Veron se afastou no meio da escuridão, rapidamente correndo para a outra direção. Ele não esperaria que os Magos usassem alguma magia contra Amin ou ele, então, apressou-se enquanto as vozes medrosas dos humanos gritavam ordens.

    Ele subiu um dos níveis, conseguindo chegar num terreno pedregoso. E parou quando uma criatura verde surgiu bem na sua frente. Era pequeno, esverdeado e com uma cara de susto que até mesmo deixou Veron surpreso.

    — Goblin? — sua voz veio a tona, mas o pequeno Goblin se assustou, saindo correndo na direção da floresta.

    Veron se colocou de pé e saiu correndo de novo. As vozes dos humanos aumentavam, e a Torre começou a ficar mais clara. O protocolo dos humanos era sempre utilizar algum tipo de magia de cuba, envolvendo o lugar inteiro e segurando os monstros dentro.

    Se não saíssem dali antes disso, ficariam presos com eles. Amin precisava sair e levar os inibidores para longe. Veron passou para o terceiro nível, e viu Amin correndo para o lugar de onde vieram. Passaram por baixo de algumas raízes largas curvadas e chegaram no ponto de encontro praticamente juntos.

    — Você… conseguiu. — Amin parou e colocou a sacola no chão. — Achei que ia demorar menos. O que houve lá?

    — Fiz o que precisava fazer. — Veron pegou a sacola e os dois saíram da área reservada da torre.

    Caminhavam já praticamente meio quilômetro de distância quando ouviram um som estridente ressoar em suas costas. A imensa barreira azulada foi projetada, e subiu tapando completamente o território de Elbag.

    Amin não fazia ideia do que era, mas Veron explicou:

    — A mulher que eu matei era responsável por conjurar isso. Ficar lá dentro só nos prenderia. Precisamos voltar.


    O deserto era gigante e pouco acolhedor, mas retornaram sem problema algum até os túneis. Veron carregou a sacola até lá, mas quando a escuridão novamente os tomou, ele entregou para Amin. Não estava cansado, não estava com fome, ele poderia muito bem ir para a guerra mais uma vez, mas aquele confronto contra o Machadeiro lhe deu uma péssima lembrança de que não tinha um corpo para suportar golpes mais fortes.

    — Eu peguei algo que você deve querer. — Amin pôs a sacola em cima de uma pedra e tirou uma pequena cinta. Ela era feita de couro, prendendo uma parte do que sobrou de uma calça. — Não sei se vai servir, mas…

    — Vai, sim. Obrigado.

    Amin ficou surpreso pela resposta. O encaixe do cinto ficou bom, faltava um pouco de elegância, mas Veron não precisava se importar com o tipo ou detalhe. Apertou ao redor de sua cintura, e pegou Kitnes, a guardando na bainha.

    Não pesava. A lembrança de uma espada guardada em sua cintura era o que o deixava mais irritado.

    — Essas coisas são mais pesadas do que eu imaginei. — Amin pegou o restante, colocando nas costas. — Vou levar ao Lich. Irmão Veron, descanse.

    Sem responder, o deixou partir. Por que a raiva que sentia daqueles que o mataram era suprimida pela sua nova vida? Sentia as emoções correrem pelo seu corpo, o alimentando de força, mas ao entrar ali dentro, sentia que seu corpo poderia relaxar.

    Outros esqueletos passavam caminhando, alguns sem rumo, outros simplesmente travados em algum lugar olhando para o nada. No fundo, ouvia o som de algo batendo, rochas sendo acertadas, mas era só um som sem intenção.

    O lugar em si o deixava menos atento.

    A sensação o lembrava… sua casa.

    Ele sentou-se em um lugar afastado, apenas para colocar as mãos na testa. Tudo o que eu tive, tudo que eu queria… eu morri. As lembranças inteiras o machucavam, era aquele limite de que uma pessoa poderia suportar.

    Já não sendo mais uma pessoa, a única coisa que ele tinha para si era a raiva, o ódio e a vontade. Tudo o que foi construído, seu legado e seu nome, as suas conquistas, as pessoas que tinham sido bem ajudadas, eles nunca lembraria mais dele.

    O que havia acontecido com o seu nome? Veron, das Casas do Verão, anunciado como um dos filhos do meio de uma mãe. Ah, sua mãe… ela deve estar arrasada. Como poderia sobreviver sem mais entregar dinheiro a mulher que sempre lhe deu a verdade e beleza? Acabaram com tudo. Com a sua vida.

    Sentado sozinho, queria poder tocar o peito e escutar o coração bater mais uma vez. A raiva que tinha acumulado até agora o faria chorar se tivesse ossos. O ódio o faria ranger os dentes e sofrer na pele a dor de ter sido feito de idiota. Mas, o que mais sentia naquele lugar escuro e sozinho era a falta de quem lhe deu tudo.

    Não consigo devolver nem metade para eles.

    — Veron… — a voz o chamou da porta. Era Evano, parado e com sua cabeça rachada na lateral direita. — O senhor voltou. Como foi a viagem até Elbag?

    — Concluímos a missão que foi pedida. Entregamos o Inibidor que o Lich queria. — Veron não ausentou seu tom mais baixo. Mas não se levantou. — O que você quer?

    — O Comandante Pokop está reunindo os esqueletos novamente para avançar contra as fileiras. Todos, sem exceção.

    Veron concordou lentamente. Essa era a sua funcionalidade agora, ir para a guerra. Ser mais uma vez um soldado, destruir aqueles humanos que querem o Lich morto. O alvo deles era um grande Lich, então, eles não veriam o esqueleto andando contra eles, não no meio da multidão.

    — Evano. — Veron ficou de pé. — Você sabe quem vai estar liderando os humanos contra a gente hoje?

    — Não sei, mas podemos descobrir. — Evano se juntou a caminhar ao seu lado quando ele passou pela porta que daria para o salão onde Pokop os esperava. — Mas, por que a pergunta?

    — Humanos detestam perder. Eles não vieram dessa vez para ficar brincando. Querem acabar com o Lich agora. — Chegaram ao imenso cômodo onde os esqueletos eram reunidos. Não somente aqueles, mas todos que vinham de outros cômodos e salas, dos tuneis que ligavam até o mais baixo nível da terra.

    Ali, eles se reuniam para enfrentar novamente a humanidade.

    — A única vantagem que temos é que não sentimos dor alguma — disse Veron a Evano, mas outros ouviram. — Humanos são movidos por moral. Eles perderam a última batalha, ficaram arrasados porque conseguimos destruir a barricada deles. Dessa vez, eles não vão nos dar a mesma chance.

    — E como acha que deveríamos agir?

    Mais uma dezena ouvia o esqueleto.

    — Se eles vieram atrás de uma revanche, então podem ter certeza que vão colocar o Comandante Pokop ou o Lich como alvos. — Evano fitou o Comandante e seus dois chifres curtos e dourados de cada lado. — Os dois Grande Cavaleiros que eles tem serão nossos alvos. Não importa como, vamos matar aqueles dois primeiro.

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