Capítulo 873: Novatos (3/3)

Minha cabeça estava dormente. Não apenas por ter acabado de acordar, mas porque a situação diante dos meus olhos era completamente incompreensível.

— Uau! Olhem! É o Bjorn Yandel!

— Aaaaaah! Ele é tão bonito!

O que… é isso? Será que eu ainda estava sonhando? Ou era uma alucinação?

— Com licença… aventureiros? No Labirinto, aproximar-se de outro aventureiro é extremamente perigoso…

Armin tentou apaziguar a situação usando palavras sensatas, mas era inútil.

— Não se preocupem! Não faremos nada de perigoso!

— Não, não é isso que eu quero dizer.

— Ei! Visconde Yandel! Olhe para cá, por favor!

— …

O que se desenrolava era tão absurdo que nem a raiva surgia.

“O que são esses malucos?”

Apenas pura curiosidade, cem por cento. Depois de me recompor um pouco e observar seus rostos, uma característica saltou aos olhos imediatamente.

O estado lamentável de seus equipamentos, que faria crer que tinham acabado de entrar no Labirinto.

Provavelmente, esta era de fato a primeira exploração deles. No entanto, havia apenas um motivo pelo qual conseguiram subir até o terceiro andar naquele estado: graças àquela esmagadora ‘quantidade’.

“Trinta e duas pessoas…?”

Eu podia entender por que Missha e Armin não conseguiram lidar adequadamente com a invasão deles. Na verdade, até minha cabeça ficou dormente quando vi aquele número.

— O que vocês são…?

— Eu sou a Amy!

— Não, eu não perguntei o nome… Como é que vocês conseguem andar em grupo com mais de trinta pessoas? Vocês não devem ter feito um Vínculo na cidade…

Fiz a pergunta, totalmente perplexo, e a aventureira, que ria e cutucava meu músculo com o dedo sem medo, respondeu.

— Nós nos conhecemos no segundo andar!

Surpreendentemente, era a primeira vez que todos se encontravam.

— Havia gente demais no segundo andar! Aí o Sr. Mark aqui sugeriu uma ideia. Juntar mais gente e subir direto para o terceiro andar!

Ao ouvir a mulher, o homem ao lado coçou a cabeça, sem jeito, e continuou:

— É claro que, se dividirmos as Pedras de Mana pelo número de pessoas, não sobra muito… Mas como aqui no terceiro andar encontramos essências melhores, julgamos que valia totalmente a pena.

O quê? Mesmo que encontrassem uma essência, trinta e duas pessoas teriam que disputar nos dados. Bem, o sortudo poderia obter a essência e crescer muito mais rápido, é claro.

— Mas parece que todo mundo pensou o mesmo, e o terceiro andar também está lotado! Então, tentamos nos afastar ao máximo de onde ficava o portal, e acabamos aqui! Ah, mas quem diria que encontraríamos o Visconde Yandel aqui! Parece que a sorte está do nosso lado!

Em seguida, o homem me perguntou com a maior naturalidade:

— De qualquer forma, para voltarmos para onde ficava o portal… ou seja, para onde os… Homens-Lagarto aparecem, o senhor poderia nos dizer para onde ir?

Eles são mesmo malucos? Estão andando por aí no Labirinto sem saber onde estão? Não, mais do que isso.

— Ah, é claro que não podemos ir embora imediatamente… Como todos estão exaustos de tanto andar sem rumo, vamos descansar um pouco aqui ao lado!

Por que diabos esses caras são tão arrogantes? Isso não é nem mesmo cuspir de forma educada. Eu queria dizer algo, mas as expressões inocentes deles, que pareciam não saber qual era o problema, me deixaram sem palavras.

— Haha, afinal, somos todos aventureiros que vieram para o Labirinto salvar a cidade! Por favor, nos ajude, Visconde Yandel!

— Hum…

A mesma perplexidade que eu sentia era compartilhada pelo resto do grupo, e suspiros irromperam por toda parte.

