Capítulo 13: Armadilha (I)
— Está realmente me dizendo que um esqueleto chegou aqui, passou pelo radar e conseguiu matar três pessoas? — Hunio Zensata tinha chegado fazia uma hora por conta da sua montaria, um dos cavalos mais bem cuidados de Sterf, mas nem imaginava que daria de cara com a Torre de Elbag se ajustando depois de um ataque. — E você não conseguiu derrotar ele?
Saulo respirou fundo e segurou o copo com mais delicadeza.
— Nós ficamos com receio de ter outros ao redor, por isso não quis arriscar. Mas, você entende o que eu te falei? Ele mencionou que foi o Resh quem mandou. Lembra da última merda entre os Tecnólogos?
— Como eu esqueceria? Eu estava no meio. Um ano e meio atrás. — Pegou a caneca com seu café. — Nem parece que faz tanto tempo. Mas, se esse esqueleto disse que Resh o enviou, isso coloca ele em xeque.
— Por isso nós temos que atacar.
Não se impressionava pela explosão repentina de Saulo. Ele era um guerreiro isolado por conta de um trauma do passado, mas acabou sendo que sua estadia ali foi muito bem recompensada. Radi e Cicero foram mortos, e pela forma como Saulo havia mencionado, não tinha sido difícil para o humano.
Esqueletos não eram comuns longe do Deserto de Agonize. E a Torre de Elbag estava tão distante que demorariam dias para eles chegarem ali caso se perdessem no meio do caminho.
— O que ele levou? — perguntou tentando suprimir a vontade de luta do colega. — Houve alguma coisa que vocês simplesmente deram falta?
— Ah, isso. — Saulo esticou o braço para uma mesa atrás de si e pegou uma prancheta. — Aqui, foram isso aqui.
Nem deu tempo de ficar impressionado.
— Inibidores de mana. Isso é estranho, Resh perdeu os Inibidores faz uns meses, mas ele podia ter negociado. Enviar um esqueleto que fala ainda. — Não fazia se arriscar dessa maneira, mas Resh tinha um conflito muito grande com os Magos por causa disso. — Bom, e acredito que vocês já enviaram um documento oficial para a base do Distrito Sul.
— Claro que sim, o senhor chegou bem rápido, mas temos alguém que faz esses documentos. — Saulo chegou mais perto, ocultando a voz. — Gostaria de soubesse, senhor. O esqueleto que me enfrentou disse que seu nome é Rei, e ele não é fraco.
— Acredito na sua palavra. Eu acredito bem. — Não parecia que Saulo ficaria satisfeito depois de ter sido desafiado por um monstro, e nem quieto em Elbag. — Como eu imaginei, eu vou ter que sair da minha aposentadoria.
Saulo soltou uma risada.
— E ai, vai atrás do Resh? Vai me mandar cartas de como vai ser a luta? Um dos maiores guerreiros enfrentando o dono da tecnologia no Distrito Norte. — Ele bateu a mão na mesa, e tremeu tudo ao redor. — Vai ser uma luta incrível.
— Bom, eu não queria ir sozinho, mas estava precisando de um braço. Que tal voltar comigo?
Saulo abriu a boca, em silêncio, e depois soltou uma risada.
— Claro que eu vou, porra. Vai ser do caralho. Voltar a ativa e dar uma braçada nos monstros lá fora. Acho que estou enferrujado, seria bom eu dar uma passada num dos Campos Mob.
— Sem tempo pra isso. Nós vamos subir até a Muralha dos Mob, e depois vamos nos encontrar com a Sonia. Ela está em uma missão diplomática com algumas famílias do Distrito Oeste.
Pela energia de Saulo, ele poderia sair dali agora para ir até Resh. Mas, Hunio relevou essa vontade avassaladora. Precisava descansar e bolar uma armadilha para pegar o Tecnólogo. E se realmente fosse Resh quem causou aqueles problemas, então, os Distritos realmente precisariam ser colocados a prova.
