O ar dentro da tenda parecia pesado, mas Veron não sentia nada disso. Seus ossos rangiam levemente com cada movimento, articulados com perfeição, enquanto observava o homem à sua frente. Ele segurava a espada com firmeza, mas havia algo no esqueleto que não podia ser lido, não podia ser antecipado. Um cálculo constante, frio, quase mecânico.

    Eu sou a lâmina, e ele o escudo, pensou Veron.

    O homem avançou primeiro, um corte horizontal mirando o ombro. O esqueleto bloqueou com a lâmina da própria espada, o impacto reverberando pelos ossos, sem que nenhum músculo precisasse de descanso ou energia para amortecer o golpe. Imediatamente, respondeu com um gancho diagonal, indo da altura do peito para baixo. O homem desviou, recuando apenas o suficiente para manter o equilíbrio.

    Os movimentos dele são comparados aos dos soldados veteranos. Um verdadeira Cavaleiro, mas esse não estava no campo de batalha.

    No segundo movimento, Veron inclinou o corpo para a direita, girando os quadris e usando o impulso para um chute lateral. O pé bateu no braço do homem, mas ele absorveu o impacto, movendo a espada para interceptar o próximo ataque. Quase em sincronia, ambos se deslocaram no terceiro movimento: o homem avançou com um estocada rápida, Veron rodou o punho da espada, desviando e acertando a lateral do tronco do inimigo. O impacto fez o homem cambalear levemente, mas imediatamente recuperou a postura.

    Pode ser forte, mas a idade o fez ficar lento. A vantagem dos mortos, a minha vantagem é essa…

    Quarto movimento: uma sequência de golpes curtos e rápidos. Veron desferiu três cortes em diagonal, alternando altura e ângulo, tentando explorar qualquer abertura. Cada golpe foi interceptado, bloqueado com precisão pelo homem. O choque das lâminas criou faíscas e um som metálico estridente, que preenchia toda a tenda. Nenhum dos dois cedeu.

    No quinto movimento, Veron recuou um passo calculado, deslizando com os ossos como engrenagens, e lançou um golpe giratório com a lateral da espada, visando a lateral do torso do homem. Ele conseguiu desviar, mas não sem esforço — a lâmina roçou a sua roupa, rasgando o tecido e marcando o corpo com a pressão metálica.

    — Não… fica cansado? — perguntou o homem ao recuar. O suor acumulava em sua testa e escorria pelas bochechas, mas ele não tinha intenção de parar. Veron sabia disso. – Não… sente fome e nem sede, não tem vida alguma.

    — Poupe o fôlego.

    Veio o sexto movimento: o homem tentou surpreender com uma combinação rápida de estocada e corte vertical. Veron girou o corpo, deixando a lâmina passar rente, e contra-atacou com um corte ascendente, mirando a clavícula do inimigo. Um movimento rápido, preciso, que fez o homem recuar com um grunhido, mas ainda mantendo a espada firme.

    Sétimo movimento: ambos respiravam rápido, o homem fisicamente cansado, Veron impassível, mas cada movimento do esqueleto transmitia força concentrada. O homem tentou um último golpe, um ataque lateral poderoso que exigia força total. Veron não precisou de força total, apenas técnica. Com um passo de lado, ele girou o punho da espada, redirecionando a energia do ataque, e, no mesmo movimento, avançou com um soco seco contra o pulso do homem. O impacto ecoou pelos ossos do esqueleto, transmitindo toda a força estrutural acumulada.

    O pulso do homem estalou, os dedos se abriram involuntariamente, e a espada caiu no chão com um baque metálico. Ele recuou, segurando o braço, os olhos arregalados pelo choque da dor que Veron não podia sentir, mas sabia aplicar com perfeição.

    O homem respirava com dificuldade, tentando absorver o choque do momento. Seu peito subia e descia com esforço, o pulso ainda latejando do golpe que havia quebrado sua mão. A lâmina da espada havia caído, encostando no chão com um som metálico abafado. Ele tentava se mover, mas a tensão nos músculos denunciava que estava paralisado pela dor e pela surpresa.

    Veron deu um passo à frente, o eco de seus ossos ressoando pela tenda. Cada articulação se alinhava com precisão: ombros, quadris, joelhos e tornozelos ajustados como engrenagens bem lubrificadas. Ele não respirava, não sentia cansaço, não havia aceleração cardíaca, apenas eficiência. A postura era firme, cada movimento controlado e direcionado ao resultado. O silêncio da tenda tornava cada ranger, cada clique de ossos, mais perceptível.

    O homem tentou mover a cabeça, mas era tarde. Veron ergueu o braço com a mesma precisão que tinha ao empunhar a espada, e a lâmina desceu em linha reta, rápida e firme. A velocidade era surpreendente, ainda mais agora que ele estava desarmado e vulnerável. A lâmina passou rente à face do homem, cortando o pescoço antes que qualquer reflexo pudesse reagir. Não houve luta, não houve grito prolongado, apenas um instante de choque e depois o silêncio.

    — Boa noite, humano — disse Veron, quase murmurando, sem olhar para trás.

    O baú na mesa estava à sua frente. Com um gesto rápido, pegou-o e recolheu os papéis que continham registros, organizando-os de forma metódica antes de guardá-los. Não havia pressa, não havia exagero; apenas o procedimento necessário. Cada item foi cuidadosamente recolhido, sem que um só fosse deixado para trás.

    Veron deu as costas para o corpo imóvel, deslizando silenciosamente pelo chão de lona até a saída da tenda. O cheiro de metal e suor pairava no ar, misturado à poeira levantada pelo movimento dos esqueletos e pelo vento que entrava pelas frestas. Ele não olhou para trás. Não havia curiosidade ou reflexão sobre o homem que agora jazia no chão. A tarefa havia sido concluída, e qualquer consideração sobre a vida dele era irrelevante.

    Ao chegar à abertura da tenda, Veron ajustou os ossos do ombro e do quadril, preparando-se para se mover em direção às trincheiras. O deserto lá fora estava em silêncio momentâneo, com apenas alguns soldados dispersos ainda tentando organizar-se após o avanço dos esqueletos. O sol incidia através da poeira fina levantada pelo vento, criando sombras que se misturavam ao movimento das tropas.

    Ele encontrou com alguns dos seus irmãos usando a ponta de suas espadas para furar um corpo humano. Assim que viram Veron, se ajeitaram na mesma hora, ficando em linha. O esqueleto que carregava o inibidor se aproximou, todo desajeitado, segurando o equipamento, e colocou no chão.

    — Isso é um pouco pesado, irmão. Preciso carregar pra onde agora?

    — Vamos encontrar com os Comandantes — respondeu segurando o baú. — Quando os Oficiais estiverem mortos, nós vamos voltar.

    Eles rapidamente concordaram, juntos:

    — Pelos Comandante!

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