— Será que os jovens de hoje são todos assim…?

— É inacreditável. Ouvir a conversa me faz sentir como se eu estivesse ficando louco.

— Na minha época, mesmo quando íamos buscar água no primeiro andar, ficávamos alertas ao encontrar outros aventureiros…

— Não é possível ser tão sem noção!

Ouvir os lamentos do grupo fazia com que nos sentíssemos incrivelmente velhos, mas pelo menos entendemos a situação atual.

“Nunca pensei que viveria algo assim.”

Era como os estágios iniciais de um jogo online. Agora, o primeiro e segundo andares deviam ser zonas seguras em toda a sua extensão. Os novatos deveriam ter tomado conta de tudo, e os monstros eram mortos assim que reapareciam. Por isso, a superlotação os fez escoar para o terceiro andar.

— O que, o que é isso! Bjooorn? Será que meus olhos estão me enganando? Eles são claramente humanos! Né? — Uma falta de bom senso que deixou até Ainar chocada.

Eu me perguntava como o mundo havia chegado a esse ponto, mas ao mesmo tempo, eu entendia.

“Pelo que vejo, eles parecem nem saber o quão perigoso isso é…”

Na verdade, esses caras eram vítimas. Os nobres haviam colocado meninos e meninas que mal haviam atingido a maioridade no Labirinto, sob a justificativa da época de que novos aventureiros eram necessários. Era impossível que aquela multidão tivesse recebido a educação adequada; pelo contrário, apenas informações erradas haviam sido injetadas. Afinal, todos os meios de comunicação haviam feito uma lavagem cerebral dessa forma nos últimos meses. Mesmo agora, o Labirinto devia ser, na cabeça deles, um lugar lindo, cheio de sonhos, romance e oportunidades.

— Ei… Erm, crianças? Parem de ser teimosos e vão logo! Vão embora, nyah! — Missha falou como se estivesse acalmando uma criança e olhou para mim.

Eu me senti estranho. Sabe aquela sensação? Como a de uma namorada que se sente tensa com medo de que seu namorado gângster faça alguma outra bobagem. Era exatamente essa a sensação.

— Se continuarem assim… pode dar um problemão… Vão logo! Okay?

Hum, então não era só impressão. Missha estava realmente preocupada com aqueles novatos sem noção.

“Ora, quem ela pensa que eu sou.”

Eu, honestamente, ponderei.

Olho por olho, dente por dente.

A única forma de ter uma conversa normal com pessoas irracionais é eu também me tornar irracional. Mas…

— Armin.

— Sim, diga.

— Dê espaço para eles ao lado do acampamento. Quando tiverem descansado o suficiente, diga-lhes o caminho para o Pântano da Cauda Verde.

— …O senhor tem certeza?

— Tenho.

Eu terminei de falar e voltei a me deitar no saco de dormir. Não havia necessidade de eu mesmo intervir para ‘injetar bom senso’ neles.

“Me pergunto quantos deles conseguirão voltar vivos?”

O Labirinto não é um lugar gentil.

Após o fim do acampamento, nós dispensamos o clã de novatos (?) que havia descansado o suficiente e seguimos nosso caminho. Ah, claro que a separação daqueles sujeitos de mente vazia não ocorreu sem incidentes.

— Ah, Visconde Yandel! Por acaso, se não for um problema, será que não poderíamos apenas continuar seguindo o senhor? Já que nos conhecemos, é o destino, e prometemos que não seremos um estorvo de forma alguma.

Surpreendentemente, eles foram um passo além e pediram para serem carregados por mim, que mal conheciam, e eu recusei de imediato. E…

— Dizem que é ele um herói, mas os rumores não são confiáveis.

— Não é como se o senhor fosse perder algo se nos acompanhássemos.

— Não é apenas a inveja de ver o sucesso dos outros?

— Bjorn Yandel, não vai ter muito o que fazer em breve.