Lealdade era considerado raro nos dias atuais. Por isso, Hunio não podia simplesmente atacá-lo de maneira direta. Acabaria com tudo que construíram durante aqueles poucos anos.
O Deserto de Agonize se mantinha erguido num calor escaldante, as areias dançavam a favor do vento, e o céu clareava o lugar alvo dos esqueletos. E eram eles quem se mantinham no topo, erguidos contra a marcha dos soldados que estavam praticamente esperando o avanço deles.
Zhonias novamente tinha se colocado no palanque ridículo, pintado com seu uniforme enquanto suas mãos gesticulavam ao redor. Seus soldados corriam como baratas tontas, entortando suas pernas.
— Tudo isso para morrerem — comentou Veron os observando de cima da duna. — Uma revanche apenas para aumentar seus egos.
Ele deixou o Comandante Pokop encarar o horizonte. O imenso esqueleto brandiu a sua espada, a jogando para costas. Veron não precisava encará-lo para saber suas próximas ordens.
— Vamos matar os Cavaleiros — ordenou Pokop. — Irmão, comigo.
O outro Comandante passou correndo e os dois começaram a descer na direção do portão principal que ligava o Deserto de Agonize com o início do Distrito Sul. A Torre de Vigia, que seguia para além, e depois toda a ramificação das cidades interligadas ao Vale Seco.
Ou seja, derrotando esses humanos agora, o Distrito Sul seria colocado contra a parede.
Segundo a espada já fora de sua bainha, ele avistou os dois Comandantes descendo sozinhos, soltando seus gritos de guerra, bombardeando as areias. Sozinhos, sem ninguém ao seu lado, apenas continuando os passos.
Então, os humanos mostraram seus tais soldados para o confronto.
Grandes, quase dois metros, com placas de ferro, e armas empunhadas. Essa era a armadilha.
— Veron… — Amin o chamou pelas costas. — Quando devemos atacar?
Os dois Comandantes desceram até o final, e os Cavaleiros se uniram do lado de fora. O primeiro erro deles é lutar contra um exército sozinho. Veron girou o rosto. Os esqueletos atrás de si não usavam mais as mãos. Eles carregavam armas, escudos, partes de armaduras quebradas.
Poderiam não ser as melhores, mas isso faria com que os humanos entendessem.
— Lembre-se. Nossa missão não é invadir as trincheiras. Nossa missão é matar os dois que estão confrontando os Comandantes. Apenas eles dois. Depois disso, não avancem mais. Os humanos possuem a magia que nos fará ficar fracos, e eles nos matarão depois. Então, fiquem dentro do deserto, irmãos. Porque hoje, nós iremos mostrar para aqueles desgraçados quem nós somos. Pelo Lich.
Odeio ter que usar o nome de outra pessoa para inspirar.
Mas era o único jeito.
No meio do silêncio do deserto, os soldados do Império ficaram calados vendo os dois Cavaleiros sendo os únicos a lutarem. Não existia um exército, como da última vez, não existia mais um mar de esqueletos descendo.
A única questão era…
— Onde esses malditos esqueletos estão? — berrou Zhonias. — Onde eles estão?
Veron fitou o Oficial dos Humanos, sentado em seu trono, berrando como uma criança que perdeu seu brinquedo. Ele nunca chegaria aos pés de Slovakia, nem nessa vida e nas próximas cem delas. Veron aprendeu com aquela mulher somente o básico…
— Para destruir um exército de dentro pra fora.
Os tambores ressoaram juntos e a mancha branca surgiu no horizonte como se fosse uma mistura de cores. As partes de equipamentos de todos os soldados mortos foram recolhidos, e suas armas tomadas por mãos mortas.
A mancha sem vida descia mais uma vez.
Veron corria junto dos seus irmãos, lado a lado, na direção das trincheiras.
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