Não foi Zhonias quem percebeu a estranha descida dos Caveiras. Foi seu Oficial Kali. O jovem tinha ficado as últimas hordas vendo a movimentação deles para ter uma padronização. Primeiro, eles desciam de maneira desordenada e batiam contra a primeira barreira.

    Eles tinham forjado espinhos em parte mais a frente da trincheira, erguendo no momento que passavam. Ali já era suficiente para reduzir completamente suas passadas mais longas, os mantendo mais afastados e controlados.

    Depois disso, uma avalanche de armas era erguida, e então, a brutalidade se reunia. Eram massacrados de um só vez pelos soldados. Mesmo em sua grande quantidade, eles eram soterrados em poucos segundos.

    O Oficial Kali chegou até mesmo notar que mesmo sendo forçados a seguirem o mesmo caminho, os esqueletos tinham a mesma vontade de serem destruídos. Não pensavam que as armadilhas poderiam estar ali novamente, nem mesmo que poderiam ser feito de cobaias para seus soldados treinarem.

    Era um campo de batalha forçado para os mais novos no ramo militar perderem o medo. Eles mesmo não tinham mais medo, nem um pingo de medo de serem mortos.

    — Eles são esqueletos — disse Hunio, um dos seus antigos mentores. — Não pensam e nem sentem medo. Coloque na sua cabeça que os monstros não agem como a gente, eles são movidos pelo desejo de nos matar.

    — Mas, e o Lich?

    — Esse é um caso a parte.

    Dessa vez, a descida dos Caveiras era ordenada somente por um lado. Eles não se espalharam em linhas tortas, nem corriam desajeitados. Era justamente o contrário.

    Ele estreitou os olhos. Ao seu lado, Roxana também começava a franzir a testa.

    — Que estranho, não é? — murmurou ela, inclinando levemente a cabeça, como se isso pudesse ajudá-la a entender melhor a mancha branca que começava a fazer curva à esquerda. — Está vendo aquilo?

    — Estou. — Kali não tirava os olhos da formação. Aquilo era novo. — Acha que é algum tipo de maluquice deles?

    — Não sei. — Roxana deu de ombros, já pegando seu caderno de anotações. — Monstros fazem coisas estúpidas o tempo inteiro. Vou anotar pro chefe não gritar depois.

    Mas Kali não anotou. Não dessa vez.

    Algo coçava em sua nuca. Não era só esquisitice. Era cálculo. Era tática. E isso não combinava com os esqueletos que ele conhecia.


    Pokop brandiu a espada e defendeu contra o humano grandalhão. No momento seguinte, ele desviou, mas seu irmão foi empurrado para sua direção. Os dois trombaram, recuando em desequilíbrio.

    Um dos Cavaleiros ergueu a espada velozmente, deferindo um golpe fatal. Sua lâmina rompeu o ar, criando um estalido fraco. E seu braço chacolhou quando algo impediu seu avanço. Havia duas lâminas esticadas em frente a Pokop, de ângulos diferentes, tremendo enquanto mantinha o Comandante protegido.

    De um lado, Paike. O outro Comandante tinha esticado o braço, segurando o avanço do primeiro Cavaleiro. O segundo humano estava caminhando em sua direção, pelas costas, pronto para finalizá-lo.

    E do outro lado, Veron. Erguido praticamente ao duelo.

    — Não preciso… de ajuda — disse Pokop se levantando as pressas. — Saíam.

    — Não. — Veron empurrou a espada do Cavaleiro para trás, e ergueu a sua em riste, o desafiando plenamente. — Esse aqui é meu. Seus irmãos estão aqui para ajudá-lo, então, nós faremos isso.

    Os dois cavaleiros só entenderam no momento que o foco deixou de ser os dois Comandantes. Ao erguerem a viseira, o Deserto de Agonize que tinha sua tonalidade amarronzada era composta pelo branco estático.

    As centenas de esqueletos não se moviam, parados e ao redor deles. Figuras que nunca lhe deram nenhum tipo de medo agora paravam com armas erguidas. Com posturas determinadas, com… intenções assassinas.

    — Mas que merda é essa, Jon? — o segundo Grande Cavaleiro gritou mais afastado. Os esqueletos conseguiram os separar completamente, se colocando entre os dois em mais de dez metros. — O que é isso?

    Jon… Veron manteve sua espada erguida. Os movimentos dele eram fortes, capacidade bem articulada, mas o peso da armadura limitava sua movimentação. Possivelmente, o Deserto não era o melhor lugar para suas habilidades florescerem.

    Melhor assim.

    — Irmãos — o ruído de Veron era inaudível para os humanos. — Avancem.

    Os esqueletos rugiram em determinação. Um por um, tentaram atacara os Cavaleiros. Suas espadas colidindo contra as armaduras fechadas, forçando-os a recuar. Tentaram brandir suas armas, mas forma expurgados para longe.

    Antes de conseguirem se estabelecer novamente, outra remessa, dezenas de espadas, desceram contra eles. Mesmo que fossem ataques medíocres, Veron tinha certeza do desespero deles. Não porque estavam contra muitos, mas porque suas vidas estavam em risco pela primeira vez.

    O medo da morte os faria pagar o preço.

    O Cavaleiro Jon tentou acertar mais uma dezena. As fileiras forma recompostas por mais vinte e depois trinta. Em suas costas, sua armadura era riscada. E girando no próprio eixo, conseguiu abrir um pequeno espaço.

    Lento demais para fugir, os esqueletos novamente se reuniram ao seu redor.

    — Não vamos conseguir fugir daqui — o segundo Cavaleiro gritou. — Precisamos de ajuda.

    Veron não iria deixar isso acontecer.

    — Comandante Pokop, finalize esse Cavaleiro. — Veron começou a se misturar entre os esqueletos. — Irmãos, as pernas. Mirem nas pernas. Eles querem fugir.

    Os Humanos não podiam entender seu idioma, isso era o suficiente para armar uma armadilha perfeita contra seres tão arrogantes. Com um comando, os esqueletos se reuniram juntos, acertando diretamente suas armaduras.

    Cavaleiro Jon novamente brandiu seu braço para os lados, conseguindo se livrar dos esqueletos numa braçada. Eram muitos ao redor dele, mesmo com dez movimentos, ainda não conseguiria sair dali.

    Seus olhos, então, se encontraram com o Comandante Esqueleto de armadura se levantando. O tempo parecia estar devagar, porque ainda que pudesse entender que os Esqueletos se prepararam para esse duelo, sua mente não poderia processar todo o escopo.

    No fundo, o Cavaleiro Jon sentia medo.

    Sentiu uma dor latejante acertar na parte debaixo do seu corpo. Ele caiu gritando, mas não ouvia mais seus gritos. Ele sacudiu seu corpo quando os braços foram acertados pelas lâminas cegas e destroçadas.

    Seus dedos se abriram, a sua arma foi jogada para o lado. Jon não conseguia se levantar. Um dos esqueletos se aproximou, esse carregando uma espada afiada e fina, esticada para o lado. Ele parou diante, e agachou.

    — O treino acabou de uma forma ruim — disse Veron. — Cavaleiro.

    Ele falava… o idioma humano? Que tipo de criatura? Como ele poderia?

    — Subestime uma formiga, e ele come os seus restos. — Havia divertimento na forma como ele falava. O esqueleto voltou a ficar de pé. Jon sentia a dor na sua perna, ambas não queria mais se mexer, e seus braços não respondiam ao seu chamado. — Podem finalizar.

    A última parte, ele não entendeu. E nem precisou. Tudo escureceu na mesma hora.

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