Os novatos reclamaram enquanto partiam, como se tivessem se esquecido completamente da consideração que lhes havíamos oferecido naquele dia. Naquele momento, ponderei se deveria consertar pessoalmente o problema que havia surgido na cabeça deles, mas decidi apenas deixar a cargo do destino. Contanto que continuassem a profissão de aventureiro, o Labirinto certamente lhes ensinaria muitas coisas.

Em seguida, continuamos a exploração, rompemos rapidamente o quarto andar e chegamos ao quinto. A frente do portal do Grande Reino dos Demônios era tradicionalmente um ponto de encontro histórico, sempre lotado de clãs à espera de seus companheiros, no entanto…

“Tem pouca gente.”

Embora o número absoluto fosse grande, não se comparava ao normal.

“O extermínio dos aventureiros de alto nível é o principal motivo.”

Na verdade, mais de noventa por cento das pessoas aqui deviam ser aventureiros de nível intermediário que já atuavam nos quinto e sexto andares.

— Aquele lugar é bom.

Visto que não vimos a equipe dois, talvez tivéssemos chegado primeiro. Por isso, encontramos um lugar adequado e esperamos. Os aventureiros que já estavam lá me reconheceram e encararam, mas ninguém se atreveu a se aproximar e falar.

“É, este é o Labirinto.”

Por algum motivo, esse fato era profundamente tocante. Um mundo de bom senso onde a verdade de que os insolentes morrem cedo é válida. Que coisa linda!

— Como esperado, vocês chegaram primeiro.

Depois de nos acomodarmos e descansarmos por meio dia, a equipe dois, que esperávamos, apareceu através do portal.

— Sentimos muito. Foi porque a Escadaria da Sabedoria apareceu poucas vezes.

— Por que isso seria sua culpa? De qualquer forma, o importante é que chegaram em segurança.

Após nos juntarmos à equipe dois, continuamos a exploração com um sistema de onze pessoas no total. Ah, escolhemos o Desfiladeiro dos Fantasmas, a rota mais curta até o Sexto Andar.

— Inesperadamente, há muita gente…?

Percebemos então que havia mais aventureiros no quinto andar do que esperávamos. A maioria dos pontos abertos onde os monstros reapareciam estava ocupada por aventureiros que haviam chegado primeiro e estavam caçando. Bem, ainda havia alguns pontos vazios, mas os lugares mais valiosos estavam, sem falta, ocupados. No entanto, não havia a sensação de que os clãs estavam controlando a área de caça com força, como antes…

— Ei! Combinamos de não tocar nos monstros que viessem para este lado, certo?

— Então resolvam logo por conta própria! O que querem que façamos se eles continuam nos atacando de longe?

Pelo que vimos, havia muitos lugares onde duas ou mais equipes estavam dividindo um único ponto para caçar. É claro, provavelmente não havia muitas equipes grandes o suficiente para dar conta de um único ponto de reaparecimento por completo.

— Oh, disseram que havia muita gente que havia se aposentado e voltado à ativa, parece ser verdade.

— Ugh… A faixa etária geral parece ter subido bastante.

— Ainda assim, o sétimo andar e os superiores devem estar vazios.

— Provavelmente sim. Mais de noventa por cento dos clãs que exploravam principalmente o sétimo andar foram dissolvidos.

Foi nesse momento, enquanto percebíamos a atmosfera alterada do quinto andar e continuávamos a descer rapidamente.

Drrrrrrrrrrr…!

De repente, o desfiladeiro tremeu violentamente, como se um terremoto tivesse ocorrido. Exceto pelo navegador… não, nem mesmo o navegador, que havia sido trazido como mercenário, era um veterano que já tinha passado por poucas e boas no Labirinto, então não foram necessárias muitas palavras.

— …Uma Fenda!

Uma Fenda se abriu. Portanto, havia apenas uma coisa que tínhamos que fazer imediatamente.

— Abman! Onde está?

— Há uma a uma distância bem próxima! Quer tentar?

