade, estava longe disso. O que ele foi um dia antes de ser um dos irmãos esqueletos era…
Horas depois, eles chegaram ao primeiro marco: uma torre tombada pela metade, coberta de areia, onde bandeiras humanas desbotadas ainda tremulavam, penduradas em lanças fincadas no solo. Ali, Veron parou, abaixou-se e passou a mão pela pedra.
— Este lugar marca o início da zona de influência de Elbag. Daqui em diante… seremos vistos como uma ameaça.
— Por quem?
— Por tudo. Daqui pra frente, faça o que eu disser, e conseguiremos chegar sem problemas na torre. — Veron ficou de pé e apontou para a direita. — Lá, onde se encontra a estrela do polo, vamos.
O caminho se tornou mais gélido, os dois caveiras caminhavam sem dizer nada. O sol foi se tornando ameno no horizonte, dando liberdade para a noite surgir e eles seguirem com as estrelas sobre a sua cabeça.
Amin tinha mais dúvidas para tirar, no entanto, seu novo irmão não queria responder nada. Ele balbuciava sozinho, olhava para os lados procurando algo que não encontrava, e segurava a espada com tanta força que sempre parecia atento e pronto para golpear.
De onde ele tinha surgido e como morreu? Era possível que alguém que havia duelado contra tantos humanos, derrubado uma linha de frente tivesse sido pego em um combate e morrido por arrogância?
Ele seria irritadiço por ter pedido ou morrido?
— Irmão Veron. — Os dois subiram ao topo de uma pequena colina de pedra, e viram a mata se estender agora até onde luzes ocultava num nível bem inferior uma imensa estrutura de pedra erguida com janelas e guarnições lado a lado. — Isso é Elbag?
— Uma torre no meio do nada apenas para guardar segredos. — Veron assentiu. — É ela. Aqui, ninguém consegue entrar e sair sem ser visto. Tudo que adentra esse desnível é colocado como inimigo ou amigo, dependendo do que você é feito.
— E como vamos entrar sem ser vistos?
Veron o encarou.
— Meu plano não é entrar sem ser visto. Está vendo aquelas pequenas estacas no solo? — Eram mais afastadas, perto da vegetação mais alta e robusta. Amin concordou em silêncio. — Eles ativam quando alguma criatura passa por dentro. Agora, o que vamos fazer é entrar juntos, cada um de um lado, você vai até a torre enquanto eu vou puxar a atenção deles.
Amin rapidamente negou.
— E se eles usarem aquela luz branca? Não. Se eles te acertarem…
— Só obedeça, Amin. — Veron ficou de pé e começou a descer devagar, pisando sem fazer barulho. A mata era fechada demais naquela parte, um erro que os humanos cometiam sempre. Toda vez que eles queriam esconder segredos ou informações, se enfiavam em lugares cada vez piores.
Por isso morreu… naquele dia.
Stifer… onde você está?
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.