Eu dei um sorriso irônico à pergunta do Sr. Urso, que possuía o talento de Guia. É claro que não tínhamos planejado a exploração contando com uma Fenda no quinto andar, mas éramos aventureiros, não é? Por que recusar um banquete que cai bem na sua frente? Tinha que tentar comer um pedaço.

— Abman, você vai na frente! Não se preocupem com os monstros. A partir de agora, vamos nos mover a toda velocidade!

Eu dei a ordem rapidamente e mudei a formação, e então nós corremos com todas as forças, seguindo a liderança do Sr. Urso. No caminho, vimos outros aventureiros correndo sem rumo. Uma equipe de seis pessoas atravessava o desfiladeiro apressadamente, como se estivesse procurando a Fenda. Contudo, parecia que não tinham um Guia na equipe, pois não corriam em direção ao local exato…

— Está ali!

Em seguida, o Sr. Urso, que estava na liderança, apontou apressadamente para uma direção. Ao virar a cabeça seguindo a ponta de seu dedo, eu vi um portal a tremeluzir na extremidade.

Shwaaa…!

Um portal de brilho negro, contorcendo-se como um buraco negro em miniatura, com a força de sugar qualquer coisa.

— Não parece que chegamos tarde!

— Uma Fenda logo no começo, a sorte está conosco.

— O que está fazendo, Bjorn! Temos que entrar logo!

Ainar gritou, parecendo muito animada, mas eu parei na frente do portal e organizei brevemente meus pensamentos.

“Incluindo a Fortaleza das Almas, são doze tipos no total.”

O número de Fendas que podiam aparecer no quinto andar. Mas, excluindo a ‘Fortaleza das Almas’, que era uma Fenda única que só se abria se certas condições especiais fossem satisfeitas, restavam onze tipos no total.

— Como sabem, nem todos conseguirão entrar.

Fendas com capacidade de entrada para o tamanho de uma expedição só aparecem a partir do Sexto Andar.

Das onze Fendas que se abrem no quinto andar, dez permitem apenas a entrada por unidade de equipe, e a Fenda restante nem sequer permite a entrada por unidade de equipe, mas sim por…

— Bjorn!

Ah, não era hora para tais pensamentos. Ainda assim, como eu já tinha organizado vagamente minhas ideias no caminho, foi fácil decidir os membros que entrariam.

— Ainar.

Não era necessário ter dois guerreiros, mas, devido ao No. 9999: Sorte de Principiante, ela deveria ser a primeira a ser levada para áreas não exploradas.

— Sharlot Emblut.

Uma Maga também é absolutamente necessária.

— Abman.

É mais conveniente ter um Guia nas Fenda.

— Missha, Garton Cultner.

Para combatentes, eu inclui Missha, que poderia encontrar a Essência correta, e o usuário de habilidades do Grupo de Exploração Armin da equipe dois. Afinal, não era bom levar apenas membros da equipe um. Bem, se fosse por essa razão, Armin seria o talento ideal, mas…

— Armin, me desculpe, mas você precisa ficar do lado de fora.

Era preciso alguém para fazer o papel de líder de equipe na ausência dele.

— Eu já esperava, mas é uma pena. Tenha uma boa viagem.

Depois de finalizar a seleção, eu rapidamente organizei a ordem de entrada e me apressei para entrar na Fenda, temendo que ela se fechasse caso o número de pessoas fosse completado por outro lugar.

E…

— Ah.

Assim que entrei e terminei de avaliar o terreno ao redor, eu abri a boca, atônito. Todo o trabalho de selecionar os membros às pressas na frente do portal tinha sido em vão.

“Quem diria que eu cairia na chance de uma em onze.”

A Fenda que permite a entrada apenas por unidade individual, e não por unidade de equipe.

O cheiro salgado do mar era misturado à brisa que soprava suavemente. Seria apenas impressão minha, ou já havia um fedor de sangue misturado a ele?